Como você exibe uma foto de Marte tirada com um olho eletrônico, capaz de ver comprimentos de onda de luz que é invisível aos olhos humanos? Bem-vindo ao mundo maravilhoso da \’falsa\’ cor. O primeiro trio de imagens do Ômega, instrumento da European Space Agency (ESA) instalado na Mars Express e liberado no dia 23 de janeiro de 2004 mostrou algumas visões coloridas da capa de gelo do pólo sul de Marte. Duas das imagens foram tiradas em comprimentos de onda infravermelhos que desafiam a translação para as cores. Assim, foram exibidos em \’falsa\’ cor.
William Smith, \’o pai\’ da geologia britânica, introduziu a falsa cor na ciência nos anos 1800. Quis desenhar um mapa de Grã Bretanha para mostrar os tipos diferentes de rochas que poderiam ser achadas em sua superfície e decidiu colorir um código de cores para as pedras. A pretensão não era que as cores representassem as verdadeiras cores das pedras, mas, simplesmente, agir como uma chave para identificá-los. Mapas políticos do mundo também usam a falsa cor, mostrando claramente, os limites entre países por causa da súbita mudança de cor.
O Ômega observou a capa de gelo do pólo sul de Marte no dia 18 de janeiro de 2004 como visto em todas as três faixas. A direita representa a imagem visível, a do meio o gelo de CO² – gás carbônico – e a da esquerda o gelo de H²O – água. As imagens do ÔMEGA aqui mostra uma imagem em luz visível do pólo sul marciano – direito distante. Esta é uma combinação tradicional de comprimentos de onda vermelhos, azuis e verdes que todos os computadores e televisores usam para fazer imagens com todas as cores.
Nas outras duas imagens, a do meio mostra a distribuição do gelo de dióxido de carbono e a imagem à esquerda mostra a distribuição de gelo de água que estão falsamente coloridas. Ambas figuras são feitas da radiação infravermelha refletiva pela superfície de Marte. Pelo fato de que o gás carbônico e a água absorvem e refletem de forma característica diferentes comprimentos de onda no infravermelho, o Ômega pode identificar cada combinação química olhando para as partes perdidas dos espectros recebidos da superfície.
Os astrônomos usam, então, a falsa cor para mostrar quanto gelo foi detectado da capa polar. A escala de cor vai do azul ao vermelho. A área mais azul, mais gelo de gás carbônico na imagem do meio e, na figura à esquerda, mais gelo de água. Áreas vermelhas são áreas deficientes e amarelas são zonas intermediárias. Comparando os quadros, a comprida expansão amarela na imagem à esquerda mostra que o gelo de água é mais difundido que o gelo de gás carbônico. O gelo de gás carbônico se localiza, principalmente, no cume azul da imagem mediana.
Com este sucesso, o doutor Jean-Pierre Bibring, do Institut d\’Astrophysique Spatiale, França e investigador chefe do Ômega está esperando o resto da missão. “Nossa meta é agora traçar o planeta inteiro”, afirma. Assim, como em 1815, o mapa de William Smith de Grã Bretanha ajudou a mostrar as riquezas minerais da Inglaterra, Gales e Escócia, assim o Ômega vai mostrando a distribuição de minerais e tipos de rochas pela superfície de Marte. Como seu antecessor será apresentado também na gloriosa \’falsa\’ cor.