Poucos são os ufólogos que tiveram início de carreira em idade tão tenra como o entrevistado dessa edição. O argentino Luis Burgos nasceu em 1956 e desde 20 de julho de 1969, data da chegada do homem na Lua, então com apenas 13 anos, vem se dedicando à pesquisa da presença alienígena na Terra de corpo e alma. Sua trajetória é impressionante: com 43 anos de experiência em investigações de campo, percorreu dezenas de milhares de quilômetros de estradas entre Argentina e Uruguai, principalmente, atrás de ocorrências ufológicas. Nesse período, participou de incontáveis congressos, simpósios e jornadas, apresentando mais de 250 conferências e sendo entrevistado pelas principais figuras do meio jornalístico de seu país, ajudando a dar mais visibilidade ao Fenômeno UFO.
Além de incontáveis artigos publicados em revistas argentinas e de muitos outros países, teve experiências diretas com UFOs em oito oportunidades, podendo observá-los pessoalmente. “Pesquisá-los é fascinante, mas vê-los é ainda mais”, diz o ufólogo que realizou mais de 150 vigílias noturnas por todo o seu país, reunindo e investigando pessoalmente mais de 600 testemunhos de primeiro grau sobre avistamentos ufológicos — Burgos possui um banco de dados com cerca de 5.000 registros de UFOs ocorridos na Argentina desde 1947. Sua especialidade são as aterrissagens, tendo analisado mais de 100 casos do gênero, mas também tem especial interesse pelas abduções alienígenas, das quais investigou cerca de 30 episódios — entre eles o primeiro avistamento de humanoides em seu país, ocorrido em Tres Arroyos, no início dos anos 40.
O “Corredor do Oeste”
Foi Luis Burgos quem descobriu o mais ativo hot spot de aterrissagens de discos voadores na Argentina, situado dentro de uma região batizada de El Nido [Ninho], com epicentro em Punta Índio, área onde muitos ufólogos concentram seus estudos desde 1990 e onde, em 1985, aconteceu o recorde mundial de marcas de pouso de UFOs, com 150 rastros em um campo de Atalaya, ali perto, jamais superado. Já na região de Gobernador Ugarte, na província de Buenos Aires, encontrou em 2002 uma nova área ativa do fenômeno, que permanece recorrente desde então. No início de uma grande onda ufológica que marcou a Argentina, em 2008, nomeou como “Corredor do Oeste” a passagem compreendida por várias cidades limítrofes a Buenos Aires, investigando ali vários episódios registrados.
Burgos foi o fundador de várias organizações ufológicas que estão mescladas com a história da Ufologia Argentina. Começou cedo, em julho de 1973, com o Grupo Estudantil Investigador de OVNIs (Geidovni), formado por companheiros e alunos da escola secundária que frequentava, e logo criaria o Centro Investigador de Fenómenos Anómalos (CIFA), em La Plata, entidade que perdurou de julho de 1976 até 1982. Em julho de 1977, incansável, assumiu a fundação da Rede Argentina de Investigadores de OVNIs (RADIO), com vários ufólogos de Buenos Aires e também do vizinho Uruguai — a primeira tentativa séria de consolidar uma união entre pesquisadores do continente. No ano seguinte, com auxílio de outros pesquisadores, abriu a Federação Argentina de Estudos da Ciência Extraterrestre (FAECE), em Rio Cuarto, Córdoba.
Critérios de investigação
Mas foi somente em dezembro de 1984 que Luis Burgos criaria a Fundação Argentina de Ovnilogia (FAO), também na cidade de La Plata, que foi a primeira entidade do país a utilizar a palavra Ovnilogia como identificação do grupo. A FAO tem sua história confundida com a da Ufologia Argentina e por ela passaram investigadores mundialmente reconhecidos, como Pablo Romay, Miguel Esayán, Carlos Imérito, Oscar Ferreyra, Daniel Quiroga e Carlos Alberto Iurchuk [Consultor da Revista UFO]. Sete anos mais tarde, A FAO ganharia, também pelas mãos de Burgos, a parceira Rede Argentina de Ovnilogia (RAO), fundada com Carlos Ferguson e Claudio Miszka.
A sensação que sinto por ter feito Ufologia durante toda a minha vida é de alegria e de felicidade por saber que, se fosse preciso, faria tudo de novo — apesar das grandes perdas materiais, pessoais e econômicas que tive ao longo de todos esses anos.
Mas o obstinado ufólogo argentino não pararia aí. Acreditando na organização de pesquisadores em entidades com critérios de investigação bem estabelecidos, em 1999 criou o Proyecto Condor, em Santa Rosa, na Patagônia, junto com os pesquisadores Oscar Quique Mario, Silvia e Andrea Simondini — todos igualmente consultores da Revista UFO —, o chileno Jorge A. Dumont, integrantes do grupo Hemisférios e outros colegas. E por último, em 2010, inaugurou a nova Rede Argentina de Investigación OVNI (RADIO), com os estudiosos Bibiana Bryson e Alberto Tunich — apesar de novo, o grupo já conta com mais de 80 investigadores nacionais e internacionais.
As hipóteses de Burgos
Homem inquieto e persistente em achar as respostas para o Fenômeno UFO, Luis Burgos é visto por seus colegas como um ufólogo destemido e audacioso. “Poucos têm a inquietude e a energia de Burgos”, define Silvia Simondini, uma das pioneiras da Ufologia Argentina. O entrevistado também é autor de numerosas propostas relativas à presença alienígena na Terra, como a Hipótese Decimal, que alcançou 75% de efetividade com a onda ufológica de 1965 e foi plenamente confirmada com a de 2008. Suas ideias quanto à falsidade da conquista lunar, exposta no artigo Heróis de Papel, de enorme repercussão, o transformou no primeiro argentino a esboçar a possibilidade — respaldada posteriormente por alguns cientistas, pesquisadores e jornalistas — de que a NASA esconde suas verdades.
Burgos também defende a existência de bases de UFOs submersas em lagos de seu país. “As regiões lacustres figuram como esconderijos de UFOs, tendo pescadores e caçadores como testemunhas de sua ação”, garante. Com seu trabalho Marte Ataca Outra Vez, igualmente referência na Ufologia do país vizinho, resgatou a hipótese da ligação do movimento de translação de Marte com o aumento na incidência ufológica, proposta por investigadores espanhóis nas décadas de 50 e 60. A tese mostra que, em seu caminho ao redor do Sol, quando Marte está mais próximo da Terra, um maior número de ocorrências é registrado. Por fim, foi com sua iniciativa de lançar o primeiro alerta mundial diurno de observação de UFOs, em 07 de fevereiro de 2004, que se conseguiu registrar bom número de fotos de naves — e os resultados da operação figuram em seu artigo Terrestres Clandestinos ou Invasores Preocupantes? Enfim, essas são apenas algumas das realizações do ufólogo que iremos conhecer melhor a partir de agora.
Para começarmos com toda energia essa oportunidade ímpar de entrevistá-lo para a Revista UFO, por favor, cite os casos ufológicos mais importantes que pesquisou. São muitos e todos foram bastante relevantes para mim, mas poderia destacar alguns deles, como o primeiro acontecimento de um “UFO fantasma” na Argentina, captado em foto pelo professor José Miguel Lugones sobre o Aeroporto de Buenos Aires, em 13 de agosto de 1967. Ou o caso de observação múltipla de 17 de setembro de 1985 sobre a capital, Buenos Aires, com enorme repercussão — o caso contou, inclusive, com uma foto do objeto feita pelo Observatório de La Plata, que foi analisada e difundida em todo o mundo. Também há a investigação de vestígios supostamente deixados por uma nave acidentada em Tacuarembó, no Uruguai, em maio de 1973, com posterior obtenção de 365 gramas de um estranho metal. A amostra foi levada à Argentina e analisada em diferentes órgãos oficiais, resultando ser uma liga artificial de alumínio e acabando por se tornar uma das melhores evidências desse tipo de material que temos na Ufologia Mundial. Para se ter uma ideia comparativa, na explosão de Ubatuba, em 1958, foram recolhidos apenas cerca de 20 gramas de material.
Que interessante, voltaremos a esse assunto depois. Há mais casos que gostaria de mencionar? Sim, há outras ocorrências importantes que se deram em 1983, como a aparição de anõezinhos verdes na Villa Montoro, em La Plata, e a filmagem de um disco voador em 28 de outubro de 1987 na Laguna de Gómez, em Junín, conseguida pelo fotógrafo Jorge Serra. Também não podemos nos esquecer da investigação policial in loco que ocorreu do encontro que três jovens tiveram com seres diminutos e ciclopes em Pergamino, no ano de 1985, e a provável abdução ao senhor Oscar Carnevale no povoado de San Benito, em agosto de 1985. Igualmente significativo foi poder contar com a colaboração da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura nas operações de investigação de mutilações de gado na Argentina, a partir de 2002. Ah, ia me esquecendo da pesquisa oficial que realizamos com a polícia de Bartolomé Bavio sobre o caso de dezenas de sinais de aterrissagens de UFOs no povoado de José Arditi, em 2010.
São muitas ocorrências importantes, sem dúvida, resultado de um longo trabalho de investigação. Mas por que você mergulhou em uma das carreiras mais incertas do mundo dedicando-se à Ufologia com apenas 13 anos? Meus pais eram comerciantes e trabalhavam com venda de jornais e revistas em plena década de 60, uma das mais ativas em termos de avistamentos ufológicos em todo o mundo, e o assunto era seguidamente tratado pela imprensa naquela época. Isso me deu a oportunidade de ouvir e ler sobre casos de contatos com UFOs e ETs recentes ocorridos em pontos diversos. Mas mesmo que eu me sentisse atraído pelo espaço desde criança, os discos voadores me confundiam a cabeça — a ponto de uma vez a professora do colégio onde estudava chamar minha mãe para dizer que sempre que dava aos alunos um tema livre para fazermos redação, o meu eram coisas como “viajei a Marte”, “vi um disco voador à noite”, “os extraterrestres aterrissaram” etc. Creio que essa etapa de minha vida foi o grande empurrão que me colocou definitivamente nessa carreira — um começo difícil para eu me tornar o que sou hoje.
Naquela época você imaginava que algum dia seria o fundador e principal responsável por tantas organizações ufológicas na Argentina? Não, sinceramente nunca imaginei isso. Porém, foi com o acúmulo de acontecimentos e situações que vivi que hoje reconheço os grandes passos que dei. Uma coisa muito significativa para mim ocorreu em 1976, já com o segundo grupo ufológico que fundei, o Centro Investigador de Fenómenos Anómalos (CIFA). Foi quando pude criar, na cidade de Enseñada, junto com outros companheiros, a Rede Argentina de Investigadores de OVNIs (RADIO). Outro momento marcante de minha carreira se deu quando criei, com o ufólogo e amigo Oscar “Quique” Mário, o Proyecto Condor, em Santa Rosa, no norte da Patagônia — uma área de intensa incidência ufológica.
Interferência norte-americana
Era parte de sua fantasia de adolescente chegar a ser alguém importante, como de fato acabou se tornando para a Ufologia Argentina e Latina? Não, de jeito nenhum. Desde o começo de meus trabalhos eu tinha como principal objetivo pesquisar o Fenômeno UFO onde quer que ele ocorresse, pura e simplesmente, tanto que em 1970 realizei minha primeira investigação de campo em um povoado da província de Buenos Aires, chamado Orense, onde nos anos 40 — quando ainda não se falava em discos voadores — dois policiais foram testemunhas diretas da aterrissagem de uma nave com tripulantes. A partir daí não parei mais de pesquisar tais casos, e sempre in loco. Continuo apaixonado pelo que faço.
Entre meus casos mais importantes está o de observação múltipla de 17 de setembro de 1985 sobre Buenos Aires, com enorme repercussão. O caso contou com uma foto do objeto feita pelo Observatório de La Plata, que foi difundida em todo o mundo.
Com tanta experiência, você certamente deve ter ouvido muitas teorias ao longo de sua trajetória. O que acha, por exemplo, da que atribui a origem dos discos voadores a artefatos humanos, terrestres, desenvolvidos por superpotências e que sobrevoam os demais países fazendo-se passar por UFOs? A pergunta é muito interessante, já que separa duas das grandes suposições sobre o Fenômeno UFO. Após 64 anos de manifestações, podemos dizer que a principal hipótese para explicá-lo continua sendo a da origem extraterrestre, unânime em todos os pontos de vista e que advoga que o ser humano está sendo visitado por outras civilizações. Mas, no início da década de 80, começou a se difundir a tese da origem terrestre para uma certa parte da manifestação desses objetos, uma proposta que chamo de yankilândia — isso é, de que veículos experimentais dos Estados Unidos estejam mesclados dentro do mesmo fenômeno que investigamos. Lembro-me de que quando comentava isso em reuniões e congressos, os colegas me olhavam com desconfiança. E, hoje, a maioria deles crê que também há aparatos terrestres inexplicáveis dando voltas por aí.
Que tipo de força o move para continuar suas pesquisas, depois de tantos anos nessa área? O que ainda pretende mostrar ao mundo e a você mesmo com essa longa trajetória de investigações? A sensação que sinto é de alegria e de felicidade por saber que, se fosse preciso, faria tudo de novo — apesar das grandes perdas materiais, pessoais e econômicas que tive ao longo de todos esses anos, além de muitos desgostos. Mas resta na balança o saldo positivo de ter percorrido o meu país e conhecido a geografia nacional, de ter feito grandes amizades e de ter conhecido pessoas de todos os tipos — algumas das quais que nos chamam de loucos, mentirosos e charlatões pelas costas. No entanto, aos poucos, o tempo foi dando razão a quem a tinha, mostrando que o que falávamos era verdade. Ainda assim, há pouco tempo elaborei a Hipótese 100, que mostra que 90% dos casos ufológicos que são anunciados pela mídia são fraudes ou enganos de todos os tipos, que os 9% restantes são artefatos terrestres e que somente 1% corresponderia a naves alienígenas. Foi um estudo muito duro de fazer e o resultado pode parecer desanimador — mas, somando-se 1% de casos de cada um dos países do globo, desde 1947, hoje teríamos milhares de episódios inexplicáveis.
Estado de alerta em todo o país
Algumas de suas grandes contribuições à Ufologia Argentina foram a FAO, a sua conhecida Hipótese Decimal e suas estatísticas anuais de incidência ufológica. Poderia comentar rapidamente cada um desses itens? Sim, vamos começar pela FAO, que é sigla de Fundação Argentina de Ovnilogia e que nasceu em 28 de dezembro de 1984, na cidade de La Plata, com a premissa de unir investigadores que andavam espalhados por diferentes lugares do país, trabalhando sem sintonia. Hoje, após 27 anos de existência, posso me dar por satisfeito com os resultados atingidos pela entidade, atualmente composta por 150 pessoas, entre correspondentes, colaboradores e assessores. Na FAO há profissionais das mais variadas áreas, desde comerciantes a engenheiros — e temos também uns desempregados. Se em dada noite houver uma ocorrência ufológica em algum ponto da geografia argentina, seguramente receberemos informações sobre o fato dentro de instantes, graças ao interesse e compromisso dos integrantes da FAO.
E sua Hipótese Decimal, do que trata? É uma tese que desenvolvi baseada em dois pontos fundamentais da questão ufológica. O primeiro é a manifestação do fenômeno, que me permitiu criar uma estatística baseada em um banco de dados único no país, com 5.000 casos arquivados desde 1947 até hoje. E depois vem a recorrência dos casos ufológicos, que se repetem insistentemente nos mesmos lugares ao longo dos anos — como um assassino que retorna ao local onde matou suas vítimas. Com esses dois componentes da manifestação ufológica, descobri, por exemplo, que uma grande parte da casuística se repete de forma muito semelhante a cada 10 anos. Ou seja, para se compreender melhor os casos ufológicos ocorridos em 2011, por exemplo, teremos que voltar àqueles de 2001, 1991, 1981, 1971 etc, para restabelecer as relações. Portanto, através desse método é possível prever quando ocorrerão novas ondas ufológicas.
Acompanhando a progressão do Fenômeno UFO durante todas essas décadas, o que você sente que mudou? Observamos que durante os anos 60 e 70 a maioria dos casos ufológicos só chegavam ao nosso conhecimento porque eram divulgados pela imprensa — pelo menos 70% deles nos chegavam através da mídia, e os 30% restantes eram os próprios pesquisadores que descobriam e investigavam. Hoje isso se reverteu e pelo menos uns 70% dos casos conhecidos são difundidos pelos ufólogos, graças ao avanço da tecnologia e dos meios de comunicação, obviamente. E agora, à imprensa, cabem apenas cerca de 30% do que alimenta as estatísticas sobre o Fenômeno UFO no período de um ano.
Muito interessante. Mas você acha que a Ufologia está contaminada com informações originadas de fontes suspeitas, através manobras ou de programas norte-americanos antes considerados secretos, como se alega? Sustento a opinião de que há necessidade de extrema cautela com informações sobre manifestações ufológicas que vêm do exterior. Hoje vemos ocorrer anúncios estrondosos de fatos que, logo em seguida, muitas vezes em apenas poucas horas, são desmentidos. Por isso, devemos esperar os acontecimentos e observá-los atentamente para evitar que nos frustremos rapidamente. Por exemplo, a tão esperada abertura ufológica norte-americana, já anunciada tantas vezes e até comemorada por certos indivíduos, ainda não existe de forma alguma — e sobre ela há mais desinformação e injeção de falsas notícias do que algo realmente relevante e confiável. Creio que são poucas e pequenas andorinhas que fazem um verão. Para o bom entendedor…
Isso nos remete aos famosos casos de UFOs triangulares, que têm sido tão observados em todo o mundo e que alguns defendem ser protótipos militares secretos. Parece haver uma certa histeria para que todos esses avistamentos sejam considerados como de naves extraterrestres. Qual é seu parecer sobre esse assunto? Bem, quanto mais se fala do assunto, mais ele se fixa no imaginário das pessoas. Lembre-se que no início da Era Moderna dos Discos Voadores, em 1947, atribuíram a origem do Fenômeno UFO a muitas coisas que jamais foram confirmadas. Na ocasião, o fenômeno era basicamente constituído do típico prato voador, cuja origem só poderia ser de outro mundo. Mas, nas décadas seguintes, o fenômeno evoluiu e vimos surgir uma série de manifestações de formatos que antes não conhecíamos. Junto deles vieram também mais e mais hipóteses, e cada uma com interessantes pressupostos — e algumas com bases bem sustentáveis. Talvez esse seja o caso dos triângulos voadores.
Só não vê quem não quer
Alguns o chamam de “Indiana Jones da Ufologia”, mas certos céticos do Fenômeno UFO o denominam de “Marco Polo de desgastados mistérios recauchutados”. Isso o incomoda muito? De forma alguma, isso não me afeta. Minha postura não mudou ao longo de mais de 40 anos de pesquisa, que é a de aceitar tudo e não descartar nada até poder demonstrar o contrário. Sempre há uma pequena luz no final do túnel de cada caso que investigo, e o tempo nos deu razão. Nas décadas de 60, 70 e 80 eu recebia todo o tipo de condenações, mas hoje esses críticos me fazem rir, especialmente os cientistas que mais debochavam da problemática ufológica, pois hoje o fenômeno é aceito abertamente por todos os segmentos da sociedade. Só não vê quem não quer. Negar a existência do fenômeno é como querer tapar o Sol com a peneira. Contudo, o mais atraente é que essa complexidade de interpretações para o Fenômeno UFO ainda nos surpreende — e, portanto, sigo investigando-o como se fosse o primeiro dia.
Desde o surgimento da Ufologia, com o avistamento de Kenneth Arnold, em 24 de junho de 1947 — data que marca o início da Era Moderna dos Discos Voadores —, não foram poucos os críticos que atacaram não somente o caso de Arnold como muitos dos que viriam a seguir. Entre eles, com destaque, está o autor norte-americano e arquicético Philip Klass, de quem você foi contemporâneo. O que nos diz dele? Klass, recentemente falecido, foi um grande detrator do tema UFO — e, como todo detrator, sempre tinha uma resposta pronta para cada caso. Ora atribuía as ocorrências a planetas no horizonte, ora a meteoritos, ora a fenômenos atmosféricos incomuns. Mas, hoje em dia, discutir se casos do passado eram causados por discos voadores, por protótipos terrestres experimentais ou simples meteoritos não nos leva a esclarecer nada a respeito da existência dos UFOs. O que é realmente significativo é que do avistamento de Arnold nasceu o mistério mais apaixonante da humanidade, a ação na Terra de outras espécies cósmicas. Em 1947, o surgimento de discos voadores foi a gota que faltava para transbordar o balde de muitas crenças. E tão importante foi o relato de Arnold que apenas 16 dias depois, em 10 de julho de 1947, a Argentina já teria seu primeiro caso de avistamento ufológico — um registro na cidade de La Plata. E aí eles não pararam mais, levando-nos a descobrir fatos inclusive anteriores ao surgimento da Era Moderna dos Discos Voadores, como o fantástico Caso Orense, ocorrido em Tres Arroyos no início dos anos 40 — portanto, o primeiro encontro com humanoides no país.
Ao longo da história da Ufologia, um fenômeno marcou essa disciplina, que foi o surgimento dos intitulados “UFOs fantasmas” ou invisíveis, que eram captados por câmeras fotográficas sem que fossem vistos por qualquer pessoa. O que nos diz disso? Esse é um dos itens mais importantes do Fenômeno UFO. O termo “UFOs fantasmas”, muitas vezes atribuído a mim, surgiu espontaneamente na ocasião em que tirei uma foto, em 1968, com o professor José Miguel Lugones, já falecido, que me assessorou em meus trabalhos durante mais de três décadas. Lugones fez uma imagem em preto e branco de um avião e, ao revelá-la, apareceu a figura de um típico objeto voador não identificado que não foi visto por ninguém. O caso foi relatado pela revista 2001, que batizou o artefato de “UFO fantasma”. Foi a partir desse momento que nasceu essa nova variedade de registros de objetos aparentemente invisíveis aos olhos humanos — mas não às câmeras fotográficas, inclusive, atualmente, as digitais, que têm resultado em uma verdadeira avalanche de imagens de supostos UFOs que chegam à nossa mesa de trabalho.
Tecnologia da invisibilidade
Há notícias de registros desse tipo antes da foto que você fez com o professor Lugones? Não que eu conheça, mas o grande ponto de interrogação é saber se os tais UFOs fantasmas sempre estiveram presentes em nossos céus, talvez até antes do início da Era Moderna dos Discos Voadores, ou se passaram a ocorrer nessas últimas décadas, quando foram então descobertos. O que temos de concreto, no entanto, é que o fenômeno detém uma tecnologia que permite que esteja sobre nós, mas não sendo visto.
Descobri que uma grande parte da casuística se repete de forma muito semelhante a cada 10 anos. Ou seja, para se compreender melhor os casos ocorridos em 2011, por exemplo, teremos que voltar àqueles de 2001, 1991, 1981, 1971 etc.
Falando em coisas invisíveis, seria possível a atividade dos ufólogos sem os relatos das testemunhas? Fantástica pergunta, que nos remete à outra indagação sobre o que acabamos de tratar, os tais UFOs fantasmas. Imagine por um instante que os discos voadores atuassem somente de forma invisível, ou seja, nunca sendo vistos, apenas registrados em fotos. Como iríamos investigá-los? Apenas imagens? Sim, pois não haveria uma só testemunha direta do fenômeno. Mas a realidade é que não há UFOs sem testemunhas e esse é o eixo fundamental da questão — foram as testemunhas que nos abasteceram durante anos e anos com seus relatos para engrossar nossas estatísticas e permitir que colocássemos em prática constantes investigações, pesquisas, comparações, hipóteses etc. Sem elas não saberíamos que posição adotar e graças às milhares delas em todo o mundo é que podemos vislumbrar um panorama mais ou menos interessante de como vai se desenvolvendo a casuística ufológica pelo mundo — isso nos permite até mesmo antecipar lugares e datas de ocorrências, como as grandes ondas que previmos para os anos de 1985 e 2008.
Mesmo assim, o mistério sobre quem são nossos visitantes extraterrestres continua. Exatamente, e talvez ele ainda permaneça nos incomodando com sua falta de respostas durante muitos anos. Há algumas décadas, recordo que diziam que o contato direto com outras inteligências cósmicas era iminente. Contudo, claro, o tempo passou veloz e não deixou qualquer prova concreta de que isso tenha ocorrido.
Como vê essa aparente artimanha dos alienígenas em sua interação conosco, por não deixarem rastros e nem se deixarem conhecer? Interessante. São três as ações que nossos visitantes demonstram diante das testemunhas que os flagram: fuga, indiferença e contato. Essa última variante é a que menor porcentagem apresenta em 64 anos de manifestações dessas furtivas inteligências, o que me leva a imaginar que ainda não queiram se apresentar à humanidade por algum motivo bem forte, sobre o qual só podemos divagar — somente eles mesmos, um dia, poderão responder a essa questão, e se quiserem…
Um de seus trabalhos mais importantes foi o levantamento do Caso Tacuarembó, ocorrido na localidade homônima do Uruguai, em maio de 1973. O episódio chamou a atenção justamente pela existência de vestígios de um suposto UFO. Poderia nos fornecer mais detalhes sobre o incidente? Sim, claro. Em uma tarde de maio de 1973, uma grande explosão foi sentida nos arredores de uma fazenda arrendada por Isidro Tito, na pequena localidade rural de Pueblo Achar, do departamento [Estado] de Tacuarembó. O fato foi acompanhado por um forte cheiro no ar de fios de luz queimados e, paralelamente, moradores de diferentes lugares do povoado e regiões adjacentes viram descer de céu algo como uma esfera de luz avermelhada que se perdeu atrás de uma mata. Em completo silêncio e sem manobras estranhas, o fenômeno não estava em queda livre e seu tamanho era descomunal. Na manhã seguinte, Tito saiu para percorrer o campo e tentar descobrir o local da suposta queda.
E o que aconteceu? Ele encontrou o local? Havia mesmo um artefato lá? Tudo indica que sim, mas qual não foi a sua surpresa ao se deparar com um estranho poço rodeado de pedregulhos, que se assemelhava a uma cratera. A formação consistia em uma bacia de 50 cm de profundidade, ainda coberta por água, em cujo perímetro estava um montículo de pedras distribuídas em um círculo com diâmetro de seis metros. Das bordas da cavidade se estendiam oito sulcos de cerca de 30 ou 40 cm de largura por 12 m de comprimento cada. “Parecia com o molde de uma roda de carroça”, disse-me Isidro Tito. A profundidade daquela marca no terreno era evidente e tanto na cratera como nos sulcos se observava um pó esbranquiçado similar a talco, sendo que nos seus arredores se notava grande quantidade de pequenas partículas, como limalha ou pó de ferro.
Verdadeira invasão de UFOs
Como se chegou a esse caso, especialmente por ter ocorrido no país vizinho? O relato se espalhou no povoado e um senhor chamado Leonel Montes de Oca, acompanhado dos vizinhos Cesar Rodríguez e Luis Fagundez, interessados na fenomenologia ufológica, começaram a investigar a marca, comprovando que tinha um interessante campo magnético superior ao existente no solo da região — composto de pedra basáltica avermelhada pela presença de ferro. Porém, à exceção de curiosos moradores locais, atraídos pela história de que havia um UFO enterrado ali, ninguém se apresentou naquelas desoladas paragens para investigar o caso, à exceção de uns militares da Força Aérea Uruguaia (FAU). O tempo foi passando e o caso acabou sendo esquecido, até que, nos primeiros meses de 1976, aquela mesma área foi palco de várias manifestações tipicamente ufológicas, que tiveram seu pico máximo na segunda metade do ano, quando uma verdadeira “invasão” de UFOs se deu sobre a região.
Essa nova onda ufológica evidenciou a possível queda? Sim. O epicentro dos novos avistamentos era justamente Pueblo Achar, onde estava a cratera descoberta anos antes. O incrível é que, durante a nova onda ufológica, nos seus arredores foram encontradas pelo menos umas 100 marcas de aterrissagem. Eram sinais idênticos aos de outros pousos de discos voadores que conhecíamos, alguns circulares, outros ovais, e havia até uma ferradura de 18 m — tudo isso sobre capim verde intenso e sempre com a presença de fungos ao redor, adornando a paisagem. A partir desse momento o fenômeno se estendeu e chegou até outros departamentos do Uruguai e regiões da Argentina.
Quando flagrados, os visitantes agem de três formas: fuga, indiferença e contato. Essa última variante é a de menor porcentagem em 64 anos de manifestações dessas furtivas inteligências, o que me leva a imaginar que ainda não queiram se apresentar.
Como foram suas investigações do caso? Depois de uma grande jornada, alcançamos Pueblo Achar no início de 1977 com meus companheiros Daniel Galatro e Omar Becerro, que tinham as mesmas expectativas que eu. Quando chegamos ao local, de ônibus, era noite e a escuridão reinava. Minutos depois, observamos luzes que se aproximavam e um grito: “Burgos?” Eram Montes de Oca e Rodríguez, vizinhos que tinham iniciado a pesquisa do incidente, que havíamos contatado e foram nos buscar na estrada. Iniciamos as investigações logo na manhã seguinte, colhendo dezenas de testemunhos do avistamento que precedeu à explosão, que coincidiam em suas descrições — de que os UFOs eram como uma Lua avermelhada. As marcas de pouso nos campos eram superiores a 100 e muitos moradores ainda tinham certa reticência em falar dos acontecimentos — a passagem de militares uruguaios pelo local os havia feito “esquecer” de alguns detalhes. Desse modo, concentramos nossa investigação nas duas provas de maior consistência: a cratera e as marcas. Deixamos para trás os relatos de objetos luminosos que subiam, desciam e aterrissavam, geralmente UFOs translúcidos — inclusive, durante nossa estada lá, em uma noite tivemos centenas de pontos de luz sobre o povoado, similares a lanternas e emitindo raios luminosos.
Evidências de aterrissagem
Espantoso. E como estava o local exato da marca inicial após esses anos? Embora o tempo tivesse deformado o poço original, já que não se notavam mais os sulcos e menos ainda a limalha de ferro, comprovamos que o montículo de terra ao redor do poço conservava sua forma — inclusive com seu centro de alguns centímetros de profundidade. Ali tivemos duas confirmações significativas da anomalia. Na primeira, as pedras da cratera estavam calcinadas e se partiam com o menor esforço, contrastando com os pedregulhos do exterior, totalmente consistentes e de grande dureza, próprios do basalto ferroso das campinas uruguaias. A segunda confirmação se deu no centro do poço, onde uma bússola teve sua agulha desviada 40º a leste, evidenciando o forte magnetismo que havia ali.
O que resultou de suas observações? Que aqueles dois pontos do incidente, somados aos contínuos avistamentos na região e à concentração de marcas na superfície, eram indícios claros de que algo poderia estar enterrado ali — talvez o objeto de preocupação dos UFOs que revoavam aquela área há vários meses. A marca original era tão inusitada que invalidava teorias, aventadas por várias pessoas, ora de que aquilo era resultado da queda de um raio — que geralmente produz um V no terreno —, ora da queda de restos de satélite — que produz sulco ou fenda. Houve quem dissesse até tratar-se da queda de um meteorito, teoria que mais próxima chegaria do provável, pois esses corpos também produzem uma espécie de cratera ou poço — mas nada semelhante ao que tínhamos ali. Que elemento causa uma marca com oito raios de 12 m cada, calcina as pedras, libera limalha de ferro e ainda magnetiza a superfície [Veja box desta edição]?
Muito bem. Graças ao seu trabalho investigativo, hoje temos muita informação sobre pontos de avistamentos mais “quentes” na Argentina. Poderia nos dizer quais são os 10 locais que têm maior atividade de discos voadores no país? Estatisticamente, ao longo de 64 anos de manifestações do Fenômeno UFO, surgiram diversas regiões na Argentina que se destacam por elevada incidência ufológica, sendo as 10 mais ativas as seguintes: o Vale de Punilla, em Córdoba, com epicentro no Cerro Uritorco; o Vale de Calamuchita, também na província [Estado] de Córdoba; toda a província de La Pampa, ao norte de Patagônia Argentina e talvez a região onde mais temos ocorrências, com epicentro dos avistamentos em Santa Rosa; a cidade de Victoria, na província de Entre Rios, lugar conhecido como Delta Enterriano; a região de Cachi, na província de Salta; o ponto conhecido como El Nido [Ninho], um setor da província de Buenos Aires; a Rodovia 02, especialmente a região sudoeste da mesma província de Buenos Aires; a chamada Comarca Andina do Paralelo 42, em plena Patagônia; e Bariloche, tendo como epicentro o Lago Nahuel Huapi.
É fantástico que tenha sido possível, através de estudos minuciosos e tamanha dedicação, mapear os hot spots da Argentina com tal precisão — e também que em alguns desses lugares os avistamentos perduram há décadas. Sim, são pequenos setores do país onde o fenômeno permanece ativo insolitamente com o passar das décadas, sem interrupção. Esse é o caso, por exemplo, da Estância La Esperanza, no povoado de Gobernador Ugarte, também na província de Buenos Aires. Outro cenário de incríveis ocorrências, intensificadas a partir de 2002, é La Araña, a oeste da citada Santa Rosa, assim como o Rio El Espinillo, na localidade de Atalaya — é lá que ocorreu, em 1985, o recorde mundial de registros de marcas de aterrissagens de UFOs, com 150 delas em uma única área. Também o chamado El Descanso, às margens do Rio da Prata, na localidade de Punta Piedras, é um hot spot conhecido.
Durante uma nova onda ufológica, em Pueblo Achar foram encontradas pelo menos 100 marcas de aterrissagem, sinais idênticos aos de outros pousos de UFOs que conhecíamos.
Também é notório que na Argentina haja grande concentração de avistamentos sobre lagos, levando a supor que tenham bases neles instaladas. Qual é o ranking dos lagos com mais atividade ufológica no país? Os pontos lacustres mais frequentados por discos voadores em seis décadas de aparições, conforme relato em meu trabalho Luces en los Lagos: ¿Habitat UFO? [Luzes nos Lagos: Habitat UFO?, edição particular do autor, 2001], são basicamente 25. Desses locais, eu daria destaque para o Lago Nahuel Huapi, em Bariloche; para a Lagoa Del Pescado, em Entre Rios; Lagos Pellegrini e Lácar, ambos em Neuquén; Lagoa Setúbal, em Santa Fé; Lago San Roque, em Córdoba; e o Reservatório Nihuil, em Mendoza. Mas há muitos outros com alta incidência de atividade ufológica, como o Lago Fagnano, na Terra do Fogo; o Reservatório El Chocón, em Rio Negro; e a Lagoa de Chascomús, também na província de Buenos Aires.
OSNIs também na Argentina
Você tem registros de ocorrências ufológicas em todos esses locais em seu banco de dados, tanto os terrestres quanto os lacustres? Sim, tenho casos em todos eles. Isso é resultado de décadas de investigação ininterrupta. Talvez ainda faltem alguns locais em minha lista, cuja densidade populacional, por ser muito baixa, não tenha nos possibilitado conhecer relatos de testemunhas — talvez até lugares onde UFOs possam circular sem constrangimento diante dos olhares dos moradores. Um dia esses pontos também acabarão figurando em nossas estatísticas, devido ao progresso da tecnologia e ao avanço da civilização para ambientes menos populosos. Para a pesquisa de todas essas citadas localidades, viajei ao longo de mais de três décadas por lugares maravilhosos, onde conheci todos os tipos de testemunhas e de ocorrências ufológicas.
Vamos falar um pouco do processo de abertura ufológica e liberação de documentos secretos no seu país. A Comissión de Estudios del Fenómeno OVNI da República Argentina (Cefora), tal como a brasileira Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), solicita a desclassificação de arquivos considerados secretos pelas Forças Armadas argentinas. Você acha que isso vai ocorrer? A Cefora é resultado do esforço de um grupo de pesquisadores que buscam a tão almejada e necessária desclassificação do tema na Argentina. Como fundador e membro de tantos agrupamentos nacionais de pesquisa de 1976, e como ufólogo há mais de quatro décadas, venho proclamando isso sempre. Tenho batido em muitas portas governamentais e militares solicitando audiências, apresentando projetos de lei, levado relatórios, entrevistando e sendo entrevistado por servidores públicos etc. No entanto, todas essas iniciativas, além de minhas antigas petições governamentais, se encheram de teias de aranha com o passar do tempo — nunca tivemos êxito em sensibilizar nossas autoridades a agirem com transparência quanto à realidade ufológica. Eu não integro a Cefora porque seus fundadores não me convocaram no momento de sua criação, mas estou à disposição para ajudar a solicitar de viva voz a abertura de arquivos.
O que pensa sobre o órgão oficial criado em 2010 e estabelecido em 2011 pela Força Aérea Argentina (FAA) para investigar ocorrências ufológicas, provisoriamente chamado de Comissión de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales (CIFA)? Acredita que trabalhará com transparência e que terá êxito? Vou dizer mesmo o que eu penso. Com essa comissão que aí está eu tenho uma postura totalmente contrária a de muitos colegas que optaram por se calar e não dizer o que sentem — eu, ao contrário deles, não vou fingir que acredito nessa iniciativa. E explico porquê. No final de 2010, quando seu porta-voz publicou uma nota na imprensa argentina sobre a questão ufológica, um programa de TV mostrou uma entrevista com o comodoro [Brigadeiro] Guillermo Tealdi, chefe de relações institucionais da FAA, praticamente negando tudo que se sabe sobre a existência do Fenômeno UFO. Falando pela Força Aérea e, portanto, também pela Comissión de Investigación de Fenómenos Aeroespaciales (CIFA), Tealdi alegou que a única coisa que os militares tinham quanto a avistamentos ufológicos eram “alguns ecos não identificados, mas muito fugazes”. E ainda assim disse que iria ser criada uma comissão oficial para estudo do problema, dos “ecos fugazes”!
Há setores da Argentina onde o fenômeno permanece ativo com o passar das décadas, sem interrupção. Esse é o caso, por exemplo, da Estância La Esperanza, no povoado de Gobernador Ugarte, localizada na província de Buenos Aires, a capital.
Isso realmente soa contraditório e as declarações de Tealdi são no mínimo desinformadas. Sim, mas a coisa piorou. A partir de então, suas declarações não são somente ridículas, mas também vergonhosas para todos os pesquisadores do tema — tanto pioneiros quanto novatos. Considerei sua atitude uma falta de respeito aos ufólogos, ao público, às próprias testemunhas do Fenômeno UFO e até à imprensa. Não sabia se ria ou chorava, e então optei pela primeira alternativa, quando me veio à mente Piñón Fijo, o palhaço argentino que faz adultos e crianças gargalharem com suas graças.
Quer dizer que até agora não houve qualquer ação ou mesmo uma investigação efetiva de algum caso ufológico realizada pela referida comissão militar? Já se passou mais de um ano desde sua criação e esses senhores — que, segundo eles mesmos, zelam pela segurança aérea da Argentina — não pesquisaram um único caso ufológico sequer e nem emitiram opinião alguma sobre a intensa incidência no país, como a ocorrência de episódios importantíssimos durante 2011 inteiro, tais como a onda de avistamentos em Ituzaingó, a misteriosa explosão de Monte Grande, as marcas em plantações em Chicoana etc. É como um filme com final anunciado, o fracasso, tal como fracassaram todas as tentativas oficiais anteriores no país. Enquanto o espaço aéreo argentino estiver sendo alvo da atenção dos Estados Unidos, será mantida a mesma política de acobertamento, negação, desmentidos, contaminação e ridicularização de ufólogos, como sempre aconteceu. Não importa qual seja a classe política dominante e seus adeptos, sejam eles de direita, de esquerda ou de centro. É simples assim.
Pode-se dizer que isso frustra a Ufologia Argentina, que não verá a liberação de arquivos sobre a presença alienígena em seu território? Por enquanto, sim. Mas somos bravos guerreiros desde o princípio e não nos calaremos. Bons ufólogos serão sempre bons ufólogos.
Cafetões e sanguessugas
Muito bem. E como você acha que os pesquisadores devem agir para furar esse bloqueio governamental e militar? Não posso falar do que pensa a maioria dos colegas, mas, da minha parte, não resta outra opção a não ser seguir lutando em busca da verdade, mesmo sabendo que existem cafetões e sanguessugas do assunto no governo, se podemos colocar nesses termos. Aliás, as palavras que uso não lhes agradam nem um pouco e eles me criticam pela sinceridade — sinto muito por eles, que já ficaram para trás na história, mas jamais me ajoelharei diante de governos passageiros nem tirarei fotos cumprimentando militares. É uma questão de ética e de princípios pessoais, nada mais.
Além dos casos extraordinários pesquisados por você durante tanto tempo, quais são os mais importantes da Ufologia Argentina para o ufólogo Luis Burgos? Falando em nível nacional, mas de forma aplicável ao resto do mundo, temos, entre outros, o primeiro avistamento relatado de seres alienígenas no país, nos primeiros anos da década de 40, quando ainda nem se falava de discos voadores. Como já mencionei, tratou-se do episódio em que dois polícias contemplam um UFO aterrissado e seus tripulantes do lado de fora, ocorrido em Três Arroyos. Os acontecimentos de Trancas, em Tucumán, de 1963, também são emblemáticos por causa da presença de humanoides e evidências físicas que marcaram esse clássico da Ufologia Argentina — apesar de alguns detratores tentarem desacreditar os fatos, como geralmente acontece com ocorrências em evidência. O caso também citado do professor Jose Miguel Lugones, de 1967, sobre o Aeroporto de Buenos Aires — aquele que deu início à era dos “UFOs fantasmas” no país —, também merece ser mencionado, porque a foto que ele fez e o depoimento que deu foram analisados pela Força Aérea e pela Marinha argentinas, isso é, duas das três armas de um governo da época.
Há outros episódios que gostaria de lembrar e informar aos nossos leitores? Sim, não poderia deixar de frisar a importância da ocorrência de 150 marcas de aterrissagem em um campo de Atalaya, que constituíram um recorde mundial de marcas de pouso. Também há o encontro com humanoides em um povoado próximo chamado La Dulce, em meados de 1978, com excelentes depoimentos. E o famoso contato do piloto da Aerolíneas Argentinas Jorge Polanco, quando se preparava para pouso no Aeroporto de Bariloche, no ano de 1995, e que contou com testemunhas de alta credibilidade na superfície e no ar. Ou seja, existem dezenas de episódios realmente significativos na Argentina, dos quais restam muito poucas dúvidas, se alguma, de terem sido causados por artefatos de origem extraterrestre, para desespero dos céticos.
São todos acontecimentos variados e de extremo significado para a Ufologia do país. Mas você teria uma ideia de quantas ocorrências inexplicadas, no total, poderiam ter havido no país desde o início da Era Moderna dos Discos Voadores? Aqui cabe mencionar novamente minha Hipótese 100, na qual postulo que 90% dos acontecimentos são fraudes ou erros de interpretação de fenômenos naturais, 9% deles são protótipos norte-americanos que realizam todo tipo de experimentos em nossos solos, mares e céus — com permissões de voo concedidas —, e o restante 1% corresponde a UFOs propriamente ditos, espaçonaves de origem externa ao nosso planeta. Não sabemos sua procedência exata, de que planetas vêm, mas intuímos que são artefatos dotados de uma poderosa tecnologia espacial que supera tudo o que conhecemos até hoje. Essa cifra de 1% representa um total de 50 casos argentinos que não têm explicação até o momento, extraídas de um banco de dados pessoal com 5.000 relatos de todos os tipos, de 1947 a 2011.
O que você pensa da abertura dos arquivos da Força Aérea Brasileira (FAB), obtida pela Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) através da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, iniciada em 2004? Oxalá a desclassificação de documentos secretos sobre UFOs pelas Forças Armadas do nosso vizinho sirva como exemplo para outros países, incluindo a Argentina. Evidentemente, os militares brasileiros têm muito mais material do que os nossos, e mais fatos ainda para revelar aos ufólogos e levar ao conhecimento público — temo que os militares argentinos ainda estejam engatinhando em comparação com os brasileiros nesse aspecto da questão ufológica, já que, para assumirem a mesma posição, teriam que dar uma volta de 180º em suas atitudes, coisa da qual lamentavelmente não se vê nem sinal de ocorrer. Os poucos documentos oficiais já liberados ou que vazaram até hoje, que todos conhecemos por aqui, não servem para afirmar que temos uma abertura ufológica — o que peço ao meu país é outra coisa: o que está escondido e não o que já se conhece.
Casos e calos ufológicos
Qual é o futuro que você vislumbra para a Ufologia Mundial? Quando lá por 1969 eu começava esse longo caminho de investigação da realidade ufológica, pensava: “Como será no ano 2000?” Para alguns o tema já estaria explicado nessa época, enquanto que para outros estaríamos à beira de um contato iminente. No entanto, já se passaram 65 anos de Ufologia e não ocorreu nem uma coisa nem outra. Por isso, sigo pesquisando como antes, embora com mais informações, mais estudos, mais casos ufológicos e mais “calos”. A temática continua tão apaixonante e enigmática como outrora, mas temos que torcer
para que não passem outros 65 anos e continuemos como estamos hoje.
Oxalá a desclassificação de documentos secretos sobre UFOs pelas Forças Armadas do nosso vizinho [O Brasil] sirva como exemplo para outros países, incluindo a Argentina. Mas os militares brasileiros têm muito mais material do que os nossos.
Você acha que partirá de nós ou deles a iniciativa do contato, quando e se isso ocorrer? Tenho a impressão de que talvez os apressados sejamos nós, os humanos, e não eles, nossos visitantes extraterrestres. Porém, ocorra o que tiver que ocorrer no futuro, sempre sustento que é necessário ter muito cuidado com a informação produzida por diferentes fontes do exterior, já que os serviços de inteligência e certos segmentos da imprensa são cúmplices em um processo que continua embaçando nosso campo de visão, ora com anúncios apocalípticos, ora com ameaças de invasão alienígena, eventos impressionantes por vir etc. Em poucas palavras, utilizam a “contaminação ufológica” para confundir, desmentir ou negar — ou fazer tudo isso ao mesmo tempo. Felizmente, o tempo sempre joga a favor dos pesquisadores, confirmando nossas suspeitas e tornando-as certezas.
Agradecemos ao amigo pela excelente entrevista, mas há algum pensamento que queira passar aos leitores da Revista UFO? Sim. Gostaria de concluir dizendo que eu não queria deixar esse mundo sem saber quem andei investigando durante todo esse tempo. Queria que pelo menos no último minuto de minha vida chegasse alguma das formas de inteligência por trás disso tudo para me dizer: “Burgos, fomos nós que você investigou durante toda a sua vida”.