O pai da equação mais famosa da astronomia que faz 60 anos, e continua mais atual do que nunca.
Em 1960, um jovem astrônomo de 29 anos lançou publicamente um dos maiores questionamentos da ciência. Seu chamado era bem claro: “Estamos sozinhos no universo? Vamos buscar contato!”.
O nome do jovem cientista, então em início de carreira era Frank Drake, ele era o astrônomo do Observatório Nacional de Radioastronomia, em Green Bank, no estado da Virgínia. Drake que foi o criador da famosa equação que leva o seu nome.
Seu trabalho pioneiro buscava levantar USD 2.000,00 para a compra de um sensível radiotelescópio que escutaria o sussurro das mensagens de nossos vizinhos cósmicos.
Hoje com 90 anos, nem tudo foram flores para Drake, que enfrentou muitas críticas da comunidade científica, que considerava a busca por vida inteligente uma perda de tempo e de trabalho.
Muito disso principalmente porque na década de 60 a mídia era tomada de filmes e o assunto tinha tom de oportunista e fictício. Drake jamais desistiu e sabia, por conta de seus cálculos, que a Via Láctea estaria tão ricamente povoada quanto os oceanos da Terra, e que a humanidade estaria à deriva em uma extensão interestelar profundamente tranquila.
Como surgiu a equação?
A equação de Drake. Crédito: Salvador Nogueira
Drake sempre foi humilde e curioso, e sua rotina mesmo com a avançada idade é escrever suas pesquisas e programar suas palestras e trabalhos em comitês científicos.
Drake imaginou que se planetas como a Terra orbitam estrelas como o Sol, outros mundos de outros sistemas estelares poderiam ser habitados por civilizações avançadas o suficiente para transmitir sua presença ao cosmos. Esse pensamento faz todo sentido, pois se nós humanos fazíamos transmissões na forma de sinais de TV, rádio, radares militares e outras comunicações que vazam para espaço, por que nossos “vizinhos” não fariam o mesmo?
Logo surgiu o plano de um experimento para procurar sinais vindos de mundos que poderiam estar orbitando as estrelas mais próximas do Sol como, por exemplo, Proxima, Epsilon Eridani e Tau Ceti.
O nome inicial do projeto foi Ozma, em homenagem à princesa da série de TV Oz, de L. Frank Baum, na qual existiam seres nada convencionais.
O dia histórico para a ciência, foi 08 de abril de 1960, quando Drake junto de radiotelescópio de 26 m na região de Green Bank, iniciou a primeira pesquisa científica da humanidade que se dedicava à busca de inteligência extraterrestre.
Essa busca passou a ser chamada SETI [Search for Extraterrestrial Intelligence], que por capricho do destino não detectou nada além de estática cósmica.
Trabalho que revolucionou e inspirou
Quantas outras civilizações há na galáxia? Crédito: Revista UFO
Para muitos astrofísicos não ter encontrado outras inteligências não quer dizer que elas não existam na vizinhança próxima, mas que se existirem povos nas estrelas vizinhas, eles não usam nossa tecnologia há muito tempo ou não chegaram ao nosso grau de desenvolvimento tecnológico.
Hoje, 60 anos depois de Ozma, o esforço de Drake vem ganhando cada vez mais legitimidade, pois várias nações no planeta como a China acenam com a mesma iniciativa, só provando que Drake estava no caminho certo e que uma colaboração global é mais do que necessária para futuras grandes descobertas.
Ainda assim, a busca por vida inteligente ainda é considerada por muitos países como um alto investimento com baixo resultado. Por outro lado, temos o exemplo das missões Apollo, que mesmo sendo uma aposta arriscada, geram “dividendos” científicos até hoje.
O Projeto Ozma foi um sucesso desde que foi criado e tem atraído a atenção da mídia desde 1961, e até mesmo a Academia Nacional de Ciências pediu que Drake convocasse uma reunião em Green Bank para discutir a ampliação de seu projeto.
Foi no preparo dessa reunião que ele, casualmente, criou a famosa equação que o imortalizou. Na verdade, a equação é uma fórmula para estimar quantas civilizações podem ser detectáveis em nossa Via Láctea.
Após a publicação da equação, havia astrônomos de todo o mundo buscando trabalhar com Drake, e outros querendo criar seus projetos em seus países. A ex-União Soviética criou seu próprio projeto, com orçamento bem superior ao de Drake.
Liderada pelo astrônomo Iosef Shklovskii, a empreitada soviética não foi à frente pois a prioridade passou a ser a corrida espacial até a Lua, o que fez diminuir o interesse do bloco comunista sobre o que existia além das estrelas.
Atualmente os russos são grandes parceiros da iniciativa do SETI, o que fez surgir uma grande amizade e deu impulso à maior aceitação da comunidade global.
Problemas enfrentados
Emblema da NASA. Crédito: NASA
Nos Estados Unidos, devido à falta de interesse e visão científica o projeto SETI, anteriormente financiado pela NASA, teve sua verba cortada pelo Congresso, sob a alegação de desperdício de dinheiro público, com o que chamaram de “caça à marcianos”.
Mesmo assim, em 1984 foi criado o Instituto SETI que passou a ser financiado com recursos privados, e se localiza na Universidade da Califórnia.
O grande problema é que no campus os estudantes não costumam escolher cursos de pós-graduação que busquem por vida inteligente em outros sistemas estelares.
A atual geração foi formada pelo astrônomo Paul Horowitz, que manteve vários projetos pioneiros para a detecção de sinais de rádio e flashes a laser de civilizações em comunicação, e assim atraiu alguns alunos doutorandos para o instituto.
Os herdeiros do SETI
Radiotelescópios do projeto SETI Crédito: SETI
Desde de 1995, com a descoberta de dezenas de exoplanetas, os astrônomos passam por grande euforia, pois as buscas feitas pelo SETI não seriam mais feitas às cegas, e sim focadas em sinais vindos de planetas com grande potencial de vida com características físicas como o nosso.
Após décadas, descobrimos que existem um número muito maior de planetas do que de estrelas, e assim a estatística passou a sorrir para a equação de Drake.
Com essa nova perspectiva, o milionário Yuri Milner criou um novo projeto chamado Breakthrough Listen, com verba de USD 100 milhões para 10 anos de pesquisa.
Sua curiosidade foi inspirada exatamente pelo projeto SETI, e criou uma nova perspectiva para empreendimentos no setor, que passaram a ter um acesso gigantesco à mídia.
O Breakthrough Listen atualmente está na metade de seu prazo, e o projeto já utiliza uma grande quantidade de tempo no telescópio Green Bank, de 100 m e do Parkes Observatory da Austrália.
Além disso, os astrônomos do projeto estão montando uma estação de escutas também no MeerKAT, na África do Sul. A principal diferença é que atualmente os astrônomos não estão buscando apenas sinais de rádio, mas também por pulsos ópticos, calor residual gerado por civilizações poderosas ou quaisquer outros sinais de extraterrestres diferentes do padrão conhecido. A busca foi ampliada, e agora procuram também novas “assinaturas tecnológicas”.
O futuro da pesquisa
Vamos conseguir fazer contato? Crédito: CanalTec
A maioria da comunidade científica diz que o SETI está no meio de um renascimento, que seus grandes projetos estão apenas começando, e novos fundos de investimento vem se tornando reais, principalmente graças ao sucesso de iniciativas espaciais com o Space X, o que representa uma perspectiva mais ampla do lugar da humanidade no universo.
Se o SETI mantiver sua “chama”, os astrônomos estão otimistas de que os projetos futuros podem ser ainda mais ambiciosos e talvez saia do papel um dos maiores deles, que é a construção de um radiotelescópio no lado oposto da Lua, o único lugar no Sistema Solar onde as transmissões constantes da Terra não sobrecarregam os sinais de rádio dos radiotelescópios do SETI.
Pode demorar décadas ou até mais de um século, mas o otimismo de Drake se mantém exatamente nos sinais de rádio detectáveis ??de nossa tecnologia, que estão viajando há mais de 100 anos.
Para Drake, cedo ou tarde esses sinais vão gerar o interesse de nossos “vizinhos”, que mesmo com tecnologia avançada podem não ter detectado os sinais de nossa presença.
Como alternativa, podemos ser a única civilização ativa neste momento, e talvez outras civilizações já tenham surgido e caído na história dos 13,8 bilhões de anos do universo, ou ainda possam ser formas de vida nascentes, evoluindo lentamente, caminhando para organismos complexos.
Fazendo os cálculos com base na correção da equação de Drake sugerida por Ethan Siegel, chegamos à estimativa de que possam haver 10.000 mundos na Via Láctea, nos quais é possível existir uma variedade gigantesca de formas de vida, em vários estágios de evolução.
Mas seria o universo tão cruel que criou condições apenas para o nosso planeta ter formas de vida com a assinatura tecnológica mais evoluída? Prefiro acreditar, como Drake, que temos milhares de mundos vizinhos na Via Láctea, que optaram em não se comunicarem em massa como o grande cientista previu, mas que já podem estar nos visitando e tentando interferir o mínimo possível em nosso planeta.
Wagner Soeiro é professor, jornalista, divulgador científico, coordenador do Clube de Astronomia Rio Preto (CARP) e cofundador do Grupo de Estudos e Pesquisas Ufológicas Rio Preto (GEPURP)