Depois de quase seis meses de operação, as experiências no Large Hadron Collider [Grande Colisor de Hádrons, LHC] estão começando a ver “sinais de efeitos potencialmente novos e interessantes”. Nos resultados divulgados pelos cientistas do experimento Compact Muon Solenoid [Solenóide de Múon Compacto, CMS], um dos quatro grandes detectores do LHC, foram observadas correlações até agora desconhecidas entre as partículas, que foram geradas durante colisões próton-próton realizadas a uma energia de 7 TeV.
Uma centena ou mais de partículas podem ser produzidas durante as colisões próton-próton. Os cientistas do CMS, aí incluído um grupo de brasileiros, estudam essas colisões medindo as correlações angulares entre as partículas conforme elas se espalham a partir do ponto de impacto. As análises revelaram que algumas das partículas se espalham seguindo o mesmo ângulo, o que pode demonstrar que elas estão intimamente interligadas, de uma forma nunca antes vista em colisões de prótons.
Em busca das explicações – O efeito é sutil e muitos cruzamentos e checagens tiveram que ser feitas para confirmar que ele é real. Segundo os cientistas, o fenômeno, para o qual eles ainda não têm uma explicação, se parece com aqueles observados nas colisões de núcleos no laboratório Relativistic Heavy Ion Collider [Colisor Relativístico de Íons Pesados, RHIC], localizado no Laboratório Nacional Brookhaven, nos Estados Unidos [Veja Descoberta antimatéria que cria nova tabela periódica e Descoberta partícula de antimatéria mais estranha já vista].
No entanto, durante uma apresentação feita pelos cientistas do CMS aos demais pesquisadores do Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire [Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear, CERN], eles destacaram que há várias explicações possíveis a serem consideradas. A mesma centrou-se em mostrar os resultados experimentais, com o objetivo de promover uma discussão mais ampla sobre o assunto e, só então, apresentar explicações para essa “conexão” entre as partículas.
O LHC continuará acelerando e colidindo prótons até o final de outubro, acumulando mais dados que poderão ajudar a entender o fenômeno. No restante de 2010, o LHC irá colidir núcleos de chumbo. Nessa nova etapa, será a vez do detector ALICE, otimizado para estudar colisões de núcleos. O principal objetivo do ALICE é estudar a matéria no estado quente e denso que teria existido apenas pequenas frações de segundo após o Big Bang. Nesses experimentos, os cientistas esperam compreender como a matéria evoluiu para a matéria nuclear ordinária que compõe o universo, sem sinais da antimatéria correspondente – presume-se que o Big Bang tenha criado quantidades iguais de matéria e de antimatéria.
Outro detector do colisor de partículas, chamado LHCb, recentemente detectou quarks excitados. Até agora acreditava-se que os quarks fossem os componentes mais básicos que formam todas as partículas conhecidas, mas a presença deles excitados pode indicar que “subpartículas” estejam se rearranjando para alterar o estado de energia dos mesmos.
O LHC, que é o maior laboratório científico do mundo, acelera partículas ao longo de seu anel de 27 km, arremessando-as umas contras as outras em busca de inúmeras respostas, mas de uma especificamente que parece desafiar o bom senso: de onde surge a massa das partículas – ou, dito de outro modo, o que faz com que a matéria seja matéria. Nessa busca, contudo, ainda não foram encontrados nem mesmo “sinais potencialmente novos e interessantes”. Por outro lado, em seu primeiro artigo científico, o LHC confirmou uma teoria do físico brasileiro Constatino Tsallis.