“O Programa de Busca de Inteligência Extraterrestre (SETI) ainda pode levar um século para produzir resultados”. A previsão pouco animadora não vem de nenhum cético, mas de um dos maiores buscadores de vida extraterrestre da história, o astrônomo norte-americano Frank Drake. Foi ele quem usou pela primeira vez, em 1960, um radiotelescópio para procurar sinais eletromagnéticos que pudessem vir de alguma civilização alienígena. Um ano depois, escreveu a equação para calcular a probabilidade da existência de ETs na Via Láctea, fundando o Projeto SETI. Hoje, 60 anos depois, as buscas ainda não captaram nem um “oi” interplanetário. “Estou envergonhado. E mais cauteloso”, afirma Drake, ex-presidente do Instituto SETI, organização privada que cuida do projeto desde 1993, quando o governo dos Estados Unidos cortou as verbas para o programa. Veja uma entrevista com ele.
A sua equação já tem cinco décadas. Quais foram os avanços? O mais importante até o momento foi a detecção de outros sistemas planetários. Além disso, a chamada zona habitável ou ecosfera de um planeta pode ser muito maior do que imaginávamos décadas atrás. Outra descoberta foi que a vida pode ter surgido nos abismos oceânicos — isso aumenta a possibilidade de ela existir em qualquer lugar do universo.
O livro Sós no Universo, de Peter Ward e Donald Brownlee, usa esses mesmos argumentos para demonstrar que a vida inteligente é improvável fora da Terra. Como o senhor responde a essas críticas? Deve haver vida em grande abundância na galáxia, mas a questão é quão frequentemente a vida inteligente surge. Ward e Brownlee apresentam uma série de argumentos que dizem que isso poderia ser raro. Em contraste, há diversas outras afirmações. O registro fóssil da Terra, por exemplo, mostra que muitas criaturas estavam evoluindo para vir a ter cérebros suficientemente grandes —o que certamente desenvolveria a inteligência. Mas nós viemos primeiro.
Uma das principais dificuldades do SETI é convencer o público e os financiadores de que a busca pode levar décadas sem resultados. Como o senhor espera fazer isso? Bom, sim, ainda vai levar muitas décadas. Pode levar uns cem anos mais. Você olha para uma estrela após a outra e não vê nada. Mas é tão importante que vale a pena, porque os resultados finais seriam a coisa mais valiosa que já se viu. E não custa muito.
A NASA quer investir mais pesado em seu programa de astrobiologia. Isso dá ao SETI alguma esperança de financiamento do governo norte-americano? Sim, há esperança. O único obstáculo ao financiamento pelo governo, há alguns anos, foi um único senador, Richard Brian, e ele não está mais no Senado.
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