Novamente as atenções do mundo ufológico se voltam para a China, onde uma sucessão de acontecimentos tem despertado interesse dentro e fora do país. A situação chegou ao extremo em 07 de julho, quando o tráfego aéreo sobre a cidade de Hangzhou, na província de Zhejiang, leste do país, teve que ser interrompido devido à presença de um artefato não identificado que logo foi dado como um UFO pelos pesquisadores. Segundo as autoridades municipais, por volta das 21h00, um objeto foi detectado pelos radares tão próximo do aeroporto local, o Xiaoshan, que o mesmo teve seu funcionamento paralisado — cerca de 20 vôos foram cancelados ou redirecionados para outras cidades. Uma fonte do governo chinês disse ao jornal China Daily que as autoridades identificaram o UFO depois de uma investigação, “mas que esse não seria o momento apropriado para divulgar a informação, já que haveria uma conexão militar”.
Poucos dias depois, em 19 de julho, outro avistamento foi tornado público. A agência de notícias Nova China informou que desta vez quatro UFOs foram vistos por dezenas de pessoas no Parque Municipal de Chonging. Segundo o relato das testemunhas, os artefatos apresentavam quatro luzes e tinham a forma de diamante. Ainda de acordo com a agência Nova China, uma comissão composta por seis militares da Aeronáutica foi formada para investigar o caso — os resultados das diligências ainda são desconhecidos. Entre um caso e outro, novos avistamentos ocorreram e o número de observadores de fenômenos anômalos nos céus do país aumentou exponencialmente, podendo passar de milhares hoje. As autoridades, como era de se esperar, estão reservadas quanto ao assunto.
Interesse oficial, mas não admitido
Os recentes avistamentos na China ofereceram ao mundo intrigantes imagens que, embora ainda inconclusivas quando à sua veracidade, aguçaram definitivamente a curiosidade geral sobre o histórico do fenômeno ufológico naquele país. Desde que a Era Moderna dos Discos Voadores começou, em 1947, pouca informação sobre a ação de outras espécies cósmicas na China alcançou o Ocidente. A publicação de notícias sobre o tema na imprensa sempre foi controlada, e apenas em 1978 o maior jornal chinês, o Diário do Povo, publicou um artigo revelador sobre objetos voadores não identificados no país, que lá são conhecidos como fei tieh. O texto foi escrito por Heng Sheng-Yen, então membro da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Outros artigos foram publicados em seguida pelo jornal Guang Ming Daily, nos anos seguintes, e em 1980 o pesquisador chinês naturalizado norte-americano Paul Dong [Moon Wai], escreveu um texto descrevendo avistamentos de cientistas e pilotos.
Naturalmente, apesar das restrições e da censura, o Fenômeno UFO sempre causou perplexidade na China, e o interesse por um assunto proibido como esse aumentava a cada dia. Após a publicação dos primeiros artigos em jornal, centenas de cartas enviadas de todo país chegaram às redações de vários jornais locais e até alguns do Ocidente, pedindo para que o governo chinês começasse uma investigação sobre o fenômeno. Assim, em maio de 1980, foi criada a China UFO Research Association [Associação de Pesquisas Ufológicas da China, Cufora), com sede em Pequim e filiais em Xangai, Guangdong, Sichuan, Shanxi, Hubei e Guangxi. A importância da entidade cresceu tanto que ela se tornou a China UFO Research Organization [Organização de Pesquisas Ufológicas da China, Cuforo), nada menos do que um braço da Academia Chinesa de Ciências Sociais, ou seja, o governo começava a se interessar oficialmente pelo fenômeno.
O assunto passou a despertar tanto interesse que a primeira edição do jornal do Cuforo atingiu a tiragem de mais de 300 mil exemplares, algo nunca visto em publicação alguma no mundo. Desde então, centenas de casos — alguns datados dos anos 40 e até antes — foram compilados. Muitos deles fazem parte da excelente obra de Paul Dong, UFOs Over Modern China [UFOs Sobre a China Moderna, Wendelle Stevens, 1983]. Mas por que o país demorou tanto tempo para levar a sério o fenômeno ufológico? Segundo Dong, três fatores foram determinantes. O primeiro, ocorrido no verão de 1965, foi a observação de dois discos voadores extremamente brilhantes que invadiram o espaço aéreo chinês. Dois anos depois, outro objeto, dessa vez redondo, cruzou os céus na fronteira com Taiwan, levantando especulações de que poderia ser uma nova arma secreta do país vizinho. E o terceiro fator foi a imensa quantidade de relatos de novos avistamentos que vinham de diversas províncias.
Crianças mortas e centenas de feridos
Na nova República Popular da China, então presidida por Mao Zedong, nada foi falado ou escrito sobre o assunto até a Revolução Cultural, quando os relatos começaram a ser filtrados e investigados de forma sigilosa. Oficialmente, o assunto era considerado “contra-revolucionário” ou algo subversivo. Mas, com o advento político da Revolução, milhares de relatos de avistamentos ufológicos vieram a público — a população aos poucos ia se abrindo e revelando ocorrências surpreendentes. Antes mesmo dessa guinada no interesse dos chineses, discos voadores já cruzavam os céus do país abundantemente, tanto que, em outubro de 1963, uma aeronave Li-2 — espécie de versão soviética para o DC-3 Dakota — foi seguida por três UFOs luminosos durante 15 minutos em rota entre a cidade de Guangdong e Wuhan. Os pilotos mantiveram contato constante com a torre de controle e, ao pousar, os passageiros e tripulação foram interrogados.
Em 01 de janeiro de 1964, moradores em Xangai observaram um enorme objeto cilíndrico sendo perseguido por caças Mig, e novamente a “versão oficial” apontava para algo explicável: tratava-se de um míssil norte-america no, algo nunca confirmado ou negado pela Casa Branca. Mas foi entre 1977 e início da década de 80 que a China atravessou o que é considera
da uma das maiores ondas ufológica já registradas. Um dos seus melhores momentos envolveu quase três mil testemunhas que assistiam a exibição ao ar livre do filme romeno Alert on the Danube Delta [Alerta no Delta do Danúbio, em tradução livre], quando viram dois objetos de cor laranja descendo em direção à população. “Os UFOs passaram tão próximos das cabeças dos espectadores que quase era possível tocá-los”, disse o veterano Dong. O pânico foi instalado e as pessoas se jogavam ao chão, enquanto outras corriam sem direção — resultando em duas crianças mortas e centenas de feridos. O governo sugeriu que tudo não passou de ilusão de ótica coletiva, devido ao filme, e o projetou novamente para provar sua tese, mas nada aconteceu.
Desapareceu sem deixar vestígios
Em 1978, outro significativo episódio ocorreu, agora diante de centenas de militares. No dia 23 de outubro daquele ano, uma aeronave não identificada sobrevoou a Base Aérea de Lintao, na província de Gansu. Segundo o piloto Zhou Quingtong, “quando estávamos assistindo a um filme na base, um enorme objeto surgiu. Era muito estranho, tinha a forma oblíqua e duas grandes luzes na parte da frente, como essas de busca. As luzes mudavam de intensidade constantemente”. Pesquisadores chineses, baseados na similaridade da descrição deste artefato com outros em diversos países, especularam que o UFO poderia ter alguma conexão com o objeto visto pelo piloto australiano Frederick Valentich dois dias antes, no sul da Austrália — Valentich, como se sabe, desapareceu sem deixar vestígios após o avistamento, e nunca mais foi encontrado [Veja edição UFO 094].
A monumental onda de avistamentos na China continuou a todo vapor, e em 1979 produziu relatos interessantes. Um deles foi um incidente ocorrido em 12 de setembro, às 20h45, quando as cidades de Xinglong e Huaihua sofreram um blackout. Quinze minutos depois, um objeto emitindo luzes em direção ao solo surgiu para perplexidade de todos. Em 13 de dezembro, dois caminhoneiros em diferentes veículos se depararam com um evento extraordinário. Quando estavam próximos da cidade de Xangai, observaram um feixe de luz e dois estranhos seres no acostamento da rodovia. Pararam abruptamente para verificar quem seriam, mas os seres sumiram. Cinco ou seis quilômetros mais à frente, novamente o raio de luz iluminou a estrada e lá estavam os dois homenzinhos. Dessa vez os motoristas puderam ver que tinham cerca de 1,5 m, portavam capacetes e roupas parecidas com as de astronautas. O caso rodou o país e virou notícia. Wang Jianming, um dos caminhoneiros, parou seu veículo, apagou as luzes e olhou para trás para ver as criaturas paradas ao longo da estrada. Quando pegou uma barra de ferro para atingi-los, um feixe de luz iluminou o local e os seres desapareceram.
Escolta de UFO durante aterrissagem
O ano de 1980 registrou um aumento expressivo no número de relatos. O Cuforo recebeu mais de 100 relatórios e os pesquisadores acreditam que muitos outros nem sequer chegaram aos seus escritórios. Na época, o editor do jornal Aerospace Knowledge, Xie Chu, escreveu que “não se pode mais ignorar a existência dos UFOs devido ao grande número de avistamentos relatados em nosso país”. Isso só aumentou o interesse da população. Em outubro, os operadores de radar do Aeroporto de Tientsin observavam os procedimentos de descida do vôo 402 da China Airlines quando repentinamente um eco nos instrumentos indicava um artefato ao lado do avião. Três segundos depois o ponto desapareceu das telas, mas quando a aeronave se aproximou da cabeceira da pista, o intruso reapareceu e acompanhou-a até seu pouso. Outro avião, fazendo o vôo 404, também estava em manobras para pouso e viu o objeto. Segundo seu piloto, os instrumentos da cabine de comando ficaram descontrolados.
Em meados de 1982, a atividade ufológica aumentou repentinamente na região norte da China, e particularmente no dia 18 de junho, quando vários relatos foram dados a partir da província de Heilongjiang. Um deles foi o de cinco pilotos da Força Aérea Chinesa, que afirmaram que seus aviões começaram a apresentar problemas elétricos e nos sistemas de comunicação e navegação, que falharam. Sem saber o que estava ocorrendo, os militares observaram a aproximação de um objeto do tamanho da Lua cheia e de cor verde-amarelada. Devido aos problemas técnicos, no entanto, tiveram que retornar à base e não puderam perseguir o UFO. Não são raras as ocorrências envolvendo discos voadores e aeronaves militares no país, mas, naturalmente, bem poucas são conhecidas no Ocidente.
Todos os casos acima são apenas uma amostra da grande quantidade de ocorrências ufológicas que inundam as entidades de pesquisas do assunto no país, mesmo com a pouca liberdade de imprensa que lá existe. Entretanto, parece estar havendo alguma mudança neste cenário, e um bom exemplo disso é a veiculação mundial dos eventos que ocorreram no início de julho passado – de forma inédita o mundo tomou conhecimento de maneira tão rápida de tantos casos ocorridos na China. Mesmo que gerem dúvidas e certamente mereçam investigação mais profunda e científica, eles mostram que podemos estar diante de uma nova onda ufológica no país.
Espaço aéreo fechado por segurança
Nos dois principais casos publicados pela imprensa em julho, nenhuma hipótese foi oficialmente descartada pelos oficiais chineses, que estão examinando se os objetos eram aeronaves militares ou privadas, reflexos de luz no céu, rastros de foguetes ou se há qualquer outra explicação para eles. Segundo Wang Jian, diretor do controle de tráfego aéreo do aeroporto Xiaoshan, as investigações continuam. “Não chegamos ainda a nenhuma conclusão sobre o fato”. Numa entrevista concedida à agência de notícias Blue Ocean Network, o porta-voz do aeródromo paralisado, Ruan Zhouchang, falou do evento ocorrido em 07 de julho. Segundo Zhouchang, um artefato desconhecido apareceu sobre as instalações e o espaço aéreo foi fechado seguindo orientações de segurança. Ele ainda disse que não houve muitas testemunhas naquele momento, pois somente poucos funcionários estavam presentes e os passageiros encontravam-se no saguão. Zhouchang finalizou dizendo que aguarda os resultados das investigações para dar mais alguma informação à nação — e há forte expectativa em torno delas.
Uma font
e extra de polêmica são as várias fotos que circularam na internet, alegadamente ligadas às observações de julho. Uma delas, que mostra a imagem do objeto passando sobre casas em Hangzhou, segundo fontes, teria sido feita no Cazaquistão. As informações são contraditórias. Em seu site, a pesquisadora norte-americana Linda Moulton Howe [Veja edição UFO 090] publicou ter recebido um e-mail, enviado por uma fonte anônima, afirmando que a foto divulgada como sendo do avistamento de 07 de julho foi realmente obtida na China. Como comprovar isso? Segundo o informante, os cabos de alta tensão da rede elétrica mostrados na imagem contêm três esferas que os separam e evitam que se choquem com a força dos ventos e entrem em curto-circuito. Esse tipo específico de separadores só existiria em Hangzhou, na China.
Já quanto ao evento ocorrido em 19 de julho há muitas testemunhas entre os moradores de Hangzhou, que atestam terem observado um fenômeno insólito e não explicável em termos ordinários. Junto de seus depoimentos foram colhidas importantes provas de que falam a verdade, como fotos de um objeto dourado com uma cauda de cometa, supostamente obtidas na tarde em que o aeroporto da cidade foi fechado. Há ainda outros relatos do segundo artefato que emitia raios de luz vermelha e branca — os dados sobre este caso ainda estão sendo apurados. Um morador de Hangzhou, Ma Shijun, relatou que estava com sua esposa quando viu o objeto. “Era uma luz diretamente sobre nossa cabeça. Olhei para cima e vi que era muito brilhante, e então peguei minha câmera e tirei uma foto. Eram 20h26. Se aquilo era um avião ou um UFO que parou o aeroporto, não tenho a mínima idéia”, declarou. E para encerrar os boatos de que era helicóptero, aludidos por céticos, Shijun declarou que era totalmente silencioso.
Protótipo aéreo secreto sobre a China
No entanto, de fato as fotos tiradas pelos residentes de Hangzhou podem não ter relação com o objeto que provocou o fechamento do aeroporto da cidade, pois, segundo técnicos da estação meteorológica da região, eles podem ter visto apenas o reflexo de um avião. Quanto à fotografia de Ma Shijun, o curador do Planetário de Pequim, Zhu Jing, declarou ao jornal Xinhua que o UFO se parece com um avião com suas luzes acesas, numa imagem tirada com bastante tempo de exposição. Não terá sido a primeira vez que se capturam fotos de objetos ou fenômenos conhecidos durante uma onda ufológica. Seja como for, as imagens já se espalharam mundo afora através da internet e estão intrigando cientistas, ufólogos e céticos. As teorias para sua explicação são muitas e vão desde fraudes a até mesmo um novo protótipo aéreo secreto de algum país.
Vários ufólogos consultados pela Revista UFO deram suas opiniões sobre as imagens e também sobre a fantástica incidência ufológica na China. Segundo o físico nuclear canadense Stanton Friedman, consultor da Revista UFO e entrevistado da edição 162 [Roswell ainda pode ajudar a Ufologia], ainda não há informações suficientes e talvez nunca haja para um bom julgamento dos fatos. “Certamente, o redirecionamento de quase 20 vôos e o fechamento do aeroporto significa alguma coisa. Numa palestra que dei em Hong Kong, pude ver que os chineses levam o assunto muito a sério”. Já para o ufólogo russo naturalizado norte-americano Paul Stonehill, também consultor da UFO e mundialmente conhecido graças ao seu trabalho sobre os arquivos ufológicos da extinta União Soviética, a explicação mais plausível é de que seja um teste de alguma arma militar. “Minhas fontes russas disseram tratar-se de um míssil balístico intercontinental”. Entretanto, Stonehill afirmou que são apenas suposições e que uma pesquisa mais profunda deveria ser realizada.
A onda ufológica chinesa de julho já adentrou agosto e parece que está longe de acabar. E pode ter ganhado mais um capítulo, de acordo com informações recentemente veiculadas pelo Hong Kong UFO Club [Clube Ufológico de Hong Kong, HKUC]. Segundo seus investigadores, no mesmo mês surgiram relatos de avistamentos de objetos semelhantes aos da China também na Malásia. Choong Keat Yian, do HKUC, disse que os UFOs observados tinham um brilho muito forte e apresentavam uma cauda de cometa. Assim como o governo chinês, o malaio também abriu uma investigação para analisar os relatos.
Seja o que for que ocorreu na China, o fato é que o país tem um histórico muito rico em relatos, alguns incríveis, e que o interesse do governo sobre o fenômeno é real e muito sério. Os recentes acontecimentos ainda necessitam de mais informações, investigações e dados técnicos, e qualquer conclusão agora seria especulação precipitada — como têm feito certos movimentos céticos do Brasil e exterior, que já “explicaram” os avistamentos como sendo de Vênus. Entretanto, é importante ressaltar, assim como fez o pesquisador Friedman, que qualquer coisa que faça um importante aeroporto fechar para pousos e decolagens, causando o redirecionamento de quase 20 vôos, deve ser algo muito importante para se deixar sem uma resposta.