Um novo estudo de fotos da superfície marciana, que promete causar polêmica, sugere que água líquida correu pela superfície de Marte há alguns anos, o que eleva a probabilidade de o planeta vermelho contenha um ambiente capaz de abrigar formas de vida.
As imagens, feitas pela sonda Mars Global Surveyor (MGS) não mostram a água correndo – mas mostram mudanças, aparentemente recentes, no relevo, que são forte evidência de que água às vezes flui pela superfície, mesmo em períodos recentes. Presença de água e uma fonte estável de calor são considerados fatores essenciais para o surgimento da vida.
Até agora, a questão da água líquida em Marte vinha focalizando o passado distante do planeta, e o pólo Norte, onde detectou-se gelo de água. Cientistas já haviam percebido acidentes de relevo em Marte que se parecem com litorais ou dão a impressão de terem sido escavados por fluxos de água, e vinham tentando provar que Marte teve água líquida eras atrás.
“Isso destaca a importância de procurar vida em Marte, presente ou antiga”, disse Bruce Jakosky, astrobiólogo da Universidade do Colorado, e que não tomou parte no estudo apresentado pela Nasa. “É um motivo a mais para pensar que a vida poderia estar lá”.
As novas descobertas estão publicadas na edição desta semana da revista científica Science.
O professor de ciência planetária do Instituto de Tecnologia da Califórnia, Oded Aharonson, disse que a evidência de atividade hídrica recente em Marte é “forte”, mas que representa apenas uma possível explicação, dentre muitas. Entre as alternativas, Aharonson cita um possível deslizamento de areia.
A nova hipótese sobre a presença recente de água em Marte surgiu quando o MGS detectou gargantas e ravinas que, cientistas acreditam, são geologicamente jovens e foram escavadas por cursos de água de alta velocidade, correndo por encostas e pelas paredes de crateras.
Cientistas da empresa Malin Space Science Systems, que controla uma câmera a bordo do MGS, decidiram tirar novas fotos de milhares de gargantas, em busca de sinais recentes de água.
Duas gargantas, fotografadas em 1999 e 2001, voltaram a ser observadas em 2004 e 2005 e mostraram mudanças consistentes com a hipótese de água escorrendo pelas paredes da cratera, de acordo com o estudo.
Nos dois casos, os cientistas encontraram depósitos brilhantes e de cor clara nas gargantas, material que não estava lá nas gotos originais. Eles concluíram que esses depósitos – de lama, sais ou gelo – foram deixados quando água caiu, em cascata, pelos canais.
O MGS é a mesma sonda que perdeu contato com a Terra no final de novembro.
O planeta Marte formou-se juntamente com o restante do Sistema Solar, há mais de 4,5 bilhões de anos, e acredita-se que tenha passado por um período quente e úmido que teria terminado há mais de dois bilhões de anos, deixando o planeta extremamente frio e seco.
Água não pode existir como líquido por grandes períodos na superfície de Marte, porque a baixa pressão atmosférica e as baixas temperaturas logo transformam o material em gelo ou gás. Mas alguns estudos indicam que a água pode aparecer na superfície de tempos em tempos, irrompendo a partir de fontes subterrâneas.