O céu de Brasília, além de chamar atenção pela beleza, também já foi espaço para fenômenos exóticos, como aparições misteriosas de objetos voadores não identificados, segundo relatos de brasilienses e ufólogos.
Desde o início da construção da capital, já se ouvia falar de avistamentos de estranhos objetos metálicos durante o dia e objetos luminosos e esféricos à noite. Comentava-se, na época, que o próprio Juscelino Kubitschek, então presidente da República, teria visto um desses objetos sobrevoando a região. É o que conta
Thiago Ticchetti, ufólogo presidente da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e morador do Distrito Federal.
Thiago Ticchetti, ufólogo presidente da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) e morador do Distrito Federal.
O debate sobre óvnis voltou à tona depois que uma série de objetos voadores foi vista – e uma parte deles derrubada – nos últimos dias na América do Norte. Quatro desses objetos voadores incomuns foram avistados e derrubados por caças dos Estados Unidos. Nos quatro casos, houve violação de espaço aéreo dos EUA e do Canadá.
Um dos primeiros casos de avistamento de óvnis em Brasília teria sido registrado em 1959, por um religioso identificado apenas como “padre Raimundo”. Segundo o ufólogo Thiago Ticchetti, o padre fotografou o óvni com uma câmera “lambe-lambe”, na região do Núcleo Bandeirante.
“O padre Raimundo conta que estava andando pelo Núcleo Bandeirante, em outubro de 1959, quando viu uma multidão que observava o céu azul e com poucas nuvens. Eram cerca de 10h e um estranho objeto se movimentava e parava no espaço”, diz Ticchetti, que estudou o caso.
O padre resolveu encaminhar as fotos para um primo que trabalhava na Marinha Brasileira no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois recebeu o material com outras fotos reveladas, mas sem nenhum laudo técnico.
Oito anos após os registros do padre Raimundo, Paulo Pinheiro Chagas e Bias Fortes, na época deputados federais, avistaram a 15 quilômetros da capital, na estrada Brasília–Belo Horizonte, uma luz forte, que acreditaram ser um disco voador. O relato da dupla foi divulgado um ano depois, no jornal Diário de Notícias.
“Havia um objeto parado no céu, intensamente luminoso, de forma triangular. Estávamos assim, observando por cerca de quatro minutos, quando o engenho se deslocou na direção da cidade de Goiânia numa velocidade incrível”, contou Chagas, à época.
Já em 1982, O Globo noticiou que o então subsecretário-geral do Ministério do Interior – pasta extinta em 1990 –, Luís Carlos Paixão, teria sido “perseguido por objetos voadores”. Na publicação, ele disse que viajava de carro em direção ao Planalto Central, ao lado da família, quando notou a presença de cerca de cinco óvnis “voando em formação”.
Outro caso que Ticchetti destaca é o do óvni que teria pairado sobre o Complexo Penitenciário da Papuda, na região de São Sebastião, no ano de 1991.
“Militares que faziam rondas informaram que viram um objeto brilhante, de forma oval, sobre o presídio. Na época, a situação foi relatada pelos policiais à imprensa”, conta Ticchetti. O jornal Correio Braziliense noticiou o ocorrido no dia 13 de abril de 1991.
“O óvni que passou sobre o presídio da Papuda foi detectado pelos radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta), órgão do Ministério da Aeronáutica [pasta extinta]”, diz o texto da notícia.
Segundo relato de um dos policiais, o óvni apresentava forma retangular na tela, e seguia em velocidade calculada em 700 km/h, com “uma forte luz azul mudando para vermelha”.
Cinco anos depois, outro caso foi registrado em Brasília, dessa vez na Barragem do Lago Paranoá. O empresário Agamenon Nascimento e o comerciante Cassiano Rodrigues afirmaram ter visto uma luz muito forte que se locomovia rapidamente. Segundo eles, o objeto se parecia com uma cruz com uma iluminação mais forte nas extremidades.
“Os dois acionaram a polícia e uma patrulha foi destacada para verificar a situação. Quando estavam passando sobre a Barragem do Paranoá, o óvni ficou sobre as águas”, conta o ufólogo Thiago Ticchetti.
“Embora o objeto tenha sido visto por pelo menos 13 pessoas, o Ministério da Aeronáutica informou, na época, que o Cindacta não tinha registrado ‘qualquer atividade estranha'”, diz Ticchetti.
Ticchetti começou a estudar fenômenos ufológicos em 1995, no ano em que se mudou para Brasília. Ele fez parte do grupo Entidade Brasileira de Estudos Extraterrestres (EBE-ET), formado na capital federal, e desde 2017 é presidente da CBU. Além disso, já escreveu 14 livros sobre o tema.
“Gosto de levar às pessoas uma ufologia séria, com pesquisa científica, de qualidade, sem fantasias”, ressalta. Sobre os casos dos óvnis abatidos nos EUA, Ticchetti afirma que, ao que tudo indica, são apenas aeronaves terrestres. “Há muita desinformação, teorias conspiratórias”, diz.
As transcrições das aparições de óvnis, classificadas como secretas ou ultrassecretas pelo Ministério da Defesa, começaram a ser disponibilizadas para consulta pública a partir de 2010. A divulgação dos documentos ocorreu como resultado de campanhas da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU).
Desde a regulamentação da Lei de Acesso à Informação, em maio de 2012, a Defesa havia recebido 107 pedidos de entidades ligadas à ufologia para a publicação dos documentos. Hoje, estão disponíveis no Arquivo Nacional mais de 10 mil páginas, que abarcam relatos de avistamentos e investigações sobre o assunto.