Aterrissagem na Cidade do México, baldeação para Juarez e um táxi da fronteira americana para Alamogordo. Após um pernoite no Best Western, teve início a procura por um dos maiores segredos militares do nosso século e a tentativa de esclarecer um mistério que até hoje continua insolúvel: o Caso Roswell. Através de mais de 300 relatórios de testemunhos que foram coletados por pesquisadores desde a descoberta do caso, nenhum foi tão polêmico quanto o filme da autópsia. Se essa filmagem for verdadeira, será a primeira prova material pública do acidente.
Desde o aparecimento do filme, em 1995, todos se perguntaram se o filme era verdadeiro ou falso. Era preciso verificar a verdade sobre o material, que surgiu repentinamente nas mãos do produtor inglês Ray Santilli. Por isso, temos que viajar mais uma vez para o Novo México, onde há quase 50 anos teve início essa história. Fui em busca do local da queda e as únicas informações que tinha sobre isso vinham de Santilli. Sabia que precisava atravessar um reservado indígena apache que fica relativamente próximo ao campo de provas de White Sands. Todos os indícios apontavam para a região de Tularosa.
Nesta matéria, o editor da revista alemã Magazin 2000 conta sua viagem a Roswell, para verificar os fatos. Ele apresenta suas conclusões sobre o caso, dúvidas e impressões sobre uma das maiores polêmicas da história da Ufologia: a filmagem da autópsia de um ET
A reserva indígena dos apaches foi mencionada em um dos inúmeros mistérios sobre UFOs que rondam a região. Segundo o coronel Wendelle Stevens, da Força Aérea Americana, dois meninos indígenas que se encontravam na escola missionária descobriram destroços de UFO e informaram o padre da missão, que providenciou a extremaunção dos ocupantes mortos. Já que existe uma velha missão de franciscanos no reservado apache era importante checar esta informação. De fato, encontrei alguns registros.
O diretor da missão naquela época era o padre Brown que, durante a Segunda Guerra Mundial foi capitão. Tornou-se prisioneiro de guerra e deixou o exército com a patente de tenente-coronel. Ele era um homem muito engajado e patriota, de forma que já era de se esperar que permanecesse calado a respeito de tudo o que sabia sobre os UFOs. Assim, como não consegui provas suficientes dessa história, deixei-a de lado.
TERRA DE NINGUÉM — Após uma viagem de duas horas, chegamos a Roswell, uma terra de ninguém, no centro de uma pobre planície, mas com um grande papel na história. Atualmente, a cidade é constantemente visitada por turistas e todas as vitrines da cidade são enfeitadas com decoração ufológica, há placas de UFOs e ETs em todas as esquinas. Ao chegar no hotel, encontrei alguns ilustres visitantes que estavam na cidade com as mesmas intenções que eu: mergulhar no passado em busca da verdade sobre Roswell. Estavam lá Walter Haut, Linda Moulton Howe, Stanton Friedman, Kevin Randle e Don Schmitt, Walt Andrus, entre outros.
Fomos participar de uma reunião de abertura em que todos falamos sobre nossas conclusões a respeito do Caso Roswell. Porém, o principal encontro aconteceu em um campo de futebol e tinha a aparência de uma feira beneficente. Em três fileiras estavam montadas as estantes com lembranças e objetos ufológicos, abrindo caminho para uma tenda onde especialistas e ufólogos apresentavam suas versões sobre o Caso Roswell e autografavam livros (enquanto isso, o sol inclemente do Novo México fazia uma queimadura de segundo grau no couro cabeludo de Stanton Friedman).
Ligeiramente decepcionados com este “circo” armado no local, resolvemos ir à procura da verdadeira Roswell e os prováveis locais do acidente. Fomos ao escritório do xerife, onde o fazendeiro Bill Brazel comunicou o achado. Visitamos também o corpo de bombeiros, que possivelmente foi atender a um misterioso incêndio ao norte de Roswell; a casa funerária, que foi procurada na época por uma pessoa que queria saber quantos caixões para criança estavam à disposição; além do hangar 84, onde foram guardados os destroços e, finalmente, as ruínas do hospital onde foram feitos os primeiros exames nos cadáveres.
Em busca de mais informações, conseguimos cartas do acidente, uma cópia do livro anual de 1947 da base aérea com a lista de todos os soldados etc. Tudo isso conseguimos adquirir em dois museus ufológicos da cidade: o UFO Enigma Museum, sob a direção de John Price e Clifford Stone e o Roswell International UFO Museum and Special Search Center, dirigido por Walter Haut. Perguntamos a esses diretores o que achavam do filme de Santilli e não obtivemos nenhuma resposta exata. Eles preferem ficar esperando algo mais concreto. Contudo, demonstram o medo de que tudo seja uma grande fraude para desacreditar o Caso Roswell.
TURISMO – A cidade nada mais é do que um lugar provinciano, mas com uma diferença: foi contemplada com a queda de um UFO em seu território. E esta é sua única atração. Assim, a prefeitura joga todas as cartas possíveis para promover a cidade. São concursos, desfiles de fantasias alienígenas e corridas de caixa de sabão com motivos ufológicos na avenida central. É claro que tudo isso tem a intenção de atrair famílias inteiras para a cidade.
Porém, nós tentamos fugir de tudo isso e fomos visitar o suposto local da queda, a aproximadamente 50 km ao norte de Roswell. Certamente, essa visita também é comercializada por uma empresa de turismo e custa 15 dólares por pessoa. Para completar, cada visitante tem que assinar um termo de responsabilidade de não reclamar qualquer indenização em caso de mordida de cascavel ou tarântula! Felizmente, não vimos nenhum desses animais por lá. O tal lugar da queda fica perto de um leito seco, ao pé de uma bela encosta de rochedos.
A explicação que se dá para a queda do UFO é que foi atingida por um raio quando ainda estava a 60 km do terreno da Fazenda Foster. Procurou se proteger em algum lugar da região, mas seu mecanismo de propulsão teria sido atingido e, conseqüentemente, falhado. Assim, a nave (de formato fusiforme, segundo recentes informações) precipitou-se contra o rochedo num acidente que matou quatro de seus cinco ocupantes. Esta versão é defendida pelos pesquisadores Schmitt e Randle.
Na volta, jantamos com Robert Shirkey, uma das principais testemunhas do embarque das peças recolhidas na base aérea. Ele viu as peças na nave acidentada, com hieróglifos escritos em algumas de suas partes. Perguntamos a ele se as pe&cce
dil;as que viu eram de balão meteorológico e a resposta foi, obviamente, que não. Mostramos a ele alguns trechos do filme de Santilli em que aparecem alguns símbolos, mas não pôde fazer nenhuma conexão com o que viu. Disse que depois de 48 anos, não era possível lembrar mais tantos detalhes da nave como tais símbolos.
No dia seguinte, iniciamos uma busca no local em que foram encontrados os pedaços da nave na Fazenda Foster. Para chegar lá é preciso seguir na direção norte e depois para oeste de Roswell, andando 100 km no deserto e, em seguida, rumando ao sul numa estrada de terra. Marcamos de encontrar Loretta Proctor no caminho, a vizinha mais próxima do fazendeiro Brazel. A pequena casa em que vive no campo se encontra ao pé de uma parede rochosa.
Ela é uma senhora muito amável, que nos contou tudo o que se lembrava da época. Ela contou que Bill Brazel levou alguns pedaços do disco voador e mostrou à sua família. Eram pedaços metálicos muito esquisitos que não podiam ser cortados nem queimados. A família de Loretta aconselhou Brazel a comunicar o achado. E foi isso o que provocou toda a confusão.
OUTRO ACIDENTE – A cerca de 100 km do rancho de Brazel, segundo o coronel Jesse Marcel, encontra-se uma área em que ocorreu uma segunda queda de UFO. Para nós estava claro que nenhum daqueles lugares tinha a ver com a história do cinegrafista. Infelizmente, Santilli cometeu um equívoco de denominar seu material de O Filme de Roswell, mas temos que levar em conta sua total inexperiência ufológica.
Até mesmo o cinegrafista, que participou de tudo, não sabia exatamente do que se tratava. Ele aterrissou, em 1947, no campo da Base de Roswell trazido por um avião de Washington. Mas as datas mencionadas por ele não coincidem com as do acidente em Roswell: ele diz que o acidente aconteceu em primeiro de junho em vez de 4 de julho. A descrição do local da queda também é diferente. Mas então, onde será que aconteceu o primeiro acidente?
Nossa primeira atitude foi ligar para Santilli na Inglaterra. Tentamos obter mais informações sobre o cinegrafista e o local em ele teria feito as filmagens. Santilli não pareceu muito interessado, mas insistimos e dissemos que nossa intenção era encontrar o local da queda. Ele prometeu telefonar para o cinegrafista e nos dar alguma resposta. Cinco horas depois, conseguimos finalmente algumas coordenadas sobre o local da queda. Seria um lugar perto de uma cidade chamada Socorro.
Fomos, então, em direção a este local. Era nossa esperança. Ficava a três horas e meia a oeste de Roswell, tínhamos que encontrar uma montanha que levava a um pequeno lago seco (como na descrição do cinegrafista). Mas as coisas não eram tão fáceis assim, pois em nenhum dos mapas da região (inclusive topográficos) constava o lago. Será que nós estávamos correndo atrás de um fantasma?
Após alguns dias de pesquisa em Santa Fé, Los Angeles, Seattle e Albuquerque, resolvi fazer um teste às escuras e procurar de qualquer forma o local da queda. Eu e outros dois pesquisadores fizemos a viagem de Albuquerque para Socorro observando as incríveis montanhas de Mansano, que em seu interior abrigam um dos maiores arsenais de armas atômicas do mundo. Após o almoço, seguimos para Madalena procurando a tal estrada no deserto. Após duas tentativas frustradas chegamos à conclusão de que tínhamos ido longe demais.
Retornamos para Socorro seguindo uma outra estrada. Depois de 10 km, encontramos uma grande rocha que escondia atrás de si um lago seco de aproximadamente 200 m. Sem dúvida nenhuma, aquele era o local e suas características batiam exatamente com as descritas pelo cinegrafista. Contudo, a descoberta mais interessante foi que na margem norte do lago havia uma área oval de uns 20 m muito diferente do resto do lugar. Tinha terra avermelhada, não apresentava crescimento de nenhuma vegetação, nem pedras, gravetos ou qualquer outra coisa. O fato é que todos os detalhes correspondem ao relato do cinegrafista.
Retornamos para Roswell, pois tínhamos um encontro com Frank Kauffman, a principal testemunha apresentada por Schmitt e Randle. Kauffman diz ter sido um agente de comunicação especial e esteve envolvido no processo de recolhimento dos destroços do UFO. Ele acredita que os seres mostrados no filme da autópsia não eram de Roswell e sim de Socorro, dizendo que se montou uma grande campanha publicitária em torno do Caso Roswell somente para despistar outros casos igualmente importantes.
ESTRANHOS FATOS – Encontramos também outras testemunhas, contando sobre os constantes avistamentos e estranhos fatos que rondam a região desde a década de 40. Consegui até um rolo de filme com uma senhora que o guardava há quase 50 anos. Segundo ela, a película contém imagens referentes à uma queda de UFO. Infelizmente, os especialistas que tentaram revelá-lo num laboratório de Berlim disseram que o material está muito danificado pelo tempo, sendo quase impossível recuperá-lo.
Mas enfim, voltei para a Alemanha com um saldo de algumas novas testemunhas, um provável lugar da queda e informações mais detalhadas sobre o que realmente aconteceu em 1947. Resumo: aconteceu um acidente com UFO antes do Caso Roswell, num lugar entre Socorro e Madalena. Boatos sobre este caso já existiam há muito tempo e, mesmo que eu tivesse dúvidas, deve ser levado em consideração o depoimento do cinegrafista (que, infelizmente, até agora não revelou sua identidade verdadeira). Assim, percebemos que a história da queda em Roswell tem que ser escrita novamente.