No final de outubro passado, cientistas da NASA divulgaram estudos sobre o impacto do Satélite de Detecção e Observação de Crateras Lunares [Lunar Crater Observation and Sensing Satellite, LCROSS] contra o pólo sul da Lua, exatamente um ano antes, em outubro de 2009. As equipes de pesquisa já sabiam, anteriormente, da presença de água em forma de gelo na superfície lunar e, desta vez, confirmaram também outros compostos e substâncias diversas, como monóxido e dióxido de carbono, hidroxila, amônia, sódio e até mesmo prata no satélite.
Encontrar água congelada na Lua tem sido uma espécie de Santo Graal para os cientistas há muito tempo. A partir de agora, através do futuro mapeamento e de cálculos mais precisos da localização e da quantidade deste elemento e demais compostos, serão perfeitamente viáveis novas expedições tripuladas para uma base lunar efetiva, que mantenha a presença humana sustentável no satélite, com capacidade de abastecer astronautas e foguetes de futuras missões — além de culturas vegetais e animais no mesmo esquema.
Não se sabe ao certo quando isso poderá ocorrer, mesmo existindo dezenas de projetos neste sentido de várias empresas dedicadas à exploração espacial, somente aguardando o momento apropriado para voltarem à Lua. Desde 1972, com a última missão Apollo, o homem não pisou mais lá, e muitas suposições já foram lançadas para justificar nossa ausência no satélite, desde os riscos que tais viagens causam aos astronautas até os altos custos das missões e um eventual desinteresse governamental — sondas e robôs realizariam o mesmo trabalho sem colocar vidas em jogo.
Na Lua é possível que o homem construa cidades de vidro, nas quais os cientistas poderão observar nossa galáxia (…) Então teremos possibilidade de entrar em contato com outra comunidade, encerrando o período bélico na evolução dos povos terrestres, pois vamos compreender que fazemos parte de uma família universal – Chico Xavier
No entanto, apesar das questões políticas envolvidas na conquista da Lua e no nosso regresso ao satélite, há praticamente 40 anos, numa edição do programa Pinga-Fogo da TV Tupi, o médium brasileiro Chico Xavier dizia que “na Lua é possível que o homem construa cidades de vidro, cidades estufas nas quais os cientistas poderão estabelecer pontos de apoio para observação da nossa galáxia”. Igualmente, Xavier afirmava que tais bases não eram utopia científica. “As edificações, naturalmente com muito sacrifício da humanidade terrestre, podem ser feitas e provavelmente (nelas) vai se obter nitrogênio e oxigênio”. Ele também estimava que teríamos no satélite usinas de alumínio, de vidro e de matéria plástica para atender às construções que lá fizéssemos. “E possivelmente a água será fornecida pelo próprio solo lunar”.
Edificações no solo lunar
Quando nosso satélite natural era considerado seco e inóspito, Xavier já estava correto e parecia ter pleno conhecimento do que falava, inclusive informação técnica sobre os atuais projetos governamentais e privados de construção de bases na Lua, baseados exatamente nas últimas descobertas. Mais do que isso, ele vislumbrou em rede nacional o que somente hoje sabemos. No mesmo Pinga-Fogo de quatro décadas atrás ele disse: “Então teremos, quem sabe, possibilidade de entrar em contato com outra comunidade da nossa galáxia, definitivamente encerrando o período bélico na evolução dos povos terrestres, pois vamos compreender que fazemos parte de uma família universal”.
Em sua discreta e humilde sabedoria, Chico Xavier nunca desrespeitou, menosprezou ou enfrentou a ciência. Ao contrário, tinha por ela grande consideração e a estimulava, aconselhando que “precisamos prestigiar a paz dos povos e a tranqüilidade de todos com veneração máxima pela ciência, para que possamos aferir estes benefícios em um futuro talvez mais próximo do que remoto, se fizermos por merecer”. Quando questionado sobre a tipologia dos supostos seres extraterrestres que poderíamos encontrar no espaço, novamente Xavier demonstrou conhecimento muito além do espiritual — como certamente muitos esperavam —, expondo o ponto de vista espírita e comentando a genialidade de Camille Flammarion, mas sem tentar corroborar nem afirmar nada a respeito. “Esperamos que a ciência se pronuncie”, disse Xavier.
Ele sabia muito bem não apenas das limitações, mas também das dificuldades científicas e militares de se expor a temática ufológica à sociedade, ainda hoje mantida sob sigilo por muitos governos. O fato é que, mesmo estando em 2011, ainda sequer conhecemos o corpo celeste mais próximo da Terra, que faz parte do nosso cotidiano. Sim, a Lua ainda é um mistério, aceitemos ou não esta triste realidade que desafia o prepotente Homo sapiens. Chico Xavier estava ciente dessa e de outras incógnitas, que espiritualmente receberiam explicações, mas preferiu usar da ciência para lidar com a própria ciência. Que ela se pronuncie algum dia, enfim.
A consagração do maior médium brasileiro
Nas noites de 28 de julho e 21 de dezembro de 1971, a histórica e já extinta TV Tupi de São Paulo apresentou em seu programa Pinga-Fogo um debate com o médium brasileiro Chico Xavier, respondendo a perguntas dos jornalistas Saulo Gomes, Reali Júnior, Helle Alves, Herculano Pires, Freitas Nobre, Vicente Leporace e Durval Monteiro, além das que lhe eram desferidas pelo intelectual católico João Scantimburgo e pelo cientista Hernani Guimarães. O debate foi mediado por Gomes, que viria, anos depois e até hoje, a ser um ardoroso defensor da pesquisa ufológica.
Até hoje, nenhum programa conseguiu superar a marca obtida pelo Pinga-Fogo com Chico Xavier. O primeiro, previsto para ter 60 minutos, durou quase três horas. A audiência que atingiu chegou a 75% dos televisores ligados, a maior da história da televisão brasileira, fazendo com que seus organizadores realizassem uma segunda rodada, consagrando definitivamente Francisco Cândido Xavier (1910-2002) como o maior médium de todos os tempos.
Saulo Gomes foi um dos poucos jornalistas presentes aos debates que conseguiram ganhar a confiança do médium mineiro. Em 1968, Gomes fez sua primeira entrevista com Xavier e, três anos depois, conseguiu convencer os produtores do Pinga-Fogo a trazerem o líder espiritual de tantos brasileiros para participar do programa de debates — que era conhecido por receber políticos. “A produção não queria criar conflito com a Igreja Católica, e foi muito difícil convencê-la”, relembrou Gomes, que já deu inúmeras contribuições à Revista UFO.
A relaç
ão de amizade entre Chico Xavier e Saulo Gomes se fortaleceu e este passou a acompanhar o médium em diversos eventos, assessorando-o no contato com a imprensa. Foram mais de 30 anos de convivência. “Tenho 54 anos de profissão e consegui oferecer a visibilidade que Chico Xavier merecia. Para mim, foi um grande desafio, que enfrentei e venci. Tenho a sensação do dever cumprido”, disse o jornalista. Ele publicou recentemente o livro Pinga Fogo com Chico Xavier [Interlivros, 2010].