Uma exaltação da Ufologia estrangeira
Quem comprar o livro UFO – Enciclopédia dos Fenômenos Aeroespaciais Anômalos terá a impressão de que vai ler uma obra estrangeira traduzida para o Português. Não somente pelo tipo de acabamento gráfico, mas principalmente porque seu autor, apesar de brasileiro, optou por apresentar na obra fatos ufológicos e biografias majoritariamente estrangeiros. Com isso, perdeu a grande chance de mostrar ao público deste país uma Ufologia mais voltada para nossa realidade. Ao dar maior espaço para aspectos internacionais da pesquisa ufológica, alguns até sem o menor significado para o ufólogo e ufófilo brasileiro, a Enciclopédia acabou por parecer uma obra estrangeira.
Biografias de ufólogos de outros países são detalhadamente apresentadas na obra, ao lado de pouquíssimos nacionais. Destes, por sinal, o autor preferiu levar ao conhecimento do leitor apenas aqueles cujos méritos reconhece, deixando de lado um universo de estudiosos nacionais que verdadeiramente construíram e constroem a Ufologia Brasileira.
Distorção e Omissões – O exemplo mais gritante disso está no número de linhas usadas para descrever a biografia da professora Irene Granchi, uma de nossas maiores pioneiras. A ufóloga, que teve tamanha importância na Ufologia Brasileira, é citada apenas brevemente, enquanto estudiosos estrangeiros recebem até dez vezes mais espaço. Isso ocorre porque o autor, Philippe Piet van Putten, é um desafeto da referida ufóloga, assim como de expressiva parcela da Comunidade Ufológica Brasileira, da qual sempre esteve à margem desde o início de suas atividades e cujos integrantes não reconhece. Talvez seja por isso que omitiu de sua Enciclopédia fatos e biografias que deveriam obrigatoriamente dela constar. Outro exemplo dessa distorção está no fato de van Putten publicar a biografia do ufólogo mineiro Vitório Pacaccini, que foi um dos investigadores do Caso Varginha, e não fazer o mesmo com a biografia dos demais ufólogos envolvidos na investigação do episódio. Ubirajara Franco Rodrigues, Claudeir Covo e Marco Antonio Petit, entre outros tantos expressivos pesquisadores nacionais, são literalmente ignorados na obra.
Rodrigues é apenas mencionado quando se faz uma apresentação do Caso Varginha, e Petit, quando se fala das luzes da Serra da Beleza. Covo, um dos mais dinâmicos e reconhecidos ufólogos brasileiros, não é sequer citado no livro, assim como os pioneiros Victor Soares, Reginaldo de Athayde e Alberto Romero, apenas para destacar alguns. Por que? Porque estes senhores – entre muitos outros – são membros do Conselho Editorial da Revista UFO, uma publicação considerada inimiga da Ufologia na visão obtusa de van Putten. Desde os anos 80 UFO publica artigos e notas em que expõe agressões e fraudes perpetradas contra a Ufologia Brasileira – e entre as denúncias que a revista fez estão várias com relação a falácias inventadas ou imaginadas pelo autor da Enciclopédia.
Um tal Projeto Contact é um deles, fartamente descrito no livro. Tal episódio consistiu, segundo van Putten, do uso de técnicas parapsicológicas para contatar extraterrestres e avistar suas naves. Embora fossem tentativas programadas, que segundo o autor foram bem sucedidas, não se tomou o menor cuidado em documentar fotograficamente os objetos que alegou-se terem sido observados. Na época em que foram realizadas tais experiências, no fim dos anos 70, o autor chegou a garantir a membros da Comunidade Ufológica Brasileira da época que, quando fazia suas mentalizações atraindo UFOs, nas praias do litoral de São Paulo, as naves apareciam e secavam a água do mar ao seu redor…
As falhas na Enciclopédia são imperdoáveis, não tanto por erros do autor, que é meticuloso, mas sim por sua intencional omissão de fatos e personalidades da Ufologia Brasileira. Van Putten, por exemplo, faz menção e descreve inúmeras publicações internacionais dedicadas à pesquisa ufológica – como a inglesa UFO Magazine –, mas solenemente esquece que a Revista UFO, brasileiríssima, é recordista mundial em tiragem, longevidade e número de edições lançadas em bancas. Igualmente, ignora a existência do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), que edita a UFO e é o maior grupo ufológico do hemisfério sul. No Apêndice B da obra, que apresenta publicações periódicas especializadas em Ufologia, no espaço reservado à língua portuguesa, não consta a UFO, que é a única revista regular sobre o tema existente nesse idioma em todo o planeta Terra!
Ao mencionar certos casos ufológicos relevantes, van Putten ignora importantes pesquisas sobre os mesmos feitas por ufólogos nacionais. Quando expõe o Caso da Barra da Tijuca, por exemplo, não menciona a exemplar atuação na análise do episódio que tiveram Carlos Reis, Jaime Lauda e Claudeir Covo. Isso ocorre pelos mesmos motivos já expostos. Quando descreve o que são os raios verdes, apresenta ao leitor fatos analisados exclusivamente no exterior, mais uma vez ignorando os esforços de seus conterrâneos – nesse caso o professor de Química Salvatore de Salvo. Além disso, o autor inventa termos, como “Contatologia”, sem o menor emprego de fato na Ufologia, enquanto ignora expressões criadas por pessoas que considera adversários ufológicos. Quando trata de entidades dedicadas à pesquisa do tema, apresenta apenas algumas poucas existentes no Brasil, a maioria das quais já extintas ou inoperantes em nível público há décadas.
Ao descrever análises fotográficas de UFOs e erros de interpretação, van Putten faz várias vezes menção ao norte-americano Jeff Sainio, da Mutual UFO Network (MUFON), mas omite a brilhante carreira de dois especialistas brasileiros no assunto, Claudeir Covo e Ricardo Varela Corrêa. Mais uma vez, isso ocorre porque ambos são ligados à Revista UFO e, assim, considerados inimigos pelo autor. Porém, a mais grave omissão causada pela ojeriza do autor à esta revista dá-se quando publica a biografia do falecido coronel Uyrangê Hollanda Lima e menciona apenas sua entrevista ao programa Fantástico. Ora, depois de aposentado há mais de 15 anos da Força Aérea Brasileira (FAB), onde comandou a Operação Prato, em 1.977, Uyrangê foi descoberto pela UFO e deu entrevista de menos de um minuto ao Fantástico exclusivamente por sua indicação. No entanto, foi na revista, em duas longas partes publicadas em nossas edições 54 e 55, que Hollanda revelou tudo o que sabia sobre o assunto. O fato é amplamente considerado como um dos maiores momentos da Ufologia Brasileira e foi completa e intencionalmente ignorado por van Putten.
Presunção Exagerada – O autor da Enciclopédia não comete apenas omissões: peca também pela exagerada presunção. Quando menciona o termo “Ufoarqueologia”, explica que se trata de um ramo da Ufologia criado em 1.977 por ele próprio. Isso não é verdade! O termo vem sendo usado por ufólogos e pesquisadores há muito tempo, tendo sido cunhado à época dos primeiros livros lançados sobre a presença de ETs no passado da Terra – bem ao estilo de Erich von Däniken. Exemplo semelhante de exagero ocorre quando o autor define o termo “Ufofilia” e alega ter ministrado o primeiro curso no mundo sobre o assunto…
Por essas e muitas outras, a obra tem pouco de útil para quem está verdadeiramente buscando informação isenta sobre Ufologia – especialmente o estudioso brasileiro do tema. Embora de fino acabamento e ótima qualidade de impressão, típicos da editora Makron Books, a qualidade editorial da Enciclopédia deixa a desejar e lamenta-se que se perdeu, nesse momento, a oportunidade de se apresentar à vasta Comunidade Ufológica (e Ufofílica) Brasileira um produto que reflita o avançado estado atual de conhecimento do Fenômeno UFO.
– A. J. Gevaerd, editor