A vida é criada de conformidade com as condições físicas de cada planeta. Sendo estes estimados na casa dos milhares de milhões, a diversidade de formas aproxima-se do infinito. Se a vida evolui através de mutações aleatórias e da seleção natural — a chamada Hipótese Evolucionista —, por que devemos esperar que formas de vida extraterrestres sejam remotamente semelhantes à vida na Terra? Se pudéssemos passar os olhos, ainda que por segundos sobre alguns destes mundos, como se mudássemos os canais de uma TV, certamente veríamos seres das mais variadas formas e com diferentes graus evolutivos.
A natureza não dá saltos e a evolução não improvisa. É correto, pois, supor que o mecanismo de origem da vida obedeça à mesma sincronia, onde quer que ela se manifeste, desde a simples organização unicelular até a mais complexa vida inteligente. O corpo espiritual, sem dúvida, é o grande arquiteto biológico. Entretanto, as leis que regem o mundo das formas não devem ser assim tão flexíveis. As diferenças de ordem física são obrigatórias e admissíveis. Todavia, todas as aberrações que fogem a um dado padrão são contestadas pela natureza, que se utiliza de caminhos diferentes para se desfazer das suas criações supérfluas. “Com efeito, a espécie humana compreende todos os seres dotados de razão que povoam os inumeráveis mundos do universo”, diz Allan Kardec. Desta maneira, é provável que o molde humano seja uma das grandes formas estáveis de inteligência no cosmos.
Já em 1868, A Gênese alertava o homem para que não visse, em torno de cada sol, sistemas planetários iguais ao seu e, também, para o fato de lá não existirem somente três reinos — animal, vegetal e mineral. A natureza age segundo os lugares, os tempos e as circunstâncias. “Assim como o rosto de nenhum homem é igual ao de outro, da mesma forma são diversas as civilizações espalhadas pelo espaço. Elas divergem segundo as condições que lhes foram prescritas e de acordo com o papel que cabe a cada uma no cenário universal”, também afirmou Kardec. Lemos em seu O Evangelho Segundo o Espiritismo que em mundos ainda inferiores à Terra os seres que ali se encontram são rudimentares, possuem a forma humana, mas destituída de qualquer atrativo. São ausentes todos os sentimentos de benevolência, delicadeza ou justiça — a força bruta é a lei e sua vida consiste na busca de alimento para sua subsistência.
Nos orbes que atingiram um grau superior de evolução, a forma do corpo é a humana, embelezada, aperfeiçoada e purificada. O corpo, em nada possuindo da materialidade terrestre, encontra-se imune às vicissitudes. Sua leveza permite uma locomoção mais rápida e fácil — deslizam, planam sobre a superfície, obedecendo tão somente ao impulso da vontade. O desenvolvimento dos corpos é acelerado, a infância curta ou nula e a vida proporcionalmente muito mais longa. A duração da vida, aliás, parece ser proporcional ao adiantamento dos mundos. Diz-se que Deus, em sua bondade, quis abreviar as provas nos mundos inferiores. Por essa razão, quanto mais avançados são os mundos, menos os corpos são usados e desgastados por paixões e doenças. Neles, a morte é tida como uma feliz transformação, pois não pairam dúvidas sobre o futuro. A luz, a beleza e a tranquilidade da alma são constantes.
Por fim, nos mundos celestes a vida é toda espiritual, absolutamente desmaterializada e resplandecente. Livre acesso a todos os horizontes. Não mais os sentidos materiais e grosseiros, mas os sentidos de um perispírito puro e celeste, envolvido em vibrações de amor e caridade, vindas diretamente de Deus. Ainda em A Gênese, Kardec — grande inspirador deste trabalho — diz que quando a Terra ou qualquer outro mundo necessita de renovação, ocorrem épocas de grandes calamidades que provocam imigrações e emigrações. Ele observa, ainda, que esta troca populacional não se realiza em um só planeta — como entre a Terra e o plano espiritual que lhe é próprio —, mas entre este e um outro qualquer. Se aceitarmos esta hipótese, podemos considerar viável a possibilidade de habitantes de outros mundos terem semelhanças físicas, espirituais e mentais com o homem. Talvez mesmo, e isso será comentado mais adiante, sejamos seus descendentes.
Desenvolvimento mais adiantado
Afirmamos antes que Marte, e também Saturno, têm coletividades com um grau de desenvolvimento mais adiantado. Como, no entanto, admitir como verdadeiras estas afirmações, uma vez que de pelo menos em um deles, Marte, já temos a superfície praticamente toda mapeada e nada sendo encontrado, senão vales imensos, rochas e a mais completa desolação? A resposta pode estar à página 67 de O Evangelho Segundo o Espiritismo: “A materialidade que constitui o envoltório do espírito diminui à medida que este se purifica. Em certos mundos mais avançados do que a Terra, ele já é menos compacto, menos pesado e menos grosseiro e, por conseguinte, menos sujeito às vicissitudes. De grau em grau ele se desmaterializa e acaba por se confundir com o perispírito”. O espírito de São Luís nos dizia, em 1859, que “se em mundos especiais são destinados aos espíritos mais avançados, como estações, estes não estão ligados ali como nos mundos inferiores. O estado de desligamento em que se encontram lhes permite se transportem por toda parte”.