O homem demorou quatro dias para chegar à Lua. Uma viagem tripulada a Marte levaria oito meses. Daqui a 30 anos, qualquer pessoa poderá comprar um pacote turístico pelo preço de um carro popular e dar uma voltinha de alguns minutos pela órbita da Terra. Talvez encontre um ser extraterrestre curtindo o mesmo programa. Provas concretas de vida fora da Terra, não há. Mesmo assim, cientistas acostumados a fazer do céu o seu campo de estudo são unânimes em afirmar que há possibilidade, sim, de que ela exista. Uma crença que não está apoiada em misticismos, mas na falta de informações que cerca um mundo infinito.
O Sistema Solar onde está a Terra parece enorme e não passa de uma ínfima parte do universo. O primeiro registro de estudo sobre a possibilidade de vida em outros planetas foi feito pelos gregos, cinco séculos A.C. O assunto sempre foi debatido, mas passou a ser pesquisado com bases científicas recentemente. No Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, há aulas de Astrobiologia, disciplina em que se estudam possíveis provas da existência de nossos vizinhos cósmicos. Até o final dos anos 90, um curso como esse seria impensável. Sua criação só ganhou força no final da década, quando começaram a ser desenvolvidos modelos teóricos sobre o tema.
Um dos dados, por exemplo, é que existem moléculas de aminoácidos e açúcares – que fazem parte de todos os organismos vivos na Terra – em discos de gás que darão origem a sistemas solares. Robôs enviados a Marte pela NASA detectaram indícios de que o planeta teve condições de abrigar vida. Uma sonda européia também encontrou água congelada próxima ao pólo sul. Mais do que informações científicas, outras motivações fazem com que as pessoas se sintam um pouco menos solitárias nesta galáxia. “Existe um sentimento de que fazemos parte de um determinado ambiente. Também nos interessamos muito por histórias fundamentais para responder a perguntas sobre a origem da vida”, diz o astrônomo Amâncio Friaça, do IAG.
O instituto recebe visitas de leigos interessados em descobrir mais sobre o céu que nos protege. Com grandes telescópios à disposição, é comum que eles tentem observar o passeio de um extraterrestre pelas redondezas. O mesmo acontece com os freqüentadores do Observatório Nacional (ON), no Rio de Janeiro. Físico do ON, Marcomede Rangel diz que é preciso explicar que essa não é a função das visitas e dos cursos oferecidos. Ainda assim, muita gente vê pontos luminosos no céu e vai lá em busca de explicações. “Podem ser fenômenos atmosféricos que não sabe-se explicar, ou a simples presença de balões e satélites”, diz Rangel que, mesmo conhecendo parte dos segredos de astros e estrelas, acredita que há outros planetas habitados.
“Não somos os únicos do universo. Isso seria incabível. Deve existir, mas não está provado”, enfatiza. A opinião é dividida com Cláudia Vilega, astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). “Não acredito em marciano. Essa história de discos voadores é muito pouco provável. Mas acho que há vida em algum ponto do universo”, diz. Antes de se preocuparem com seres de outros planetas, cientistas se concentram na vida dos terráqueos. Para eles, as descobertas feitas em Marte – mais do que indicarem possíveis e desconhecidas formas de vida – mostram que se deve ter cuidado com o próprio planeta. “A Terra, no futuro, pode ficar como Marte. Ou ainda teremos de buscar água lá”, imagina Rangel.
É neste ponto que acadêmicos e ufólogos – que estudam a presença de extraterrestres e seus incríveis discos voadores na órbita da Terra – começam a entrar em conflito. Todos concordam que há vida por aí afora. Suas paixões pelo espaço também foram despertadas quando eram crianças. Mas os cientistas afirmam que a Ufologia não possui método de pesquisa e questionam as provas apresentadas. Nas observações que astrônomos fazem do céu, as surpresas e curiosidades são bem diversas de objetos voadores ou seres de grandes cabeças, narizes pequenos e olhos brilhantes.
“É fascinante descobrir como uma estrela pode ser complexa e diferente da outra”, empolga-se Cláudia, do INPE. Rangel, do ON, ficou surpreso ao ver que a sombra de Vênus projetada no Sol era muito maior do que ele imaginava. E Friaça, do IAG, encontra uma explicação quase filosófica para o fascínio das pessoas pelo céu: “É simples. Não somos vacas, que só têm visão lateral. Podemos olhar para todas as direções. Desde que o homem é homem olhamos para o céu”.