Que ligação poderia haver entre sexualidade e Ufologia ou, mais propriamente, com os contatados? Seria uma relação apenas no plano físico ou haveria conotações filosóficas e simbólicas? Estudos indicam que há um forte apelo à sexualidade nos exames e manipulações a que os humanos são submetidos pelos ufonautas: contatados mundialmente conhecidos como Betty Hill, Julio Soria, Thruman Bethurum e Antônio Villas Boas fazem relatos muito parecidos, mostrando que abduções desse tipo podem ter conseqüências inesperadas. Alguns desses contatados chegaram inclusive a conhecer os filhos híbridos que geraram. Seguindo a trilha de Villas Boas, os contatados brasileiros José Inácio Álvaro, João Valério Reis e Antônio Carlos Ferreira também copularam com extraterrestres do sexo feminino.
Na verdade, a correlação entre sexo e UFOs é bastante antiga. Nas mesmas cavernas onde o pesquisador Aimé Michel classificou algumas pinturas como discos voadores, o pré-historiador André Leroi Gourham, aplicando um sofisticado método estatístico, descobriu evidências nítidas da existência de uma metafísica sexual. Em Tassili, onde existem famosas pinturas pré-históricas, foram descobertos três desenhos arqueológicos espanhóis de alusão ufológica. As figuras apresentam um capacete e uma estrutura oval — provavelmente um UFO — que parece arrastar várias mulheres de idades diferentes para seu interior. Pelo evidente estado de excitação demonstrado e pela forma como as personagens estavam desenhadas, havia intenções sexuais no contato. Entre os sumérios, a divindade do amor e do sexo era Innana, que os babilônios chamaram de Ishtar. Os textos sumérios associam essa deusa a tochas voadoras, navios celestes, carros de fogo e outros protótipos de UFOs. Deusas de outros povos primam também por possuir uma excelente frota aérea. Se a Astarte fenícia costumava aparecer sob a forma de bolas de fogo, a Afrodite grega veio ao mundo em um carro voador em forma de concha que saiu do mar, como ilustra o quadro O Nascimento de Vênus, do pintor renascentista Botticelli.
Talvez se pudesse explicar o elemento sexual na casuística ufológica com uma teoria do gênero “psicanálise do faça você mesmo”, atribuindo-o a fantasias originadas por frustrações e neuroses de cunho sexual. Contudo, esse tipo de explicação dada por alguns teóricos não é nada convincente, tanto que não é possível estendê-lo aos exemplos da antigüidade, que acabamos de citar, já que todos provêm da esfera religiosa. Apesar de estudiosos terem tentado explicar a religião com suas teorias psicológicas e analíticas, reconhece-se hoje que o instinto religioso é tão básico no ser humano quanto o próprio sexo.
São muito comuns os casos de contatos sexuais mantidos entre extraterrestres e humanos tanto na casuística brasileira como mundial. Mas o que, afinal, se esconde por trás dessas experiências?
Isso, porém, não impede que os fenômenos religiosos se expressem mediante uma linguagem sexual. O antropólogo loan M. Lewis, sobre esse assunto, escreveu: “Ao mesmo tempo, apesar de não ser deforma universal, os ataques de possessão exótica são, algumas vezes, explicitamente interpretados como relações sexuais místicas entre o sujeito e seu espírito possuidor. Entre os daiaques do sul de Borneo, por exemplo, os rituais públicos nos quais os sacerdotes e sacerdotisas da comunidade são possuídos pelas duas divindades supremas do cosmos — o Búcero do mundo superior e a Cobra d\’Água do mundo inferior — são representados como um coito divino. Esse tema é diretamente evocado nos cantos de acompanhamento e reproduzidos em atitudes de coito entre a congregação”.
Lewis segue dizendo que é comum o xamã ter relações sexuais com seu espírito protetor, relações essas que tanto podem ser hetero como homossexuais. Não seria demais aqui mencionar o caso de Tujunga Canyon, Califórnia do Sul, pesquisado pelo doutor Scott Rogo. Neste caso, as testemunhas, duas mulheres, mantiveram relacionamento amoroso entre si. Para Rogo, não é coincidência que os discos voadores tenham entrado em cena na exata ocasião em que as duas decidiram se separar. Convém recordar ainda a disciplina oriental conhecida como Tantra Ioga, que busca atingir o nirvana através da união sexual. No momento do orgasmo, segundo acreditam os tantristas, o homem e a mulher igualam-se aos princípios masculinos e femininos do Cosmos.
Segundo a Tantra Ioga, a união sexual é o veículo que conduz o ser humano para fora do mundo das aparências e permite a contemplação mística da verdadeira realidade. Talvez seja por isso que o hinduísmo associe o lingan (representação simbólica do phallus, órgão sexual masculino) ao vimana, veículo aéreo dos deuses. Curiosamente, o vimana tem a forma de um yoni (órgão sexual feminino). Por outro lado, o Iingan também é descrito como uma coluna de fogo ligando a Terra e o céu, uma forma não incomum para os UFOs.
Alan Watts, um dos responsáveis pela influência das religiões orientais na contracultura, também acreditava que o orgasmo é o único momento em que o ser humano e capaz de perceber a realidade. Na concepção tântrica, esse é um momento que transcende o tempo e o espaço. Essa experiência do orgasmo como um fragmento da eternidade não é atípica. Para o psicólogo Francesco Albertoni, ao contrário, ela é simplesmente uma característica do erotismo: “Na vertente masculina do erotismo o que conta é a intensidade do encontro sexual. O encontro erótico é um tempo luminoso, subtraído da vida comum. O encontro luminoso è como uma área liberada e liberante, uma experiência regeneradora da qual se sai enriquecido”.
Sabe-se que os contatos compartilham com os mitos a característica da atemporalidade. A esses dois conjuntos de experiências, portanto, está somada à sexualidade, que apresenta a característica do tempo mítico. Ou seja: a fugaz substituição do tempo cotidiano por um instante eterno, de natureza absolutamente distinta da finitude que envolve o dia-a-dia profano. Em O Mito do Eterno Retorno, a escritora Mircea Eliade ressalta que os rituais religiosos também se passam fora do tempo comum: “Através do paradoxo do rito, todo o espaço consagrado coincide com o centro do mundo, tal como o tempo de qualquer ritual coincide com o tempo mítico do princípio. Com a repetição do ato cosmogônico, o tempo concreto em que se passa a criação é projetado no tempo mítico em que decorreu a criação do mundo”.
Finalmente, não se pode deixar de citar a corte de mulheres, em sua maioria jovens, que cerca todo contatado ou guru. Eis a versão ufológica de uma característica peculiar ao erotismo feminino, conforme escreve Albertoni: “O homem adora o líder, mas seu amor &eacut
e; totalmente deserotizado. Na mulher, ao contrário, o relacionamento com o líder torna-se facilmente erótico. Em todos os movimentos coletivos, antigos e modernos, ao redor do líder sempre existiu uma corte de mulheres sexualmente disponíveis”. O mesmo acontece com os participantes de contatos ufológicos resultantes em atos sexuais. Até aqui encontra-se uma homologação entre os rituais religiosos e a união sexual. Em segundo lugar, uma congruência entre os contatos e os rituais. Enfim, uma associação entre os contatos e a sexualidade.
Segundo uma outra linha de raciocínio, pergunta-se se não haveria uma área de interseção entre esses três campos semânticos: o religioso, o ufológico e o sexual. A sexualidade, segundo Freud, é a expressão dos instintos da vida, em que ele alude à mitologia grega, principalmente do deus Eros. Esses instintos, segundo sua concepção, embora incluam a sexualidade, dizem respeito à vida em todos os seus níveis: “Os instintos sexuais ou de vida podem ser melhor abarcados pelo nome de Eros. Sua intenção seria plasmar a substância viva em unidades maiores, de modo que a vida pudesse ser prolongada e conduzida a um desenvolvimento”.
Em um estudo magistral, o psicólogo James Hilman mostra que Eros também é responsável pela busca do homem pela transcendência, busca que Jung relacionou ao instinto religioso: “Está implícito na obra O Banquete de Platão que se precisa de Eros para participar do mundo imaginário, através do qual o homem tem intercurso com os deuses – seja acordado, adormecido ou em transe, seja através de visões, profecias ou mistérios”. Ou ainda: “Kerényi afirmou que Eros abarca em sua essência o fálico, o psíquico e o espiritual e, assim, transcende a vida do ser individual”. Mais do que como criança, ou phallus, ou masculinidade instigadora do amor, Eros se situa no contexto da consciência grega tal como a reconstruímos, como uma figura do metaxy, a região intermediária, nem divina nem humana, mas o princípio de intercurso entre elas. Eros, na filosofia de Platão, age como sintetizador e intermediário, isto é, um comunicador. Eros se associa à Ufologia com as pesquisas do doutor Leo Sprinkle, Ph.D. em psicologia e professor da Universidade Wyoming (LUA), para quem o objetivo do Fenômeno UFO e levar o homem à consciência cósmica. Esse é um objetivo que pode ser igualmente descrito como o de conduzir a um desenvolvimento mais elevado.