por Carlos A. Reis
Progressos e retrocessos
Mundo Ufo-ilógico
Parece que a Revista Ufo se redimiu da edição 90, quando foram detectados inúmeros e imperdoáveis erros. Na 91, salvo engano, quase nenhum – a não ser a implicância com a crase. Se os erros apontados não são corrigidos, vamos então esclarecer de uma vez por todas: a crase é proibida antes de nomes masculinos, verbos, pronomes pessoais ou de tratamento, e antes de essa e esta. Ela só pode ser usada antes de palavra feminina, precedida do artigo “a”. É muito comum ler aqui algo do tipo “O UFO estava à 200 m de distância”. A crase é obrigatória nas locuções adverbiais, locuções prepositivas e locuções conjuntivas. Houvesse a profissão de craseólogo, eu me apresentaria para o cargo. Enquanto isso, para garantir o atual, vou iniciar meus comentários pela edição 91 e já começo implicando com a seção Mundo Ufológico, que insiste em divulgar notícias impertinentes ao tema: Desaparecimento em Massa e Novo Planeta Descoberto serviram apenas para tapar buraco. Já as notas Irmãos Abduzidos no Canadá e Jovem Mumificada para ETs são casos típicos de internação.
Jesus Está Voltando!
E não é que Jesus está de volta? Se depender do bispo dom Pugliese, o “ET JC” pode aparecer a qualquer momento numa dessas naves que andam por aí. Talvez fosse o caso dele se ater mais aos seus conhecimentos religiosos, que não são poucos. É bom ficar claro que a entrevista de dom Pugliese diz respeito apenas a uma convicção pessoal, não representa a unanimidade nem a posição da igreja em relação ao assunto – muito menos que se trata de uma revelação, como deu a entender a revista. Os leitores que escreveram a respeito da matéria de Fernando Ramalho, Os Evangelhos Segundo a Ufologia [Ufo 89], achando que finalmente encontraram a verdade sobre a origem de Jesus e dos textos bíblicos, precisam entender que se trata apenas de pesquisa, opinião e interpretação do autor, nada mais que isso. Essa postura pseudo-religiosa está parecendo doutrinação em massa dessas correntes evangélicas salvacionistas. Estão usando seu santo nome em vão, em demasia e indevidamente.
A matéria Outra Maneira de Entender os Círculos nas Plantações, assinada por Candida Mammoliti, sobre os círculos ingleses, faz uma mistura confusa de assuntos para chegar a lugar nenhum. Aliás, com muita freqüência – e não é de hoje –, alguns autores insistem em associar Ufologia com qualquer outro assunto e não é esse o caminho. Relatos bíblicos, círculos ingleses, espiritualidade, abduções, projeções astrais, rostos marcianos, espiritismo, Chupacabras, aparições de Fátima, Guerra do Golfo, Marte. Ufologia há muito virou festa sem dono, para não dizer outra coisa.
A matéria do recém nomeado “ufólogo brasileiro honorário”, Bob Pratt, Nordeste: Região Flagelada por Aliens (um contraponto às versões dos “seres angelicais”), mostra o quanto a Ufologia Brasileira é rica em casuística e diversidade. Méritos ao pesquisador, que investiu boa parte de sua vida num dedicado e exemplar trabalho de investigação atrás de respostas para fatos tão contundentes. E o Prêmio Cindacta vem aí, com uma curiosidade: na categoria Melhor Conferência, a mais cotada não tem nada a ver com UFOs! Mas o prêmio não é para os melhores trabalhos de Ufologia? Como diria o macaco naquele antigo programa de televisão: “Eu só queria entender!”
E para finalizar essa primeira parte, algumas das longas cartas que recebi erraram quando falaram em revolta, frustração e mágoa ao tentar interpretar o sentimento expressado por mim na matéria Novos Rumos para uma Velha Ufologia. E teriam acertado se tivessem escrito tristeza ou pesar. Enquanto a maioria delas concorda com os argumentos apresentados (o que pode servir como termômetro), apenas o leitor Jefferson Azevedo demonstrou incoerência ao afirmar que nem mesmo um pesquisador do porte de Vallée logrou ter as respostas que a Ufologia tanto busca. Se nem ele conseguiu, o que dizer de nós, então? Outra extensa carta chega de Recife (PE), de um médico que pede para não ser identificado e que, a exemplo das demais, concorda em parte com a matéria para, ao final, discordar radicalmente em relação ao atual estágio da Ufologia. Sugiro que ele releia a coluna daquela mesma edição. De qualquer forma, agradeço a todos pelos elogios feitos ao nosso trabalho, aproveitando para informar que não vou responder diretamente a nenhum deles, fazendo-o apenas através desta seção, sempre. Assim, informo a Tereza Schuch e Alfredo Buzzacchi que suas respectivas correspondências foram encaminhadas ao editor de Ufo. Ao frei Tadeu, de Lupionópolis (PR), igualmente agradeço as palavras de carinho e incentivo.
Por fim, devo dizer algo ao leitor Rodrigo G. P., de Florianópolis (SC). Em sua modéstia, achou estar dando apenas uma contribuição para a melhoria da revista, mas seu e-mail foi uma das coisas mais sensatas já lidas a respeito da Ufologia. Tanto que eu gostaria que ele entrasse em contato novamente para desenvolvermos um trabalho conjunto visando publicação aqui na Ufo. Se for levado ao pé da letra, pode mudar toda a estrutura de conceituação da Ufologia – e não estou exagerando. Palavra de ombudsman.
Infância Cósmica, Mesmo!
Quanto à edição 92, de novo a seção Mundo Ufológico vem com notas improcedentes. Em Avião Quase Colide com UFO não há nada que justifique a manchete. Já em Estruturas em Solo Lunar o absurdo está em ter-se observado uma nuvem de fumaça (!) em pleno espaço. Vida em Vênus não acrescentou nada, além da bizarra explicação do cientista ao dizer que a vida no planeta se tornou inviável há pouco tempo – apenas cerca de 700 milhões de anos atrás. No box Casuística, nada escapa. UFO Desvia de Meteoro é baseado num depoimento quase ridículo, Avistamento em São Paulo não traz nenhuma consistência e em Objeto em Forma de Nuvem, a expressão “UFO disfarçado de nuvem” é hilária – além do que, a foto nada tem a ver com o texto. Roubaram um espaço precioso da revista, que poderia ter contido informações no mínimo mais verossímeis. A série de fotos em Fenômeno no Canadá não mostra o UFO mudando de cor e forma, e sim muito provavelmente seu deslocamento.
A entrevista do mago da visão remota Courtney Brown foi bisonha, um fenomenal amontoado de bobagens sem tamanho. Nem vou perder meu precioso tempo e espaço comentando, mas sinto-me no dever de alertar o leitor de que não há uma linha sequer que mereça crédito. E ainda, apesar da chamada bombástica de capa, Um Alien em Fátima, de Cláudio Suenaga, é mais uma dessas matérias revestidas de religiosidade que, ao invés de trazer novas luzes, projeta mais sombras. O título mais apropriado deveria ser Quando Coisas Sagradas Acabam Virando Casos Ufológicos. Faltou concisão e objetividade, como muito bem pediu o leitor Gilson de Medeiros. Mas a coisa não pára por aí. Contatos com Aliens em Honduras mostra um UFO em forma de polvo! Será que as naves avistadas na Austrália têm forma de bumerangue? E em Cuba seriam charutóides? E o que as chuvas de peixes e tormentas de primavera têm a ver com UFOs ao final dessa mesma matéria? Francamente. Para amenizar tantas críticas, parabenizo o advogado Ubirajara Rodrigues, autor de O Caso Varginha, pelo lançamento de sua obra na Inglaterra e Estados Unidos – um feito marcante e inédito, que vem coroar não só o extraordinário trabalho de pesquisa sobre esta intrigante ocorrência, como também demonstra reconhecimento pelo seu justo valor como investigador.