Uma atitude mina os esforços de busca por uma abertura ufológica total
A Ufologia Brasileira tem hoje um aspecto muito diferente do que tinha há menos de uma década. Respeitada em todo o planeta, foi ela quem conseguiu, por meio de uma série de manobras estratégicas, fazer o Governo de uma das maiores nações do mundo reconhecer a seriedade do Fenômeno UFO e tomar atitudes antes impensadas quanto ao tema. Desde 2004, quando a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) iniciou por meio da Revista UFO a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, muita coisa mudou por aqui, e para melhor. A partir daquele ano, mas principalmente após 2007, o Governo passou a abrir gradualmente seus arquivos e a revelar o que até então estava guardado nos porões de unidades militares espalhadas pela Nação.
Assim, mais de 4.500 mil páginas de documentos antes sigilosos ou secretos sobre discos voadores, contendo descrições de avistamentos, relatórios de investigações, troca de correspondências sobre o assunto com outros governos e até a existência de entidades e programas de pesquisas ufológicas confidenciais ou reservados, acabaram vindo a público. A sociedade pôde, enfim, ver que não são apenas os ufólogos que tratam do assunto com a devida seriedade, mas que até o Governo o fizera em inúmeras ocasiões, por meio de bem estruturadas iniciativas, geralmente da Força Aérea Brasileira (FAB).
Esta abertura ufológica é justamente o que mudou a cara da nossa Ufologia, e ela foi conquistada graças aos esforços persistentes e bem intencionados dos integrantes da CBU. Com ela, hoje os ufólogos brasileiros são vistos com outros olhos e se beneficiam do que foi alcançado — mesmo aqueles que em nada auxiliaram o processo e que até mesmo o criticaram. A sociedade agora sabe que o Fenômeno UFO merece atenção e passou definitivamente a respeitar quem lida com o assunto após a admissão e consequente revelação, pelo Governo, de documentos que comprovam que estamos sendo visitados por outras formas de inteligência.
Reuniões com militares
Neste processo de abertura, chegou-se até a realizar reuniões com as Forças Armadas, como a que ocorreu em 20 de maio de 2005, na sede do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), ou, mais recentemente e de forma mais decisiva, a que se deu em 18 de abril de 2013 no Ministério da Defesa, quando a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) foi recebida por autoridades do órgão, após este recepcionar a Carta de Foz do Iguaçu 2012, na qual se pedia uma abertura completa e irrestrita de todos os segredos ainda guardados — e eles existem especialmente nos arquivos da Marinha e do Exército, que não participaram do processo. O Ministério quis ouvir dos ufólogos quais eram suas reivindicações e souberam que seu trabalho é amplamente respeitado lá, assim como seu pleito por mais abertura e criação de uma entidade de pesquisas ufológicas com apoio das Forças Armadas [Veja edição UFO 202, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Mas, apesar de todas estas vultosas conquistas, uma parte da Comunidade Ufológica Nacional ainda permanece inerte e sem demonstrar interesse pelo que o Governo liberou — a maioria dos grupos e sites de pesquisas sequer registrou ou reproduziu o resultado destas conquistas. A razão para isso é uma incógnita. Mas há algo ainda mais entristecedor do que esta omissão e desinteresse: a atitude de ufólogos que, possuindo informações das Forças Armadas, não as compartilham. Esta é a situação em que se encontra o paulista Edison Boaventura Júnior, presidente do Grupo Ufológico do Guarujá (GUG), que tem em seu poder uma quantidade estimada entre 1.500 a 3.000 páginas de documentos originais das três Armas, majoritariamente da Aeronáutica, e retém para si este precioso acervo, andando na contramão da abertura ufológica conquistada.
A esta constatação se chegou recentemente, durante o V Fórum Mundial de Ufologia (II UFOZ 2013), realizado pela Revista UFO com o apoio da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), em novembro passado, em Foz do Iguaçu. Boaventura Júnior confirmou em público, na ocasião, ser detentor há pelo menos uma década de milhares de páginas de documentos ufológicos originais — e recusa-se a entregar este acervo ao seu destino natural, o Arquivo Nacional, em Brasília, entidade que o próprio Governo escolheu para receber as 4.500 mil páginas idênticas liberadas por força da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. Não se sabe — e ele não revela — qual é o tamanho do acervo nas mãos do ufólogo. Na pior das hipóteses, se Boaventura Júnior tiver em seu poder apenas as 1.500 páginas originais já admitidas desde 2009 e as entregar ao órgão, como se espera, a abertura brasileira contaria então com 6.000 páginas. Mas se forem mesmo 3.000, como se acredita, este número seria de 7.500 páginas disponibilizadas à sociedade e à Ufologia Brasileira. Porém, ele não dá mostras de que pretende fazer o que se espera.
O órgão mais completo
A situação é bizarra e para compreendê-la em toda a sua extensão e gravidade deve-se remeter aos anos 60. Em 1969, por iniciativa do brigadeiro José Vaz da Silva, foi criado em São Paulo o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), baseado no IV Comando Aéreo Regional (COMAR 4). O órgão foi o mais completo já criado oficialmente para lidar com o Fenômeno UFO, superior até mesmo a algumas iniciativas atuais de governos do nosso continente. Encerrado em 1972, estima-se que tenha investigado pelo menos 300 ocorrências ufológicas em diversos estados do país. Seus integrantes — a maioria militares da Aeronáutica, mas também alguns civis — percorriam locais de avistamentos, pousos e contatos com naves alienígenas em busca de relatos.
Quando a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) logrou êxito em sua campanha para pedir ao Governo que revelasse seus segredos ufológicos e abrisse seus arquivos, quase a totalidade das 4.500 páginas de documentos entregues veio da Aeronáutica, mais especificamente do Sioani. E desta forma inédita tomamos conhecimento da grandeza e da profundidade do trabalho conduzido por nossos militares. Mesmo assim, a CBU suspeitava que este montante de páginas não fosse tudo o que havia a ser entregue — e de fato não era, havia muito mais. O Governo não abriu todos os seus arquivos secretos e ainda restavam milhares de páginas, incontáveis fotos e filmes de UFOs retidos nos porões de instalações militares pelo país.
Os ufólogos da CBU agora lutam para que todo este montante também venha a público e que nada continue oculto da sociedade. Porém, uma parte de todo este presumido acervo talvez nunca venha a ser conhecido e jamais o Governo poderá desclassificar, por mais boa vontade que tenha, porque ex-membros de seus programas oficiais de pesquisas ufológicas, ao vê-los sendo encerrados, levaram para suas casas uma quantidade incalculável de tal material ou o receberam de seus superiores em tais órgãos. Vários o fizeram de boa fé porque sentiam a necessidade de mostrar à sociedade aquelas informações — e também temiam que, ao serem terminados tais programas, como o Sioani, o Governo não revelaria o que eles descobriram.
Informação pertencente a todos
Um desses homens é um empresário de Tatuí, no interior de São Paulo, que fez parte ativa como membro civil do Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani). O sociólogo Acassil Camargo, hoje com avançada idade, recebeu diretamente do fundador do órgão, o brigadeiro Vaz da Silva, uma quantidade estimada em 3.000 páginas de seus documentos originais, incluindo fotos e desenhos coloridos de UFOs pousados e com tripulantes. E Camargo, há mais de uma década, pretendendo que todo o material que tinha em seu poder chegasse finalmente à sociedade e à Comunidade Ufológica Nacional, procurou um ufólogo para entregar-lhe o valioso acervo. A pessoa escolhida foi Edison Boaventura Júnior, que recebeu os impressionantes arquivos originais juntamente com o pedido expresso de que levasse tais informações a todos os ufólogos do país, o mais breve possível.
Infelizmente, o ufólogo escolhido, ao contrário do que lhe foi pedido, reteve para si durante quase 10 anos todo aquele material, compartilhando poucas páginas aqui e ali e impedindo a Comunidade Ufológica Nacional de ter acesso a ele. E ainda, de quebra, impediu durante toda esta década que o Governo liberasse tais informações para a sociedade como parte de seu processo de abertura, simplesmente porque não tinha mais os arquivos para liberar, que estavam em posse de Boaventura Júnior. Ou seja, até hoje um membro da Comunidade Ufológica retém para si um número incalculável de páginas originais de documentos antes sigilosos ou secretos, evitando que tal acervo seja parte da abertura completa e irrestrita tão sonhada por todos, já que, em mãos civis, os papéis não têm como ser enviados pelo Governo ao Arquivo Nacional.
Em 2009, ao descobrir que Edison Boaventura Júnior mantinha para seu uso exclusivo tamanho acervo — que, a rigor, não pode lhe pertencer e deve ser reintegrado às Forças Armadas para liberação à sociedade —, a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) exerceu tamanha pressão que fez o ufólogo disponibilizar o material, entregando-o ao Arquivo Nacional, onde agora pode ser visto por todos. Mas Boaventura Júnior não entregou os documentos originais em seu poder, como se esperava, e sim cópias escaneadas deles em mídia digital, continuando a guardar para si volumosa quantidade de documentos, incontáveis fotos e desenhos de UFOs e ETs feitos por nossos militares e que narram a riqueza do trabalho oficial destes homens na pesquisa do Fenômeno UFO em nosso país. O pior é que, como se descobriu recentemente, as tais cópias escaneadas entregues ao Arquivo Nacional podem ser menos da metade do que ainda teria em seu poder.
Sucessão de absurdos
Todo este material foi produzido e pertence às Forças Armadas, mesmo tendo sido mantido sob guarda particular por algumas décadas pelo sociólogo Camargo. Este, com imensa generosidade e senso cívico, o entregou a Edison Boaventura Júnior para que chegasse à sociedade brasileira. No entanto, o ufólogo manteve o acervo como sua propriedade particular por mais de 10 anos e ainda o guarda exclusivamente para si, como se tais documentos fossem um troféu exclusivo a que somente ele teria privilegiado direito. O resto da Comunidade Ufológica Nacional que se contente com suas cópias escaneadas — em todas as quais, aliás, ele ainda colocou seu nome e nome de seu Grupo Ufológico do Guarujá (GUG), para que quem visse tal material tivesse o ufólogo e a entidade como referências da origem do mesmo. Outro absurdo completo.
A Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) decidiu reagir a esta situação e está fazendo gestão junto às autoridades para que obriguem Edison Boaventura Júnior a devolver aos arquivos públicos todos os documentos em sua posse, que devem ser disponibilizados à sociedade e à Ufologia Brasileira por meio da entrega ao Arquivo Nacional. Frise-se que durante todo o processo de abertura ufológica conquistado pela CBU, seus integrantes receberam as citadas 4.500 páginas de documentos por vias legais e diretas, e em nenhuma delas foi aposto o nome da entidade ou de seus participantes e seus grupos, como fez Boaventura Júnior ao entregar as cópias escaneadas. Esta situação é tristemente inédita na Ufologia Brasileira e nem em outros países há notícias de algo semelhante.
Todas as gestões para que Boaventura Júnior entregasse por bem este acervo ao Arquivo Nacional falharam. Nos ambientes da UFO na internet, especialmente em sua lista de debates Revista UFO Online, alojada no site Yahoogrupos, o ufólogo foi amplamente cobrado por este editor e boa parte do Conselho Editorial da revista quanto a isso, além de dezenas de usuários do sistema, mas não mostrou o menor sinal de ceder às legítimas pressões da Comunidade Ufológica Nacional. Ele se limitou a reagir aos pedidos com respostas evasivas que em nada indicaram que faria o que dele se espera.
Erro em cima de erro
E ainda mostrou-se inusitadamente ofendido com a cobrança deste editor, feita publicamente por meio de carta aberta na referida comunidade, chegando a registrar um boletim de ocorrência quanto ao que considera ofensivo na 57º Delegacia de Polícia de São Paulo. Enquanto corriam na internet as cobranças para que o ufólogo devolvesse aos arquivos públicos o que foi produzido pelas Forças Armadas, encontrando sua indiferença ou resistência, este editor e o conselheiro especial da Revista UFO Ricardo Varela Correia, engenheiro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), estiveram em Tatuí com o senhor Acassil Camargo realizando gravações para a terceira temporada da série Contato Extraterrestre, do History Channel.
Enquanto os ufólogos brasileiros se mobilizam para fazer o Governo abrir de maneira total e irrestrita os seus segredos ufológicos, uma pessoa retém para si quantidade incalculável de documentos oficias originais que podem mudar os rumos da abertura do tema no país.
Na ocasião foi possível obter novas e interessantes informações sobre como o acervo de estimadas 3.000 páginas teria sido entregue a Boaventura Júnior e a outro indivíduo, ainda não identificado. Ao tomar conhecimento de que o ufólogo tenha retido por todo este tempo o acervo que lhe foi dado, Camargo reagiu com grande surpresa. E mais ainda quando lhe foi informado que Boaventura Júnior, há alguns anos, tentou ganhar dinheiro com os documentos das Forças Armadas vendendo o acervo recebido por uma quantia superior a R$ 60 mil, em ofertas feitas por meio de e-mails a indivíduos da Comunidade Ufológica Nacional (segundo documentos).
Enfim, estamos diante de uma situação paradoxal em que um ufólogo que afirma ser a favor da abertura ufológica se agarra a documentos públicos originais que podem causar grande revolução no processo como se fossem um bem exclusivo seu. Age colocando seus interessantes pessoais à frente dos interesses coletivos da Comunidade Ufológica Nacional, retendo milhares de páginas que podem dar a ela uma noção mais clara de como nossos militares trataram o Fenômeno UFO nos anos 60 e 70. Esse talvez seja o maior desserviço que alguém já prestou à Ufologia Brasileira. Os documentos são de extrema importância e jamais poderiam ser propriedade exclusiva de quem quer que seja. Seu destino é o Arquivo Nacional, em Brasília.