Em setembro de 1995, as grandes redes de televisão do mundo apresentaram reportagens sobre o provável acidente de um UFO em 1947 na cidade de Roswell, Novo México (EUA). Mas não era só isso: havia imagens inéditas de uma autópsia realizada em Fort Worth com um ser alienígena que estava na nave acidentada. A partir de então, a polêmica estava criada. Todos faziam as mesmas perguntas: As imagens são reais? Será uma prova definitiva de que os extraterrestres realmente visitam nosso planeta? Ou se trata simplesmente de uma fraude?
O filme causou tanta polêmica que, somente na Inglaterra, 5,5 milhões de espectadores ficaram simplesmente hipnotizados com as cruas imagens da autópsia. Algumas horas mais tarde, a emissora Sky TV anunciava que já haviam sido vendidas 23 mil cópias do filme em menos de 24 horas! Na Alemanha, as pessoas ficaram igualmente perplexas com o fato, de forma que 4 milhões de pessoas assistiram ao filme. O mundo inteiro ficou estupefato com a autópsia e as emissoras que exibiram o filme alcançaram picos de audiência. As reações do público foram diversas. Por um lado, via-se muita cautela enquanto, por outro, muitas pessoas acreditavam na veracidade do filme.
Embora não seja ainda unanimidade, internacionalmente já se dá como certo que o filme que mostra a suposta autópsia de um ET resgatado no acidente de Roswell é falso. Agora o debate se volta para outra questão ainda mais importante: o que ou quem está por trás de uma das maiores manobras de desinformação ufológica de que se tem notícia até hoje?
É preciso recordar a primeira exibição pública do filme da autópsia, que aconteceu em agosto de 1995, em Sheffield, ao norte da Inglaterra. A sessão foi destinada a um público de algumas centenas de estudiosos, em que Ray Santilli, um cineasta de 39 anos, assegurou que a filmagem havia sido feita por um cameraman que trabalhava no exército americano em 1947. Na ocasião, Santilli pediu desculpas à platéia pelos bruscos movimentos de imagens e perda de foco devido à dificuldade que o cinegrafista teve para operar o equipamento, que era muito pesado.
POUCO ESCRÚPULO — A filmagem, que tem uma duração total de 91 minutos, mostra três processos de autópsia bem definidos. Em uma primeira seqüência, de 7 minutos de duração, pode-se ver estendido em uma mesa de tenda militar, o corpo de um estranho ser sendo examinado por dois homens sob a luz de uma lamparina de petróleo, parecendo retirarem um pedaço de pele em um dos seus braços. O segundo corte da fita foi mostrado pela primeira vez no dia 26 de abril de 1995 a um produtor independente italiano, Maurizio Baiata, que também trabalhava para um centro Ufológico. Naquela ocasião, o produtor pôde ver 12 minutos da película, cujas cenas mostravam um ser desnudo dentro de uma sala de autópsias, aparentemente mais decomposto que o primeiro.
Nesta cena, entretanto, os médicos que aparecem não usam luvas cirúrgicas, protegendo-se apenas com máscaras. Finalmente, foram revelados os 18 minutos do filme, que mostrou um processo de autópsia que durou aproximadamente 50 minutos e que aconteceu em uma pequena sala em que era possível ver um relógio e um telefone característicos da época. Porém, boa parte do filme ainda não chegou ao conhecimento do público. Santilli afirma ter mais imagens, entre as quais estariam as da recuperação do UFO acidentado em Roswell.
FILME MOSTRADO A UFÓLOGOS — As fitas da autópsia foram apresentadas para um público de 105 ufólogos no 8° Congresso Internacional de Ufologia, em Sheffield, promovido pela British UFO Research Association (BUFORA). Um dos organizadores, o jornalista Phillip Mantle, chegou à conclusão de que a película era autêntica, embora muitos dissessem (e ainda dizem) o contrário. Entre os céticos, estão conceituados estudiosos como o doutor Fred Spoors, para quem a “criatura é suspeitosamente humana”, além de outros pesquisadores que afirmaram que a filmagem não passava de uma montagem fraudulenta.
Entretanto, desde 1947 foram recolhidos mais de 200 testemunhos diretos ou indiretos relacionados ao incidente de Roswell. E, como já havia notado o estudioso espanhol Ramón Oroz, houve declarações de todos os tipos. Entre elas se destaca a da esposa do piloto Henderson, que transportou os restos do disco voador e de seus supostos tripulantes. O piloto só fez essa revelação à sua mulher poucas horas antes de morrer, citando também a existência de filmes documentando o caso.
Com isto, chega-se a um dos pontos chave da questão. Mas só teremos uma resposta final se forem apresentados publicamente o autor das filmagens e as películas originais, com data de 1947. Caso contrário, será praticamente impossível negar a farsa. Embora Santilli não queira dar nenhuma confirmação a respeito, o cameraman que teria feito o filme é um homem que hoje tem mais de 80 anos de idade e se chama Jack Barnett. Este misterioso homem, segundo alguns investigadores, vive em Cincinnati, no estado de Ohio.
Há ainda pessoas mais céticas, como o físico nuclear Stanton Friedman, que não acredita sequer que o “tal de Barnett exista”. De fato, algumas investigações realizadas revelam que não havia nenhum Jack Barnett entre o pessoal da Base de Roswell. Mantle, por sua vez, argumenta que o cameraman não era da base e que havia sido enviado secretamente de Washington para a missão. Mas por que será que o cameraman se esconde tanto?
O certo, sem dúvida, é que o investigador inglês George Wingfield constatou logo que existiu um tal de Grady L. Barney ou Barnett relacionado com o caso. Este misterioso homem teria sido testemunha direta de tudo o que aconteceu em Roswell, vendo, inclusive, os corpos dos alienígenas em 1947. Porém, segundo informações de Wingfield, esta pessoa morreu em 1969 e, portanto, não estando vivo hoje, não poderia vender os rolos de filme para Ray Santilli. Isso nos leva, logicamente, a pensar que o nome de Barnett tenha sido apenas mais uma peça de uma operação comercial fraudulenta.
Outras revelações que ainda não vieram à luz dizem respeito às supostas confissões que o cameraman fez a Santilli. Entre elas, estão as lembranças de Roswell, onde diz ter visto seres vivos monstruosos (provavelmente os ETs) que uivavam sem cessar. Tais seres teriam sido capturados pelos militares a golpes de culatra. A ufóloga Jenny Randles, que faz eco dessas declarações do produtor britânico, alega que um
deles foi inclusive atado a um jipe e arrastado pelo deserto. Porém, para outros ufólogos, como o espanhol Vicente Olmos, isso tudo não passa de mais um elemento delirante na história.
De qualquer forma, o importante é que Santilli continua se negando a apresentar publicamente o homem que, segundo ele, fez as filmagens da autópsia. Um de seus argumentos é que o ancião, ex-oficial da Força Aérea dos EUA, se esconde por três motivos: 1) O temor de declarar os benefícios de sua venda em forma de impostos, 2) Colocar em jogo o bem estar de sua família, especialmente de seus netos e, 3) Medo de uma hipotética vingança devido ao fato de ter revelado o segredo e quebrado o juramento de fidelidade ao seu país.
Oras, o argumento do imposto de renda é simplesmente ridículo, quase tão improvável quanto uma “terrível vingança” vinda do governo norte-americano. Em relação ao seu juramento, ninguém tem provas. Não se sabe nem mesmo se a história é verdadeira, quanto mais o juramento! Infelizmente, não é muito fácil acreditar que Barnett teria escondido os rolos de filme durante 48 anos no sótão de sua casa e, sem mais nem menos, os vendidos por dinheiro, atraiçoando o governo de seu país, que possui os direitos de posse do material. Dessa forma, quando o cameraman nega aparecer em público por motivos de fidelidade à pátria, é mais uma grande contradição.
EXAMINANDO A PELÍCULA — Um dos pontos fundamentais a ser resolvido na trama da autópsia é a idade da película. Santilli assegura que o material foi analisado em três laboratórios diferentes. Uma das pessoas que fez a análise é Laurence Cate, de Hollywood. Porém, segundo o jornal Sunday Times, o senhor Cate é, na realidade, apenas um vendedor da Kodak e não um perito em identificação fotográfica.
Outra das análises foi realizada na Inglaterra por Peter Milson, que após estudar as filmagens, determinou que os códigos do processo industrial se repetem a cada 20 anos. Para ele, a película pode ser de 1927, 1947 ou 1967. Entretanto, a conclusão de Milson omite o ano de 1987. Seu informe não possui o carimbo da Kodak e o fax que enviou pertence, na realidade, à empresa Marketing Planning Manager, Motion, Picture & Television. Em conclusão, é um grande equívoco a informação de que as películas foram analisadas pela Kodak.
Já a análise feita pela Fox Filmes dos Estados Unidos, teve seu resultado em 28 de agosto de 1995 e aponta que a fabricação das películas foi realizada em 1947. Segundo a Fox, essa afirmação é acompanhada por evidências como a ausência de trilha sonora no filme e dupla perfuração apresentada pelo celulóide. Se isso for verdade, ainda não exclui a hipótese de fraude, pois toda a mentira pode ter sido construída em 1947 ou em anos posteriores por motivos que ainda desconhecemos.
Há que se reconhecer que, mesmo sendo uma fraude, o cenário é perfeito. De fato, ao se analisar as imagens em detalhe, os primeiros elementos debatidos pelos estudiosos foram a mesa de operações, o cabo do telefone e o relógio que estava em uma das paredes da sala de autópsia. Posteriormente, também foram estudados os trajes usados pelos patologistas e as técnicas e instrumentos utilizados no processo cirúrgico. Pois bem: as últimas investigações apontam que, efetivamente, trata-se de uma mesa de autópsia com buracos para recolher fluidos, típica da década de 40. Quanto ao cabo do telefone em espiral, confirmou-se que já era utilizado em 1945 e, finalmente, ficou igualmente constatado que os primeiros relógios como o do filme surgiram em 1938.
Com relação aos trajes dos médicos, são idênticos aos que eram utilizados em instalações químicas ou nucleares. Considerando que Roswell era o único lugar do planeta que dispunha de tecnologia nuclear naquela época, torna-se possível que tais indumentárias estivessem ali, embora há quem diga que a dissecação foi realizada em Dallas. Em suma, nenhum desses elementos desmente a hipótese da autenticidade da película, mas tampouco permite descartar que não foram buscados cuidadosamente para o cenário de filmagem.
No que se refere às autópsias, as opiniões são as mais díspares possíveis. Assim, a emissora de TV alemã RTL pôs em mãos do professor Wolfgang Eisenmenger, um dos patologistas mais conhecidos de seu país, uma cópia do filme. O estudioso admitiu que tanto os instrumentos utilizados como as técnicas correspondem às de 50 anos atrás, porém, não achou comum a escassa saída de fluido sangüíneo nas incisões.
OPINIÕES DIVERGENTES — Para ele e outros forenses como o italiano Paolo Fiorino, as imagens mostram um corpo com ausência de rigor mortis, ou seja, da clássica rigidez cadavérica. Pelo que se sabe, o ser deve ter morrido pouco tempo antes da autópsia mas, se fosse assim, o fluido de sangue seria mais abundante. No que diz respeito à abertura do crânio, segundo Eisenmenger, foi um procedimento pouco profissional: “Eles pareciam estar cortando pão”. Embora certos descuidos tenham realmente acontecido, sabe-se hoje que autópsias de pessoas famosas como o presidente Kennedy também foram realizadas de modo praticamente leviano, com muitos erros, de forma que ninguém questionou a autenticidade dos forenses.
O doutor Paul O\’Higgin, da University College de Londres, fez a seguinte declaração ao jornal Observer: “Se pensarmos por um momento que realmente aqueles seres eram cadáveres de outro mundo, teria sido uma oportunidade única para os cientistas. Devemos crer, portanto, que seriam esquartejados cedo ou tarde. Eu teria necessitado de semanas para realizar uma autópsia como essa”.
UM BONECO — Rolf Gisen, veterano especialista na realização de efeitos especiais no cinema, entende que em 1947 era impossível se fabricar um corpo com as características do ser mostrado no filme. As técnicas de criação de bonecos deste tipo só se desenvolveram a partir da década de 60. Uma observação feita pelo investigador espanhol Pedro Canto, que analisou os fotogramas através de um aparelho ótico, revela que havia um corte excessivamente limpo e
sem sangue no pulso direito do alienígena. Isso só seria possível se o ser fosse um boneco. Em definitivo, continuamos sem resposta.
Contudo, há outros pequenos detalhes do filme que podem depor a favor de sua veracidade: o nome de Detlev Bronk aparece na parte superior do livro de notas de um dos médicos que ajudam na autópsia. Segundo Baiata, havia subtítulos na filmagem de 12 minutos que viu e que, textualmente, diziam que a autópsia fora executada pelo doutor Bronk. Mesmo assim, seguimos no escuro…
Muitas pessoas que assistiram ao documentário pela televisão dizem ter a impressão de que o material faz parte de um documentário ou coisa parecida. Há quem postule que as imagens são parte de um documentário brasileiro feito nos anos 60, mas esta hipótese não é aceita por Mantle. Por outro lado, Wingfield desconfia que as imagens da autópsia podem ter sido criadas pelo próprio governo dos Estados Unidos como um vídeo de formação para atuar de maneira efetiva frente a um eventual contato extraterrestre.
Nos últimos meses, os estudiosos trasladaram suas hipóteses a outros campos do conhecimento. Walter Andrews, por exemplo, acredita na possibilidade de que o ser que se encontrava ferido na mesa de autópsias poderia ser um jovem que sofreu um processo de envelhecimento precoce. Esta enfermidade hereditária afeta crianças que vivem poucos anos e envelhecem rapidamente.
Com freqüência, elas são vítimas de outras enfermidades como a hidrocefalia, o que justifica o tamanho exagerado do crânio do suposto extraterrestre. Esta hipótese, entretanto, não explicaria a polidactilia e nem a ausência de umbigo no ser. Esse é um aspecto que gerou uma outra hipótese, desta vez mais assombrosa: a dos experimentos genéticos. A pequena entidade poderia ser, neste caso, um ser humano geneticamente manipulado ou até mesmo uma mutação expontânea, fruto de ensaios nucleares na região de Roswell.
De fato, cabe destacar que Santilli declarou que o câmera nunca se referiu a estes pequenos seres como procedentes do espaço exterior, várias vezes se referia a eles como monstros. Para o ufólogo espanhol Antônio Rivera, o suposto alienígena (que foi batizado com o nome de Roswie) não é autêntico. Rivera se inclina a pensar que a anatomia de todos os extraterrestres descritos até hoje pela Ufologia não corresponde à do ser apresentado no filme de Santilli, que já ganhou muitos milhões com a venda das imagens às cadeias de televisão em todo o mundo.
O proprietário dos direitos autorais do filme da autópsia, Ray Santilli, recentemente declarou em entrevista à revista alemã Focus que “não digo que o filme seja verdade nem mentira. Digo que cada um deve vê-lo e tirar suas próprias conclusões”. De preferência, comprando sua fita e engrossando, ao mesmo tempo, sua conta bancária e a lista dos frustrados…
NEGÓCIO DO ANO — Claro que existe, além disso, outro negócio, em função do interesse dos chamados UFO-fãs de todas as partes do planeta que estão comprando o vídeo, principalmente através da rede Internet. Para apoiar a evidência de que atrás de tudo isso há, acima de tudo, um grande negócio, falta somente ser incluído o nome do subtenente Walter Haut, que era relações públicas da Base de Roswell em 1947.
Ele se associou ao coveiro do povoado naquela época com a finalidade de se aproveitar da agitação publicitária que o tema levantou nos Estados Unidos. Assim, Haut tentou comprar as terras (de propriedade privada) onde supostamente havia se acidentado o UFO. Como não conseguiu realizar a compra do terreno, inventou uma pequena historinha, dizendo que o objeto havia caído alguns quilômetros à frente… Desta forma, conseguiu explorar turisticamente o caso.
Apesar de tudo isso, há ainda quem diga que Ray Santilli é apenas mais uma vítima desta trama comercial. O certo é que, autêntico ou falso, o filme vem proporcionando a Santilli o melhor negócio de toda sua vida. Sempre que indagado sobre a veracidade da película, o esperto cineasta se esquiva delicadamente: “Eu não digo que o filme seja verdadeiro, eu só digo que todo mundo deve assistir e tirar suas próprias conclusões”.
Diversas fontes asseguram que o produtor britânico viu-se obrigado a associar-se para conseguir pagar os 100 mil dólares pelo material. Sem dúvida, a soma era muito alta para a pequena empresa de Santilli, cujo principal lucro até então vinha da venda de livros e vídeos sobre Elvis Presley e Brian Jones. Por isso, acredita-se que o empreendimento do cineasta foi financiado por alguém que se esconde atrás de poderosos interesses. Mas quais? Com que finalidade? Desacreditar o Caso Roswell? Desprestigiar o movimento ufológico?
Desde o primeiro momento, Santilli participou ativamente da discussão do tema na rede mundial Internet, uma das mais potentes vias de informação, mas também um autêntico ninho de rumores. Um dos participantes dessa discussão foi Steven Schiff Promete, do Novo México, que assegurou que o caso terá novas revelações nos próximos meses. Mas quem garante? Outros participantes mais cuidadosos, entretanto, atacam os vídeos, dizendo que pode ser uma falsificação do governo dos Estados Unidos, feita através do Departamento da Força Aérea de Inteligência Espacial (AFOSI).
INTRIGAS PELA INTERNET — São muitas as peças que não se encaixam no quebra-cabeças do filme da autópsia. Por exemplo, o fato de que Phillip Mantle tenha nisso um papel tão incomum desde o princípio. Ele e Carl Nagaits (co-autores do livro Without Consent), de modo diferente dos outros diretores da BUFORA, mostraram-se ambíguos diante da opinião pública na hora de pronunciarem suas opiniões sobre a autenticidade das imagens. Contudo, suas intervenções foram fundamentais para que a operação de Santilli encontrasse apoio nas emissoras de TV e instituições ufológicas.
Não se pode negar que Mantle e Nagaits tenham certa influência na Ufologia. Eles foram os organizadores do 8° Congresso Internacional de Ufologia de Sheffield e transformaram o evento na plataforma ideal para a apresentação do filme da autópsia. Suas opiniões sempre estiveram inclinadas em favor do filme, confirmando, em alguns casos, rumores de que estavam unidos a Santilli, divulgando o caso da autópsia pela Internet e emissoras de TV.
Não nos cabe provar se o filme é uma fraude (muito bem montada, por sinal). Essa tarefa, infelizmente, está destinada a Santilli e seus colaboradores, que devem mostrar veementemente que não são os meros fraudadores que aparentam ser. O primeiro passo é apresentar publicamente o cameraman que filmou as imagens e as vendeu para Ray Santilli. O segundo é entregar os rolos a instituições verdadeiramente qualificadas. O re
stante é apenas intriga e perda de tempo. Porém, ainda resta uma dúvida: Se a película é uma espetacular fraude, o que se esconde por trás dela? Será uma simples montagem para fazer dinheiro fácil? Ou, pelo contrário, esconde uma intenção inconfessável?
INVESTIGAÇÃO DE MARSELHA — De qualquer forma, existem muitas evidências de que no ano de 1947 realmente aconteceu um acidente com um UFO em Roswell. Isso não se questiona. Mas o filme de Santilli tem ocupado um papel desprestigiador com o Caso Roswell, atribuindo-lhe a mesma falsidade. Deixo as conclusões para o leitor.
Depois de várias semanas, uma severa investigação do filme foi feita na cidade de Marselha, na França, por vários peritos e estudiosos do Fenômeno UFO. O objetivo desses investigadores era desvendar as numerosas incógnitas que o filme da suposta autópsia suscitou desde seu surgimento na mídia. Entre os pesquisadores estava Phillip Mantle, representante da MUFON na Inglaterra e diretor de investigações da BUFORA. Mantle tem manifestado uma posição ambígua a respeito da autenticidade do filme, além de ser amigo pessoal de Ray Santilli.
Em Marselha discutiu-se a descoberta de que os laboratórios de Hollywood, Inglaterra e Dinamarca que Santilli havia consultado só tiveram acesso a uma parte das fitas. Foi constatado que grande parte dos fotogramas estava em branco, sem falar que os laboratórios analisaram somente cópias de um dos supostos rolos. Em tal fragmento de filme podia-se distinguir nitidamente a palavra Koda, seguida de um triângulo e um quadrado negros, tipo de código empregado pela Kodak para indicar a data de fabricação do celulóide. Mas quem garante que essa fita pertencia ao mesmo conjunto de películas da autópsia?
De fato, tanto a multinacional Kodak quanto a companhia inglesa Hasan Shah Films se ofereceram para analisar as bobinas, mas Santilli recusou ambas as ofertas dizendo que as películas não estavam mais em suas mãos e que as tinha vendido para um colecionador. Assim, o principal argumento que o cineasta tinha a favor do filme, foi por água abaixo. Considerando que o filme é uma fraude, ainda resta uma questão: Quem a realizou? O simples fato da fita ter sido fabricada em 1947 demonstra a autenticidade do filme? Evidentemente que não. O que se pode supor até agora é que a película tem 50 anos de idade, enquanto a fraude teria mais ou menos um ano. Um dos investigadores que estavam em Marselha é Michel DupontCazon, que trabalha há mais de 40 anos na polícia científica como especialista em fotografia. Sua grande experiência profissional foi de inestimável valor para a compreensão do caso.
“Películas antigas, fabricadas há muitos anos, são praticamente inutilizáveis, mas em certas circunstâncias podem ser reativadas. Há métodos químicos que permitem reativar uma película vencida, em particular uma solução de mercúrio muito complicada. Esse método deteriora ligeiramente a emulsão reveladora da imagem, produzindo maior granulação”, diz DupontCazon.
A partir desta declaração, as peças do puzzle começaram a se encaixar. Quando Cazon tirou de sua mala uma pequena câmera muito antiga, continuou com suas esclarecedoras explicações: “Em 1947 existiam dois tipos de câmeras 16 mm: a Cine Kodak Especial, com duas objetivas e utilizada principalmente em laboratórios e a Bell & Howell que, como vocês estão vendo, pode ser usada na atualidade se estiver provida de películas adequadas”. Todos ficaram simplesmente absortos diante das declarações do expert francês. Tudo começava a fazer sentido.
Aquela pequena câmera para bobinas de 30 m adquirida na Inglaterra, constituía, sem dúvida, a prova de que é possível fazer filmes em 16 mm atualmente com películas vencidas, bastando somente encontrar filmes virgens da época. Então, era só realizar o processo de reativação química e fazer a filmagem. Deste modo, o caso estava encerrado: o filme foi feito em nossos dias com uma fita de 1947, produzido com sofisticados efeitos de trucagem atuais.
MISTERIOSAS FOTOS — Depois que o Channel 4 Britânico exibiu as imagens da autópsia no fim de agosto de 1995, Mantle recebeu em sua casa uma carta de uma produtora chamada Morgana Productions. O envelope continha três fotografias em branco e preto que mostravam que o suposto extraterrestre da autópsia era, na realidade, uma construção atual. Ou seja, tratava-se de um boneco. As fotos mostravam um boneco de material parecido com plástico e borracha sendo retocado e preparado para a filmagem.
Porém, mesmo com estas evidências, Mantle diz que as fotografias foram analisadas pelo presidente da BUFORA, John Spencer e conclui que o modelo utilizado nelas, ainda que parecido, não corresponde ao ser autopsiado. Surpreendente afirmação, ainda que seja óbvio que a BUFORA não é a instituição mais indicada para analisar o material, pois todos sabem de que lado ela está.
O próprio Mantle disse que tentou entrar em contato com a produtora Morgana, mas verificou que a empresa não existia e entendia que as fotos poderiam ter sido enviadas por um antigo e ressentido colaborador de Santilli. Não deixa de ser uma explicação plausível, porém, percebeu-se que Santilli e Mantle estão buscando uma explicação para tais fotos e controlando sua difusão, pois têm medo de serem desmoralizados.
UMA FILMAGEM MUTILADA — A projeção do filme em Marselha se realizou sob uma estrita vigilância policial. A platéia foi obrigada a deixar suas câmeras, microfones, gravadores e máquinas fotográficas guardadas. Mesmo assim, apesar de todas as medidas de segurança tomadas no evento, há pessoas que conseguem burlar as regras. Recentemente, o jornalista Jacques Pradel tem comercializado um filme – anunciado-o como documento integral – com as imagens da autópsia. Atualmente, ele enfrenta um processo judicial por não obedecer às leis de direitos autorais.
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Pois bem, durante mais de uma hora, cerca de 150 pessoas contemplaram em silêncio os 12 rolos que compõem as filmagens da autópsia, sem nenhum corte. Porém, para surpresa de todos, aquelas filmagens (aparentemente as mesmas que foram apresentadas em Sheffield e San Marino) não continham nem mesmo os 12 minutos que o produtor italiano Maurizio Baiata mostrou em abril do ano passado. Mas onde estavam? Qual a explicação que Mantle daria sobre aquilo?
A resposta veio quando o ufólogo britânico confessou que o próprio Santilli duvidava do fragmento filmado na tenda de campanha, onde aparece um ser muito similar ao tipo de ET já conhecido pelos leitores. Mas se a película é do mesmo tipo e o humanóide filmado possui as mesmas características morfológicas, por que apenas um dos rolos iria ser fraudado e os outros não? Tudo leva a crer, definitivamente, que os interesses econômicos desta história continuam obrigando seus responsáveis a manterem a mesma postura.
São muitas as contradições…
• Carl Nagaits difunde o rumor de que Steven Spielberg estaria interessado em adquirir os direitos das fitas sobre a autópsia para utilizá-las em um filme que prepararia sobre o Caso Roswell. Atraindo assim, indiretamente, a atenção dos meios de comunicação mundiais.
• Há fortes indícios de que tudo não passa de uma farsa, mas quando o caso for desmentido já terá causado muitos danos à Ufologia e à informação.
• O sócio de Santilli, Chris Cary, estabeleceu uma estratégia de marketing baseada em revelar dados gradualmente, gerando grande suspense entre o público. Curiosamente, o congresso de Ufologia, com mais de mil pessoas, especialmente jornalistas e ufólogos, foi organizado pela dupla Mantle e Nagaits.
• Algumas pessoas dizem ter reconhecido nas imagens mostradas por Santilli seqüências de um antigo documentário chamado Unsolved Mysteries. Phillip Mantle, por sua vez, desmentiu imediatamente tal possibilidade mesmo sem investigar nada a respeito.
• Há denúncias de que as técnicas de filmagem não correspondem às utilizadas em 1947. As câmeras da época eram muito pesadas, pouco manejáveis e costumavam ser colocadas em tripés. Dificilmente poderiam rodar uma película cinematográfica com as câmeras apoiadas no ombro de alguém, como sugerem as fitas de Ray Santilli.
• Diante dessas evidências, percebe-se a precariedade com que o operador tinha que trabalhar em um pequeno espaço, dividido com os médicos. Em vários trechos do filme nos quais o câmera está sobre o cadáver do suposto ET, não há um só plano rodado com tripé.
• Os especialistas denunciam que o corpo não possui o clássico rigor mortis de um cadáver, uma vez que os cirurgiões – segundo as imagens vistas no filme – movem sem dificuldade algumas articulações, demonstrativas do escasso tempo transcorrido desde a morte do pequeno ser.
• Todo o cenário é tão meticulosamente real que tudo está exatamente em seu lugar e com tão sutil detalhe, que parece justificar que a película é, em verdade, autêntica e rodada em 1947.
• Os especialistas, sem dúvida, assinalam não somente que a autópsia não foi feita corretamente pelos supostos patólogos. Seria impossível realizá-la em algumas horas como indica o filme. E mais: acrescentam que se se tratasse realmente de um cadáver extraterrestre, jamais a autópsia seria feita em uma tenda de campanha, com meios tão rudimentares (inclusive para a época), em condições totalmente impróprias, por um segredo que se quisesse manter. O trabalho deveria ter sido muito mais eficiente, elaborado e complexo.
Testemunha-chave muda de opinião por dinheiro
A ampla divulgação publicitária em torno da filmagem tem aumentado notavelmente o número de visitas a Roswell, Novo México. Os norte-americanos, muito inclinados para os negócios, estão sabendo tirar proveito econômico do controverso Caso Roswell. Assim, em nome do International UFO Museum, uma espécie de tenda-museu construída na cidade, Max Litell, tesoureiro da instituição, juntamente com Walter Haut e Glenn Dennis (também componentes do museu), iniciaram os trâmites para a aquisição do terreno onde, hipoteticamente, havia caído o UFO.
A localização do suposto lugar do acidente só foi possível graças à declaração de Jim Ragsdale, que foi testemunha do caso. Ele assegurou aos investigadores Kevin Randle e Don Schimitt que a zona em questão se encontrava 56,3 km ao norte de Roswell. Os espertos componentes do museu visitaram então o proprietário dos terrenos, Miller Corn. A intenção dos três era converter o local em atração turística, mas o proprietário se negou a vender as terras apesar de todas as ofertas que lhe foram feitas.
A negação de Corn só deixou uma saída aos negociantes: tentar modificar o testemunho de Ragsdale. E assim o fizeram, alcançando seu objetivo. Segundo informa Phillip Klass em seu jornal Skeptics UFO Newsletter, Ragsdale declara agora que o lugar do acidente está situado 75 km a oeste de Roswell. Claro que esta aparente amnésia inicial que o fez mudar de opinião só se iniciou após Ragsdale negociar aproximadamente 25% dos benefícios deste próspero negócio. A única testemunha do caso que ainda não alterou seu depoimento é Frank Kaufmann. Será que ele o mudará por motivos parecidos?