Em janeiro de 1996, a cidade mineira de Varginha foi palco de um dos mais importantes casos da Ufologia Mundial. Batizado de Caso Varginha, o conjunto de ocorrências anômalas que se verificou na semana de 13 a 20 de janeiro de 1996 no município compreende a queda de um UFO, captura de estranhas criaturas em diferentes pontos da cidade, envolvimento de militares estrangeiros e, posteriormente, a morte confirmada de pelo menos um soldado, sob circunstâncias suspeitas. Tudo com direto envolvimento do Exército Brasileiro e do Corpo de Bombeiros local.
Todo esse conjunto de eventos evidentemente chamou a atenção da mídia e de pesquisadores de todo o Brasil, que se deslocaram até a cidade, dando início à maior pesquisa ufológica de nosso país — não apenas em extensão, mas em qualidade. Hoje, mesmo passados 22 anos dos acontecimentos, fatos inéditos não param de surgir conforme as pessoas que à época participaram dos eventos decidem quebrar o silêncio e contar o que sabem.
Varginha, além de tudo, é um caso ufológico muito particular, uma vez que grande parte das testemunhas são militares do Exército, do Corpo de Bombeiros e também da Polícia Militar de Minas Gerais, cujos testemunhos sempre têm um peso maior, mas vêm cobertos de sigilo. Muito se sabe, mas pouco se pode falar. Este artigo, que inclui uma entrevista com Marta Tavares, irmã do falecido soldado Marco Eli Chereze, evidencia como o episódio ainda está vivo e nos dá um vislumbre de quanta informação aguarda para ser divulgada.
Uma morte suspeita
Como já mostramos na entrevista que fizemos com o médico Lincoln Cesário Furtado [Veja edição UFO 246, agora disponível na íntegra em ufo.com.br], responsável pelo atendimento ao soldado Chereze no Hospital Bom Pastor, a morte do rapaz foi extremamente rápida e inexplicável, ocorrendo como resultado direto de sua captura de uma das criaturas sobreviventes do disco voador acidentado em Varginha. Tomado por uma violenta infecção de causa desconhecida, o policial militar do serviço reservado da PM de Minas faleceu pouco tempo após sua internação. À época, os médicos ficaram surpresos com rapidez com que a saúde do jovem se deteriorou, sem mostrar resposta a nenhum dos antibióticos ministrados.
Segundo o doutor Furtado, o jovem apresentava “um quadro extremamente grave de infecção, atípico para um rapaz tão jovem. Não havia nenhum tipo de recurso para cuidar daquela infecção, além dos remédios que ministramos. O problema estava no sistema imunológico do rapaz, que não respondeu ao tratamento. Tudo indicava que as defesas do organismo estavam muito prejudicadas”.
Diante do agravamento da situação, o doutor Furtado recomendou a transferência de Chereze para o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Regional do Sul de Minas, onde o paciente ficou aos cuidados do médico Alberto Severo, plantonista responsável pela ala. Pouco tempo depois, ele faleceu sem que se soubesse a razão da infecção que o atingira. Como veremos a seguir, a história é muito mais complexa do que muitos querem fazer parecer. O jovem policial tinha apenas 23 anos e saúde perfeita até 26 dias antes de sua morte.
A história de Chereze é controversa e está confirmado que está diretamente relacionada à captura de uma das criaturas encontradas em Varginha. Ele, à época, contava quatro anos como policial militar e fazia parte do setor de Inteligência da Polícia Militar de Minas Gerais, conhecido como P2. Na tarde de 20 de janeiro de 1996, ele e seu superior e amigo, cabo Erick Lopes, estavam fazendo a ronda em um automóvel Fiat Panorama descaracterizado quando foram chamados para ajudar na captura de um “animal estranho” que estava aterrorizando a população — foi assim que os militaras trataram dos sobreviventes do acidente.
Embate físico com a criatura
A ação chamou a atenção de muitos passantes e moradores da região, e não faltam testemunhas atestando que a captura realmente ocorreu. O que não se sabe exatamente é qual foi o envolvimento de Chereze na missão. Segundo declarações de sua irmã, o rapaz esteve diretamente empenhado na captura e pôde, inclusive, ter entrado em um embate físico com a criatura, que o teria contaminado de alguma forma. Marta acredita que essa contaminação tenha sido a causa da falência do sistema imunológico de seu irmão. Chereze faleceu em menos de um mês após a operação de captura.
Mas as estranhezas não param por aí. Logo após o falecimento do rapaz houve, por parte do doutor Alberto Severo, do Hospital Regional, uma grande e injustificável pressa em enterrá-lo — o que só não aconteceu porque a família do jovem se revoltou e exigiu que se fizesse uma necropsia. Diante da negativa do médico, Marta precisou ir até uma delegacia de polícia para que um delegado autorizasse o exame. O corpo do rapaz foi examinado e seu enterro se deu na tarde do dia seguinte.
Disse o doutor Lincoln Cesário Furtado: ‘O jovem apresentava um quadro extremamente grave de infecção, atípico para um rapaz tão jovem. Não havia nenhum tipo de recurso para cuidar daquela infecção, além dos remédios que ministramos’
Durante o velório e o enterro de Marco Eli Chereze houve uma intensa movimentação de militares, muitos dos quais de alta patente e desconhecidos do policial e da família, o que chamou bastante a atenção de todos, por não ser um procedimento normal da Polícia Militar. A família também abriu um processo por erro médico, uma vez que nenhum dos profissionais que tratou do falecido conseguiu dar uma explicação ou apontar uma causa específica para sua morte. Falou-se em tétano, em sepses, pneumonia e infecção urinária, o que só deixou a família ainda mais revoltada.
O interessante é o que o policial passara, poucas semanas antes de falecer, por vários exames físicos e mentais, cujos resultados foram todos normais, indicando que ele não tinha qualquer infecção latente em seu organismo. Já após a captura, ele teve um pequeno tumor na axila, motivado por um pelo encravado, que foi rapidamente tratado pelo médico militar tenente Robson Ferreira de Melo — que acabou dando baixa da polícia logo após o falecimento de Chereze.
Laudo incompleto e outra vítima
Como se tudo isso fosse pouco, a família ainda precisou lidar com a demora na emissão do laudo da necropsia, que só saiu 13 meses após o falecimento do rapaz. O processo que Marta abrira por erro médico também ficou parado na gaveta do delegado por mais de um ano. Quando finalmente a família recebeu o laudo para conhecer qual teria sido a causa do falecimento do policial, descobriu também que o relatório estava cheio de rasuras e com páginas faltando. Onde estaria a página não entregue e o que haveria nela que precisou ser suprimido? Estas são perguntas que permanecem sem resposta, mesmo mais de duas décadas depois.
Tudo parece ter sido feito de forma a ocultar os fatos relativos à súbita doença e morte de Marco Eli Chereze. Muitos disseram que ele teria contraído uma infecção séria durante o procedimento de retirada do tumor na axila, e que seu quadro teria se agravado porque o policial se encharcara durante uma tempestade que caíra no mesmo dia da captura da estranha criatura sobrevivente da queda do disco voador — as datas, porém, não coincidem. O que resta claro é que as autoridades militares fizeram de tudo para impedir que a família, e, portanto, a imprensa e os ufólogos, tivessem acesso a informações relevantes.
A causa da morte do policial foi apontada como “septicemia aguda” e os exames mostraram que havia substâncias tóxicas no seu organismo. Mas a questão permanece, pois não se sabe o que ocasionou a tal septicemia. E como se uma morte não bastasse, agora se tem notícia de outra, e pelo mesmo motivo. A vítima também seria um policial militar, por sinal, companheiro de Chereze. A descoberta desta segunda ví
tima é recente e ainda está sendo investigada, assim como se há relação entre os dois casos. Mas, ao que tudo indica, a segunda vítima também teria participado da captura.
Essa informação foi dada pela irmã de Chereze na entrevista que veremos logo a seguir. Vale a pena destacar que, embora Marta Tavares tenha aparentemente superado a tristeza com todas as circunstâncias que envolveram o falecimento de seu irmão, pudemos perceber que, conforme ela se aprofunda no assunto, ainda se mostra muito revoltada com todo o processo de ocultação do laudo e de informações sobre a morte do militar. Vamos à entrevista, exclusiva da Revista UFO.
Fonte: UBIRAJARA FRANCO RODRIGUES
Hospital Regional do Sul de Minas
Como era o relacionamento entre você e seu irmão, Marco Eli Chereze?
Nós sempre fomos muito unidos. Quando éramos menores, eu o levava e buscava na escola e nós tínhamos segredos em comum. Mais tarde, quando ele já estava mais velho, sempre passava em minha casa para descansar depois do trabalho. Nós éramos bem próximos. Mas depois do caso da captura daquele ser, ficou mais difícil, porque ele era militar da Inteligência do Exército, o P2, e na semana da queda da nave quase não nos vimos — só fomos nos ver dias depois. Logo após o caso, eu passei no ponto onde ele trabalhava como taxista nas horas vagas, e foi quando conversamos e eu lhe perguntei sobre o que acontecera. Ele me disse que aquele caso “ainda iria dar muito pano para manga” e que ainda ia sair muita coisa sobre o assunto.
Quanto tempo depois da captura vocês tiveram essa conversa?
Foi logo em seguida, por volta do dia 23 ou 24 de janeiro, ou seja, 3 ou 4 dias depois. Eu me lembro porque aproveitei para passar no ponto de táxi depois de ir ao banco receber o pagamento de meu marido.
Quando você começou a associar a morte de seu irmão com a captura da criatura?
Pouco tempo depois de eu ter entrado com processo por erro contra todos os médicos que cuidaram de meu irmão, fui procurada pelos pesquisadores Vitório Pacaccini e Ubirajara Franco Rodrigues [À época, coeditor da Revista UFO e membro da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU)]. Nós conversamos e começamos a associar o caso da operação de captura com a deterioração da saúde de meu irmão. Depois daquela conversa, fui procurar o laudo da necropsia e soube que não tinha sido entregue. Foi então que começamos a procurar as provas e percebemos que tudo o que eu havia conversado com Pacaccini e Rodrigues era mesmo verdade.
Então, antes da visita dos pesquisadores, você não imaginava que seu irmão estivesse envolvido na captura da criatura?
Eu sabia que ele havia participado da operação. Mas o que eu não sabia era que ele havia morrido em razão dela. Hoje eu acredito que pode ter ocorrido um contato físico direto entre meu irmão e a criatura, durante o qual ele adquiriu algum tipo de bactéria ou infecção — talvez ele já estivesse com a imunidade baixa ou com alguma pequena lesão ou ferimento na pele, por onde a bactéria penetrou e se aglomerou no sistema imunológico.
Você tem certeza da participação do seu irmão na operação de captura no dia 20 de janeiro de 1996?
Sim, no dia 20 de janeiro de 1996 houve uma chuva de granizo muito forte por volta das 17:30. O carro com que meu irmão trabalhava era um automóvel Fiat Panorama descaracterizado, da P2, e nele faltava um vidro [Há versões que dão o carro como sendo um Fiat Prêmio]. Meu irmão ficou muito molhado devido ao temporal e foi à minha casa para se trocar, pois precisava voltar ao serviço. Então eu tenho a certeza da participação dele na operação.
Nós soubemos que o seu irmão estava com outro policial da P2, o cabo Erick Lopes, na operação de captura. Na época vocês questionaram o cabo Lopes?
Sim, eu, Pacaccini e Rodrigues o chamamos para uma conversa na casa da minha mãe. Ele negou o tempo todo que houvesse ocorrido alguma coisa, mas estava muito nervoso, fumando sem parar e transpirando muito. Eu fui “apertando” ele com as perguntas, pois ele era o melhor amigo de meu irmão e era quem dirigia a viatura no dia da operação. Além disso, meu irmão era seu subordinado. Nós perguntamos muitas vezes sobre o ocorrido, mas ele sempre se desviou do assunto.
Você acredita que ele omitiu os fatos de vocês naquela época?
Eu tenho certeza de que ele omitiu todos os fatos. Hoje ele é meu cunhado, casado com minha irmã — e até hoje ele não gosta de falar sobre o caso.
Há quanto tempo ele e sua irmã estão juntos? Pergunto porque, quando estive pela primeira vez procurando por você na cidade, me indicaram uma lanchonete que seria de uma das irmãs do Chereze. Lá fui recebido por sua irmã, que ficou furiosa por eu estar fazendo perguntas. Ela disse que seu irmão não participou da captura e que você estava mentindo. Fiquei bem desconfiado, mas agora, conversando com você, entendo a posição de sua irmã.
Eles estão casados há 15 anos. Lopes e meu irmão começaram a estudar juntos na infância e ele sempre foi muito amigo de minha família. Eu acho que meu cunhado nunca comentou com minha irmã a respeito do caso e acredito que ela não queira falar sobre o assunto porque sabe que se fizer isso a história vai chegar até ao marido, que presenciou e participou de tudo. Acho que eles têm medo de represálias, se concordarem em falar a verdade sobre o caso.
Além da natural tristeza pelo falecimento de seu irmão, qual foi a reação de seus pais diante de tudo o que houve?
Na época eles se revoltaram contra o médico tenente Robson Ferreira de Melo, que deu baixa da polícia logo em seguida. Segundo fomos informados por alguns policiais militares, ele saiu justamente porque minha família o pressionou muito na época — e nós fomos firmes em cima de um eventual erro médico. Eu abri o processo em fevereiro e entre abril e maio fui procurada pelos pesquisadores Pacaccini e Rodrigues. Com o passar do tempo, fomos associando tudo o que aconteceu com o episódio da captura da criatura e começamos a correr atrás de informações corretas. Também conversamos com várias pessoas e só depois de muito tempo é que consegui que me entregassem o laudo da necropsia. Isso demorou cerca de 13 meses.
Com o laudo em mãos, o que vocês descobriram?
Verificamos que meu irmão apresentava 8% de granulações tóxicas e finas de neutrófilos. No início, o médico não queria fazer o exame, queria que nós o enterrássemos rápido — nós tivemos que insistir e foi tudo muito tumultuado e desgastante. Eram muitas perguntas sem resposta e nós, a família, queríamos ver logo o resultado para sabermos o que meu irmão realmente teve. Por que ele entrou no hospital conversando e saiu de lá morto? Houve muitas contradições até chegarmos a um consenso sobre a ligação entre a doença de meu irmão e a captura da criatura.
Soubemos que o velório do seu irmão foi muito tumultuado e que o caixão estava fechado porque ele apresentava infecções na pele. Também ouvimos que houve muita movimentação de militares de alta patente, que não eram do convívio de vocês. Essas informações são verdadeiras?
O caixão estava aberto e, como disse, a autopsia dele foi muito confusa, tanto que a cabeça estava enfaixada. E, sim, havia muitos militares de alta patente, que nós não conhecíamos, entrando e saindo do velório. Havia também muitos militares amigos do meu irmão e, claro, circulavam muitos boatos, mas nós não tínhamos ainda associado os fatos. Houve um entra e sai de militares durante a noite inteira, muitos usando trajes com capas de frio, ainda que estivesse muito calor.
Fonte: ARQUIVO UFO
O policial militar Chereze foi acometi
do por infecções que nosso organismo está preparado para debelar, mas inexplicavelmente não o fez
Houve alguma outra ocorrência estranha que você tenha notado?
Sim. Um dos fatos que nos chamou a atenção foi que, depois de algumas horas, os lábios de meu irmão começaram a arroxear muito além do que seria normal. Na época, nós acreditávamos que aquilo fosse por causa do tétano, uma das várias causas apontadas pelos médicos como a razão do falecimento. O doutor Alberto Severo, o médico do CTI, estava nos apressando para fazermos logo o enterro e foi então que eu e meu outro irmão, hoje já falecido, solicitamos a autópsia. De início, nosso pedido foi negado e precisamos pedir a autorização para o delegado João Pedro para que os exames fossem feitos. Meu irmão foi enterrado no outro dia, às 15:00.
Durante todo esse tempo, você ou sua família receberam alguma intimidação ou ameaça por parte de alguma autoridade?
Não abertamente. Uma noite, quando eu morava sozinha, a polícia bateu em minha casa por volta das 22:00 e os policiais alegaram que tinham sido chamados por causa de uma briga de casal — um deles quis entrar e os autorizei. Naquela época eu recebia muitas visitas de ufólogos. Também na mesma ocasião havia um carro preto com alguns homens vestidos de preto dentro, que nos seguia. Então acho que sim, eu estava sendo vigiada.
Essa situação perdurou por quanto tempo, você estima?
Ah, durou um bom tempo. Eu me lembro de que houve uma reunião ufológica no instituto do pesquisador Ubirajara Franco Rodrigues, cerca de um ano após a morte de meu irmão, durante a qual eu denunciei que não havia ainda recebido o laudo da necropsia, o que veio a acontecer depois. Naquela época eu morava em um bairro muito simples e na frente de minha casa havia um barzinho, onde os pesquisadores se sentavam. Na ocasião da mencionada reunião ufológica, eles viram o carro preto passar e os ocupantes ficarem olhando para porta de minha casa. Os pesquisadores que testemunharam a cena foram Vitório Pacaccini e mais outros dois, cujos nomes eu não me recordo.
Você poderia nos contar como foi o processo para conseguir o laudo?
Claro. O que aconteceu foi que o resultado saiu 30 dias após a realização dos exames. Quando fui ao Laboratório Janini para buscar o resultado, me cobraram R$ 652,00 para emitir o laudo, mas nós não tínhamos o dinheiro. Eu tentei de diversas formas levantar a quantia, mas tive dificuldades para consegui-la. Nesse meio tempo houve a reunião ufológica à qual me referi anteriormente, e logo depois a polícia mandou o laudo para a casa da minha mãe — mas ele veio com uma das páginas faltando. Nós acreditamos que o documento que nos foi entregue foi alterado e não corresponde aos resultados verdadeiros, pois o que está no laudo não é o que aconteceu com meu irmão.
Sua cunhada estava grávida quando do falecimento de Marco Eli Chereze e infelizmente sua sobrinha nunca conheceu o pai. Você pode nos dizer qual é a opinião das duas sobre tudo o que aconteceu?
Em decorrência de fatos que ocorreram à época, eu não converso muito com a viúva de meu irmão. Falamos apenas o necessário, não há amizade. Quanto à filha do Marco, ela estuda em uma universidade fora de Varginha e eu nunca falei com ela sobre o caso, porque tenho medo de mencionar o assunto e ser mal interpretada. A ex-esposa de meu irmão não sabe de nada sobre o episódio e nunca se envolveu nas pesquisas feitas pelos ufólogos. Em seu depoimento ao delegado, à época dos acontecimentos, ela jamais mencionou a captura da criatura e nunca teve interesse em investigar essa questão. Só eu fui atrás dos fatos.
Hoje eu acredito que pode ter ocorrido um contato físico entre meu irmão e a criatura, durante o qual ele adquiriu algum tipo de bactéria ou infecção — talvez ele já estivesse com a imunidade baixa ou com alguma pequena lesão ou ferimento na pele
Soubemos que naqueles dias os seus avós estavam assistindo a um programa sobre Ufologia na TV e que seu irmão teria reagido de forma estranha. Isso é verdade?
Sim, é verdade. Minha avó morava no fundo da casa do meu irmão e em um determinado dia estava passando um filme sobre extraterrestres na TV. Quando meu irmão chegou, ele desligou o aparelho dizendo para minha avó não assistir aquilo porque “era tudo besteira”. Nós perguntamos por que e ele repetiu que “era tudo besteira”.
Vocês chegaram a perceber alguma mudança nas atitudes de seu irmão nos dias que se sucederam a captura?
Sim, percebemos que ele ficou mais calado e que evitava falar do caso. Ele só disse, como eu já contei, que aquele acontecimento “ia dar muito pano para a manga”. Ele não entrava muito no mérito da questão, pois ainda estava na ativa e como militar ele fez seu juramento de silêncio.
Eu sei que você e o pesquisador Vitório Pacaccini se corresponderam até há poucos anos. Você pode nos contar sobre o que conversavam nas cartas?
Bem, nós participamos de uma investigação particular, na qual várias pessoas deram depoimentos. Um militar da Escola de Sargento das Armas (ESA) me disse na época que Pacaccini havia pagado para obter uma informação — tudo isso foi feito dentro da minha casa. Os assuntos que tratávamos nas cartas diziam respeito ao caso envolvendo meu irmão e também sobre eu adquirir um notebook, que até há poucos anos eu não tinha e ele estava vendo se arrumava um para mim. Agora já não nos correspondemos mais.
Em todos esses anos alguém lhe deu alguma explicação sobre a captura da criatura? Algum dos militares amigos de seu irmão e de sua família lhe contou algo?
Sim. Alguns militares me contaram a verdade, mas até hoje eu não posso citar nomes. Eles disseram que participaram dos acontecimentos e que o meu irmão também estava na operação. Essas pessoas se tornaram amigas da família, elas iam tomar café lá em casa e algumas chegaram a nos aconselhar a esquecer o acontecimento, alegando que a população não estava preparada para saber a verdade sobre extraterrestres. Por outro lado, houve outros amigos que nos instruíram a ir atrás dos fatos, dizendo que tudo tinha que ser melhor explicado. Enfim, foram vários momentos.
Em uma conversa que tivemos, você disse que outro militar também foi contaminado e que essa informação nunca foi sequer mencionada. O que pode nos falar sobre isso?
Tudo o que eu posso lhe dizer é que houve outro policial da corporação do meu irmão que fez uma cirurgia de estômago, cuja incisão não cicatrizava, o que acabou causando uma infecção generalizada. Esse policial não teria ficado aqui em Varginha, mas sido transferido para outra cidade. Quem me passou essa informação também foi um militar, mas eu não posso afirmar que isso seja realmente verdadeiro.
Você tem mais informações sigilosas que ainda guarda consigo?
Muitas. Sei os nomes de vários militares que participaram da operação de captura e hoje não estão mais na ativa, mas só no momento em que eles me autorizarem a falar eu poderei citar nomes e tornar públicas mais informações.
Depois de passados 22 anos dos acontecimentos, o que você pensa sobre tudo o que houve?
O que eu posso dizer é que realmente haviam extraterrestres em Varginha, sobreviventes daquela queda. Sobre o caso, penso que as autoridades não deveriam se omitir e deixar as pessoas falarem livremente. Existe muita gente leiga, mas também existe muita gente instruída que quer saber a verdade — a população merece respeito e merece conhecer o que realmente aconteceu. Nesses 22 anos já surgiram muitas coisas e eu espero que, quando o caso completar 25 anos, as autoridades liberem os depoimentos e documentos sigilosos [25 anos é o prazo legal para a desclassificação dos documentos]. Que se faça algo como uma assembleia ou um congresso aqui na cidade para que todos os militares possam realmente falar a verdade.
Mui
to a descobrir
Por tudo o que já conhecemos do episódio e diante das revelações que constantemente surgem, não há dúvidas de que o Caso Varginha ainda tem muito a revelar. Vários militares têm medo de contar o que sabem, de relatar o que viram e de descrever as missões de que participaram, temendo consequências para si e para os seus. Outros, já aposentados ou afastados das atividades militares, continuam fiéis aos seus juramentos de silêncio. Por outro lado, também há muita informação vinda de militares, sobre as quais ainda não podemos falar.
Um evento ufológico das dimensões do Caso Varginha envolve anos de pesquisa, de comparação de dados, de tempo investido no convencimento das testemunhas e na separação das informações falsas das verdadeiras. Varginha requer fôlego, motivação, discernimento e muita vontade de se chegar ao fundo dos fatos. Neste pequeno artigo, tratamos da trágica e mal explicada morte do soldado Marco Eli Chereze, mas há muito mais a ser visto.
O episódio é uma história contada aos poucos, com capítulos que dependem da coragem das testemunhas civis e militares para serem conhecidos. Há 22 anos algo muito sério ocorreu ali, algo que causou assombro e deixou mortos. A cidade não esqueceu, nós não esquecemos. E o mundo aguarda ansioso o dia em que toda a verdade será realmente revelada e a morte de Marco Eli Chereze será devidamente esclarecida.