Quando pensamos que o assunto havia caído no descrédito, vemos alguns grupos revivendo idéias a respeito da salvação da Humanidade por parte de seres mais evoluídos vindos de outros mundos, alienígenas. Procurando sentido para o termo “resgatar” encontramos literatura que não excede a 10 ou 12 anos, mas a idéia de que um ser ou um povo com poderes muito acima dos padrões que conhecemos estariam nos preparando para levar-nos a planos mais evoluídos de vida é tão antiga quanto o próprio ser humano.
Como os tempos mudaram, ainda que muita gente mantenha as mesmas idéias, os ditos “mestres” da Nova Era, tendo uma suposta retaguarda chamada de Grande Fraternidade Branca, criaram nos mesmos moldes da antiga e batida salvação o que denominam de resgate. Por sinal, tais mestres se consideram representantes da referida fraternidade. Mas, em virtude de que a tecnologia hoje é muito mais sofisticada que antigamente, tais salvadores não mais cairão das nuvens como se imaginava no próprio Cristianismo e em muitas outras grandes religiões. Esses “comandantes siderais”, segundo seus prepostos na Terra, virão de constelações situadas há milhares de anos-luz daqui e estarão equipados com computadores ultramodernos, viajando na velocidade do pensamento e com capacidade para desmembrar os próprios corpos em partículas, recompondo-os onde e quando quiserem.
Entre o antigo conceito religioso de salvação e a moderna teoria do resgate nada muda. Basta apenas que o indivíduo esteja aliado a certos líderes espirituais para que seja um dos “escolhidos” para realizá-la. Assim, no final dos tempos virá do espaço infinito o “senhor salvador”, que, descendo envolto em uma nuvem, julgará pecadores e inocentes e resgatará estes últimos para a bem-aventurança. Ou então, surgirá um grande disco voador que levará os escolhidos para um veículo chamado de nave-mãe, e dali irão para mundos seletos. Para as demais pessoas, não escolhidas, restará um mundo de desolação e caos, com choro e ranger de dentes, onde irão amargar uma existência medíocre. Em ambos os casos, seja no modernismo chamado de resgate ou no arcaico chamado de salvação, precisamos sempre de alguém superior para nos levar desta para uma vida melhor. Nunca supomos que temos condições físicas e mentais para pensar e decidir, e que somente nós somos os responsáveis por qualquer melhora ou mudança nos padrões de vida que temos.
Assim, por conta de uma vida melhor após a morte, muitas pessoas deixam de viver plenamente esta vida. Outras tantas chegam até ao suicídio coletivo como forma de apressar o acesso a esse paraíso prometido por alguns líderes espertos, como no caso da seita Heaven’s Gate, extinta na Califórnia em 1997 após extermínio de seus membros. Eles se mataram porque um guru lhes garantiu que um UFO os aguardava na cauda do cometa Hale-Bopp. Quando isso não ocorre de imediato, alguns desiludidos deixam seus bens, pertences e raízes para se locomoverem a sítios e espaços pré-determinados, onde esperam ser resgatados no futuro pelos salvadores espaciais. Porque muitas pessoas não irão participar dessa benesse divina, os que se intitulam escolhidos criam um mundo particular egoísta, promovendo separação e diferenças acentuadas. Sintoma precoce da guerra, este é o maior mal resultante da crença numa salvação ou resgate.