Fafrotskies (abreviatura em inglês de fall from the skies), é o termo aplicado aos estranhos objetos que, ao longo dos tempos, têm sido vistos caindo do céu. Utilizada pela primeira vez pelo biólogo e ufólogo Ivan Sanderson, essa denominação se divide em duas categorias: orgânicas e inorgânicas. As do primeiro tipo incluem peixes, rãs, enguias, sapos, cobras, vermes, formigas, fungos, carne e sangue de animais. Já das inorgânicas fazem parte os tijolos, chapas metálicas, balas, pregos, carvão, neve fosforescente e os chamados cabelos de anjo [Estranhas substâncias – consideradas por alguns ufólogos como orgânicas – que caem do céu e sublimam em seguida]. Tais elementos caem sozinhos ou em chuvas, mas quase sempre em lugares de céu claro e limpo. Em casos raros, são coletados para análise e armazenados em recipientes herméticos que, ao serem abertos, desprendem mau cheiro. Entretanto, até o momento, não foram encontradas explicações plausíveis e conclusivas para esses fenômenos.
A Ciência ortodoxa simplesmente os ignora ou os classifica como naturais, como, aliás, já faz há séculos. Um exemplo disso ocorreu em meados do século XIX, quando a Academia Francesa de Ciências declarou que os meteoros não existiam. Para os acadêmicos da instituição, os camponeses que haviam visto pedras caindo do céu estavam apenas “confundindo as coisas… ” Outros, inclusive, negavam veementemente os fatos. O barão Georges Léopold Chrétien Frédéric Dagobert Cuvier (1769-1832) – naturalista que formulou as leis da Anatomia comparada e lançou as bases da Paleontologia animal –, por exemplo, afirmou categoricamente que pedras não caíam do céu simplesmente porque lá não existiam pedras. Posteriormente, cientistas do século XX apresentaram respostas similares para explicar as ocorrências de estranhas chuvas. Por outro lado, ufólogos e estudiosos sugeriram que essas substâncias poderiam estar sendo jogadas dos UFOs.
A carne e o sangue, por exemplo, encontrados em algumas dessas “chuvas”, seriam restos de animais e humanos abduzidos. Embora pareça estranho, acontecimentos semelhantemente bizarros também foram observados na Antigüidade Clássica. Na época, entretanto, toda anomalia – prodígios e aberrações como nascimento de monstros, chuvas de pedras, etc – prenunciava ou atestava uma crise nas relações entre deuses e humanos. Os prodígios traduziam o descontentamento e a cólera dos deuses, e as aberrações eram encaradas como teofanias negativas [Manifestações negativas de Deus em algum lugar, acontecimento ou pessoa]. Isso porque qualquer inovação aos parâmetros considerados ideais para os romanos e as sociedades rurais, arcaicas em geral, representava um ataque à norma, o que implicaria num possível retorno ao caos.
Na Bíblia também é possível encontrarmos narrações que se referem à ira de Deus: “Javé proclamava seus desígnios desencadeando fenômenos cósmicos e acontecimentos históricos. Arrependido de ter criado a Humanidade, ele a arrasa sob as águas do dilúvio”, (Gênesis, 6:10). Reprovando a depravação grassante em Sodoma e Gomorra, o Senhor “…fez chover enxofre e fogo do céu e destruiu estas cidades, e todo o país e seus habitantes”, (Gênesis, 18:16-33, 19:1-29). Ao longo de nossa História, ocorrências como essas somente foram se intensificando, intrigando estudiosos e céticos.
Livro dos Danados — Na obra O Livro dos Danados o escritor Charles Fort realizou uma minuciosa pesquisa referente às estranhas chuvas, reunindo diversos casos. Ele pôde constatar que fatos semelhantes aos descritos na Bíblia remontam ao século XVII. Em 1669, por exemplo, os documentos da Academia Francesa registraram a precipitação de uma substância avermelhada, densa e viscosa, na região de Châtillon-sur-Seine. No mesmo ano, os campos das plantações da região ficaram forrados com uma substância amarelo-escura, chamada de “manteiga mórbida”. Em 1829, um fato semelhante foi relatado na Pérsia, onde caiu do céu uma substância desconhecida, que igualmente era comida pelos animais. Triturada e reduzida a pó, foi misturada à massa de pão e ingerida por algumas pessoas, embora não apresentasse qualquer gosto.
Analisando minuciosamente esses e outros casos de “estranhas chuvas” é possível encontrarmos descrições surpreendentes que, em algumas oportunidades, se revelam lendárias e folclóricas. Como exemplo temos o mito de que os sapos somente aparecem quando chove, daí a crença de que eles caem do céu. Na Europa do século XIX não foram poucas as pessoas que tentaram provar isso, motivadas por estranhos acontecimentos. Um deles ocorreu em agosto de 1804, próximo a Toulouse, França, em que os moradores viram pequenos sapos, de no máximo dois meses de idade, caindo de uma nuvem densa que surgiu inesperadamente no céu limpo, conforme noticiou o Comptes Rendus. Já em 1861, um episódio semelhante aconteceu em Cingapura, onde após um terremoto e uma chuva torrencial de seis dias, foram encontrados peixes em poças d’água – entre eles uma espécie de nematófago sem escamas, popularmente chamado de peixe-gato – em uma área superior à 20 hectares. Isso foi presenciado pelo naturalista francês François de Castlenau e pelos moradores locais que, ao serem questionados sobre a procedência dos peixes, apenas apontavam para o céu.
Extremamente intrigantes, ocorrências dessa natureza revelam, em alguns casos, uma inusitada relação entre as substâncias que “caem” do céu e nosso passado histórico. Isso pôde ser observado em Kaba, Hungria, em 15 de abril de 1857, onde a substância que caiu do céu continha matéria orgânica “análoga à cera fóssil”, como registrou a Philosophical Magazine. Anos mais tarde, em 1868, em meio a uma violenta tempestade de neve, cerca de 500 toneladas de uma substância escura caiu em Ontário, Canadá, ao longo de uma faixa de 80 km de comprimento por 16 km de largura. Análises realizadas constataram que se tratava de matéria vegetal em adiantado estado de decomposição, embora algumas pessoas acreditassem que a substância seria restos de cereais.
Em outras ocasiões também foram relatadas ocorrências de “chuvas vermelhas”, como a que atingiu a França em 16 e 17 de outubro de 1846. A chuva tinha cor tão acentuada que muitos a confundiram com sangue. Dois químicos detectaram, inclusive, uma grande quantidade de corpúsculos similares aos hemáticos [Relativos ao sangue] misturados à 35% de matéria orgânica. O jornal Folha de São Paulo, por exemplo, registrou na manhã de 11 de julho de 1997 a queda de um bloco de gelo sobre um galpão da montadora Mercedes-Benz, no distrito industrial de Campinas (SP). Pesquisadores do Centro de Ensino e Pesquisa em Agricultura (Cepagri) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) estim
aram, com base em informações fornecidas por testemunhas, que o objeto pesava entre 100 e 300 kg e media 80 cm de comprimento por 20 cm de altura. No dia 15 do mesmo mês, entre 14:00 e 15:00 h, um outro bloco caiu num sítio da zona rural de Itapira, à 185 km da capital paulista. O proprietário, Antonio Celso Gonçalves Fontes, contou que o objeto media 20 cm de raio e pesava 50 kg.
Chuva de Manteiga e Gelo — Ambos os blocos foram analisados em conjunto pelo Cepagri e pelo Centro de Energia Nuclear da Agricultura (CENA), da Universidade de São Paulo (USP). Um dos equipamentos utilizados, o espectômetro de massa, constatou as diferenças de composição dos átomos contidos nos fragmentos. Para o diretor do Cepagri, Hilton Silveira Pinto, a hipótese mais provável era a de que se tratava de restos de algum meteorito, embora tenha admitido que não existia “nenhum registro de uma ocorrência semelhante no mundo” – certamente ele nunca lera Charles Fort. “Isso é um fato insólito, que foge aos padrões normais”, declarou. A primeira hipótese levantada, de uma chuva de granizo, foi logo descartada, pois os satélites consultados pelo Cepagri mostraram que não havia nuvens sobre a região.
Os pesquisadores chegaram a investigar se o gelo não teria se desprendido da fuselagem de algum avião ou do corpo do cometa Hale-Bopp. Entretanto, já no relatório preliminar da Unicamp, divulgado em 25 de julho, era apontada uma possível origem espacial para os blocos de gelo, já que não continham traços de material orgânico, a não ser partículas de cálcio, ferro, titânio, cromo, níquel e cobre. Predominavam em sua composição o carbonato de cálcio (sólido branco) e o de ferro (de cor escura). Para o astrônomo Nelson Travnik, responsável pelo Observatório de Americana, São Paulo, os blocos podiam ser partes do núcleo de um cometa recém-formado, que teria se queimado na atmosfera da Terra.
O Cepagri classificou os blocos de gelo como sendo hidrometeoritos, um tipo nunca antes registrado na literatura mundial. “Batizamos o fenômeno com esse nome para que não tivéssemos problemas de nomenclatura”, esclareceu o diretor do Cepagri, que descartou a hipótese dos blocos de gelo terem sido formados na superfície terrestre. Além dele, o químico Marcos Eberlin também constatou que a água não continha microorganismos, portanto, não era de origem terrena. A hipótese de fraude também foi totalmente descartada. “Para que um material como esse fosse forjado, seria preciso congelar água destilada num ambiente sem gravidade ou em queda livre”, ponderou Eberlin.
Alguns astrônomos, entretanto, contestaram a hipótese do hidrometeorito, alegando que se um dos blocos chegou ao solo pesando 300 kg, a massa original deveria ser de aproximadamente cinco toneladas. Para Paulo Holvorcem, coordenador do Programa de Observação Astronômica de Asteróides e Cometas da Unicamp, é muito pouco provável a origem espacial do gelo. Além disso, Holvorcem, que também integrava a União Astronômica Internacional de Observatórios, analisa que, se um corpo celeste de cinco toneladas tivesse entrado na atmosfera terrestre, ele certamente provocaria explosões. Christopher Willmer, astrofísico do Observatório Nacional do Rio de Janeiro, compartilha essa opinião e também questiona a existência dos hidrometeoritos. César Augusto Caretta, do Laboratório Nacional de Astrofísica, considerou remota a possibilidade de um corpo de 300 kg cair na superfície terrestre, embora aceitasse a natureza extremamente intrigante e inédita do caso.
Em outras regiões do mundo também é possível encontrarmos relatos da chuva de estranhas pedras, embora suas origens sejam motivo de controvérsia entre ufólogos e cientistas. Referindo-se a um bloco de pedra calcária encontrada perto de Middleburg, Flórida, o autor do artigo publicado na edição de 09 de março de 1889 da revista Science empregou o seguinte raciocínio: “Não existem pedras calcárias no céu, portanto essa pedra não veio do céu…”. Na reunião de 24 de novembro de 1906 do Clube de Campo Essex, foi mostrado um pedaço do metal que em 09 de outubro caiu na região de Braintree. Fletcher, cientista do British Museum, confirmou que se tratava de ferro artificialmente fundido.
Em 1947, 23 toneladas de meteoritos, constituídos em sua maior parte de ferro, caíram sobre uma área da Sibéria. “Os dados que possuíamos em nossos arquivos foram coletados um a um pelo Serviço de Inteligência da Força Aérea Norte-Americana (USAF) e outras agências, devido à morte de dois oficiais desse serviço. Eles já haviam iniciado a investigação e não puderam terminá-la”, informou o capitão Edward J. Ruppelt a propósito do caso da Ilha Maury, descrito em seu livro Discos Voadores: Relatório Sobre os Objetos Aéreos Não Identificados. Três dias antes da visão antológica de Kenneth Arnold, Harold A. Dahl, comandante de um pequeno barco guarda-costas, em companhia do filho e de dois membros da tripulação, patrulhavam as cercanias da Ilha Maury, na Barra de Pugget, à cerca de cinco quilômetros de Tacoma, Washington – não muito distante de onde Arnold vivera sua experiência. Uma camada compacta de nuvens escurecera o dia e os fortes ventos agitavam o mar.
UFO Prateado — De súbito, pouco abaixo das nuvens, seis objetos prateados em forma de anéis despontaram e ficaram pairando à cerca de 150 m do barco. Mediam aproximadamente 30 m de diâmetro e apresentavam um orifício em seu centro, de sete a oito metros. Janelas laterais igualmente espaçadas entre si contornavam o casco, mas um deles parecia não funcionar corretamente. Dahl, receando que a máquina desarranjada caísse repentinamente no mar, por medida de segurança desviou o barco para uma praia próxima. Nesse momento, um dos objetos que o rodeavam acoplou-se a ele, como que visando estabilizá-lo, e assim se manteve por alguns minutos.
Nesse ínterim, Jackson aproveitou para tirar fotografias. Quando os objetos se separaram, ouviu-se um ruído surdo e o que estava desarranjado começou a alijar folhas de metal derretido através do orifício central. A seguir, expeliu um material mais denso. Os tripulantes manobraram rapidamente o barco e o levaram para junto dos rochedos. Entretanto, antes que pudessem se abrigar, o m
etal em estado de fusão atingiu o braço do filho de Dahl e vitimou seu cão. Em seguida, os UFOs partiram em alta velocidade. O patrulheiro do porto recolhera diversos pedaços do metal, que estava na praia. Tentara pedir socorro pelo rádio, porém, por alguma razão desconhecida, fortes interferências impediram o contato com a base em Tacoma. Lá chegando, Dahl providenciou socorro para o filho e apresentou-se a seu superior, Fred L. Chrisman, a quem relatou o ocorrido e entregou as chapas fotográficas e os pedaços de metal.
Logo no dia seguinte ao incidente na Ilha Maury, um homem misterioso visitou Dahl em sua residência e o ameaçou, dizendo que seria melhor manter tudo em segredo. Pelas estimativas de Dahl, o disco havia despejado cerca de 20 toneladas de metal, que misteriosamente nunca foram encontrados. As fotos ficaram pouco nítidas, como se expostas à radiação. Dahl e Chrisman propuseram, em comum acordo, vender a história a uma revista de Chicago. O editor, desconfiado, contratou um perito para investigar o assunto. Este era ninguém menos do que Kenneth Arnold, o popularizador dos discos voadores. Arnold entrevistou primeiro o chefe de Dahl, que lhe contou que dois dias depois do acidente foi à Ilha Maury, onde encontrou toneladas de metal derretido e solidificado na areia. Enquanto recolhia amostras, um aparelho diferente do descrito por Dahl, saiu do interior de uma nuvem e pôs-se a circular sobre o local.
A investigação da Força Aérea Norte-Americana (USAF) se iniciou com um telefonema de Arnold ao tenente Frank Brown, agente da Inteligência da Base Aérea de Hamilton, Califórnia. Em 31 de julho o tenente Brown e o capitão Davidson seguiram a Tacoma a bordo de um avião militar. Ambos deveriam ouvir o relato de Arnold e recolher amostras do metal. Percebendo desde logo que se tratava de uma fraude, apressaram-se em partir. Arnold ajudou-os a embalar as amostras de metal e acompanhou-os até a porta do hotel. Nesse momento, um sujeito não identificado, possivelmente o mesmo que ameaçara Dahl, telefonou à redação do The Tacoma Times mencionando detalhes do que reservadamente declararam Dahl, Chrisman, Arnold e os dois oficiais. Teria ele grampeado as conversas? Apesar de várias buscas, nada foi encontrado no hotel.
Os oficiais Brown e Davidson seguiram à Base Aérea de McChord, perto de Tacoma, onde seu avião estava pousado, e mantiveram uma conferência com o oficial de Inteligência. Sem demora, decolaram de volta à Base Área de Hamilton. Poucas horas depois a aeronave caiu e eles morreram. Um mecânico e um passageiro que os acompanhavam, ambos civis, salvaram-se pulando de pára-quedas. Os jornais insinuaram sabotagem, visto que a aeronave transportava material altamente secreto. Os dois sobreviventes declararam que o motor esquerdo havia incendiado logo após a decolagem e o avião teria se espatifado 11 minutos depois que saltaram de pára-quedas. Mas fica a pergunta: por que Brown e Davidson nada comunicaram às bases aéreas próximas e também não saltaram? Teriam cedido os únicos pára-quedas disponíveis aos dois, que notando o fogo no motor desligaram os circuitos elétricos?
Eis que, novamente, o homem misterioso, que anteriormente havia visitado Dahl, intervém. Antecipando-se em 12 horas à liberação da notícia pela USAF, declarou à Imprensa o nome dos pilotos mortos e a espécie de carga que transportavam. Em 1º de agosto, ele interveio pela última vez. Telefonou às autoridades de Tacoma e notificou que os restos do avião de transporte da Marinha, desaparecido em Washington – justamente o que Arnold procurava quando avistou seus discos – encontrava-se na encosta sudoeste do Monte Rainier. E acrescentou: “O avião foi abatido porque carregava informações que nós não queremos que sejam divulgadas”. Oito homens subiram a geleira e localizaram os destroços do aparelho e os 32 corpos dos fuzileiros navais que se encontravam a bordo. Quase dois anos depois, em 27 de abril de 1949, a USAF desferiu o golpe de misericórdia no Caso Ilha Maury, divulgando o seguinte comunicado: “Interrogados, Dahl e Chrisman fraquejaram e admitiram que os fragmentos recolhidos eram apenas pedaços de rochas comuns, aos quais atribuíram uma origem extraterrestre com o intuito de aumentar o valor comercial da história que pretendiam vender à revista de Chicago”.
Naves vêm da Lua — Animado em acreditar nisso, Harold Percy Wilkins forneceu uma versão diferente do caso em seu livro Flying Saucers from the Moon. Não é de admirar que tenha tomado uma posição favorável, levando em conta que admitiu ter visto, em companhia do irmão, dois dinossauros de cinco metros de altura em um rio de East Looe, Cornuália, Inglaterra. Segundo Wilkins, tanto Dahl como Chrisman desapareceram de Tacoma. Um amigo de Seattle informou-o que ambos negaram veementemente a fraude. Dahl teria lhe dito: “A USAF mentiu deslavadamente ao afirmar que fraquejei nos interrogatórios. Por que então não fomos processados se com nossas ‘mentiras’ acarretamos a perda de um avião avaliado em mais de 150 mil dólares e levamos à morte dois pilotos da USAF?”. No quarto capítulo do livro, Wilkins acusou a revista The Saturday Evening Post, Filadélfia, de suprimir uma delirante declaração de Arnold, conforme segue: “Venho sendo visitado em minha casa por seres invisíveis que, acredito, são os pilotos dos discos voadores. Eles não se comunicam comigo, mas sinto a sua presença e vejo os tapetes e as cadeiras cederem sob o seu peso”.
Sem querer comprometer-se, Ruppelt classifica o Caso Ilha Maury como “a mais suja brincadeira de mau gosto da história dos discos voadores”. Relatórios posteriores informaram que, após o acidente fatal, os dois patrulheiros do porto sumiram misteriosamente. Deveriam mesmo desaparecer, mas nas profundezas de Barra Puget. Todo o mistério da Ilha Maury não passou de uma mistificação. A primeira, ou talvez a segunda mistificação mais desonesta e melhor planejada de toda a história dos UFOs. No relatório oficialdo incidente consta que os patrulheiros admitiram a inexistência de qualquer relação entre os fragmentos de rocha e os discos voadores.
Disseram que o pedaço de rocha era de um disco voador porque o editor de uma revista assim desejava. E arremata Ruppelt: “Nenhum dos dois homens exibiu as fotografias. Declararam que
as tinham ‘perdido’. Um deles era o misterioso informante que convocou os jornais para relatar as conversações mantidas no quarto do hotel. O misterioso visitante de Jackson simplesmente não existia. Além do mais, Jackson e Richards não eram patrulheiros do porto, mas apenas proprietários de dois velhos botes que usavam para recolher madeira flutuante na Barra Puget”. O acidente do avião foi uma ocorrência trágica. Um motor incendiou-se, derreteu e, antes que os dois oficiais pudessem saltar, as asas e a cauda foram arrancadas.
“Metais Celestes” — Os “metais celestes” ocuparam sobremaneira o consagrado ufólogo e cientista Jacques Vallée. Sobre o incidente na Ilha Maury, escreveu: “Tanto a inteligência militar quanto o FBI concluíram que se tratava de uma fraude. ‘As análises dos fragmentos mostram que eles se originaram de uma fundição de Tacoma’, diz uma mensagem de telex do FBI datada de 05 de agosto de 1947. Pelo que sei, contudo, a composição desta ‘escória’ (presumindo que tenha sido mesmo analisada) jamais foi revelada. E não se fez menção alguma ao material prateado, embora Arnold, que o examinou, tenha dito que se tratava de ‘folha de alumínio’”. Muitos erros foram cometidos durante a manipulação dessas amostras: “Eles vão da classificação descuidada à pura destruição, como ocorreu no caso da primeira ‘análise’ de uma amostra magnesiana originária do Brasil, realizada pela USAF”.
Na época, dois fragmentos brasileiros chegaram às mãos de Vallée. O primeiro foi coletado em Campinas, SP. Em 14 de dezembro de 1954, a população da cidade parou para assistir as manobras erráticas de três objetos em forma de disco. Um deles, amparado por outros dois, oscilava bruscamente, inclinava-se e emitia sons mecânicos distorcidos. Antes de desaparecerem no meio das nuvens, o que apresentava defeitos descarregou de sua parte inferior, aos trancos, um líquido prateado. Telhados, ruas, calçadas e até mesmo as roupas que secavam nos varais ficaram salpicados com o material que se solidificava conforme esfriava. A análise independente do químico Risvaldo Maffei confirmou tratar-se majoritariamente de estanho (90%) misturado a outros metais. Os céticos desconsideraram os relatos em torno do disco voador e proclamaram que o metal fundido desprendera-se de um meteorito.
O segundo fragmento foi coletado no litoral paulista. Em 1957, o colunista social Ibrahim Sued recebeu de um leitor três materiais ásperos e leves, cada um com o tamanho de uma antiga moeda de 10 centavos, recolhidos por um caiçara nas proximidades de Ubatuba (SP). Testemunhas contaram que um disco voador mergulhou no mar, voltou repentinamente e explodiu, lançando uma chuva de estilhaços brilhantes. Somente os pedaços que caíram em baixas profundidades puderam ser recolhidos. Sued entregou as amostras a Olavo Fontes, da Comissão Brasileira de Pesquisa Confidencial dos Objetos Aéreos Não Identificados (Cbpcoani), que por sua vez as encaminhou à Seção de Espectrografia do Laboratório de Produção Mineral.
A química Luiza Barbosa identificou o material como sendo magnésio em alto grau de pureza. Em seguida, Fontes enviou as peças ao casal Jim e Coral Lorenzen, fundadores da Aerial Phenomena Research Organization (APRO). Com a morte dos Lorenzen as peças ficaram sob a guarda da Universidade de Stanford. Pierre Kauffmann e Peter A. Sturrock, diretor do Centro de Ciências Espaciais e Astrofísica dessa instituição, corrigiram as datas dizendo que as amostras se referem a um fato ocorrido entre 1933 e 1934, e não 1957, como se aventava. Análises subseqüentes feitas na Universidade do Colorado e em laboratórios especializados na França confirmaram o parecer de Barbosa. Sturrock, no entanto, contrapôs-se aos resultados divulgados. “Após tantos anos, ainda não temos uma única medição confiável do tipo e nível das impurezas do magnésio vindo do Brasil. Em compensação, a presença de isótopos foi medida no Instituto de Tecnologia da Califórnia e na Universidade de Paris, em Orsay, com grande precisão e resultados consistentes. Os níveis eram similares aos encontrados no magnésio terrestre comum”.
Mas se essas estranhas chuvas intrigaram pesquisadores e céticos, a reação não foi diferente quando eram observadas substâncias ainda mais surpreendentes caindo do céu. Já em 1741 algo semelhante a teias de aranha, em forma de flocos, foi encontrado na Inglaterra, numa zona triangular delimitada pelas cidades de Bradly, Selborne e Alresford. Essas ocorrências se intensificaram com o passar dos anos, e popularizaram o fenômeno, conhecido como cabelos de anjo ou fios da virgem. Estranhas e inexplicadas, essas substâncias são constituídas de longos filamentos brancos, com até 15 m, semelhantes a teias de aranha, algodão ou seda, que desvanecem ao chegar ao solo ou quando são tocadas.
Os ectoplasmas, substâncias produzidas em situações específicas por médiuns em transe, apresentam características e propriedades muito parecidas. Eles também se desintegram sem deixar vestígios. O mais impressionante, no entanto, é que esses materiais reagem como se fossem um tipo extremamente aperfeiçoado de material biodegradável, e relatos a respeito remontam aos tempos antigos. Embora poucas amostras ainda se preservem, análises preliminares detectaram a presença de boro, magnésio e cálcio.
Hipótese Extraterrestre — Em algumas ocorrências dessas estranhas chuvas, foi possível notar a existência de objetos voadores não identificados nos arredores dos locais atingidos, o que comprovaria a hipótese extraterrestre para explicar o fenômeno – que já ocorre há muitos anos. Por volta das 16:00 h de 27 de outubro de 1952, por exemplo, Dore, residente próximo de Gaillac, sudoeste da França, intrigou-se ao ouvir suas galinhas cacarejarem de maneira estranha. Desconfiando que algo estaria acontecendo, ela instintivamente ergueu a cabeça e avistou objetos insólitos se agitando no céu. Após gritar desesperadamente, seu filho, sogro e os vizinhos correram em sua direção. Nesse momento, todos puderam avistar quatro UFOs, em grupos de dois, que refletiam o sol e giravam lentamente sobre o próprio eixo. Em seguida, uma dezena de outras naves se juntou a eles. Destacava-se dos demais um cilindro esbranquiçado que soltava fumaça branca.
Os fragmentos dessa estranha matéria cheg
avam ao solo, mas, em contato com os dedos, tornavam-se gelatinosos e desagregavam-se completamente. Cerca de 10 minutos depois, a “esquadrilha” sobrevoou Gaillac e tomou o rumo de Lot-et-Garonne. Entre as muitas testemunhas figuravam dois sargentos da polícia, que lograram tocar na “lã de vidro”, visto que alguns filamentos ficaram pendurados nos fios telegráficos e nos ramos das árvores. O jornal Evening Post, de Londres, detalhou o caso na edição de 29 de outubro de 1952: “Cerca de 100 pessoas de Gaillac, sudoeste da França, viram uma formação de discos voadores circulares, com a típica elevação central, escoltando um torpedo ou ‘charuto’. Este descarregou estranhas fibras, que caíram vagarosamente sobre as árvores e os fios telegráficos. Infelizmente, se desintegraram antes que fossem levados para o laboratório”.
Relatos como esse têm se mostrado cada vez mais freqüentes, e atualmente é possível encontrarmos ocorrências envolvendo pilotos e funcionários das forças aéreas no mundo todo. De acordo com o Charles Maney, alguns engenheiros aeronáuticos norte-americanos estiveram em locais de aparições recolhendo amostras para análise. Maney comparou os cabelos de anjo à lã de vidro (fiberglass) e divulgou os testes de que tomara conhecimento. Utilizando o contador Geiger, Charles B. Rutenber, professor de química do Elmira College (EUA), constatou que as amostras continham radioatividade. Mais tarde, entretanto, Rutenber voltou atrás e classificou-as como sendo um subproduto do leite, de uma fábrica de especialidades lácteas. John B. Diffenderder, diretor regional da seção de química da Westinghouse, o apoiou, e Louis R. Hermann e Robert R. Mix, químicos da mesma empresa, disseram que o material era constituído de algodão e fibras de lã, com pequenos pedaços de fios de cobre no meio.
O material fibroso era celulose pura e continha átomos de carbono (30%), hidrogênio e oxigênio. Para Maney, os cabelos de anjo se aproximavam do que os químicos definiram como corrente polímera (celulose combinada com hidrogênio e oxigênio). Contudo, alguns estudiosos atentaram para a hipótese extraterrestre, que poderia explicar o fenômeno. O capitão Jean Plantier, em seu livro La Propulsion des Soucoupes Volantes par Action Directe Sur L’atome, por exemplo, especulou que a estranha substância poderia ter sido produzida por discos voadores. Para ele, os cabelos de anjo seriam resultantes de alterações nas propriedades químicas dos átomos e nas moléculas de ar. Na década de 50, uma amostra recolhida no Leme, 188 km de São Paulo, foi analisada pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo, que revelou tratar-se de “lã de vidro”.
Chuva de carne em São Paulo
Em Caçapava e São José dos Campos o misterioso fenômeno foi observado por inúmeras testemunhas
Alguns operários da olaria de Pedro Marinho de Sousa prestaram depoimento sobre o acontecido. Vicente Rodrigues, residente no Bairro da Grama, em Caçapava, lembrou que os pedaços tinham de 05 a 20 cm, sendo que um atingiu sua cabeça. Ele tem certeza que o céu estava limpo e nenhuma ave passava sobre o local no momento. Outros trabalhadores da olaria também ficaram aterrorizados com os sangrentos pedaços de carne que caíam sobre as casas, como pode ser observado no jornal Notícias Populares de 31 de agosto de 1968: “Deve ser castigo do céu. Hoje é dia santo e eu fiz meus empregados trabalharem”, exclamou Marinho. Tudo parecia miragem ou alucinação, mas não era. Mesmo passado o susto, as pessoas não conseguiram encontrar uma explicação para o fenômeno. Marinho decidiu então procurar a polícia, que embora não tenha dado muito crédito às suas afirmações, foi ao local averiguar o que tinha acontecido. Os policiais recolheram os pedaços de carne, com o auxílio da Polícia Técnica, enquanto os escrivães Ronaldo Dias e Barreti tomaram os depoimentos. A situação era realmente muito séria.
“A carne estava sangrando. Era marrom escura e parecia fígado. Aí, com os gritos dos companheiros, vi que caía sangue e carne por todos os lados. Olhei para cima e não vi nada anormal no céu. Nem aves, nem aviões. Isso é que nos deu medo e, confesso, minhas pernas começaram a tremer. A carne era um pouco gelatinosa, esquisita. Caiu por uns dois ou três minutos. Depois, logo em seguida, observamos que ela secou no Sol, mas não deu mau cheiro nenhum”, disse Vicente Borges de Siqueira, que trabalhava na olaria. Após o incidente os moradores, aterrorizados, passaram a trancar-se em suas casas logo ao entardecer. Eles acreditavam que a chuva era algum castigo ou manifestação demoníaca.
Manchas de Sangue — No entanto, voltaria a chover carne e sangue na mesma região 25 dias depois. Milhares de pessoas do Distrito de Santa Luzia, à cerca de 40 km de Eugênio de Mello, entre Caçapava e Piedade, presenciaram o fato. A chuva aconteceu ao meio-dia, com o céu limpo e um Sol abrasador. Trabalhadores rurais estavam em uma plantação de arroz, quase às margens do Rio Paraíba, quando Armando Silva chamou a atenção de todos para as manchas de sangue que salpicavam sua camisa. Outros colonos verificaram que também estavam com as roupas estranhamente manchadas. Alarmados, saíram correndo e foram comunicar o fato a outros moradores das cercanias. Assim como os residentes próximos à olaria, os agricultores também atribuíram o fato a uma maldição. A chuva durou de três a quatro minutos e contabilizou 3,5 kg de carne. O material foi recolhido por interessados em estudar o fenômeno.
O chefe dos escrivães de polícia de Taubaté, Ronaldo Dias, disse que as carnes foram examinadas pela Polícia Técnica, por um perito da Delegacia Regional de São José dos Campos, que encaminhou o material em seguida ao Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, para uma análise minuciosa. Da mesma forma, é bom frisar que o local onde pela segunda vez choveu carne e sangue não se situava dentro da rota aérea Rio de Janeiro – São Paulo, pois as viagens de avião eram feitas pelo litoral, a partir de Ubatuba. Isso afasta qualquer hipótese de uma ave ter sido abatida por aeronaves. Além disso, a carne estranhamente vinda do céu caiu em diversos lugares, numa forma de círculo, não apresentando ossos nem penas.
Posteriormente, o Laboratório de Anatomia, Patologia e Microscopia Legal do Estado de São Paulo, após realizar exames nas amostras colhidas no Bairro da Grama, em Caçapava, e no Bairro do Paiol, em São José dos Campos, concluiu que a carne era de mamífero do sexo feminino. O laudo da análise procedida pelo IML de São Paulo chegou à Delegacia de Polícia de São José dos Campos em 12 de outubro. O documento foi assinado pelo médico Ferdinando de Queiroz Costa, que descreveu o material examinado como “cora&cc
edil;ão e rim de mamífero do sexo feminino”. O exame limitou-se aos tecidos, e somente uma análise mais apurada poderia trazer a conclusão definitiva quanto à origem da carne. O Instituto Médico Legal realizou esse exame, mas não revelou a que, ou quem, pertencia a carne.