Evidentemente não demoraria muito para que tornássemos a falar de ficção científica. E especificamente, na subdivisão dentro desse gênero que vem a ser a FC ufológica. Muito pouca gente deve saber, mas o primeiro romance brasileiro de ficção científica foi O Homem que viu o Disco Voador, lançado em 1966 por Rubens Teixeira Scavone.
A ficção científica sempre teve menos apoio no Brasil do que, por exemplo, a fantasia. Como nosso país apenas se industrializou e tornou-se mais urbano em um passado recente, ainda permanecem firmes as lendas e o folclore das cidades do interior, e é nessa base que se assentam tantas obras sobre fantasmas, monstros, vampiros e outras criaturas fantásticas, que fazem tremendo sucesso na literatura fantástica.
Já a ficção científica, por estar intimamente relacionada a ciência, que sempre foi deficiente no Brasil até tempos muito recentes, apenas agora começa a se erguer e experimentar maior visibilidade. Mesmo assim várias editoras tem apostado na FC desde os anos 1960, e o gênero possui fiéis seguidores no Brasil. Contudo, a FC ufológica também enfrenta certa resistência no meio, chamado também de fandom, justamente pelo fato de a Ufologia ainda não poder ser classificada como ciência.
Entretanto, é necessário que se reconheça que falamos aqui, afinal, de ficção científica, e não de divulgação científica. Esta última obrigatoriamente precisa estar firmemente ancorada no conhecimento científico. Aquela não, do contrário não teria o termo \”ficção\” em sua designação. E o fato é que a FC ufológica tem sido um subgênero forte na ficção científica brasileira, e deve experimentar muito em breve uma grande divulgação, graças a estréia nos próximos meses do filme Área Q, do produtor Luis Eduardo Girão, o mesmo de Bezerra de Menezes (2008). A trama tem participação do ator americano Isaiah Washington (da série Grey´s Anatomy), e dos brasileiros Tânia Kalil e Murilo Rosa. O trailer pode ser conferido aqui.
E vale ressaltar que já falamos de Área Q na seção Imprensa Ufológica de UFO 163. Esperemos que o filme comprove que se pode fazer ficção científica também no Brasil, e que os produtores atentem para o fato de que temos excelentes escritores do gênero, que nada devem ao que de melhor se faz lá fora.
Podemos mencionar os diversos autores que participaram da antologia Invasão (Giz Editorial), mencionada em UFO 159 também em Imprensa Ufológica, e no romance Relâmpagos de Sangue (Novo Século) de Nelson Magrini, mencionado na mesma seção em UFO 160.
Evidentemente não poderia deixar de mencionar a antologia Ufo: Contos Não Identificados (Editora Literata), da qual participo como autor convidado, organizada por Georgette Silen (que menciona na apresentação do livro haver sido testemunha da Noite Oficial dos UFOs, em 19/20 de maio de 1986), e ricamente ilustrada pelo artista Anubian Etriel, além dos contos de alguns dos melhores autores brasileiros. Quem se interessar pode adquirir a antologia aqui.
Obviamente não deixaria de fora meu próprio livro, De Roswell a Varginha (Tarja Editorial), por mim inspirado nos dois famosos casos da Ufologia mundial, e no qual muito me honra ter o prefácio assinado por nosso editor, A.J. Gevaerd. Minha intenção foi produzir uma trama fechada mas ao mesmo tempo deixar \”pontas soltas\” a fim de prosseguir a história em continuações. Já tenho algumas destas prontas, e estou no processo de procurar editoras para lançá-las.
Ao mesmo tempo, as características da história de De Roswell a Varginha me permitiram também escrever uma série de contos com os mesmos personagens, que vim a publicar em meu blog Escritor com R. E tenho o prazer e anunciar que acabo de postar mais uma história nesse blog, intitulada As Aparições de Rio Verde. Abaixo, submeto aos leitores alguns trechos:
\”Na escola municipal, onde ambos estavam no último ano colegial, simplesmente fingiam nem se conhecer. Mas sempre que podiam fugiam e se encontravam naquele bosque, onde tinham liberdade de expressar seu amor sem qualquer vigilância.
Até que começaram a testemunhas coisas muito estranhas. Luzes surgiam no céu, passavam voando entre as árvores e barulhos e sons esquisitos enchiam o bosque. A princípio com medo, os jovens acabaram sendo atraídos pelos estranhos fenômenos.
Quando finalmente o viram. Um ser pequeno, imerso em luzes ofuscantes mas que eles conseguiam olhar diretamente sem ferir os olhos. O ser falou com eles, deu-lhes conselhos, e pediu que continuassem a voltar ao bosque\”.
\”Gonça começou falando, fazendo um apanhado geral do que é a Ufologia desde seu início oficial, com o avistamento do americano Kenneth Arnold em 24 de junho de 1947. Descreveu casos famosos como os de Roswell e Varginha, e o esforço sendo feito pela comunidade de ufólogos para que o governo brasileiro liberasse seus arquivos sobre discos voadores.
Uma certa polêmica se instalou quando ele falou de uma das últimas edições especiais da revista OVNI, com o título Ufos e Aparições Religiosas. Ele descreveu o famoso Caso Baturité, no Ceará, onde um alegado beato sustentava conversar com Nossa Senhora. Equipes de TV e ufólogos presentes quando de uma das mais famosas aparições registraram a presença de numerosos objetos voadores não identificados luminosos, que os fiéis descreviam como a “Glória do Senhor”. Gonça ainda mencionou outros casos de observações de ovnis que haviam a princípio sido tomadas como aparições de santos. Uma garota na primeira fileira perguntou a respeito da conhecida teoria dos deuses-astronautas, e o editor da OVNI respondeu descrevendo descobertas arqueológicas que poderiam ser evidências de visitas extraterrestres centenas ou milhares de anos atrás.
Voltou a falar de supostas aparições religiosas, mencionando alguns ufólogos que defendiam a tese de que fenômenos acontecidos em Medjugorge, na antiga Iugoslávia no final dos anos 1980, tinham origem alienígena. O caso fora amplamente noticiado. Gonçalves preferiu não mencionar o caso das aparições em Fátima, Portugal, em 1917, que alguns ufólogos portugueses diziam ser na verdade um fenômeno ufológico, do qual a Igreja se havia “apropriado”\”.
\”- Lembro de um grande cientista e divulgador científico que sempre me inspirou muito. Seu nome era Carl Sagan. Ele escreveu, certa vez, que as trevas estão recrudescendo em nosso mundo, embaladas pelas crendices, pela superstição e pela desavergonhada manipulação da credulidade alheia. Gente que sem a menor cerimônia vende “milagres”, alegando que cura até câncer e AIDS!
O jornalista observou Murilo, que ainda em pé bufava e o olhava como se quisesse trucidá-lo ali mesmo. Roberto achou graça mas manteve a expressão séria, dizendo:
– E Sagan dizia que a Ciência é nossa única arma contra esse obscurantismo, que ainda tem um traço bem particular e nítido: eles desejam impor suas crenças deformadas e fundamentalistas aos demais, calando todo e qualquer debate. Naturalmente, a Ciência é inimiga deles por representar a razão, a livre troca de idéias e a liberdade de pensamento, manifestação e questionamento, tudo que eles abominam\”.
\”Conversaram mais um pouco do lado de fora, quando um apontou para as árvores do bosque próximas, de onde vinha uma luminosidade difusa.
Amedrontados, um grupo menor seguiu até lá para investigar, enquanto outros ficavam próximos a capela, com medo. O grupo chegou bem próximo das primeiras árvores, quando uma mulher caiu de joelhos ao chão, gritando:
– Gente, é Nossa Senhora!
Um facho de luz cônico vinha de cima e iluminava um pequeno espaço entre as árvores. Dentro da luz uma silhueta que parecia humana estava voltada para eles. A mulher começou a entoar cânticos religiosos, enquanto outras pessoas davam mais alguns passos a frente.
Subitamente, o facho de luz enfraqueceu-se e sumiu, deixando a figura totalmente exposta. Era pequena, magra, tinha braços compridos e uma cabeça grande, pele escura de uma cor que parecia marrom, e um par de olhos vermelhos que pareciam olhar diretamente para eles.
Todas as pessoas que testemunharam a aparição correram apavoradas e gritando para bem longe do bosque\”.
Quem desejar ler o restante, convido a visitar meu blog Escritor com R. Em As Aparições de Rio Verde procurei explorar o fenômeno das aparições que são tomadas por eventos religiosos, mas que bem podem ser explicados dentro da casuística ufológica. Gosto de misturar realidade com ficção, daí a menção de acontecimentos em Fátima, Medjugorge e Baturité. E claro, como é uma história de ficção científica, procuro seguir a tradição da crítica social, desta vez contra a intolerência e o fanatismo.
Ainda vale mencionar que os personagens são os mesmos de meu livro, De Roswell a Varginha, com o acréscimo da revista Ovni e seu editor, Ademar Gonçalves, levemente inspirado por uma figura certamente muito querida de toda a Ufologia brasileira.
A FC pode, assim, ser não apenas campo de trabalho de vários talentosos autores brasileiros, mas igualmente um instrumento de divulgação e aperfeiçoamento do estudo da Ufologia. Até a próxima!