Depois da matéria veiculada em 15 de agosto de 2010, no programa Fantástico da Rede Globo, novas revelações surgem para compor o quebra-cabeça da famosa seqüência fotográfica da Ilha da Trindade, obtida em 16 de janeiro de 1958. Um dos casos tradicionais da Ufologia Mundial foi tratado como uma mera fraude e as imagens do UFO – obtidas pelo fotógrafo civil Almiro Baraúna -, foram expostas como uma montagem arquitetada pelo próprio. Horas depois da exibição, a sobrinha de Baraúna, Mara Baraúna, negou veementemente que seu tio tenha confessado a realização de fotomontagem e disse que nunca afirmou isso [sobre estas declarações de Mara, retornaremos posteriormente com seu depoimento contundente e definitivo]. Ela fora apresentada pela produção do programa como tendo fornecido uma confirmação de que as fotos eram apenas truque.
A direção e equipe responsável pelas gravações recebeu inúmeras críticas em seus canais de comunicação, das mais quantitativas já ocorridas nos últimos tempos. Retirando-se o lado negativo, os reflexos positivos começam a aparecer. Uma nova testemunha, até então desconhecida do público, surge para confirmar que o episódio da passagem de um UFO sobre a Ilha da Trindade foi real. Estamos falando do militar João Francisco Bispo, oficial da praça de máquinas do navio Almirante Saldanha e que estava no navio no momento do acontecimento. Bispo fazia parte da tripulação e serviu durante muito tempo embarcado no Almirante Saldanha em pesquisas oceanográficas. Em verdade, essa testemunha já faleceu em 1998 e o que será apresentado aqui é o relato do seu sobrinho. Ele guarda até hoje as memórias do tio sobre aqueles singulares avistamentos de UFOs na ilha. Avistamentos (no plural), porque o Caso Trindade não é composto apenas de um único. Pelos registros da Marinha, desde dezembro de 1957 até janeiro de 1958 (mês do episódio principal) ocorreram avistamentos na região. Ademais, pelas pesquisas do falecido ufólogo Olavo Fontes, há mais relatos de semelhante objeto sobre o local e redondezas até o final daquele ano.
Nosso narrador é Valmir Araújo, ufólogo e pesquisador de campo do grupo Ufobahia, na Bahia. Assim ele inicia, citando Bispo: “O meu tio (adotivo), oficial de máquinas do navio-escola Almirante Saldanha e posteriormente do navio C-11 Barroso, após se aposentar, mudou-se do Rio de Janeiro, onde residia, e voltou a morar em nossa terra natal, uma cidade do nosso recôncavo, vindo a falecer em outubro de 1998. Costumávamos nos encontrar toda semana, eu morava na época em Valença, na casa de minha tia e madrinha (também falecida), onde conversávamos sobre vários assuntos, tais como religião, política e fenômenos insólitos, onde a Ufologia tinha grande destaque para ele”, recorda Araújo. E continua: “Ele não acreditava em nenhuma religião, sempre me dizia que tudo era manipulação de massas e a história contada não era a verdadeira. Foi aí que numa dessas conversas que durava a tarde inteira, lhe perguntei sobre o caso Trindade e se ele havia presenciado a aparição do UFO”.
Lembra, das conversas com o tio, que este chegou a assistir toda a agitação no convés, mas infelizmente foi incapaz de presenciar a passagem do UFO porque se encontrava na praça de máquinas do navio naquele exato momento. Segundo relata o oficial ao sobrinho, “um colega veio lhe chamar para ver o disco voador. Foram correndo para o convés onde já se encontrava a maioria dos tripulantes, bem como o comandante do navio e outros oficiais junto ao fotógrafo Almiro Baraúna que acabara de fazer as fotos do objeto. Naquele momento ele não vira o UFO devido ao objeto ter ido embora, mas, me falou que aquela não fora a primeira aparição em Trindade”.
A posição de nova testemunha que é traçada neste artigo, apesar de não ter sido ocular, da passagem do UFO, é a de quem estava presente no barco ao momento do avistamento e pôde presenciar toda a movimentação que surgiu no convés. Entretanto, foi, de fato, testemunha ocular de uma aparição na ilha, exatamente nos dias antecedentes ao fatídico 16 de janeiro de 1958. Segundo relata seu sobrinho, Bispo afirmou que todos os que estavam com ele no momento da observação do UFO afirmaram que o objeto era o mesmo registrado por Baraúna, posteriormente. Atestou ainda que as fotos de Baraúna foram reveladas no laboratório do navio, logo após o evento e que tudo fora registrado pelo comandante, no diário de bordo. Araújo finaliza dizendo ter questionado o tio uma vez, sobre “que havia lido há algum tempo atrás, numa matéria, em que diziam que as fotos eram falsas”, ao que Bispo contestou de imediato tal possibilidade.
Avistamentos na ilha, em dias e semanas antes das fotos de Baraúna, eram conhecidos por integrantes da Marinha. Na época, jornais publicaram que as fotografias obtidas não foram surpresa para esta Força Armada, ela já tinha conhecimento de relatos ufológicos, narrados pelos seus oficias anteriormente. Em trechos do relatório sobre o Caso Trindade, do capitão de corveta José Geraldo Brandão, são descritas tais ocorrências:
“I – À 31 de dezembro, 1957, um objeto aéreo não identificado (OANI) foi observado sobre a ilha, avistado pelo oficial médico primeiro-tenente MD Ignácio Carlos Moreira Murta, por um marinheiro e cinco trabalhadores. O avistamento ocorreu pela manhã, por volta das 07h50h;
II – Ele foi informado na mesma ocasião que idêntico objeto havia sido avistado anteriormente, em 05 de dezembro de 1957, por um trabalhador, também pela manhã e à mesma hora;
2. O capitão de corveta Bacellar também informou sobre um fenômeno que havia observado pessoalmente sobre a ilha, por duas vezes, em diferentes ocasiões, com a ajuda de um teodolito de alta precisão e em plena luz do dia.”
Além disso, o relatório informa que, em uma dessas ocasiões, o capitão de corveta Bacellar não estava sozinho. O UFO foi testemunhado também pelo oficial médico, vários sargentos, marinheiros e um técnico civil do Departamento de Hidrografia e Navegação da Marinha.
Outras evidências foram levantadas pelos jornais da época. Em uma reportagem do jornal Folha da Tarde de 25 de fevereiro de 1958, o repórter conseguiu entrevistar os tripulantes do navio, assim que eles voltaram da ilha e atracaram em Santos (SP). Relatou que “várias confirmações de tripulantes do Almirante Saldanha, a propósito do aparecimento do objeto foram feitas à reportagem, e muitos deles se dizem testemunhas oculares da ocorrência. […] Um sargento com quem palestramos disse-nos que faziam três dias que o estranho objeto vinha sobrevoando a ilha, entre 10h00 e 11h30. Surgindo sobre o pico da Crista do Galo, evoluindo em várias direções, até buscar a linha do horizonte,
onde desaparecia, para, segundos após, retornar a sua posição anterior sobre a ilha. As notícias do aparecimento do objeto chegaram a bordo vindas da ilha desde que o Almirante Saldanha ali aportou. Os habitantes, inclusive autoridades, confirmaram a passagem do objeto, por várias vezes, nos três dias anteriores ao da chegada do navio-escola”.
Valmir Araújo não soube precisar a data exata do avistamento do seu tio, mas é muito possível que tenha se dado nesses dias relatados pelo sargento, acima. Depois de mais de 50 anos das fotografias registradas no local, quase nenhum nome das testemunhas restou para a posteridade. Em nossa pesquisa, contamos agora com o nome de doze tripulantes do navio, entre civis e militares, entre os que viram e não viram a passagem do UFO. Essa falta serviu de alimento para novas críticas ao caso, já que nos registros históricos seriam exatamente quatro vezes isso ou mesmo centenas de testemunhas. Ocorre que, muito provavelmente, a própria Marinha não registrou o nome de todas elas e perderam-se no tempo. Por isso, a importância de se obter a maior quantidade de depoimentos, mesmo daquelas pessoas que não presenciaram ao vivo o UFO das fotos. Muito importante, também, são as testemunhas de ocorrências nos dias anteriores e seguintes, como de João Bispo, que agora informamos, pois compõem e fortalecem todo o cenário de manifestações ufológicas naqueles meses.
Quando o pesquisador, ufólogo e consultor da Revista UFO Alexandre de Carvalho Borges consultou, em 2002, ao Departamento de História Marítima e Naval da Marinha, solicitou nomes da tripulação do navio-escola Almirante Saldanha do ano de 1958 e recebeu resposta negativa. O capitão de corveta e chefe do departamento, Mônica Hartz O. Moitrel, respondeu afirmando que lamentava “participar a vossa que, apesar dos esforços envidados, não foi possível levantar a tripulação do navio Almirante Saldanha no ano de 1958. Contudo podemos informar que neste ano o Almirante Saldanha foi comandado por três oficiais, a saber: CMG José Santos de Saldanha da Gama – 25/07/1957 à 27/05/1958, CMG Waldeck Lisboa Vampré – 27/05/1958 à 10/12/1958 e CF Epaminondas Branco Magoulas (interino) – 10/12/1958 à 3/02/1959”.
Os esforços em busca de mais testemunhos e evidências continuam e, a qualquer momento, surgirão certamente mais informações.
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