Antes de 1953, ninguém falava sobre homens de preto ou MIBs, do inglês men in black. Naquele ano, o ufólogo norte-americano Albert K. Bender, diretor do International Flying Saucer Bureau (IFSB), uma entidade de pesquisa ufológica, deu a entender que havia sido forçado a encerrar as atividades de sua instituição porque três homens trajando ternos pretos o teriam aterrorizado, incitando-o a abandonar suas investigações de casos de UFOs. Três anos mais tarde, Gray Barker, outro pioneiro ufólogo dos Estados Unidos, publicou They Knew Too Much About Flying Saucers [Eles Sabiam Demais sobre Discos Voadores, University Books, 1956], no qual relatou várias histórias sobre os MIBs. O caso de Bender é amplamente debatido no livro em questão e é, na opinião de Barker, um exemplo claro de que os homens de preto representavam algum tipo de autoridade governamental disposta a empregar todos os métodos necessários para silenciar os ufólogos, ou até mesmo as testemunhas do Fenômeno UFO.
Desde que esses sinistros personagens passaram a visitar testemunhas de eventos relacionados a UFOs e extraterrestres, ora vestidos com ternos pretos, oracom uniformes da Força Aérea Norte-Americana (USAF), muitos pesquisadores também foram levados a crer que o órgão estava perpetrando uma política de intimidação para esconder a verdade sobre os discos voadores. No entanto, dez anos após o encerramento do IFSB, Bender escreveu a obra Flying Saucer and the Three Men [Discos Voadores e os Três Homens Create Space Publishing, 1963], publicando sua história completa. O que Bender afirmava em seu novo livro pode ter parecido estranho, senão totalmente inacreditável, mas vale a pena conferir e refletir a respeito.
O relato de Bender
Ele confirmou que foi mesmo visitado por três homens de aspecto obscuro, mas que não acreditava mais que fossem agentes da USAF ou mesmo de serviços de inteligência. Bender os descreveu como tendo características orientais, de pele escura e olhos brilhantes, que eram capazes de se materializar e desmaterializar instantaneamente em sua casa. Em uma ocasião, como disse o autor, essas pessoas o teleportaram a uma base secreta na Antártida, onde finalmente lhe contaram a verdade sobre a presença de alienígenas na Terra. O que lhe foi dito é que ETs estariam aqui para coletar um raro material das profundezas do oceano, e este processo seria completado no início dos anos 60 — ao final dele, o autor estaria livre para divulgar o que teria acontecido.
Estas afirmações criaram muitas polêmicas entre os ufólogos, que acreditavam que as alegações de Bender eram somente produto de uma vívida imaginação e sua busca por notoriedade. Entretanto, o autor também relatou uma série de eventos que pesquisadores tradicionais tendem a descartar, como ter sido atormentado por cheiro de estranhas substâncias, como enxofre, ter testemunhado fenômenos paranormais durante as visitas que recebia de MIBs, como poltergeist, e ter sofrido dores de cabeça crônicas, assim como amnésia. São eventos difíceis de serem explicados e hoje sabemos que todos se relacionam com avistamentos ufológicos ou contatos imediatos com tripulantes, que representam o cerne estrutural deste intrigante fenômeno — que poderia ser muito distinto das clássicas questões ufológicas, mas, pelo contrário, se interceptam, criando um quadro enigmático.
Bender descreveu os homens de negro como tendo características orientais, de pele escura e olhos brilhantes, que eram capazes de se materializar e desmaterializar instantaneamente. Em uma ocasião, eles o teleportaram a uma base secreta na Antártida
Bender não foi o único a testemunhar MIBs. Existem inúmeras histórias de pessoas que dizem perceber aproximações de figuras sombrias imediatamente após um avistamento ou contato. O que salta à vista é a homogeneidade desses relatos: os seres sempre tinham pele de tom oliva, olhos orientais e maçãs do rosto altas. Às vezes vinham com uniformes da USAF e conduziam seus brilhantes Cadillacs pretos até as residências das testemunhas para intimidá-las a não contar a ninguém o que viram. Além disso, esses indivíduos apresentavam um cartão de identificação e anunciavam seus cargos em alguma agência governamental ou patentes militares nas forças armadas, demonstrando uma excepcional habilidade de utilizar o nome de um alguém existente, porém, alterando seu cargo, adicionando certa confusão e falta de sentido a todo esse processo.
O Caso Rex Heflin
Vamos examinar uma história típica e famosa de homens de preto. Em 03 de agosto de 1965, Rex Heflin, então oficial da Polícia Rodoviária da Califórnia, fotografou um estranho objeto circular próximo a um campo da corporação de fuzileiros navais. Após fazer e divulgar uma série de cópias das fotografias, Heflin foi imediatamente contatado por dois homens que afirmavam ser oficiais do Comando Norte-Americano de Defesa Aérea (NORAD) e confiscaram as fotografias originais. Após alguns meses sem nenhuma resposta às suas reclamações, Heflin contatou o NORAD para exigir a devolução das fotos, mas seus funcionários negaram veementemente que algum de seus oficiais o teria visitado, pois não havia nenhum tipo de interesse por parte deles em discos voadores — e as fotos originais nunca foram encontradas.
Dois anos depois, em 11 de outubro de 1967, Heflin recebeu em sua casa um grupo de pessoas estranhas trajando uniformes da USAF. Ainda recuperando-se da experiência passada, ele checou suas credenciais e anotou seus nomes. Os homens fizeram várias perguntas sobre as fotos tiradas em 1965 e questionaram se ele sabia de algo sobre o Triângulo das Bermudas. Neste meio tempo, Heflin percebeu um veículo estacionado na porta da frente de sua residência e, no banco traseiro, viu uma figura escura portando algo que emitia um brilho violeta, que ele atribuiu à tampa de um gravador de voz ou equipamento fotográfico. Durante a conversa, seu aparelho de rádio, na sala de sua casa, fez vários sinais sonoros sem razão aparente.
O pioneiro ufólogo James E. McDonald, então meteorologista da Universidade do Arizona, tentou persistentemente verificar a identidade daquelas pessoas, mas acabou descobrindo que eram impostores, pois nenhuma credencial correspondia a de algum oficial da USAF. Estas misteriosas singularidades levaram McDonald a uma conclusão: a questão sobre os homens de preto é muito mais complicada do que uma mera atividade de acobertamento sendo feita por agências governamentais. Não significa que este acobertamento e a política de ridicularização por parte das instituições não existam, pois é evidente que os assuntos relacionados a UFOs estão sujeitos a um constante silêncio oficial. No entanto, o fenômeno MIBs apresenta alguns aspectos e similaridades espantosas com seitas demoníacas e atividades paranormais.
Um folclore moderno?
Com o objetivo de entender este ponto particular, é essencial vol
tarmos ao passado e tentar perceber em que ponto — mesmo nos períodos em que ninguém ainda falava de UFOs e atividades de acobertamento pelos governos — é possível identificar algum tipo de fenômeno que apresentou características similares ao moderno “folclore” dos homens de preto. Se formos examinar episódios conhecidos dentro da onda ufológica de misteriosas aeronaves que se fez presente em 1896 e 1897 nos Estados Unidos, vamos notar que os mesmos padrões de comportamento estavam em funcionamento por parte de homens que surgiam do nada com estranhas alegações, de quem a população suspeitava bastante.
De fato, pouco antes do início daqueles históricos avistamentos — que ficaram conhecidos como as primeiras ondas ufológicas de que se tem conhecimento —, renomados advogados em várias cidades norte-americanas foram visitados por supostos inventores daquelas aeronaves, que buscavam ajuda para obter patentes. Eram sempre homens de olhos escuros e com características orientais, exatamente como os MIBs dos anos 50 e 60. Poderia se dizer que estas pessoas estavam falando a verdade, que queriam mesmo patentear invenções relacionadas às tais aeronaves que inundavam os céus do país na ocasião. O problema era que tais inventos nunca foram abertamente apresentados ao público e nem seus projetos de construção foram encontrados ou mesmo criados nas décadas seguintes, já que nenhuma nave terrestre apresentou tão alta tecnologia como aquelas. Isso sem mencionar que os ilusórios inventores desapareceram sem deixar rastro.
Qual é o sentido disto? Por que aqueles supostos inventores procuravam por patentes? Para encontrar a resposta, primeiramente devemos analisar, do aspecto psicológico, a possível razão para este comportamento. Naquela época, pessoas por todos os Estados Unidos estavam avistando estranhos objetos no céu, mas aqueles homens eram os únicos que sabiam o que estava acontecendo. Tais objetos eram aeronaves revolucionárias demonstrando um nível tecnológico aeronáutico que seria conseguido somente quase 50 anos depois. Esta foi a atividade para qual os misteriosos homens foram direcionados, ou seja, reafirmar para a população e fazê-la pensar que as aeronaves eram de origem humana, quando não eram.
O que acontece hoje é um pouco diferente, pois atualmente a mídia iria atrás do mistério e verificaria se havia fundamento ou não nas afirmações de tais inventores. Como consequência, o jogo da imprensa existente no cenário do Fenômeno UFO no fim do século XIX não iria dar certo atualmente. Tendo isso em mente, é necessário considerar que o método usado pelos homens de preto mais recentes tem mudado, apesar de a intenção ser sempre a mesma: abafar o assunto UFO e se certificar de que quase ninguém se preocupe com o que voa em nossos céus.
Há alguma coisa nova
Ademais, o tema dos MIBs apresenta outras estranhas características que devem ser mencionadas. Muito do comportamento dos tais homens de preto é de uma forma que mais se assemelha aos contos de fadas do folclore da Europa Ocidental. Por exemplo, como John A. Keel percebeu, a onda ufológica que ocorreu em 1967 em Long Island, no estado de Nova York, foi evidenciada por uma série de relatos pouco comuns relacionados a estranhos seres de aspecto oriental, tomados pela população na ocasião como “ciganos”, vistos sempre abordando pessoas em suas portas no meio da noite. Um homem que morava em uma fazenda próxima a Melville disse ter visto um disco metálico sobrevoando seus campos, a alguns metros de altura. Depois de alguns segundos, uma escada saiu do disco e por ela desceu alguém.
O homem observava tudo de uma janela, quando, de repente, o objeto desapareceu sem fazer qualquer tipo de ruído. Alguns dias depois, uma “cigana” foi até a casa do fazendeiro — sua pele era de cor oliva, seus olhos tinham características orientais e seus cabelos eram negros e longos. A “mulher” tinha por volta de 1,6 m de altura, trajava um vestido cinza longo e estava usando sandálias. Disse ela com uma voz retumbante e com sotaque: “Fiz uma longa viagem. Posso pedir-lhe um copo com água? Preciso tomar uma pílula”. O homem lhe trouxe o copo d’água e ela engoliu uma pílula verde. Depois, agradeceu e se foi. Ele estava extremamente surpreso e perplexo por não haver nenhum veículo à vista, pois morava em uma estrada secundária isolada e visitantes eram bastante raros no local. Só o que vira fora aquele disco voador.
Trazendo a discussão à tona
No mesmo período e local, uma senhora que vivia em uma antiga casa no topo de uma montanha, após uma chuva pesada, recebeu a visita de quatro seres de pele escura e rosto pontudo pronunciado, semelhantes a índios norte-americanos, mas vestindo caros ternos cinza-escuros. Eles lhe disseram que a propriedade dela havia pertencido à sua tribo e a queriam de volta. O que mais a assustou, além do inusitado pedido, foi o fato de não haver barro em seus sapatos — mesmo que a estrada estivesse cheia de lama naquele dia. E quando os estranhos foram embora, ela percebeu que não havia pegadas pelo caminho.
Pessoas de pele escura que surgem em sua porta fazendo estranhas solicitações e afirmações, aparições de sósias onde aconteceram avistamentos de objetos voadores não identificados, testemunhas que relatam terem sido contatadas por telefone ou pessoalmente por pesquisadores de UFOs, fazendo-se passar pelo citado John A. Keel e também Brad Steiger, justamente os que mais denunciavam os MIBs? O que significa tudo isso? Segundo os relatos, Keel e Steiger teriam ordenado as pessoas a não revelarem o que tinha observado — enquanto os “reais” Keel e Steiger estavam em lugares completa e comprovadamente diferentes. E, de qualquer forma, era impossível terem contatado aquelas testemunhas.
Mas não há nada de novo aqui. Este é apenas um tipo de renascimento, com alguns mínimos aspectos distintos, do mesmo fenômeno que eram os típicos contatos com os inventores das misteriosas aeronaves e habitantes de mundos de contos de fada. Enfrentamos uma consequência refletida e mimética. Na verdade, algumas pessoas, incluindo membros das forças armadas, foram realmente visitadas por membros de agências governamentais que os forçaram a não revelar o que tinham visto. Mas, por outro lado, a atividade dos homens de preto não é totalmente atribuída ao trabalho de homens comuns por duas razões.
A primeira é que o mesmo esforço para reafirmar à população
e mantê-la alheia ao que acontecia nos céus pode ser percebido examinando-se o acontecimento aéreo em 1896 e 1897, em relação ao qual seria um absurdo falar de acobertamento pelo governo, tão precocemente. As abordagens, lembremo-nos, foram conduzidas por homens misteriosos e de características orientais, que afirmaram ser os inventores das aeronaves não identificadas. A segunda é que a maioria dos contatos com homens de preto apresenta características que têm algo em comum com uma possível supervisão de uma agência de inteligência.
E agora?
Atualmente, quando as alegações de inventores de máquinas tão avançadas deveriam necessariamente ser seguidas por uma apresentação de tais eventos ao público, na hipótese de alguém alegar ter construído discos voadores inovadores, esta pessoa seria ridicularizada se não os apresentasse e comprovasse a utilidade de seu invento de forma absoluta. Por isso, as estratégias de amenizar os testemunhos ufológicos ou de silenciar — até por meios graves e hostis — as pessoas que testemunharam o fenômeno têm modificado seus métodos. Desde os secretos inventores até os homens de preto mais recentes parecem apresentar os mesmos propósitos, cujos meios podem ser pacíficos ou não.
A pergunta é: quem intimida as testemunhas e ufólogos? Não acreditamos que todas as tentativas de acobertamento do Fenômeno UFO possam ser atribuídas a inteligências não humanas, mas não se pode descartar a hipótese. Seria essencial entender se a casuística imitou a utilização de uma agência governamental terrestre preocupada com a integridade da soberania aérea ou se núcleos governamentais começaram a aplicar seu uso, cujas origens podem ser encontradas em todos os lugares, em outros países, outros planetas ou em outras dimensões.