Cientistas divulgaram bactéria que contém arsênio em sua formação
Equipe financiada pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA) encontrou o organismo, do filo protobactéria e família Halomonadaceae em lago na Califórnia. Batizada de GFAJ-1, o elemento químico que a mantém viva – o arsênio – é tóxico e letal para todos os seres vivos até então conhecidos na Terra.
Uma equipe da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, descobriu esta bactéria que utiliza o arsênio como substituto ao fósforo em sua composição. O organismo foi encontrado no lago Mono, no lado leste da Califórnia, nos Estados Unidos, deixando a comunidade científica em suspense. O achado abre espaço para novas concepções de vida, não baseadas nas formas tradicionais conhecidas.
Os cientistas participam de um grupo de pesquisa financiado pela NASA, que promoveu uma apresentação da descoberta na tarde desta quinta-feira (2). O pronunciamento foi feito após informações sobre a pesquisa terem chegado ao conhecimento público, gerando especulações sobre algum anúncio relacionado a vida extraterrestre.
Não foi bem isto, mas quase
O fósforo é um dos elementos básicos à vida, encontrado geralmente na forma inorgânica na natureza, como fosfato. Mas uma equipe integrada pelos astrobiólogos Ariel Anbar e Paul Davies publicou um artigo na revista Science no qual mostra a existência de uma bactéria inédita, com outra base de composição.
A aposta da autora principal do artigo, a cientista Felisa Wolfe-Simon, que já fez parte de grupo de pesquisa liderado por Anbar é de este novo organismo abrir margem para novas interpretações sobre os seres vivos, inclusive fora do ambiente terrestre.
O arsênio é conhecido como um elemento químico tóxico ao corpo. Todos os seres vivos são compostos com base em uma combinação de seis elementos químicos: carbono (C), hidrogênio (H), nitrogênio (N), oxigênio (O), fósforo (P) e enxofre (S) – fornando a sigla CHONPS. São basicamente encontradas em três componentes básicos: DNA (ácido desoxirribonucleico, que contém as informações básicas dos indivíduos vivos), proteínas e gorduras.
Agora, os cientistas têm em mãos um novo leque de possibilidades e certamente revisões de conceitos e preconceitos pela frente, afinal, a vida é muito mais resistente, variada e, ao mesmo tempo, insólita do que supunham, inclusive não dependendo exclusivamente do CHONPS.
Assista a um trecho explicativo, em português, sobre a importância da revelação:
Nova forma de vida é como um ET vivendo entre nós – Astrônomo explica
Um organismo diferente de todos os conhecidos anteriormente vivendo na Terra. A descoberta expandirá a procura de vida em outros planetas. A nova forma de vida teria origem distinta do ancestral comum que gerou a vida no nosso planeta.
Segundo Douglas Galante, coordenador do Laboratório de Astrobiologia do Hemisfério Sul, o AstroLab, na Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Terra, a descrição dessa bactéria “é de um ET vivendo entre nós, porque possui um metabolismo diferente de todos os organismos da Terra”. Para Galante, “é só a pontinha do iceberg da quantidade de organismos que não conhecemos e que são diferentes de tudo já conhecido”.
O estudo foi realizado por Felicia Wolfe-Simon, cientista da NASA. O organismo descoberto em lago tóxico na Califórnia, nos Estados Unidos, é capaz de usar arsênio ao invés de fósforo em seu metabolismo – todas as formas de vida do planeta, do menor microorganismo ao maior animal, são capazes de metabolizar com seis componentes – carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre (chamados pela sigla CHONPS). O novo organismo substitui o fósforo por arsênio, que é extremamente venenoso ao humano.
Para Galante, a descoberta “nos força a expandir os conceitos sobre o que é vida”. “Agora, sabemos que existem outros organismos que podem usar outros elementos”, completou. Galante explica que o arsênio, em humanos, pode ser confundido pelas células, a impedindo de respirar, o que a mata por falta de energia, por necrose.
O fósforo está presente em diversas moléculas no interior da célula – forma a estrutura do DNA, é a molécula base do ATP (transporte de energia)-, e faz parte do transporte de proteína e lipídios. O arsênio se parece com o fósforo, tendo o tamanho de átomo parecido, por exemplo, o que faz as células se confundirem.
A forma de vida descoberta possui metabolismo completamente diferente, incorporando o arsênio em suas moléculas mais baixas. É o primeiro organismo que pode construir material genético diferente do DNA. Pode ser visto, segundo Galante, ou como um alienígena entre nós ou como “um primo muito distante”.
O lago em que o organismo foi descoberto está isolado do oceano, com os sais ficando depositados nele. Assim, os elementos se concentram com a evaporação do lago, e a salinidade e seu PH aumentam. Hoje, a salinidade desse lago é, em média, 3 vezes maior que dos oceanos, e o PH é 10 – o humano varia entre 6 e 7.
A quantidade de oxigênio dissolvida na água é baixa. Mas já se sabia de organismos que conseguem sobreviver nesse lago – algumas algas, por exemplo. São organismos conhecidos como extremófilos, por viverem em situações extremas e são estudados pela exobiologia.
Galante acredita que a prioridade deva ser a continuação da procura na Terra. Para ele, menos de 1% da biodiversidade terrestre é conhecida. Ele conta que o financiamento para novas pesquisas fora da Terra devem continuar, apesar dos boatos de que o anúncio foi realizado sob grande alarde para buscar novos investidores.
Para ele, a campanha de marketing funcionou muito bem, com as mídias sociais sofrendo uma “enxurrada” de comentários. “Muita gente no mundo inteiro se voltou para a coletiva”, falou.
Agora poderemos descobrir extraterrestres
A responsável pelo programa de astrobiologia da NASA, Mary Voytek, acredita que a descoberta divulgada por um grupo de cientistas é uma revelação “fenomenal”, que abre as portas para novas áreas de pesquisa, designadamente sobre a vida extraterrestre. “Talvez agora possamos descobri-los”, respondeu a um jornalista, quando confrontada com a desilusão que o anúncio surtiu junto da opinião pública, depois de ter sido veiculada a idéia de que a NASA iria anunciar a descoberta de vida noutros planetas.
Felisa Wolfe-Simon, membro do departamento de astrobiologia da agência e principal responsável por esta investigação, explicou em conferência de imprensa como tudo se passou: pegou em sedimentos do fundo de um lago na Califórnia, isolou-os num frasco onde basicamente só tinha arsênio – um violento veneno natural – e, surpreendentemente, percebeu que havia uma bactéria que era capaz de sobreviver, contrariando tudo o que se sabia até agora sobre o que era necessário para a existência de vida.
Esta descoberta redefine aquilo que era até agora tido como os elementos base necessários para o desenvolvimento da vida. E, como enfatizou a investigadora, “abre a porta” à descoberta de novas formas de vida e até de vida em outros planetas, embora reconheça que “vai ser preciso um exército de cientistas e das suas idéias” para avançar com esta investigação.
A bactéria agora descoberta no Lago Mono não só é capaz de sobreviver no arsênio como incorpora elementos no seu próprio DNA e nas células. O trabalho destes investigadores é financiado pela NASA e foi divulgado na Internet pelo site Science Express.
Quebrando padrões pré-estabelecidos
Esta “simples” confirmação sobre a existência da GFAJ-1 introduz uma nova visão à exploração de vida extraterrestre. Para os pesquisadores da NASA, a descoberta amplia as possibilidades de vida na medida em que permite pensar que outros elementos químicos podem representar as mesmas funções em um organismo que o fósforo, por exemplo.
Fruto de um estudo feito para a revista Science pela pesquisadora Felise Wolfe-Simon, o anúncio aconteceu para contar ao mundo como um microorganismo conseguiu se desenvolver em um dos mais notórios venenos da Terra, o arsênio. Felise também contou que, desde 2009, ela e mais dois colegas lideram um grupo de estudos que cogitavam a possibilidade do arsênio, que aparece diretamente abaixo do fósforo na tabela periódica, pudesse substituir o fósforo na constituição básica da vida terrestre.
A nova forma de vida encontrada no lago Mono, na Califórnia, nos EUA, não só encontrou neste meio aparentemente hostil uma maneira de crescer, como incorporou o arsênio em seu DNA. “Todas as formas de vida que conhecemos se compõem, principalmente, do CHONPS.
Teoricamente, não há razão pela qual outros elementos não poderiam ser usados em vez dos “eleitos” pela natureza para constituir a vida. Só que a ciência nunca havia encontrado nenhum ser vivo que os usasse. “Talvez haja outras exceções sobre as quais devamos pensar a respeito”, acrescentou a pesquisadora.
Na prática, a descoberta traz uma nova perspectiva sobre o que é necessário para criar uma vida. “O estudo significa que ainda não sabemos tudo o que precisamos sobre as condições essenciais para sustentar a vida”, comentou ao brincar que as escolas, a partir de hoje, precisarão mudar seus livros ditádicos no que se refere à constituição da vida.
No entanto, as evidências ainda são muito incipientes para conclusões concretas e, principalmente, sobre outras formas de vida possíveis fora do planeta Terra. “A forma como o arsênio se introduz na estrutura das biomoléculas não está clara, e não conhecemos os mecanismos pelos quais operam tais moléculas”, finalizou Felise.
Assista a reportagem do Jornal Nacional:
Bactéria sem fósforo no DNA abre espaço para vida extraterrestre
A Sociedade Americana Para Progresso da Ciência [AAAS, na sigla em inglês], uma equipe de pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, descobriu a existência de uma bactéria que utiliza o elemento tóxico arsênico no lugar do fósforo em sua composição.
“Um dos princípios que guiavam a busca por vida em outros planetas, e nosso programa de astrobiologia, era que deveríamos seguir os seis elementos básicos”, explica o pesquisador Ariel Anbar, que dirige o programa de astrobiologia da Universidade do Arizona. A descoberta sugere a possibilidade de outras concepções de vida, não baseadas nas formas tradicionais até hoje conhecidas.
Baixe uma tradução de artigo da NASA, clicando aqui.
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