Enquanto a cidade de Las Vegas, Estados Unidos, se prepara para celebrar o seu centenário, uma outra instituição do estado de Nevada também está celebrando seu aniversário como um grande marco. A mais conhecida e secreta base militar do mundo, a Área 51, que completa 50 anos este mês. Ela está localizada sobre o leito seco do Lago Groom, no distrito de Lincoln em Nevada e tem sido o lugar onde se realizam os mais secretos programas militares do mundo. Por muitos anos, o próprio governo não admitiria a sua existência. As pessoas que trabalhavam lá eram obrigadas a jurar segredo. Mas agora, elas podem falar.
Inicialmente, a Área 51 não foi planejada como uma base permanente. Foi construída, em 1955, visando somente o avião espião U-2. Mas quando o trabalho acabou, outros assim chamados, projetos secretos, foram enviados para lá. Hoje, ela é um complexo de muitos milhões de dólares que, em essência, não tem como ser reproduzido. As pessoas que trabalharam lá durante anos estão orgulhosas dos serviços prestados à segurança nacional. Mas eles nunca puderam falar sobre isso, nem para as suas esposas, e nem entre eles mesmos. Agora, as pessoas que estiveram lá, e os segredos mantidos por tanto tempo, estão saindo do silêncio.
Ônibus com janelas escuras, câmeras que controlam qualquer movimento, sensores enterrados na poeira e helicópteros armados patrulhando os céus, são ameaçadores avisos de uma força mortal. O segredo que por tanto tempo foi a marca registrada da Área 51, é tão conhecido hoje em dia quanto sempre foi. O que quer que esteja acontecendo lá dentro, ninguém tem autorização para lhe dizer. Por décadas, o próprio governo não admitiria a existência da base. O seu nome de código desapareceu dos mapas. Os funcionários não podiam falar para as suas esposas aonde eles trabalhavam.
T.D. Barnes, um especialista em eletrônica aposentado da CIA, diz que “ninguém sabia sobre a base. Você nunca ouviria falar em lago Groom ou Área 51 naquele tempo”. Altamente capacitado na sua área, Barnes estava trabalhando para a NASA durante os anos 60 quando ele ouviu falar na Área 51 pela primeira vez. E ele sabia, através dos sinais de radar, que alguma coisa de muito valor estava voando por lá. Ele foi, então, recrutado pela CIA para se juntar à equipe que trabalhava na base do lago Groom, apesar desse tipo de trabalho de grupo ser bastante incomum.
“Você nunca podia falar sobre o seu trabalho com os outros. Havia alguns caras que eu conhecia, que trabalhavam comigo, que ficavam junto de mim durante toda a semana, e que até hoje eu não sei qual era a especialidade deles. Não perguntávamos. Até mesmo hoje em dia você não poderia perguntar”, diz Barnes. Se a Área 51 tivesse um DNA, o segredo estaria entrelaçado nele. O gênio da Lockheed, Kelly Johnson, precisava de um lugar afastado para testar o seu longilíneo avião espião, o U-2, e o leito seco do lago de Groom parecia perfeito. Estava longe de olhos curiosos, mas perto do já protegido local de testes de Nevada. Em 1955, quando o primeiro U-2 decolou do lago Groom, a base, então conhecida como Watertown, se consistia de apenas uns poucos prédios e hangares.
Para Francis Gary Powers, e outros pilotos e equipes relacionados com o U-2, a Área 51 não era nenhum mar de rosas, mas o trabalho era vital. O U-2 possibilitou que os EUA descobrissem do que os seus adversários eram capazes. Até mesmo antes que o U-2 de Powers fosse abatido voando sobre a USSR, um sucessor dele, pertencente à família de aviões que seria chamada de Blackbirds [Aves negras], já estava nas linhas de produção da fábrica secreta da Lockheed, conhecida como Skunkworks. Segundo Bob Gilliland, piloto de testes da Lookheed: “Os maiores aviões já construídos até hoje, 40 anos depois, e ainda os mais rápidos”.
Bob foi escolhido pela empresa para ser o primeiro homem a voar o SR-71, umas das versões do Blackbird e o avião mais rápido que já voou sobre a terra. Foi quando os U-2s saíram da base do lago Groom, que os blackbirds chegaram. Eles podiam voar mais rápido do que Mach 3 [Que chega a três vezes a velocidade do som] mas, a esta velocidade, os aviões e os pilotos ficavam exageradamente aquecidos. Gilliland afirma que “em torno de 420° C. Um forno de cozinha vai até 250° C. Um ferro de solda até 300° C. Então, fica bastante quente por lá”.
General Dennis Sullivan, piloto da CIA, conta que “eles me perguntaram, você quer ser voluntário para alguma coisa? O que é que eu tenho que fazer?”, questionei. Eles disseram, não podemos lhe dizer. Então eu respondi, “OK, eu sou voluntário”. O piloto militar Dennis Sullivan foi recrutado pelo CIA para trabalhar na base do lago Groom no início dos anos 60 e para pilotar o A-12, um dos primeiros Blackbirds. Foi no meio da guerra fria mas, para os pilotos espiões, a guerra fria era bem quente. Diversos inimigos estavam tentando derrubar os Blackbirds. Além disso, somente pilotar os aviões já era perigoso o suficiente.
Conta Sullivan que “um cara no quartel general da CIA me disse que, quando eles se deram conta, perceberam que estavam perdendo 20% dos pilotos, e era mais ou menos isso o que realmente acontecia”. E havia outros perigos. A Área 51 ficava somente a umas poucas milhas do ponto zero, na base de teste de Nevada. A área ficava exposta aos resíduos radioativos dos testes atômicos que aconteciam por lá. Nos últimos anos, os trabalhadores sofreram exposição a substâncias químicas tóxicas, devido às queimas em valas abertas. Mas, apesar dos riscos, aqueles que trabalharam na Área 51 estão orgulhosos dos seus papéis. Orgulhosos e calados. Barnes afirma que “se há alguma coisa acontecendo lá e eles não querem que as pessoas saibam, elas não vão saber. Simplesmente, não vai acontecer”.
Há algumas festividades planejadas para o final deste mês em Rachel, Nevada, para marcar o qüinquagésimo aniversário da Área 51. Apesar de terem dito que a base já fez a sua pequena festinha. Os homens entrevistados nesta reportagem fazem parte de uma organização chamada Roadrunners [Os cucos, se referindo ao pássaro], formada por ex-trabalhadores da Área 51 e liderada por Roger Anderson. Eles estão ajudando a se obter várias informações sobre os projetos que agora não são mais considerados secretos e, portanto, sobre os quais eles agora podem falar.