A Ufologia é uma área de estudos tão rica e há tantos casos desconhecidos aguardando investigação que mesmo quando novas ocorrências parecem estar diminuindo os pesquisadores encontram episódios inéditos ou apenas conhecidos regionalmente para estudar. As mudanças geopolíticas e as transformações culturais das sociedades, que à primeira vista não parecem ter qualquer influência sobre a Ufologia, muitas vezes são as responsáveis por enterrar casos expressivos, que jamais chegam ao conhecimento dos pesquisadores.
Um complicador da pesquisa de casos passados está no fato óbvio de que, conforme o tempo passa, as testemunhas se tornam mais difíceis de ser encontradas — porque as pessoas falecem, se mudam ou simplesmente acabam se esquecendo dos acontecimentos. Quem viu um UFO normalmente nunca mais se esquece disso, mas outras testemunhas periféricas ou secundárias, que dão suporte às alegações, tendem a perder lembrança das coisas.
Neste artigo iremos analisar um desses episódios do passado, acontecido na década de 50 na localidade de Petare, na Venezuela. Para conhecer melhor o Caso Petare e levantar o incidente ocorrido há mais de 60 anos, em 2015 a equipe do programa Quarto Milênio, transmitido pelo canal espanhol El Mundo, partiu para o país. Faziam parte da equipe, além deste autor, o arqueólogo e amigo Pablo Nóvoa Álvarez, o ufólogo e parapsicólogo Fernando Magdalena, o jornalista venezuelano Héctor Escalante e o operador de câmeras José Alberto Gómez.
Um caso espantoso
Petare é uma das localidades mais perigosas da Venezuela. Roubos, assassinatos, sequestros e todo o tipo de violência estão na ordem do dia naquele lugar. Mas, em 1954, quando dois transportadores viveram um dos episódios mais estranhos da história da Ufologia, a vila era muito mais tranquila. Na madrugada de 29 de novembro, os entregadores — o cubano Gustavo González e seu ajudante, o venezuelano natural de Caracas José Ponce — estavam estacionando seu pequeno caminhão na porta da antiga Indústria Nacional de Embutidos Schefer para carregá-lo de mercadorias, como costumavam fazer todas as noites.
Repentinamente, a Rua Buena Vista, onde se localizava a empresa, que estava completamente escura, foi iluminada como se fosse dia claro. González parou o veículo, os dois homens desceram e, já fora do caminhão, puderam ver que a fonte daquela luz era um objeto esférico que pairava à pouca altitude no meio da rua. Impressionados, viram uma criatura peluda e parecida com um macaco aproximar-se deles — mas vestindo um capacete redondo que permitia às testemunhas ver dois pequenos olhos brilhantes.
Quase instintivamente, González avançou em direção ao pequeno monstro e o agarrou com força, na intenção de capturá-lo e prendê-lo no caminhão, enquanto seu colega voltava para dentro do veículo. O homem e a criatura desconhecida lutaram durante alguns segundos, mas o estranho conseguiu escapar pulando como um gato e afastou-se de seu agressor. Em seguida, a criatura pulou sobre o homem que, naquele momento, sacou uma faca e tentou alvejá-la. A arma resvalou no torso peludo e duro como aço do desconhecido. De repente, de dentro da bola metálica que flutuava no meio da rua pularam duas criaturas semelhantes à primeira, que se aproximaram da luta, possivelmente para ajudar o companheiro em dificuldade.
Aterrorizado e estático
Naquele momento, o carregador cubano percebeu a loucura que havia feito. Além disso, a criatura que havia tentado capturar tinha garras afiadas em cada um de seus quatro dedos, com as quais poderia facilmente rasgar-lhe a carne. Enquanto isso, José Ponce que permanecia aterrorizado e estático sentado no banco do carona, resolveu sair do caminhão. Foi quando viu uma quarta criatura que subia correndo uma encosta, carregando entre suas mãos um punhado de terra. O ser foi até a esfera brilhante e deu um pulo de quase dois metros, como se fosse um felino, entrando por uma abertura na parte superior da nave.
Todos os pequenos desconhecidos haviam, então, se refugiado dentro do UFO. Poucos segundo depois, uma das criaturas apontou um tubo longo e brilhante em direção aos dois homens. Gustavo González e José Ponce sentiram uma vibração estremecer seus corpos e, imediatamente, ficaram paralisados. E foi assim que viram a entidade desaparecer no interior da porta da esfera e, em seguida, o objeto elevar-se no céu noturno e desaparecer ao longe, sob a forma de uma estrela muito brilhante.
Ponce e González saíram correndo e chegaram à Inspetoria de Trânsito da vila, localizada na mesma rua, onde foi registrado o desconcertante acontecimento. Logo após tomar um gole de água e recuperar as energias, González contou aos fiscais de plantão, Manuel Moreno e E. Dominguez, o que havia acontecido com eles. Os policiais afirmaram que as testemunhas chegaram às 02h30, que insistiram que não estavam bêbados e que não haviam sido vítimas de uma confusão mental. “Sua fala era correta e sua narrativa, mesmo que assombrosa, estava cheia de detalhes que pareciam reais pelo luxo de detalhes que apresentavam”, dizia o relatório.
Receber assistência médica
Mais tarde chegou o major Jesus Antonio Yanes, que ficou surpreso com o que acontecera com os dois homens. Durante as investigações, os policiais conversaram com Antonio Cherchi, gerente da salsicharia Schefer e chefe dos dois entregadores. Cherchi afirmou que os empregados eram, aparentemente, pessoas sérias e trabalhadores pontuais, que chegavam todos os dias às 02h00 para retirar os produtos e que não havia qualquer reclamação em relação a eles.
Em busca de testemunhas
Após registrarem seu boletim de ocorrência, González foi levado ao Posto de Emergência Central para receber assistência médica. O corpo clínico que o atendeu percebeu que a vítima se encontrava em estado de grande nervosismo. Além disso, o homem sentia fortes dores e possuía algumas contusões simples no lado esquerdo do corpo. Ele foi submetido a exames radiológicos que descartaram fraturas, mas registraram uma contratura muscular. No dia seguinte, a história ganhou as páginas da imprensa de Caracas, especialmente através do jornal El Universal e em breve deu a volta ao mundo, imortalizando o acontecimento.
Como dissemos, atualmente a vila é muito diferente e muito mais perigosa do que aquela de 1954 — para que o leitor tenha uma ideia da violência que tomou conta do local, apenas em 2015 o local contava com 400 assassinatos. Petare, localizada na região met
ropolitana de Caracas, tem 700 mil habitantes, muitos dos quais vivem em barracos ou cabanas onde até a polícia tem medo de entrar.
Quando chegamos, entramos em um bar próximo à Rua Buena Vista, palco dos acontecimentos e, escondendo a câmera sob a mesa, perguntamos ao dono do bar a respeito do caso, mas ele nada sabia a respeito. Como precisávamos esperar a chegada de um jornalista local, este autor decidiu passear pela rua. Após algum tempo, encontrei alguns senhores que jogavam dominó em uma calçada. Depois de algumas amenidades, lhes contei quem éramos e o que estávamos fazendo ali. Em seguida, mostramos a eles algumas fotos e reproduções da imprensa de 1954. “Sim, conheço essa história. Aquela coisa pousou aqui na rua. Além disso conheço as pessoas que moravam aqui naquela época e que podem lhe ajudar”, disse Antonio Valderrama, um homem que passara dos 60 anos.
Assim que ele fez aquela revelação, voltamos para o bar, ligamos para o jornalista Héctor Escalante e, em seguida, Valderrama nos levou à casa de uma vizinha, cuja tia havia visto o UFO decolar. A testemunha, Maria Antonia Avellaneda, já havia falecido, mas a sua sobrinha-neta, Irama Aranaga, se lembrava perfeitamente do acontecido. Ela nos convidou para entrar em sua casa que fica exatamente em frente à antiga salsicharia Schefer, hoje já fechada.
“Minha tia avó dizia que viu uma esfera luminosa pousada aqui, nesta esquina, e que o objeto deixou uma marca escura no chão, como de terra queimada. Naquela época a rua não era asfaltada”, nos contou Irama. Enquanto lhe mostrávamos os desenhos do caso, ela nos confirmava que havia ouvido de antigos vizinhos, a maioria falecidos, sobre a misteriosa incursão noturna de um UFO bem em frente à sua casa. Além disso, também nos mostrou o local aproximado do pouso da esfera luminosa.
“Coisas estranhas no céu”
Procurando nas matérias de imprensa da época, encontramos o testemunho de Maria Antonia Avellaneda na edição de 29 de novembro do jornal El Universal. Segundo o periódico, “outras pessoas testemunharam que viram ou ouviram algo na Rua Buena Vista. Entre elas, a senhorita Maria Antonieta Avellaneda disse estar acordada entre 01h00 e 02h00, hora indicada do acontecimento, e que pôde perceber ‘algo como uma detonação e um silvo ziguezagueante’, mas não deu importância por estar preparando um medicamento para uma criança doente de sua casa”.
Uma outra moradora da Rua Buena Vista que também conhecia a história foi a senhora Luisa Vizcarrondo, de 86 anos, a viúva de um médico outrora muito conhecido em Petare. “Lembro perfeitamente da história. Eles queriam enfiar aquele animalzinho na caminhonete, mas não conseguiram, pois era muito forte e escorregou quando tentaram pegá-lo”, disse ela. Segundo a velha senhora, “o aparelho de onde veio a criatura ficou aqui, naquela esquina, parado um longo tempo. Depois levantou voo e desapareceu. Todos os vizinhos viram que o chão ficou queimado”. Quando perguntamos à Luisa se ela vira mais alguma coisa, nos contou que “naquela época viam-se coisas estranhas no céu. Uma tia do meu marido ia por uma estrada perto de Petare, e parou porque havia muitas pessoas olhando para o céu. Ela desceu do carro e viu um disco voador”.
Depois de entrevista com a idosa, fomos levados por um vizinho à casa da senhora Maria Andrea Pérez, que também morava no bairro em 1954. “Sim, me lembro da história dos dois senhores que trabalhavam na salsicharia. Se falou muito sobre o assunto, sobre uns homenzinhos briguentos e um disco voador que pousou na Rua Buena Vista”, lembrou a anciã. Já Domingo Antonio Chirinos, um jornalista da localidade, nos disse que “Petare era naqueles tempos uma região muito tranquila. Acredito que aqueles seres peludos desceram aqui porque era um local onde podiam fazer suas pesquisas sem que ninguém os incomodasse. Mas deram de cara com dois trabalhadores da fábrica de embutidos. A verdade é que os dois foram muito corajosos, muito valentes, em especial o cubano que tentou pegar o homenzinho peludo”.
Fato insólito, mas verdadeiro
Outra testemunha que encontramos foi Marileiva Jugo, advogada e líder comunitária em Petare. Ela nos confessou que fora amiga de Gustavo González, o transportador cubano protagonista da insólita briga com o extraterrestre. “Ele trabalhou na fábrica Schefer e era uma pessoa muito querida na comunidade. Eu moro há 45 anos em Petare e posso dar fé de que o que aconteceu naquele dia foi real. Muitos pensaram que González estava mal da cabeça, mas ele era perfeitamente normal. Ele sempre contava a mesma história, não mudava nem uma vírgula sobre o que ele e seu parceiro vivenciaram”, contou Marileiva. Quando perguntamos se González ainda estava vivo, a advogada nos informou que infelizmente ele falecera há dois anos. “Morreu jurando, de pés juntos, que tudo o que ele disse era verdade”, nos garantiu ela.
Vários livros e enciclopédias passaram a incluir a incrível história dos dois transportadores de Petare e sua luta com os ocupantes de uma esfera voadora. Horácio González Ganteaume foi um dos primeiros a publicar uma nota em Los Platillos Voladores Sobre Venezuela [Discos Voadores sobre a Venezuela, Editorial Caracas, 1961], e logo em seguida Aniceto Lugo fez o mesmo em seu livro Los Visitantes del Espacio [Visitantes do Espaço, Editorial Orion, 1976].
Mesmo 60 após os acontecimentos, nós tivemos a sorte de encontrar algumas pessoas que nos confirmaram aquela insólita história. Caminhando pela Rua Buena Vista, a encontramos deserta, à exceção de um vendedor de sorvetes que passou rapidamente. Às nossas costas havia um morro coberto de barracos e, à nossa esquerda, um ônibus desmantelado estacionado mostrava, em sua lataria, uns grafites com o onipresente Simon Bolívar e uma frase lapidária “A revolução é educação”. Este autor acrescentaria: “É nosso dever recordar, não esquecer”.
Droga da verdade
Por que aqueles seres meio humanos, meio animais, decidiram escolher o bairro de Petare para incursionar? Para a veterana ufóloga de Caracas Martha Rosenthal, os seres foram até lá para recolher amostras, como, por exemplo, da terra que um deles levava entre as mãos, mas toparam com os dois humanos. “Infelizmente, González, talvez por medo do desconhecido, agrediu a criatura e quis levá-la para dentro da caminhonete. Os seres só o paralisaram com uma arma de raios. Se quisessem, poderiam tê-lo matado, mas não o fizeram”, disse Martha.
Um membro venezuelano da então existente Sociedade Pesquisadora de Discos Voadores, da cidade de Nova York, chamado José González Waite, propôs que Gustavo González fosse hipnotizado para confirmar a veracidade do fantástico encontro e, também, que lhe fosse aplicada a droga da verdade, o te
mido sódio pentotal — González, obviamente, recusou a proposta.
O que aconteceu em Petare não foi um fato isolado. Naqueles dias o arcebispo de Zulia, monsenhor Sérgio Godoy, afirmara ter presenciado o voo de estranhos objetos luminosos. Segundo suas declarações, ele e outras testemunhas viram, naquelas noites, um corpo que voava lentamente emitindo faíscas de cor roxa. Monsenhor Godoy pôde observar em outra oportunidade e em plena luz do dia, na companhia de uma professora, a presença inusitada de um UFO luminoso que girava muito rápido sobre seu próprio eixo, atravessando o céu velozmente e deixando atrás de si uma larga faixa de fumaça.