Um dos grandes mistérios por desvendar no planeta vizinho é a presença de metano em sua atmosfera. A sonda européia Mars Express, que chegou a Marte em 2003 e deve permanecer em órbita ao menos até 2014, detectou emissões desse gás em grandes quantidades, em locais específicos de sua superfície e sempre no verão. O caso motivou uma intensa polêmica na comunidade científica, com alguns de seus membros defendendo que isso comprova a existência de vida em Marte.
O metano pode ter origem geológica, mas como em Marte não foram constatados processos dessa natureza até hoje, as maiores apostas são de possíveis microorganismos marcianos. A NASA espera que o instrumento SAM [Análise de Amostras de Marte] seja capaz de desvendar esse enigma. Essa aparelhagem é o principal sensor do rover Curiosity, investigando a Cratera Gale desde 5 de agosto, e embora seus componentes normamente enchessem um laboratório, foram miniaturizados para um tamanho equivalente a um forno de microondas.
O SAM pode analisar gases diretamente da atmosfera ou extraído de amostras do solo, seja raspando rochas com os instrumentos do robô ou aquecendo-as em seu interior. O principal objetivo é analisar compostos da química orgânica, baseados no carbono, tais como o próprio metano, explorando meios pelos quais esses materiais podem ser gerados ou destruídos no ambiente marciano.
Conforme explica Chris McKay, especialista em Marte do Centro de Pesquisas Ames da Califórnia, o principal ponto do metano em Marte não é sua presença, mas sua variabilidade. Sabe-se que elementos orgânicos podem cair na superfície de Marte e a luz ultravioleta produz metano a partir deles. McKay afirma que é esperada a presença desse gás, porém comenta: “Mas o que é surpreendente nos resultados da Mars Express foi a variabilidade. Metano na atmosfera de Marte deveria durar 300 anos e não deveria variar. Mas ele faz isso, e é difícil de explicar. Se fosse constante, seria consistente com material que meteoros trazem ao planeta”.
Dirk Schulze-Makuch, microbiologista da Washington State University, explica: “Metano é raro em processos volcânicos ou hidrotermais aqui na Terra, mas uma detecção por meio do rover seria extraordinária e apontaria para a biologia, especialmente se fosse em grandes quantidades. Se pudéssemos determinar o fracionamento de isótopos de carbono do gás, isso poderia de fato indicar vida. Metano produzido por organismos normalmente possui isótopos de carbono mais leves”.
Malynda Chizek, estudante de astronomia da Universidade do Novo México, realiza uma pesquisa de simulação da distribuição do metano ao longo das estações do ano em Marte. Sua pesquisa permite rastrear a localização das emissões de metano e determinar se a origem é vulcânica, baseada na química de fontes de água, ou de bactérias marcianas vivendo pouco abaixo da superfície. Ela aponta que a confirmação de grandes emissões de metano em Marte poderia comprovar a existência de vida no planeta.
Chizek fez uma comparação usando uma espécie da Terra que produz muito metano, vacas. Se os dados sobre o metano de Marte já encontrados estiverem corretos, ela afirma que seriam necessárias 5 milhões de vacas para produzir a quantidade observada, ou cerca de 200.000 toneladas de metano por ano. Ela acrescenta: “Se a quantidade de metano varia de maneira sazonal, então provavelmente se deve a uma origem biológica, embora mecanismos geológicos possam também responder por isso. Mas consideramos que Marte geologicamente está morto, então se não encontrarmos bactérias marcianas, pode existir algum processo de geologia que ainda é desconhecido por nós”.
Confira um vídeo sobre o problema do metano em Marte
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Livro: UFOs na Rússia