São Paulo – A descoberta de vestígios de água no passado de Marte foi um dos grandes feitos da missão dos robôs Spirit e Opportunity, iniciada em janeiro deste ano. Mas para os pesquisadores envolvidos no projeto, encontrar minerais e outros indícios de “sedimentação lacustre” foi um alívio. Eles mandaram o Spirit direto para a cratera Gusev, apostando que ali teria sido um enorme lago, e acabaram desconcertados. Segundo a série de nove artigos publicados pelos cientistas na revista Science que saiu em 6 de agosto, os dados enviados pelo robô mostraram que a cratera de 160 km de diâmetro nunca foi um lago. Teria sido um grande fiasco para a missão que tem entre seus principais objetivos avaliar a existência de condições para o desenvolvimento da vida em Marte. O alívio veio aos poucos, com a confirmação de que outros locais teriam abrigado água em grande quantidade.
Materiais arrastados
O Spirit pousou na cratera Gusev no dia 4 de janeiro. Nos dias que se sucederam, recolheu amostras do solo e, lentamente, foi revelando que ali havia apenas indícios da passagem de água, gravados nos resíduos da camada superficial. Detectou também enxofre, cloro e bromo, elementos que se movimentam na água. Segundo os cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA, muitos dos materiais encontrados na cratera podem ter sido arrastados pela água vinda de um vale próximo.
Em outra região
Três semanas depois, o Opportunity começou a explorar outra região do planeta, e foi no Meridiani Planum que os cientistas encontraram sinais de uma atividade mais intensa de águas. Ali, acreditam eles, teria sido a orla de uma extensa área coberta de água, grande o suficiente para abrigar formas de vida. A missão dos dois robôs – que revelaram também elementos da atmosfera marciana – é a primeira exploração geológica sobre o terreno realizada em outro planeta. Após sete meses de trabalho (quatro deles em regime de hora extra), Spirit e Opportunity resistem ao desgaste.
Problemas
O estado dos robôs, porém, não é dos mais animadores. O Spirit tem uma roda parcialmente travada e parte de seus instrumentos de pesquisa comprometidos. O Opportunity sofre de degradação nos cabos de seu braço robótico, que está sendo usado com economia. Eles precisam suportar variações diárias de temperatura de até 90 graus (de 10 ºC durante o dia até -80 ºC, à noite). A poeira marciana também está se acumulando sobre os painéis solares, o que reduz a capacidade de produzir energia.
Missão
A NASA deve decidir ainda este mês se prorroga a missão além de setembro – quando vence o prazo da última extensão, concedida em abril. Inicialmente prevista para durar três meses, as expedições superaram todos seus critérios de sucesso. O principal era percorrer 300 metros com cada robô ou 600 metros com os dois juntos. “Acho que dá para chegar até o ano que vem”, aposta o físico Paulo Souza Júnior, da Companhia Vale do Rio Doce, que participa da missão e assina dois dos artigos científicos publicados. “Vale a pena continuar. Ainda há muito o que descobrir.”