Mesmo que os cientistas provem que Eva, o primeiro clone humano, é uma farsa, a garota já terá cumprido seu papel: mostrar aos seguidores da seita ufológica raeliana que o seu líder, o francês Claude Vorilhon, chamado de Rael, está seguindo as ordens que recebeu de seus “superiores alienígenas”. Ou quase. O bebê, que teria nascido em 26 de dezembro de 2002, continua escondido. Mesmo que se prove que a experiência é verídica, conforme anunciou a bioquímica francesa Brigitte Boisselier, diretora da empresa Clonaid e bispa raeliana, ela está longe de ser considerada uma bênção.
Apesar de alardear que é especializada em clonagem de seres humanos, a empresa tem um histórico de propaganda enganosa, segundo noticiou o The New York Times. Reportagem do jornal norte-americano aponta que, quando formou a empresa, a seita tinha um objetivo: “Queremos criar controvérsia”, disse o próprio vice-presidente, Thomas Kaenzig. Pelo menos 70 mil raelianos, como seus seguidores são chamados, apóiam a iniciativa em todo o mundo. Eles acreditam ter como missão “construir uma embaixada na Terra para receber os extraterrestres”. A seita prega, entre outras coisas, a meditação sensual – que permite aos praticantes chegarem ao “orgasmo cósmico” –, a hierarquia entre as raças e a eugenia.
“Para que uma embaixada para receber ETs se eles descem a qualquer hora, em qualquer lugar do mundo?”, argumenta o leitor de UFO Juarez Crispim. De fato, as afirmações de Rael são absurdas e infundadas. Mas, ainda assim, seguidas sem questionamentos pelos fiéis. “Viemos de outro sistema solar e criamos a vida na Terra à nossa imagem, mas vocês nos confundiram com deuses”, teriam ditos os ETs ao escolhido Rael. “Agora que são capazes de compreender quem somos, gostaríamos de estabelecer contato oficial numa embaixada”, concluíram seus amigos. E uma das missões dos raelianos no planeta é fazer a clonagem de seres humanos. Para isso, eis a Clonaid e seus cientistas. No entanto, um dos grandes problemas da seita é encontrar um país em que a experiência não seja ilegal.
“Escravos sexuais” — Numa rápida pesquisa na internet, é possível descobrir que, em 04 de agosto de 2001, a seita cogitava clonar o falecido ditador alemão Adolf Hitler, para que ele pudesse ser julgado pelos judeus. Na mesma época, noticiou-se que a “mãe” do primeiro clone humano seria a francesa Marina Boisselier, filha de Brigitte, que teria acompanhado todo o experimento. Outra intenção é criar os chamados “escravos sexuais sem vontade, personalidade ou sensibilidade à dor”, para cumprir certas tarefas. Apesar de toda a euforia, a imprensa não sabe como tratar o caso. Nenhuma prova foi dada de que Eva existe mesmo e, considerando a origem da seita e de seu líder, esse é um terreno extremamente fértil. Acreditando ser o último profeta enviado por extraterrestres, Rael defende a clonagem como uma etapa para sua missão de fabricar a vida em laboratório. A intenção, segundo ele, é permitir aos terráqueos fundar uma civilização diferente em outro planeta. “Assim como os Elohim nos criaram, nós podemos agora criar seres humanos à nossa imagem em outro planeta”, afirmou o autoproclamado apóstolo da clonagem. Para chegar ao mesmo nível tecnológico dos alienígenas seria necessário ultrapassar a etapa do crescimento acelerado, isto é, clonar em poucos minutos, sem necessidade da permanência de nove meses no ventre materno – nem 18 anos para se tornar adulto.
De acordo com Rael, trata-se de produzir “alguém que se pareça conosco apenas fisicamente, como uma fita cassete virgem”, para então “poder transferir a personalidade e a memória a um computador, depois clonar um ser adulto”. Ele acredita que cada vez que uma pessoa morre, se sua alma, memória e personalidade forem transferidas a um corpo novo, ela viverá eternamente. Brigitte ainda afirmou, em programa da rede de tevê francesa France 2, que “o próximo nascimento será no norte da Europa e haverá outros três”, finalizou. A doutora desafiou os presentes a tratar a descoberta como uma farsa. E, ao que tudo indica, ela deverá receber esse tratamento por mais algum tempo.