No “Ano Polar Internacional” pesquisadores vão investigar a fundo o Ártico e a Antártida. Milhares de cientistas de mais de 60 países participarão de 220 projetos de pesquisa.Há meio século, cientistas se concentraram na maior investigação já feita sobre o Ártico e a Antártica. Naquela época, a ciência polar era um tema espinhoso: em parte científica, mas majoritariamente aventureira, exigindo dos homens força muscular e de vontade para suportar as condições inóspitas locais. A missão de 1957-58 foi marcada memoravelmente pela primeira travessia terrestre da Antártica, liderada pelo eminente neozelandês sir Edmund Hillary a bordo de tratores Massey Ferguson adaptados.
Na próxima quinta-feira, outro Ano Polar Internacional (API) será lançado, mas a grande diferença é que, em 2007, o pavor despertado pelos dois extremos do planeta foi substituído por uma profunda preocupação com estas regiões.Desde então, a imagem dos pólos como um ambiente hostil deu lugar a outra benevolente. O Ártico e a Antártica são vistos como depósitos especiais de vida selvagem e reservas de gelo em perigo devido ao aquecimento global e cujo destino está ligado ao do resto da humanidade. “O Ano Polar Internacional ocorre em um momento de encruzilhada para o futuro do planeta”, afirma Michel Jarraud, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Milhares de cientistas de mais de 60 países participarão de 220 projetos de pesquisa e sob o API, que na verdade terá dois anos de duração, tempo necessário para completar um ano completo de trabalho em ambos os pólos.
Reunidos sob as asas do Conselho Internacional de Ciência, os projetos darão prioridade a estudos sobre as mudanças no clima. Segundo cientistas, nas duas últimas décadas, Alasca, Sibéria e partes da península antártica se tornaram as três regiões que se aquecem mais rapidamente no planeta. Os inuit, aborígines do Canadá, dizem que seu estilo de vida está ameaçado. O derretimento do permafrost (solo permanentemente congelado) está arruinando as fundações de suas casas, e a diminuição das temporadas de cobertura de gelo e o gelo mais fino tornaram a pesca e a caça a focas difíceis e perigosas. Em janeiro, o Painel Intergovernamental para Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), o maior fórum científico dedicado ao aquecimento global, alertou que o gelo iria encolher nos dois pólos até o fim do século. O Ártico é especialmente afetado, pois a extensão de gelo que congela no verão está retrocedendo permanentemente e o recongelamento agora demora agora até o outono passado. Segundo o IPCC, desde 1978, a extensão do gelo no mar Ártico encolheu numa média de 2,7% por década, com o gelo do verão diminuindo em 7,4%. No ápice do atual efeito estufa, estima-se que grandes áreas do Oceano Ártico não terão gelo o ano inteiro até o final deste século.
A maior parte da água fresca do mundo está concentrada nas terras da Antártica e da Groenlândia. Se as duas calotas de gelo desaparecerem, o nível dos oceanos do mundo se elevaria cerca de 77 metros. Em contraste, o gelo marinho, do tipo encontrado no Pólo Norte, flutua no oceano e desloca sua própria massa, portanto seu derretimento não eleva o nível dos oceanos. A calota de gelo antártica é considerada estável até agora, embora os cientistas tenham encontrado redes de lagos e túneis de conexão debaixo do gelo onde tem havido uma preocupante flutuação. As margens da calota polar da Groenlândia, no entanto, estão sendo corroídas por uma inesperada perda de geleiras. “Esta e outras mudanças nos sistemas físicos e ecológicos das regiões polares, todas observadas no decorrer dos últimos dois anos, indicam que o local está mudando rapidamente e precisa de atenção abrangente”, declarou o diretor de programas internacionais do API, David Carlson. O primeiro API foi celebrado em 1882-83, e o segundo, em 1932-33. o terceiro, em 1957-8, foi parte do Ano Internacional Geofísico, um ano dourado para ciência, por trazer novas informações sobre glaciologia, aurora, raios cósmicos, geomagnetismo e o lançamento da Sputnik, o primeiro satélite do mundo.Também teve profundas repercussões políticas, levando à ratificação do Tratado da Antártica, em 1961, que definia o continente como uma reserva científica e baniu toda atividade militar do local.