Segundo textos antiquíssimos, cuja origem se perde na escuridão do tempo, há milhares de anos, seres de aspecto anfíbio chegaram à Suméria a bordo de um resplandecente objeto voador em forma de ovo. Essas entidades, conhecidas como apkallu, instruíram os humanos sobre diversos assuntos, iniciando a trajetória da civilização terrestre tal como a conhecemos hoje em dia — somos o resultado do que eles fizeram aqui. Curiosamente, na mesma época, criaturas de aspecto muito similar desceram dos céus a bordo de uma brilhante arca no atual território de Mali, na África, cujos habitantes também receberam deles múltiplos conhecimentos.
Há 5.500 anos, entre as planícies aluviais dos rios Tigre e Eufrates, nasceu a civilização Suméria, considerada a primeira e mais antiga das que se conhecem até hoje. Estima-se que os sumérios tenham inventado a escrita cuneiforme entre 4.400 e 4.600 a.C., que consistia no uso de cunhas sobre tábuas de argila úmida, que logo secavam ou cozinhavam. Desse povo chegou até nós uma imensa produção escrita, repleta de material científico, econômico, jurídico e religioso, embora somente uma mínima parte possa ser considerada trabalho literário.
Entre os poucos textos de real literatura dessa sociedade de que temos conhecimento, cabe destacar a himnografía, produção escrita de profundo conteúdo religioso. Praticamente todos os deuses, os reis mais qualificados e importantes e os templos de maior prestígio da antiga Suméria foram glorificados nessas composições pioneiras, que eram recitadas em festividades tanto religiosas como profanas. Tais tradições duraram séculos e foram se aperfeiçoando com o passar do tempo.
Escritas surpreendentes
Os apkallu, também conhecidos como deuses civilizadores da Mesopotâmia, apresentavam uma série de insólitas características e exóticos detalhes que nos fazem pensar que pudessem ser alienígenas. Os textos que tratam sobre o tema os descrevem como repulsivos, de aparência metade homem e metade peixe, que penetravam tão profundamente na mente humana por meios telepáticos que mesmo séculos depois ainda eram lembrados. Um sacerdote caldeu que viveu no século III a.C, chamado Beroso, que registrou a história da Babilônia para o mundo grego de sua época, tratou desses seres. Em sua obra, intitulada Babyloniaka, ele explicou a tradição de seu país em relação às origens de sua civilização.
Sobre Beroso sabemos que estava vivo no ano de 290 a.C., que conheceu Aristóteles e que foi citado por Alexandre Magno. Para compilar a história de sua pátria, a Babilônia, ele recorreu aos arquivos do Templo de Bel, localizado no atual território da Síria, onde teve acesso a documentos originais. Embora sua produção tenha se perdido no tempo, fragmentos de sua obra chegaram até a atualidade por meio de outros autores, como Apollodoro, Alexandre Polihistor, Abideno, Flavio Josefo, entre outros. Os relatos do sacerdote se caracterizavam por sua objetividade e respeito pela verdade, e seus escritos se baseavam nas representações das paredes dos templos, em documentos e em conhecimentos tradicionais. Na verdade, os especialistas na civilização babilônica comprovaram que nomes e acontecimentos narrados por ele são fiéis ao conteúdo de outros textos da tradição mesopotâmica.
Beroso oferece amplas referências sobre os heróis civilizadores que os babilônios denominavam apkallu. Segundo ele, tratava-se de um grupo de criaturas cujo líder respondia pelo nome de Oannes, o sábio. Alexandre Polihistor cita um trecho da obra do antigo sacerdote nos seguintes termos: “Na Babilônia, muitos homens procedentes de diversas localidades haviam se instalado na Caldeia, onde levavam uma existência simples, como animais. Em certa ocasião, ocorreu ali uma aparição surgindo do Mar Eritreu [Nome que então recebia o Oceano Índico]. Era um monstro extraordinário e dotado de razão, chamado Oannes. Todo seu corpo era como o de um peixe e por baixo de sua cabeça havia outra cabeça, esta humana. Também os pés eram como os de homem, unidos à cauda. Sua linguagem era compreensível e sua imagem foi conservada na memória, sendo ainda representada em nossa época”.
Oannes, o sábio
Ainda segundo Beroso, essa entidade manteve contato direto com os seres humanos, aos quais transmitiu determinados conhecimentos. Disse o escritor: “Esse ser, que conversava com os homens e não fazia uso de qualquer tipo de alimento, os fez ver a luz nas letras, nas ciências e em todos os tipos de arte. Ensinou-os a escrita, a construção de casas e a fundação dos templos, além da compilação de leis e dos princípios do conhecimento geométrico. Também lhes mostrou como distinguir as sementes da terra e a colher frutos. Em suma, lhes deu tudo aquilo que constitui uma vida civilizada”. Mas, quando o Sol se punha, Oannes voltava ao mar e ali permanecia todas as noites, pois era anfíbio. Posteriormente, emergiram outras criaturas similares.
Em tradições ainda mais antigas, os apkallu surgem em um tempo mítico. A única referência que temos a eles nesta fase é de que suas manifestações ocorreram antes do Grande Dilúvio, uma época muito remota. Sabe-se que existe uma escrita, conhecida como Dos Sete Sábios, que conteria antiquíssimas informações sobre essas criaturas. Os estudiosos creem que esse lendário relato pode estar também entalhado em alguma tábua cuneiforme, mas até o momento, em nenhuma das que foram exumadas no Iraque e nos países limítrofes, verificou-se o menor rastro de sua existência. Outra parte da obra de Beroso se refere à queda dessas entidades no mar, partindo do céu. Caso interpretássemos esses escritos com os olhos de um cidadão do século XXI, não seria estranho concluir que poderiam estar se referindo à chegada de habitantes de outros mundos, a bordo de veículos espaciais.
Os nativos dogons chamam a engenhoca voadora em que os deuses nommos viajavam de arca. E ainda dizem que, na ocasião do pouso do aparelho, enquanto ele descia até o solo, a máquina emitia um som vibrante e estrondoso. Seria um disco voador?
Estamos frente à exposição de acontecimentos revelados por uma ou várias testemunhas presenciais, ou transmitidos a certos homens por parte dos próprios heróis civilizadores. As descrições de um incidente acontecido há tanto tempo procedem de cópias de cópias, mas, sem dúvida, contêm bastantes detalhes originais. A seguir temos um texto atribuído a Eladio e citado por Fotio: “Eladio descreve a lenda de um ser chamado Oa
nnes que surgiu no Mar Eritreu e cujo corpo tinha forma de peixe, mas sua cabeça, pés e braços eram como os de um homem. Posteriormente, ele ensinou astronomia e letras aos antigos”. Imediatamente depois, ele indica: “Vários relatos dão conta de que Oannes surgiu em um enorme ovo e que, na realidade, era um homem, ainda que parecesse um peixe por vestir a pele de um animal marinho”. Verdadeiramente, o relato de Eladio tem um valor especial, já que volta a confirmar o aspecto da criatura. Denominado também “o nascido do ovo”, esse ser saiu de uma espécie de nave de aspecto ovoide que havia aterrissado em águas marinhas.
Nommos, os deuses anfíbios
Autores clássicos, como Higinio, Manilio e Janto, corroboram o relato da vinda dos apkallu. Encontramos outra variante do mesmo acontecimento em um texto atribuído a Germânico, que se valeu de outro enxerto pertencente a Arato. Germânico diz que “um peixe divino dotado de poderes sobrenaturais saiu de um ovo e se moveu até a borda do Rio Eufrates, nas imediações da Babilônia”. Sua aeronave apresentava um aspecto brilhante e luminoso. Conforme conta Sozomeno, historiador do século V, uma dessas divindades peixeformes desceu sobre o Eufrates como uma estrela flamejante caída dos céus. Essa informação impactou tanto os famosos astrofísicos Iosif Shklovsky e Carl Sagan, que eles pensavam que os relatos sobre Oannes e o resto dos homens anfíbios eram merecedores de uma maior atenção por parte dos especialistas, pois podiam constituir uma prova de contatos com alienígenas na Antiguidade.
Outro caso de deuses instrutores semi-humanos e com aspecto peixeforme foi encontrado na cosmogonia dos dogons, uma etnia de Mali, na África, que vive em aldeias e povoados situados ao redor da impressionante Falha de Bandiagara. A descrição desses seres, conhecidos como nommo, se ajusta perfeitamente ao do Oannes mesopotâmico. Curiosamente, segundo a tradição mantida pelos dogons — que foi recompilada nos anos 60 pelos antropólogos Marcel Griaule e Germaine Dieterlen —, os nommo desceram do céu no interior de uma arca resplandecente como uma chama, que se apagou ao tocar o solo. A embarcação havia partido de Po Tolo, um misterioso e enigmático astro que somente seria visível em raras ocasiões.
Os dogons creem ainda em um deus supremo, criador e sustentador do universo, chamado Amma. Seu nome significa “ter apertado ou agarrado”, ou seja, é a divindade que engloba tudo. A mitologia dos dogons conta que, rodando e dançando, Amma criou os mundos que giram em espiral em volta de estrelas. Mundos giratórios estelares? Como sabemos, é assim que se move todo o universo, incluindo nosso minúsculo e insignificante Sistema Solar. Talvez este pareça um detalhe sem importância, mas para conhecer esse fato não basta a simples observação do céu — nem sequer é possível chegar à tal conclusão empregando um telescópio, pois seriam necessários amplos conhecimentos de física, matemática e astronomia. E estes são saberes que, sem dúvida, os dogons nunca tiveram.
Igualmente a toda criação, os nommos eram filhos de Amma. Assim, considerando as descrições que nos oferecem, deduzimos que eram, também, homens anfíbios, pois somente a metade superior de seus corpos era similar a de um ser humano. Tinham uma grande cauda e respiravam através de aberturas situadas nas clavículas, como uma espécie de respiradouro semelhante ao que apresentam os cetáceos na parte superior da cabeça. Não há como situar temporalmente o contato dos nommos com os humanos, mas alguns investigadores estabelecem esse momento em milhares de anos atrás.
O retorno dos deuses
Como já foi dito, os nommos chegaram ao território dogon partindo de uma estrela brilhante de tamanho considerável, conhecida por aquela etnia com o nome de Po Tolo, que se poderia traduzir como “a estrela da décima lua” ou “estrela semente” — para os nativos de tal etnia, toda a criação está vinculada àquele astro, que muitas vezes é citado como sendo um grupo de estrelas, e não uma só. Segundo a tradição, desse corpo celeste veio um objeto voador circular que girava sobre si mesmo e ia ficando cada vez maior conforme se aproximava. Provavelmente, a descrição se refere ao efeito óptico que um observador estático capta com relação a um determinado artefato se aproximando.
Os dogons chamam a engenhoca voadora em que os nommos viajavam de arca. “Na ocasião do pouso, enquanto descia até o solo, a máquina emitia um som vibrante e estrondoso”, diz um texto dos nativos. O terreno tremia de modo que todos os animais saíram correndo, apavorados. Quando por fim aterrissou sobre a terra seca, o artefato levantou uma grande quantidade de poeira. As testemunhas, surpresas, observavam sua verdadeira forma — era cônica e muito parecida com uma pirâmide de quatro lados truncada. Em seguida a nave começou a emitir um estranho zumbido, enquanto um insólito animal saía de seu interior. Tratava-se de um “cavalo de metal que realizava movimentos bruscos”, segundo o mesmo texto. Com esses termos os dogons queriam dizer que eram seres sem vida. Robôs?
Ainda segundo o relato, o “equino metálico” amarrou a arca com cordas e a arrastou até um buraco. Depois ocorreram chuvas de grandes proporções que inundaram a depressão, de modo que a embarcação começou a flutuar sobre as águas. A bordo da aeronave viajavam oito nommos instrutores que ensinaram os dogons a cultivar, pescar, fazer pão, fabricar ferramentas etc. Na atualidade, os nativos do Mali afirmam que os nommos voltarão no “dia do peixe”, quando Po Tolo voltar a ser visível. Então, terá lugar um novo dilúvio e os deuses com aspecto metade homem e metade peixe tornarão a contatar os humanos.