Em setembro de 1996, enquanto passeava pela Serra da Gardunha, em Portugal, Ricardo Machado Oliveira se deparou com uma gruta em um local conhecido como Cabeço da Penha. Decidido a explorá-la, nela penetrou e perdeu os sentidos em seguida. Quando voltou a si, encontrava-se em um local que lhe parecia um enorme hangar subterrâneo, onde estavam diversas naves ovais prateadas. Após ter sido abordado por três espécies distintas de seres de aspecto humanoide, foi revelado a Oliveira que eles faziam parte de uma “aliança de mundos” e que o hangar no qual se encontravam pertencia a uma das quatro “bases de observações” extraterrestres localizadas em nosso planeta.
Perdendo novamente os sentidos, Oliveira voltou a recuperá-los apenas algum tempo depois, quando já estava no exterior da gruta, sem saber como lá chegara. Teria sido um sonho ou uma alucinação? Buscando dados sobre o local, descobre-se que a gruta fica a 1.227 m de altitude em relação ao nível do mar — e não poderia estar em lugar mais propício do que na famosa Serra da Gardunha, na região da Beira Baixa e ao sul da conhecida Serra da Estrela, no ponto mais alto de Portugal continental. O local é conhecido em todo o país como um dos mais ativos hot spots ufológicos, com uma incidência realmente impressionante.
A Gardunha pertence ao distrito de Castelo Branco e é pequena em comparação com a maioria das serras portuguesas, mas tem grandes valores de patrimônio natural, histórico e cultural para o país. Sua encosta leste é a mais peculiar e conhecida, formando uma crista montanhosa em forma de anfiteatro, característica típica dos antigos círculos glaciares. No centro do local fica a pequena Castelo Novo, uma das 12 aldeias históricas de Portugal, com uma edificação do século XII incrustada em um vale. Existe muita especulação em relação à origem do nome Gardunha, mas acredita-se que tenha origem na palavra guardunha, que em árabe significa refúgio.
Elementos misteriosos
A experiência narrada no início desse texto é apenas uma história que circulou na internet, em uma antiga edição do boletim eletrônico UFO Roundup, e vem sendo reproduzida em diversos sites com algumas variações, sobretudo acréscimos. A verdade, no entanto, é que ninguém sabe quem é Ricardo Machado Oliveira ou mesmo se ele existe de fato, razão pela qual pouca ou nenhuma credibilidade pode ser dada à narrativa. Todavia, a história incorpora em si todos os elementos que tornaram a Serra da Gardunha uma das áreas mais conhecidas de Portugal — especialmente para a Comunidade Ufológica Portuguesa.
Sua qualificação como hot spot de manifestações ufológicas se dá mais por tradição do que com base em algum verdadeiro estudo sobre sua casuística. Ainda assim, é fato incontestável que na serra aconteceram algumas das mais interessantes ocorrências envolvendo UFOs em Portugal — e por mais que tenha sido objeto de inúmeras expedições ao longo de décadas, realizadas por diversos grupos de investigação, sobre o local ainda existem mais perguntas do que respostas, como se verá neste trabalho.
Porém, não fosse por causa de um determinado indivíduo, os acontecimentos anômalos da Gardunha jamais seriam conhecidos. Verdadeiro “guardião da serra”, como era apelidado, ele se chamava Américo Duarte dos Santos e era, até falecer, um dos principais promotores da ideia de que o local é refúgio de extraterrestres em nosso planeta. Nascido em Lisboa, Santos teve uma experiência incomum na década de 70 do século passado quando, após adormecer por alguns instantes ao volante, descobriu estar inexplicavelmente perto da aldeia de Alpedrinha, na serra, sem saber como havia dirigido até lá. Ele se sentiu arrebatado pelo que chamava de “uma força superior”.
Como bolhas de sabão coloridas
Estacionando o carro, observou diversas luzes pequenas sobrevoarem as montanhas em todas as direções. Assim, fascinado pelo local, decidiu trocar a cidade pelo campo e instalou-se no sopé da Gardunha para investigar aquilo que tinha observado — e os fenômenos não pararam, só aumentaram. Enquanto Santos lá residiu, teve inúmeros avistamentos ufológicos, a maioria de luzes não identificadas contra o céu noturno. Eventualmente observava algum objeto mais bem definido, como ocorreu em 14 de janeiro de 1979, quando avistou a 200 m de distância, imóvel, um artefato em forma de sino que embaixo tinha pequenos semicírculos, semelhantes a trens de aterrissagem, e no topo tinha dois tubos salientes, de onde eram emitidas luzes nas cores vermelha e azul. Quando o objeto partiu, o que fez em velocidade estonteante, deixou para trás o que Santos descreveu como “bolhas de sabão coloridas que se desfaziam no ar”.
Em outra observação, ocorrida na noite de 06 para 07 de setembro de 1983, lá pelas 04h10, o “guardião” Américo Duarte dos Santos observou uma nave pousada junto a sua casa, tendo ao lado dois seres de pequena estatura e semelhantes a símios. Porém, foi na manhã de 16 de abril de 1984 que finalmente aconteceu o contato que ele tanto desejava ter com as inteligências que acredita estarem por trás dos fenômenos que havia avistado com tanta frequência na Gardunha. Enquanto fazia um de seus passeios pelo local, sentou-se em uma pedra para secar suas botas ao Sol. Foi quando começou a ouvir um zumbido semelhante ao de exame de abelhas, mas, olhando ao redor, nada via. Pensando ter se sentado em cima de uma colmeia, Santos se levantou imediatamente. Mas mal ficou novamente em pé e o estranho barulho parou, voltando apenas quando decidira sentar-se novamente.
Intrigado, resolveu olhar melhor em volta e viu na encosta da serra um foco luminoso que veio em sua direção, enquanto ouvia na sua cabeça a frase: “Américo, não tenha medo. Não lhe faremos mal”. Quando aquela luz se aproximou mais, o homem pôde ver que havia um objeto em seu centro e, a uns 10 m dele, um ser alto e semelhante a Cristo, com cabelos longos e barba comprida, envergando uma túnica ou um manto bem branco e com um cordão azul preso à altura da cintura. O estranho, sem mexer os lábios e falando por telepatia, disse ao observador, atônito: “Não tenha medo, Américo. Escuta o que eu te digo. Sabemos que tu sofres, mas vais sofrer ainda mais. Já vistes muitas coisas e muitas mais te serão mostradas para que compreendas”.
Como que um sermão bíblico, a inusitada criatura continuou seu discurso telepático, deixando Santos ainda mais perplexo. “O homem perdeu sua consciência e já não respeita mais o que é divino. Diz ao teu chefe maior que além dali não se mexe, pois é lugar sagrado”, disse o estranho apontando na direção do local conhecido como Cabeço da Penha. Ao encerrar sua comunicação, declarou ainda que, se prosseguir com o que vem fazendo, “o homem terrestre verá ocorrerem catástrofes em que se misturarão inocentes
e culpados, e nós nada poderemos fazer”. Prometendo voltar mais vezes, o ser desapareceu em seguida na luminosidade com a qual veio, na direção do Cabeço da Penha. Enquanto desaparecia, sua voz ecoava na cabeça de Santos como se viesse de toda a montanha e repetindo: “Aqui não se mexe, aqui não se mexe…”
Cenário transmutado
Ao chegar em casa depois da experiência, Américo Duarte dos Santos dormiu a tarde toda, exausto. Após o jantar, por volta das 21h45, saiu ao quintal e viu o que lhe pareceu ser uma nuvem se formar por cima da torre de vigilância de incêndios ali localizada, deslocando-se por cima do Cabeço da Penha e envolvendo-a. “De baixo para cima houve uma troca de relâmpagos e a nuvem assumiu uma cor vermelha escuro”, declarou o homem, enquanto ouvia dentro de sua cabeça gritos alucinantes — o que o levou a pensar que ela iria explodir. Durante um ou dois minutos ele aguentou aquela agonia, agarrado ao pilar de sua casa. Por fim, quando a tal nuvem voltou ao formato e às cores iniciais, dissipando-se em seguida, tudo passou e ele se sentiu aliviado — tinha sido a única testemunha daqueles fatos incríveis.
As histórias do “guardião da serra” não terminam aí. Sem querer entrar em muitos detalhes, disse que em 22 de junho de 1984 entrou em uma gruta localizada nas entranhas da Serra da Gardunha, onde teve novas e excitantes experiências. Em tal gruta, que a maioria das pessoas erroneamente considera estar no Cabeço da Penha, Santos afirmou ter encontrado diversas naves pousadas sobre uma pista com 50 ou 60 m de largura. “Elas tinham variados formatos, umas sendo alongadas, outras cilíndricas e sem portas, mas com janelas retangulares na fuselagem. E havia também algumas pousadas em tripés articulados e com cúpulas escuras”. O homem viu ainda duas naves menores, de vidro transparente e com dois assentos — ele não viu ninguém na base, mas se sentiu observado.
Após explorar o local, afirmou ter encontrado uma espécie de mesa de reuniões feita de pedra, quando sentiu vontade de sair do tal “cosmódromo”, como batizou o hangar. Ao fazer isso, sentiu dores de cabeça e reparou que havia estado por três horas e meia dentro da gruta, sem entender como se passara tanto tempo. Para poder localizar a entrada mais facilmente em futuras visitas, Santos espetou naquele ponto uma vara e desenhou uma seta no chão para indicar o caminho — e em uma pedra à entrada da gruta ele desenhou uma cruz com um pedaço de carvão que havia encontrado. Porém, no dia seguinte, por volta das 07h00, quando retornou ao local, já não encontrou a gruta, nem a seta que tinha feito e tampouco a vara que deixou fincada. O cenário estava completamente diferente do que tinha visto no dia anterior, mas, curiosamente, a cruz de carvão ainda lá estava, enquanto que a entrada para o “cosmódromo” havia desaparecido.
Durante os anos que viveu na Serra da Gardunha, Santos catalogou centenas de observações de estranhas luzes e objetos voadores não identificados, e também investigou casos semelhantes ocorridos aos seus vizinhos e outros habitantes do local. A incidência de fatos inusitados era tão elevada que deu origem a manchetes em diversos jornais da época. Em 1978, por exemplo, o Jornal Nostra, baseado nos relatos de Américo Duarte dos Santos, publicou uma manchete afirmando terem ocorrido mais de 500 avistamentos ufológicos naquela região — assim, a Serra da Gardunha se tornou, de um momento para outro, o ponto mais quente da Ufologia Portuguesa dos anos 80, uma reputação que ainda hoje mantém.
Santos levou muito a sério a “missão” que acredita ter sido dada a ele pelos seres que o contataram. O aviso para que não mexessem na serra o levou a apelar a diversos órgãos públicos para tentar impedir a construção de túnel através da Serra da Gardunha — obras que, segundo acreditava, iriam perturbar o “cosmódromo” ali existente. Sua vitória foi parcial e o trajeto original do túnel acabou sendo alterado, mas certamente mais por razões de ordem técnica e financeira do que por intervenção extraterrestre. Na época circularam rumores até de que o então primeiro-ministro de Portugal, António Guterres, deslocava-se frequentemente para o local para acompanhar o desenvolvimento da construção, sendo também alertado pelos seres quanto aos problemas técnicos que causaria ao “cosmódromo”. Histórias mais mirabolantes ainda também abundavam, como a de que a aquisição de aviões norte-americanos F-16 pelo governo estaria ligada às descobertas na Serra da Gardunha…
Mais ocorrências inusitadas
Obviamente, nenhum de tais rumores se mostrou verdadeiro. As visitas frequentes de Guterres ao local ocorriam porque sua mãe residia nas imediações da serra, assim como a compra dos caças F-16 era necessária para a adesão de Portugal ao programa Peace Atlantis, que visava à concessão aos Estados Unidos da Base Aérea das Lajes, nos Açores. Quanto ao túnel, acabou se tornando o mais extenso de Portugal e umas das obras mais importantes do distrito de Castelo Branco, hoje servindo às populações lá existentes — até onde se sabe, não há relatos de UFOs em seus arredores.
Entretanto, ainda que esclarecida a origem dos boatos, restavam os mistérios da Gardunha e as observações ufológicas que lá constantemente ocorriam — e boa parte delas envolve Américo Duarte dos Santos. Em uma manhã de junho de 1994, alguém bateu à porta de sua casa, no sopé da serra, e o homem se surpreendeu ao ver que se tratava de uma pessoa que há tempos queria conhecer — houve uma reportagem na TV sobre seu visitante que lhe despertara a atenção. Ele se chamava Joaquim Figueiredo, era fotógrafo, jornalista e curioso quanto ao Fenômeno UFO.
Seguindo-se uma empatia imediata entre ambos, conversaram por oito horas, durante as quais Santos mostrou ao visitante seu acervo de casos, descreveu suas experiências e de outras pessoas, além de mostrar-lhe fotos de estranhas marcas que disse que os seres haviam feito no tampão de madeira de sua mesa de jantar — a Figueiredo, entretanto, pareceu que os sinais poderiam ter sido feitos com um simples canivete. No final da conversa, Santos disse ao visitante que ele iria dar continuidade à sua obra na Serra da Gardunha. Até o momento, todavia, o certo é que a mesma paixão que o local provocou em Santos também
acometeu Figueiredo, que sempre que pode ainda hoje vai até o local — e, sendo assim, não tardou a passar por incríveis experiências.
No verão de 1998, por exemplo, Figueiredo decidiu convidar um amigo para ambos visitarem a Serra da Gardunha, nela pernoitando em diferentes locais. Mas, quando escolheram o interior de uma gruta existente no Cabeço da Penha para dormir em certa noite, estranhos acontecimentos ocorreram. Às duas da madrugada, Figueiredo foi acordado pelo som do que lhe pareceu serem fogos de artifício, tão próximos que pensou que havia alguma festa nos arredores da serra. Mas duvidando de tal possibilidade àquela avançada hora, levantou-se enrolado em seu saco de dormir e caminhou para o exterior da gruta, estranhamente sentindo a terra tremer sob seus pés — era uma leve trepidação que, também curiosamente, não ocorria do lado de fora.
Fenômenos inexplicados
O temor não desmotivou Figueiredo de subir até topo do local e ponto mais alto da serra para melhor averiguar o que se estava se passando. Mas nem fogos, nem trepidação e nem qualquer outra coisa observou. Cinco minutos depois Figueiredo já estava de novo no interior da gruta, e nela sentiu novamente os fenômenos inexplicados, enquanto o companheiro dormia na mesma posição em que estava antes. Ansioso, o explorador se deitou sobre a terra que trepidava e continuou a ouvir os fogos estalarem. Cansado, acabou adormecendo e levantou-se de manhã, com o parceiro de aventuras. Ao contar-lhe o que havia testemunhado durante a noite passada, Figueiredo perdeu sua companhia de investigações e explorações.
Mesmo assim, inspirado pelos acontecimentos vividos, Joaquim Figueiredo continuou indo à serra sempre que podia — e acabou tendo novas e interessantes experiências. Ao anoitecer de um dia de junho de 2002, estava em um vale da Gardunha conversando com um amigo fazendeiro, que ordenhava cabras em um curral, quando de repente viu a serra à sua frente ficar iluminada por uma luz meio branca e azulada, tão intensa que permitiu observar toda a extensão da montanha — como se estivesse sendo iluminada pela Lua cheia. Segundos depois, outra forte luz amarela surgiu no topo da serra e desceu sobre ela até metade de sua altura, virando depois à direita em perfeito ângulo reto, logo se apagando da mesma forma como desaparece a imagem de uma TV ao ser desligada.
Flutuando no ar
Imediatamente Joaquim Figueiredo tentou encontrar explicações para o fato, e chegou a pensar ter visto apenas o farol de um automóvel refletido na serra. Mas isso seria impossível tanto por não existir na Gardunha uma superfície que funcionasse com um espelho para os faróis, como pelo fato de ter sido observada apenas uma luz, não duas como há nos automóveis. Também não poderia ser o brilho de alguma lanterna nas mãos de um explorador ali perdido, pois a trajetória da luminosidade foi retilínea e flutuando no ar em voo suave e linear, sem solavancos.
Porém, o fenômeno ainda não tinha acabado. A luz meio branca e azulada que iluminava a serra foi depois sugada lentamente pelo ponto onde a amarela tinha desaparecido, “como se uma quantidade de água espalhada no chão fosse drenada por um buraco no meio dela”, nas palavras de Figueiredo. Toda essa manifestação durou entre três e quatro minutos, e apesar da insistência do observador para seu amigo fazendeiro sair do curral, ele preferiu continuar a ordenhar suas cabras. A testemunha ficou maravilhada com a experiência, que o convenceu de que algo realmente transcendente havia naquela montanha — o que acabou por estimular seu interesse em realizar estudos e investigações na Serra da Gardunha.
Como resultado de seu esforço, Joaquim Figueiredo convenceu também os membros da Sociedade Portuguesa de Ovnilogia (SPO) — uma das mais sérias entidades de pesquisas ufológicas do país — a investigarem detidamente os acontecimentos envolvendo a mítica localidade. Lá a SPO realizou investigações em julho e setembro de 2005, e novamente em setembro de 2009, recolhendo inúmeros relatos de moradores, gente que viveu praticamente toda a sua vida no local. Uma das muitas testemunhas dos fenômenos que lá ocorrem é o senhor José Casimiro, dono de um bar perto da casa de Américo Duarte dos Santos. Ele contou que, por intermédio de Santos, começou a dar atenção para os estranhos fenômenos da serra. “Não foram poucas as vezes em que fui acordado por ele, até em altas horas da madrugada, para testemunhar o que não conseguíamos explicar”, disse.
Como as luzes de um arco-íris
Segundo Casimiro, no sopé da serra surgiam com regularidade grandes clarões de luz que pareciam iluminar o local por completo. Isso ocorria sempre depois da meia noite e às vezes durava mais de 20 minutos, quando era possível observar uma multiplicidade de cores no meio de toda a intensa luminosidade, como em um arco-íris — embora frequentemente o clarão apresentasse tonalidade vermelha, passando depois para verde e outras cores, mas não necessariamente nessa ordem. Para a testemunha, os fenômenos que observara com Santos eram extremamente parecidos com os provocados por uma aurora boreal, evento que Casimiro teve a oportunidade de observar quando um ocorreu inusitadamente em boa parte da Europa na noite de 25 para 26 de janeiro de 1938, quando ainda era jovem.
Embora o seu testemunho não se refira a UFOs propriamente ditos, pelo menos no sentido de objetos voadores não identificados, de fato o fenômeno consistia em uma luminosidade inexplicada e recorrente, como uma aurora boreal — mas com a qual não pode ser confundida, pela simples razão de não ser possível contemplar uma a partir do local de ocorrência, e nem muito menos na frequência com que as observações ocorriam. Mas os fatos colhidos pela SPO no local vão bem além desses, como demonstra um episódio ocorrido em setembro de 2004 com o engenheiro Paulo Bonifácio.
Por volta das duas e meia da manhã, ao regressar sozinho de um restaurante onde havia passado algumas horas com amigos, o homem se dirigia à sua casa, em uma área erma da periferia da cidade de Fundão, em região próxima da Serra da Gardunha, quando sua atenção foi despertada para um ponto luminoso que se deslocava no céu noturno. De acordo com a testemunha, a luz se encontrava à sua frente e fazia uma trajetória em sentido norte-sul, vindo da direção da Serra da Estrela para a encosta do Monte de São Brás, já na Gardunha. “A luminosidade era bastante intensa e tinha uma cor entre o amarelo e o branco. Era muito grande, maior
do que qualquer estrela ou avião, tendo certamente cerca de um terço do tamanho da Lua cheia”, disse Bonifácio. A SPO apurou ainda que apresentava formato oval — como “uma elipse deitada”, nas palavras da testemunha — e voava devagar em rota retilínea, sem produzir qualquer tipo de som.
Apesar de ter notado que o brilho não identificado era maior do que as luzes de aviões voando a altitude de cruzeiro, Bonifácio inicialmente confundiu o que estava vendo com uma aeronave. Entretanto, após uma observação mais detalhada, o engenheiro mudou de ideia. Durante a observação, que durou cerca de dois minutos, era possível ver por baixo da estrutura oval três luzes rotativas nas cores laranja, vermelho e azul, que contornavam a parte inferior do objeto. O UFO continuou sua rota até desaparecer da vista da testemunha ao se colocar por atrás do Monte de São Brás. Infelizmente, o homem estava só e sem qualquer equipamento para registrar o avistamento, restando seu relato de observador experiente, como um bom engenheiro.
Alta incidência ufológica
Enfim, como se vê, a casuística ufológica da Serra da Gardunha é intensa e diversificada, e sua aura de mistério estará para sempre ligada ao nome de Américo Duarte dos Santos — mas querer reduzir os fenômenos lá registrados apenas aos vividos por essa testemunha é um erro. É possível que maioria das dezenas de experiências descritas por Santos possam ser explicadas em termos convencionais, como também é razoável supor que muitas de suas observações tenham sido influenciadas e interpretadas por ele à luz de suas crenças místicas quanto ao local, que considerava até mesmo sagrado. Essa não é uma situação incomum aos ufólogos da Sociedade Portuguesa de Ovnilogia (SPO), que já atestaram que pessoas perfeitamente normais criam realidades pessoais alternativas, as quais muitas vezes giram em torno de naves e seres extraterrestres.
Seja como for, Santos tem o mérito de levar investigadores à Gardunha, que lá encontraram casos muito interessantes de observações de luzes e objetos anômalos — episódios muito semelhantes aos que ocorrem no festejado Vale Hessdalen, na Noruega, investigado por um projeto acadêmico homônimo que foi retratado no documentário Portal, da coleção Videoteca UFO [Código DVD-032. Confira na seção Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. Ainda que as observações naquela área careçam de mais comprovações, como fotos e filmagens, não se pode colocar facilmente em dúvida a credibilidade das inúmeras testemunhas.
A associação da Serra da Gardunha ao Fenômeno UFO é tão evidente que, em 2008, uma empresa turística local promoveu o passeio pedestre Em busca de OVNIs, e recentemente a Câmara Municipal do Fundão patrocinou a realização de quatro curtas-metragens de animação dedicados às lendas do local, em que, entre as atrações, estavam avistamentos ufológicos. Como se constata, tanto pela tradição do local quanto pelos fatos já apurados lá, a serra tem muitos mistérios a serem desvendados — e mesmo que não se observe um UFO em vigílias na região, sua beleza já justifica uma visita.