Cientistas alemães e americanos lançaram um projeto para reconstruir o genoma do Neandertal, divulgou o Instituto Max-Planck de Antropologia Evolucionária. O projeto, que consiste em isolar geneticamente fragmentos retirados de fósseis dos seres pré-históricos, está sendo desenvolvido em Leipzig, Alemanha. “O projeto é muito novo assim como está bem no começo”, disse Sandra Jacob, porta-voz do instituto.
O geneticista americano Edward Rubin, do Laboratório Nacional de Berkeley, EUA, também participa da reconstrução. Em entrevista ao semanário alemão Die Zeit, Rubin disse que a pesquisa tem uma importância muito maior do que apenas mais uma espetacular mostra de capacidade científica.
“Primeiramente, aprenderemos muito sobre os neandertais. Depois, aprenderemos muito sobre as particularidades dos seres humanos. Por fim, isso é simplesmente gratificante”, considerou. Os neandertais foram sucedidos pelos seres humanos modernos na Europa há apenas cerca de 30 ou 40 mil anos.
Características dos neandertais. Os neandertais, parentes próximos do homem moderno que desapareceram há cerca de 30 mil anos, tinham a sua própria música e dança, afirmam cientistas da Universidade de Reading (Inglaterra). Steven Mithen, o autor da teoria, acredita também que os “homens das cavernas” gostariam de um tipo de música hoje parecida com o rap.
“As pessoas sempre pensam nos neandertais como brutos e mal-humorados, mas eles tinham uma noção forte de ritmo e música”, diz o cientista, que escreveu um livro sobre o tema: Singing Neanderthals (Neandertais Cantantes, em tradução livre), que chega às lojas britânicas na semana que vem. O pesquisador acredita que pela músicas os neandertais expressavam emoções e adoravam cantar em público. “A música e a linguagem se desenvolveram juntas. Os neandertais tinham palavras e melodias com códigos diferentes dos nossos, que não seríamos capazes de decifrar hoje em dia”, afirma o cientista.
Estudos neurológicos. Para chegar a essa conclusão, Mithen analisou variadas fontes: desde estudos neurológicos, passando por psicologia infantil e sistemas de comunicação de primatas não-humanos, até as últimas evidências paleo-arqueológicas.Segundo Mithen, que comparou por exemplo fósseis do crânio dos neandertais a crânios de macacos e outros primatas, a anatomia dos neandertais sugere uma habilidade de eles se comunicarem com ênfase e com melodia.
“Como os narizes desses hominídeos eram grandes, o som deveria sair bastante anasalado”, diz o pesquisador. “Como viviam em cavernas, o canto serviria para unir o grupo”. “Eles não eram pessoas criativas, apenas dançariam e bateriam com partes do corpo no chão ou em coisas”, diz o Mithen, sugerindo que os neandertais provavelmente gostariam do atual rap e afins.
Críticas acadêmicas. A teoria do pesquisador inglês já vem recebendo críticas no meio acadêmico. Janet Monge, uma antropóloga do Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade da Pensilvânia (Estados Unidos), garante que a fala e o canto acionam diferentes substâncias no cérebro. Ela questiona como Mithen conseguiu relacionar as duas coisas.”Ligar o canto aos neandertais os tornam mais parecido com o homem moderno”, diz a especialista, adepta da teoria que tratam-se de duas diferentes espécies. Durante muitos anos a ciência acreditou que os neandertais eram ancestrais diretos do homem moderno. Mas testes no DNA de fósseis mostraram que se tratavam de uma espécie diferente.