Crânio mais antigo já achado na Europa mostra que o homem moderno ainda tinha características primitivas ao chegar ao continente, então dominado pelo neandertal. Os primeiros seres humanos anatomicamente modernos na Europa não eram tão “modernos” assim, e continuaram a evoluir depois de colonizar o continente, há 40.000 anos, de acordo com uma nova pesquisa, publicada na edição desta semana do periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo Hélene Rougier e Erik Trinkaus, da Universidade Washington em St. Louis, tirou essa conclusão da análise de um crânio de 35.000 anos encontrado na caverna Pestera cu Oase, na Romênia. Esse fóssil é o crânio humano completo mais antigo já descoberto na Europa.
Acredita-se que o homem moderno tenha surgido no leste da África há cerca de 200.000 anos, espalhado-se até o sul da África e da Ásia e, depois, passado pelo norte de África e até a Europa, há cerca de 40.000 anos. O crânio romeno é dos primeiros 5.000 anos da aparente ocupação da Europa por humanos modernos.
O crânio não tem características expressamente neandertais – o homem de neandertal foi o antecessor imediato do homem moderno na Europa, e supõe-se que a chegada da população moderna tenha levado o neandertal à extinção – mas apresenta uma combinação de características modernas e arcaicas que podem ser usadas para defender a hipótese, polêmica, de algum grau de miscigenação entre as duas espécies, embora especialistas não ligados ao trabalho duvidem disso.
Segundo um desses especialistas – Richard Potts, do Museu Nacional de História Natural do Instituto Smithsonian, ouvido pela Associated Press – não há grandes evidências de miscigenação entre humanos e neandertais, e esse crânio “não acrescenta nada” nesse sentido.
Nenhuma das características citadas no artigo da PNAS como incomuns no homem moderno é exclusiva do neandertal, destaca Potts. Essas poderiam ser características herdadas de populações anteriores, originárias da África. Já os autores do artigo para a PNAS destacam que a importância do crânio está em mostrar que os primeiros humanos modernos na Europa ainda não eram totalmente “modernos”. “Acho que o que esta descoberta realmente mostra é a natureza contínua da evolução humana”, afirma Trinkaus. “Tecnicamente, este é o crânio de um humano moderno, mas seres humanos, como os conhecemos hoje, evoluíram consideravelmente desde então”.