Há oito anos a cidade de Campina Grande (PB) vem realizando durante o Carnaval o já tradicional Encontro para a Nova Consciência, um evento que conglomera num só espaço representantes de diversos segmentos do pensamento religioso, filosófico, científico e paracientífico, em nível nacional e internacional. Neste ano, o encontro realizou-se de 12 a 16 de fevereiro, paralelo ao II Encontro Nordestino de Ufologia Científica. O evento aconteceu no Teatro Municipal Severino Cabral, com participações dos ufólogos Jaêmio Carneiro e A. J. Gevaerd, da Equipe de Pesquisas Ufológicas de Guarabira (EPUG) e do Centro Paraibano de Ufologia (CPB).
A proposta do encontro é a comunhão de idéias que, mesmo diferentes, são acima de tudo complementares. O evento busca a redescoberta do homem como potencialidade criadora, repelindo sua natureza de meros objetos governados por impulsos egocêntricos ou pelas “leis eternas” do todo-poderoso neoliberalismo. Os organizadores do encontro reconhecem que existe um espaço de liberdade ética e política que cobra de todos a responsabilidade e o compromisso. “O fato de se saber ouvir a opinião alheia e reconhecer sua importância já significa um grandioso passo no processo de aprendizado, prenúncio de uma vida futura mais feliz para todos os homens”, declaram.
E nessa atmosfera de fraternidade e militância que se realiza em Campina Grande um verdadeiro “banquete espiritual”, segundo seu presidente, Nehemias Marien. O evento reúne ecologistas, artistas, sociólogos, filósofos, físicos, budistas, hare krishnas, espíritas, católicos, evangélicos, lideranças de minorias e também ufólogos e ex-ufólogos. Mas em que poderiam contribuir os ufólogos diante de uma demanda tão ampla assim? Essa foi a preocupação daqueles que construíram a Ufologia na promissora cidade paraibana ao longo de muitos anos, culminando, em 1993, com a realização do IV Encontro Campinense de Ufologia, paralelo à segunda edição do Encontro para a Nova Consciência, que contou com a participação dos integrantes do Instituto Campinense de Ufologia (ICU) e também do ufólogo e co-editor de UFO Claudeir Covo. O evento foi considerado um marco para a Ufologia regional naquela época. Mas, infelizmente, no ano seguinte o ICU foi extinto, seus membros se dispersaram e a cidade ficou desprovida de uma fonte local de informações ufológicas. Mesmo assim, em 1997 o momento pareceu propício para a retomada de atividades teóricos neste campo, surgindo assim um grupo de assumidos ex-ufólogos dispostos a tratar o assunto a certa distância.
Nova proposta – Se já não haviam grupos ufológicos, tampouco existia essa necessidade… Dessa maneira, nada melhor para definir uma situação inusitada como esta do que organizar o I Encontro Mundial de Ex-Ufólogos. O termo mundial não se referia ao caráter internacional de seus participantes, mas procurava destacar uma nova proposta, por ser certamente a primeira vez no mundo em que ex-ufólogos se sentavam para falar de Ufologia e tornarem públicas suas opiniões.
O evento, paralelo à sexta edição do Encontro para a Nova Consciência, foi considerado um sucesso – não só por sua originalidade, mas especialmente pela qualidade das palestras e debates. Críticas favoráveis de pessoas como Pierre Weil, da Fundação Cidade da Paz, de Brasília, nos estimularam a continuar o trabalho, resultando na realização, em 1998, do II Encontro Mundial de Ex-Ufólogos, novamente trazendo abordagens atípicas dentro da conceituação ufológica existente. A continuidade destes eventos nos últimos anos permitiram identificar o perfil do ex-ufólogo, não somente como alguém que não mais pesquisa Ufologia no dia a dia ou integra um grupo de estudo, mas que se distancia do tradicional enredo pseudocientífico que marca o passo da quase totalidade dos grupos ufológicos.
Ser ex-ufólogo não significa ser cético ou ortodoxo, daqueles que dizem que uma fonte de luz em ziguezague pelo céu é simplesmente Vênus, mas sim estar aberto às possibilidades, reconhecendo as limitações da pesquisa e a necessidade de a tudo questionar, a fim de que alguma certeza possa advir um dia, sem aspirações pessoais e sem confundir Ciência com fuga da realidade. E nesse meio tempo compete ao ex-ufólogo conversar, orientar, esclarecer tantas pessoas que por um ou outro motivo acabam por se ressocializar, colocando o disco voador no lugar de uma falta que é somente sua, seja ela afetiva, cognitiva ou religiosa. E preciso desconstruir a Ufologia através de uma implosão epistemológica, e se isso parece por demais frustrante ao ufólogo, é algo de fascinante naturalidade a nós, os “outros”.
Como pensam os ex-ufólogos
PRECONCEITO Como a própria definição sugere, o Fenômeno UFO deve ser considerado não identificado, não sendo admissível tratar o mesmo nos moldes de explicações prontas e preconceituosas como a da origem extraterrestre.
MANIFESTO A Ufologia compõe atualmente, enquanto movimento social, um fenômeno manifesto de precioso potencial científico.
MOTIVAÇÃO Uma importante parcela do Fenômeno UFO diz respeito às expectativas e motivações inconscientes de testemunhas e ufólogos, o que dá sua dimensão psíquica, tornando no mínimo questionáveis as tentativas de se alcançar, pela pesquisa atual, o tão sonhado objeto em si.