Estudando a própria Terra, os cientistas descobriram que talvez seja mais eficiente “escutar” os planetas para detectar se eles possuem características que suportem formas de vida semelhantes à nossa. Se uma raça de extraterrestres com tecnologia suficiente voltasse sua atenção para a Terra, a primeira transmissão que eles captariam certamente não seria uma ligação de celular ou uma transmissão de TV: seria uma série de chiados muito parecidos com aqueles feitos pelo robô R2-D2, da série Guerra nas Estrelas. Na verdade, são esses os sons que acompanham as auroras boreais e que estão sendo captados pela missão Cluster, da Agência Espacial Européia, formada por quatro sondas espaciais quase idênticas, voando em formação a 119.000 km de altitude.
Emissões AKR
Essas emissões de radiofreqüência são chamadas de Radiação Quilométrica da Aurora (AKR, na sigla em inglês). As radiações AKR são geradas pelas mesmas partículas solares que causam os belos espetáculos das auroras boreais. Por décadas, os cientistas presumiam que essas ondas de rádio projetavam-se para o espaço na forma de um cone cada vez mais aberto. Agora, graças às pesquisas da missão Cluster, eles já sabem que estavam enganados. Depois de analisar 12.000 “explosões” de AKR, os astrônomos descobriram que suas ondas são disparadas para o espaço exterior na forma de um plano estreito. Esta descoberta está permitindo que os cientistas calculem o ponto exato de origem das emissões de AKR.
Uma emissão de AKR é 10.000 vezes mais forte do que o mais potente sinal de radar que existe. Felizmente a ionosfera bloqueia esses raios, que não atingem a superfície da Terra – se o fizessem, eles simplesmente inviabilizariam qualquer sistema de comunicação sem fios. “Onde quer que você tenha uma aurora, você terá AKR”, explica o cientista Robert Mutel. Isso inclui auroras de outros planetas, também. Esses pulsos de radiofreqüência de alta intensidade já foram detectados em Júpiter e Saturno.
Procurando por ETs
Agora, os cientistas poderão fazer conexões precisas entre os pulsos de AKR e as características da atmosfera de outros planetas, assim como de seus ambientes magnéticos e gravitacionais. Esta será uma nova ferramenta importante na busca de planetas similares à Terra, capazes de sustentar vida como a nossa. Hoje, a busca dos chamados exoplanetas – planetas situados fora do nosso Sistema Solar – é feita com base no efeito de lente gravitacional. Vários radiotelescópios gigantes, que deverão procurar por vida extraterrestre, estão na fase de projeto. O novo conhecimento adquirido com o auxílio da missão Cluster deverá ser incorporado nesses projetos, ampliando suas chances de sucesso e ampliando suas capacidades de pesquisas.