
Repleto de montanhas, cavernas, lendas e mistérios, o estado onde nasce o Rio São Francisco parece ter alguma coisa a mais: discos voadores. A casuística do local surpreende pelo número de avistamentos e de casos famosos. Algumas regiões de Minas Gerais, como a Zona da Mata e o Triângulo Mineiro, por exemplo, têm a maior incidência do fenômeno, porém o sul do estado também contribui com casos de avistamentos notáveis, que muitas vezes são traduzidos como manifestações folclóricas ou religiosas pela população. Nas décadas de 60 e 70, bem antes das famosas mutilações de animais, o sul de Minas já lidava com a misteriosa morte de galinhas e de gado, embora na época ninguém soubesse do que se tratava.
Há também algumas cidades mineiras, como São Lourenço, que são recheadas de mistérios, sociedades secretas e monumentos iniciáticos desconhecidos. E, claro, não podemos esquecer de Varginha, onde ocorreu um dos mais famosos casos da Ufologia Mundial. Temos ainda Ouro Preto, município encravado entre as Alterosas, que é palco de inúmeros avistamentos, assim como as cidades históricas de Sabará, Mariana e São João del Rei, cujas lendas trazidas pelos escravos se misturam ao que hoje chamamos de manifestações ufológicas. No norte do estado, Teófilo Otoni e Governador Valadares, situadas em uma região de pedras preciosas e semipreciosas, também têm inúmeros casos de avistamentos, assim como a região de Diamantina, encravada no coração do estado.
Há mistérios em Minas cujas razões vão além de nossa compreensão, e mesmo com toda pesquisa ufológica feita no estado ainda estamos longe de conseguir respostas satisfatórias para as luzes coloridas que vagueiam por seus céus. O caso de que trata este artigo ocorreu no ano 2000 e foi atualizado em 2014, confirma a presença constante de alienígenas no estado e também nos mostra os muitos aspectos de um mesmo fenômeno, nem todos ligados à fenomenologia ufológica. A participação do ser humano e suas respostas aos fatos ufológicos também precisam ser matéria dos estudos.
Casos mineiros famosos
Muitos conhecidos acontecimentos da Ufologia Brasileira e Mundial saíram do solo mineiro. Um deles, talvez tão emblemático quanto o Caso Varginha, é o Caso Villas Boas, marcado para sempre na história como um dos mais extraordinários de todos os tempos. O fato ocorreu em 1957 em uma fazenda próxima da cidade de São Francisco de Sales, no sul do estado e bem perto da cidade de Iturama, onde se deu o episódio tema deste artigo. Hoje São Francisco conta com aproximadamente 6.000 habitantes, mas, em 1957, talvez tivesse menos da metade disso e com certeza estava longe da influência que sofrem os grandes centros, que então fervilhavam com as matérias sobre discos voadores em jornais e revistas. Em outubro daquele ano, Antonio Villas Boas teve vários avistamentos de uma enorme luz redonda, um deles na companhia de seu irmão. Mas foi em 15 de outubro que ocorreu o impressionante contato que deu origem ao caso, quando o rapaz trabalhava de madrugada com seu trator na fazenda.
Villas Boas foi levado por três criaturas para dentro de um disco voador que estava parado a alguns metros do solo. No interior do UFO, seus abdutores coletaram amostras de sangue e o despiram. Ele foi então movido a um quarto onde teve relações sexuais com um ser extraterrestre do sexo feminino e sentiu enorme e inexplicável prazer no ato — segundo seu relato, a alienígena ainda coletou seu sêmen e o guardou em um recipiente, indo embora sem dizer uma só palavra, apenas gesticulando e apontando para o céu. Logo após isso, Villas Boas foi levado por seus raptores a um minucioso passeio pela nave e deixado às 05h30 em sua fazenda, no exato local onde fora abduzido.
Outro caso semelhante ocorreu décadas depois na cidade de Mirassol, no norte do estado de São Paulo, mas bem perto do território mineiro, em 28 de junho de 1979. Ele também envolve o relacionamento sexual entre espécies. Na época, Antonio Carlos Ferreira tinha 21 anos e trabalhava como guarda noturno quando foi abordado e carregado por seres de outro planeta. Dentro da nave ele foi levado para uma sala e colocado em um divã ao lado de uma extraterrestre nua que, segundo Ferreira, tinha hálito desagradável, péssima aparência e em momento algum dirigiu a palavra a ele.
Ainda segundo seu relato, obtido sob hipnose regressiva realizada pelo investigador Ney Matiel Pires, já falecido, ele tentou evitar contato com a alienígena, mas os seres que estavam à sua volta lhe aplicaram uma injeção que o fez perder o controle sobre si. Assim, em seguida, aparentemente sob comando mental dos abdutores, Ferreira manteve relações com a repugnante criatura que, descobriu-se depois, gerou uma criança do sexo masculino. Após essa experiência, o vigia ainda teve outros contatos com alienígenas, sendo raptado mais de 20 vezes nos anos seguintes, boa parte dos casos acompanhados por Pires e pelo ufólogo Walter Bühler, da Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voadores (SBEDV), pioneiro da Ufologia Brasileira, igualmente falecido.
Vamos agora analisar o episódio que motiva este texto, o chamado Caso Caiana. Em dezembro do ano 2000, a região sul do Triângulo Mineiro voltou ao noticiário nacional com mais um acontecimento espetacular de sequestro por extraterrestres. Já próximo da divisa com o estado de Mato Grosso do Sul, na pequena cidade mineira de Iturama, ocorreu um incrível caso de abdução envolvendo uma família inteira. Segundo as primeiras informações que recebemos, em 13 de dezembro de 2000, um grupo de cinco pessoas viajava durante a noite por uma estrada de terra, distante 15 km da cidade, quando teve uma experiência inesquecível.
No carro estavam o motorista, João Joaquim da Silva, conhecido por João Caiana, sua esposa Rosa Martins, a filha Magui Aparecida Martins, a neta de quatro anos Lavínia e uma amiga adolescente de Magui. Em dado momento, todos avistaram estranhas luzes coloridas no céu, bastante intensas, que seguiram o Fusca por cerca de 3 km, pelo lado direito da estrada. Em seguida, todos do grupo, inclusive o veículo, foram levados para dentro de uma nave extraterrestre, onde tiveram contato com seus tripulantes. Após a impactante experiência, as vítimas, bastante assustadas, foram ao hospital da cidade em busca de ajuda. Esse é o resumo de um episódio que se revelaria fantástico. De posse dessas informações e juntamente com o ufólogo José Eduardo Coutinho Maia, de Uberaba, o pesquisador Paulo Nogueira, o primeiro a investigar o caso, foi até Iturama apurar os fatos. O
município tinha, na época, 30.000 habitantes e sua base econômica era, como ainda é, a pecuária e a agricultura. Vejamos a seguir a narrativa da investigação feita por Nogueira.
Um prato em cima do outro
O primeiro movimento dos pesquisadores ao chegarem a Iturama foi procurar o hospital municipal no intuito de obter informações sobre uma família atendida em 13 de dezembro, por volta das 23h00, pois ainda não se conhecia a identidade das testemunhas. Lá, algumas enfermeiras e um atendente se dispuseram a falar sobre o assunto e uma delas mostrou o boletim médico dos Caiana aos pesquisadores, que só então conheceram o nome dos supostos abduzidos — o prontuário hospitalar não apontava nada de grave, apenas que naquela madrugada todos os membros da família estavam muito tensos.
Enquanto estavam no local os pesquisadores conheceram um policial que os informou onde encontrar João Caiana, o motorista do fusca, que vivia em um bairro humilde e trabalhava como eletricista. No momento em que chegaram à residência da família, o marido não estava e sua esposa, mais conhecida por Rosa Caiana entre os moradores, pediu para que aguardassem a chegada do homem. Os pesquisadores, entretanto, começaram a conversar com ela e conseguiram que Rosa contasse a eles alguma coisa sobre o avistamento.
Ela, naturalmente, ainda sentia medo ao se lembrar da história, mas confirmou ter sido abduzida juntamente com os demais passageiros do carro, embora preferisse que o marido fornecesse os detalhes. Quando chegou, João Caiana passou a descrever o ocorrido e inicialmente sentiu-se desconfortável com a presença da equipe de investigadores, mas, mesmo assim, todo o seu relato foi registrado em vídeo. Segundo seu depoimento, por volta das 22h00 do dia 13 de dezembro ele dirigia seu fusca por uma área rural, levando como passageiros a esposa, a filha, a netinha e uma amiga da família. Todos voltavam da fazenda de um amigo, onde tinham ido buscar jabuticabas para fazer licor.
Poucos minutos depois de surgirem as luzes, o interior do fusca começou a esquentar, até chegar a um ponto em que todos começaram a suar. A pequena Lavínia, neta de Caiana, brincou olhando para as luzes: ‘Vem nenê, vem dormir comigo’. Começou a abdução
A noite estava muito escura quando, de repente, Magui avistou diferentes luzes em um ponto do céu, próximo a um morro. À medida que o veículo trafegava, as luzes o acompanhavam até que em certo momento pararam à cerca de 100 ou 150 m do automóvel. Pela posição em que estava, Caiana tinha visão limitada do objeto e disse à filha que achava se tratar de um avião, mas a garota disse que não porque “as luzes saíam por baixo e eram muito fortes. Parecia uma nave”, segundo seu depoimento.
Poucos minutos depois, o interior do fusca começou a esquentar, até chegar a um ponto em que todos começaram a suar. A pequena Lavínia, neta de Caiana, brincou olhando para as luzes: “Vem nenê, vem dormir comigo”. Foi nesse momento que todos viram um ser de cor cinza-claro, magro, com cabeça angular e sem orelhas, nariz fino e olhos grandes se aproximar do veículo.
A incrível abdução
João Caiana colocou a mão para fora, tentando puxar o quebra-vento do carro, mas seu corpo não o obedecia. Em seguida, ele sentiu uma leve fisgada “no meio da cabeça”, segundo descreveu, e notou que sua pele se enrugava toda. Rosa Caiana sentiu dificuldades para falar, pois sua língua estava totalmente dormente, e a menina dizia estar vendo “um prato em cima de outro”. Com tudo isso acontecendo, a amiga da família, tão apavorada quanto os demais, gritava por socorro. Nesse instante, Magui desmaiou, antes pedindo para que não a deixassem morrer. “Senti que o carro havia subido aproximadamente 100 m de altura. Após isso não vi mais nada e daí todos que estavam no veículo perderam os sentidos”, contou Caiana. Ele relatou acreditar que o veículo, apesar de ter flutuado, não tenha sido levado para dentro do objeto, apenas seus ocupantes. O eletricista afirmou também ter conversado telepaticamente com tripulantes da nave: “Bastava eu pensar em algo que eles me respondiam e vice-versa”. E continuou: “Tenho certeza disso e creio ter saído de nosso planeta, pois em certo momento de minha lucidez cheguei a ver que estávamos em um lugar muito diferente. Segundos depois, desmaiei de novo”.
Segundo Nogueira descobriu, a família ficou aproximadamente 40 minutos em poder dos raptores e durante todo esse tempo os Caiana sentiram cheiro de gás de geladeira no ambiente — esse tipo de relato não é incomum nas experiências de abdução e há vários casos relatados em que as testemunhas dizem ter sentido o mesmo odor. Caiana relatou aos pesquisadores que foram feitas várias marcas em seus braços, costas e pescoço, inclusive em sua netinha. “Tenho certeza de que eles tiraram sangue de nós”, afirmou.
Os investigadores puderam confirmar as marcas nos corpos das vítimas, que pareciam ter sido feitas por uma agulha um pouco mais grossa do que as habitualmente utilizadas em exames laboratoriais. O que Nogueira e seu colega acharam realmente intrigante é que, mesmo tendo passado dois meses da ocorrência, quando foram examinadas, as marcas ainda estavam lá, apresentando também manchas avermelhadas em volta. A família não se lembrava de ter visto os extraterrestres carregarem algum tipo de aparelho ou seringa nas mãos — o mais provável é que a retirada de sangue tenha sido feita enquanto estavam todos desmaiados.
“Quem é nosso Deus?”
Caiana declarou, também, que quando voltou para seu carro, já refeito do susto, mas um pouco confuso, tentou saber mais sobre os extraterrestres dialogando com eles que, aparentemente, teriam acompanhado a devolução da família à estrada. De acordo com a literatura ufológica das últimas décadas, é raro os abdutores escoltarem as vítimas de volta — normalmente as pessoas despertam de repente, sem saber direito o que lhes aconteceu. De qualquer forma, a testemunha disse aos pesquisadores que perguntou aos seres se o nosso Deus era o mesmo e a resposta foi surpreendentemente afirmativa.
A conversa telepática durou pouco, mas o suficiente para falarem sobre as doenças humanas, especialmente a AIDS. Sobre isso, os alienígenas afirmaram que a descoberta para sua cura iria demorar um pouco para ocorrer, mas que o câncer teria o seu tratamento desenvolvido brevemente, o que sabemos, não aconteceu. O carro, que teria ficado quase uma hora abandonado na estrada, não foi roubado e nem sofreu qualquer dano em sua lataria. Nos dias que se sucederam ao avistamento, porém, apresentou sérios defeitos
mecânicos e elétricos.
Uma experiência válida
Conforme a testemunha declarou aos pesquisadores, após o diálogo os seres foram embora e a família seguiu rapidamente rumo a Iturama. Ao chegar à cidade, já passando das 23h00, Caiana levou todos diretamente para o hospital municipal, onde foram atendidos. Os funcionários do local disseram que eles chegaram contando a mesma história, incluindo a criança, que foi ouvida pelo médico longe dos pais e confirmou tudo o que os outros disseram. O eletricista afirmou, ainda, que naquela noite ele e sua família não conseguiram dormir. “Parecia que estávamos elétricos”. A família ficou agitada por vários dias, até que a diretora da escola onde Rosa Caiana trabalhava ofereceu a ajuda do parapsicólogo Oswaldo José David, residente em São Paulo, fato que todos aceitaram imediatamente.
Quanto ao carro, Caiana disse a Nogueira que “não pegava na partida e as placas da bateria colaram. Rodei o dia todo com uma escada no capô, por esquecimento, e ela não caiu em momento algum”. E complementou: “Às vezes os faróis acendiam sem eu ligar”. Já o tratamento com o parapsicólogo deu resultado. “Foi a nossa salvação. Tudo foi feito minuciosamente pelo terapeuta, que levou os exames para seu estado. Estamos esperando sua volta para nos relatar tudo o que aconteceu durante a regressão e os exames radiológicos realizados no hospital”, lembrou o eletricista.
‘Um dos tripulantes, provavelmente o mais experiente e mais velho, que sempre dava ordens aos outros dois, me disse que era cientista e que fazia experiências genéticas com humanos, mas sem prejudicá-los’, declarou o abduzido mineiro
Segundo os ETs teriam dito a Caiana, ele e sua família ainda seriam visitados mais duas vezes nos próximos sete anos. “Eles irão nos monitorar durante esse período, porém não temos mais medo. Foram amigos que ganhamos e vou com eles para onde desejarem e no momento que quiserem”, afirmou aos pesquisadores. Para a família abduzida, não há porque temê-los. Magui, por exemplo, acredita que verá os extraterrestres em outras oportunidades e sua mãe pede para contatá-los novamente — ambas dizem ainda que estão à sua disposição para qualquer tipo de pesquisas. “Foi uma experiência válida. No início de tudo estávamos com muito medo, mas depois fomos nos acostumando e entendemos porque nos escolheram”, garantiu o eletricista, sem relevar aos pesquisadores qual seria essa razão. “Isso somente nós sabemos”.
João Caiana acredita que sabe até de onde provêm os seres que raptaram sua família — eles seriam de um planeta que orbita uma estrela da Constelação de Órion. “Um dos tripulantes, provavelmente o mais experiente e mais velho, que sempre dava ordens aos outros dois, me disse que era cientista e que fazia experiências genéticas com humanos, mas sem prejudicá-los”, narrou.
Luzes com hora marcada
Outras pessoas residentes na cidade também viram UFOs no mesmo local em que a família Caiana foi abduzida. Elas foram levadas pelo próprio eletricista ao local exato da experiência, 40 dias após sua abdução, e puderam observar, por várias vezes, intensas luzes coloridas em formato de prato, girando de um lado para outro. “A cidade toda comentou o assunto. Alguns não acreditam e chegaram a dizer que era obra do demônio ou coisa parecida”, desabafou o abduzido. Mas grande parte da população, ao contrário, foi à residência da família Caiana para ouvir sua história. Na prefeitura local, os pesquisadores ouviram o funcionário Ronaldo Carvalho, que acreditava que a abdução devia ser pesquisada. “Conheço João Caiana e tanto eu quanto o prefeito acreditamos em seu relato. Ele é um homem trabalhador, que não bebe e nem tem outros vícios”.
Carvalho complementou que a prefeitura não tinha feito qualquer investigação sobre a ocorrência, mas que daria apoio a todos os interessados em realizar pesquisas sérias no local. Na época, o caso da família Caiana foi divulgado apenas pela imprensa do Triângulo Mineiro. João Caiana, que foi candidato a vereador no pleito que se seguiu a sua experiência, preferiu não divulgá-lo em nível nacional, porque ainda aguardava o resultado de seus exames. Ele achava ser necessário ter algo para provar sua história, como exames que atestassem qualquer irregularidade médica com os membros de sua família.
O citado parapsicólogo Oswaldo José David, apesar de não se interessar por Ufologia nem pesquisar ocorrências do gênero, confirmou a Nogueira ter havido contato entre a família Caiana e seres desconhecidos naquela data. David não afirmou que se tratava de extraterrestres, mas garantiu que não podiam ser associados a qualquer coisa já vista antes. Ele forneceu os raios-X realizados na cabeça dos abduzidos — nos quais, no entanto, nenhuma anomalia foi constatada. A equipe de pesquisadores fez mais duas visitas a Iturama para acompanhar o caso e poder continuar a estudá-lo. João Caiana, que estava em contato constante com os estudiosos, dizia ver frequentemente estranhas luzes em cima de sua casa, o que acontecia sempre entre a meia-noite e 02h00.
A ação do GAACC
Em 2013, a Revista UFO lançou, de forma inédita no Brasil, o Grupo de Apoio ao Avanço da Consciência Cósmica (GAACC), cujos objetivos incluem, dentre vários itens, a qualificação de pesquisadores, o treinamento em técnicas de pesquisa de campo, a realização de viagens para pesquisa de novos casos e a revitalização da memória ufológica nacional, além da revisitação de antigos casos. A importância de tal iniciativa que, por meio da captação de recursos doados voluntariamente, permite que as pesquisas avancem, é imensa. Muitos casos aconteceram em épocas em que a tecnologia investigativa era bem mais limitada do que a atual. Hoje, possuímos meios de medição, aparelhagem técnica e facilidade de aceso a dados seriam impensáveis uma ou duas décadas atrás, mas ainda permanecia o problema da falta de recursos — sanada em boa parte com a implantação da iniciativa [Veja box].
Também o conhecimento do que acontece em outras partes do mundo, proporcionado pela popularização e facilidade de acesso à internet, abriu novas fronteiras para quem atua na área. Hoje é poss&
iacute;vel se comparar avistamentos, relatos e dados com apenas um clique de mouse, além de se poder analisar muito mais facilmente fotos e vídeos. Claro que toda essa facilidade trouxe consigo uma maior oportunidade para fraudes e popularizou testemunhos e acontecimentos mentirosos, mas, mesmo assim, em termos de pesquisa, todo esse avanço tecnológico é extremamente benéfico. E com isso em mente, nasceu o GAACC, que atuou positivamente no Caso Caiana.
Dos vários projetos já financiados pela iniciativa, que incluem alguns ainda em andamento e outros em análise, a revisitação da abdução alienígena da família Caiana foi um dos primeiros a ser levado a cabo. A revisitação do caso com recursos do GAACC foi feita pelo pesquisador Paulo Baraky Werner, do Centro de Investigações e Pesquisas de Fenômenos Aéreos Não Identificados (Cipfani), e por Roalem de Oliveira, que atuou como apoio, motorista e cinegrafista. Werner atua na área desde 1991 e por dez anos editou e publicou o informativo UFONews, no qual veiculava pesquisas exclusivas, feitas em território mineiro. Ele e Oliveira visitaram Iturama em novembro de 2013, quando reentrevistaram as testemunhas e visitaram novamente o local dos supostos acontecimentos.
Síndrome do contatado
As pesquisas de Werner, conforme veremos a seguir em seu relatório, indicaram algo que em Ufologia chamamos de “síndrome do contatado”. Isso é expresso pelo comportamento de pessoas que alegam ter sido abduzidas ou terem tido algum tipo de contato com alienígenas e que se veem, de uma hora para outra, como o centro das atenções dos ufólogos e da mídia. São entrevistadas, examinadas, dão depoimentos e muitas vezes aparecem em jornais, revistas e emissoras de televisão. Uma vez pesquisado o caso, as testemunhas são deixadas em paz e o movimento em torno delas cessa — é justamente aí que a síndrome se manifesta, pois a pessoa não quer ser esquecida.
Em muitos casos, há aproximação de grupos e seitas esotéricas que acabam por convencer a testemunha de que ela é uma “pessoa especial”, de alguma forma “tocada pelo divino” — mesmo que este divino a tenha sequestrado, examinado ou a tenha virado do avesso. E o abduzido se deixa levar, porque é uma forma de manter a atenção sobre si, o que nem sempre ocorre com malícia ou por oportunismo dele, mas por genuíno interesse ou necessidade de permanecer em contato com pessoas que antes lhe eram próximas, como os próprios pesquisadores. A psicologia explica isso e não vamos entrar por este caminho. A intenção aqui é apenas mostrar ao leitor do que se trata este comportamento para que ele possa compreender as observações feitas no relatório de Werner ao Grupo de Apoio ao Avanço da Consciência Cósmica (GAACC).
Esse tipo de situação, embora acalente o espírito do abduzido honesto — ou alimente o ego do abduzido desonesto —, infelizmente é explorado por grupos esotéricos mal fundamentados, o que é extremamente prejudicial à pesquisa ufológica, uma vez que, com o passar do tempo, fatos concretos se confundem com ficção e distorções e se torna muito difícil separar as coisas. É compreensível que alguém que pensa ter sido vítima de uma abdução se sinta violado e assustado diante dos acontecimentos. E é também compreensível que toda a atenção inicial que é recebida sirva como algum tipo de mecanismo de compensação psicológica. Porém, em muitos casos, a vitimização torna a testemunha presa fácil dos mal intencionados — ou torna a ela mesma mal intencionada, o que é muito pior.
Atualizando o caso
É importante observar que a revisitação de um caso não visa, a princípio, confirmar ou negar o que quer que seja, mas apenas lançar um novo olhar sobre o desenvolvimento das coisas — e é muito importante para se conhecer que alterações o encontro com o desconhecido provocou na vida e na personalidade das testemunhas. E como em muitos episódios existe uma continuidade nas abduções e contatos, a revisitação também abre novas e estimulantes oportunidades de pesquisa. Tendo isso em mente, vejamos o que diz Paulo Werner em seu relatório. As primeiras impressões do pesquisador nos remetem diretamente ao que já discutimos ao longo deste texto sobre a síndrome do contatado. Diz Werner:
“Devido à influência negativa de grupos esotéricos que surgiram após o suposto contato, João Caiana começou a tecer opiniões sobre a sua escolha, e de sua família, pelos raptores. Nota-se, infelizmente, aquilo que na Ufologia classificamos de síndrome do contatado. Mas vale ressaltar que não existem estudos relevantes dentro da fenomenologia ufológica sobre o perfil dos abduzidos. Em nossa opinião, a escolha dos abduzidos é aleatória e feita para fins de pesquisa pelos abdutores, sobre a qual podemos apenas tecer possibilidades, tais como sobre a coleta de material orgânico, o estudo do comportamento humano e experiências genéticas. As abduções acontecem com pessoas de todas as classes sociais e de qualquer país. Poderíamos dizer que, em tese, qualquer um pode ser objeto de uma experiência deste tipo”.
Devido à influência negativa de grupos esotéricos que surgiram após o suposto contato, João Caiana começou a tecer opiniões sobre a sua escolha, e de sua família, pelos raptores. Nota-se aquilo que classificamos de síndrome do contatado
Werner acredita que, no Caso Caiana, é preciso fazer uma separação entre o contato e os fatos posteriores. “Na época, Caiana fez suas observações baseando-se apenas no fato ocorrido e alegava que dentro da nave estava inconsciente e assim permaneceu durante todo o período. Mas, segundo as informações que foram obtidas em uma sessão de regressão, realizada em São Paulo por Oswaldo José David, a cuja gravação e notas nem a testemunha e nem nossa equipe tiveram acesso, a testemunha faz diversas considerações e observações”. Sobre as declarações que o eletricista fez ao primeiro pesquisador, e confirmou durante a visita da nossa equipe, surge uma dúvida, como aponta Werner: “Caiana alega que os alienígenas tinham ordem para abduzir somente a ele, mas como a família estava presente, os seres receberam sinal positivo para levar todas as pessoas. Ele também diz que dentro da nave foram amarrados, passaram por exames e que foram colocados implantes em seu pescoço e nos pulsos de sua filha Magui. O homem faz várias declarações, mas o intere
ssante é que apenas a sua neta de quatro anos ficou consciente durante todo o tempo. Ele alega que, depois do contato, viu dezenas de naves e seres em sua casa”.
Cristais e naves alienígenas
Confirmando o fato de que houve contaminação da testemunha pela presença de grupos esotéricos, que convenceram o eletricista de que ele era um “escolhido”, diz também Paulo Werner: “Influenciado por terceiros, o homem passou a acreditar ser um eleito pelos ETs e diz que os seres só estão na região por sua causa”. Ampliando as buscas por outras testemunhas de UFOs na região, temos uma conclusão interessante: aparentemente, somente Caiana observa as supostas naves que cortam os céus de Iturama, uma cidade com mais de 34.000 habitantes e onde os pesquisadores não localizaram nenhuma outra testemunha das observações.
Em mais uma demonstração clássica envolvendo testemunhas e abduzidos que se transformam pela súbita popularidade, o relatório de Werner ao Grupo de Apoio ao Avanço da Consciência Cósmica (GAACC) aponta que a casa de Caiana, depois do contato, virou ponto de peregrinação de curiosos e que há dezenas de quadros com temas místicos, cristais e outras coisas espalhados pela residência. “Ele alega receber mensagens dos seres que o abduziram e sempre leva curiosos ao local do contato, ocorrido em 2000. Diz que presenciou várias observações de luzes e teve contato visual com seres. E que é comum os carros pararem de funcionar e ocorrerem anomalias magnéticas”.
Sobre as alegadas panes e avistamentos, os pesquisadores foram verificar por si, mas nada de anormal foi registrado por seus equipamentos, que funcionaram perfeitamente. E durante as três horas em que permaneceram em vigília na noite de 02 de novembro de 2013 no local da abdução alienígena, nada de estranho foi avistado. “O céu estava limpo e a noite muito quente. Caiana sempre se empolgava com qualquer coisa que era vista no céu, como estrelas e aviões”, disse Werner.
O fusca e as pedras queimadas
À frente da entidade Centro de Investigação e Pesquisa de Fenômenos Aéreos Não Identificados (Cipfani), Paulo Werner diz que não faz considerações técnicas sobre casos pesquisados por terceiros, o que limitou seu trabalho. E como também não foi possível analisar as gravações das sessões de hipnose regressiva, os pesquisadores não puderam avaliar o caso de maneira completa. Curioso, no entanto, foi o depoimento da criança, que alegava ter visto dois seres, sendo um com “olhão e um ser pequeno com um olhinho”. Sobre o automóvel que teria sido levado para bordo do UFO, o pesquisador lembra que, na primeira pesquisa realizada, o investigador Paulo Carvalho Nogueira escreveu que o veículo não sofreu avarias em sua lataria. Mas em depoimento colhido em 02 de novembro de 2013, Caiana, ao lado do atual proprietário do fusca, o mecânico aposentado Gerson de Freitas Rosa, disse que após o contato uma mancha escura apareceu no teto do carro e que foram necessárias várias lavagens para sair. “Houve alegadas avarias elétricas que foram mencionadas na pesquisa anterior”.
Em entrevista dada a uma emissora local na data do contato, disponível na internet com o título Abdução de uma Família na Zona Rural, o repórter registrou o local onde a nave teria pairado. Na gravação, algumas pedras foram mostradas com fuligem, parecendo queimadas. Em conversa com João Caiana, Werner pediu a ele que o levasse ao mesmo lugar e, uma vez lá, foi possível localizar as pedras que realmente mostravam sinais de queimado. Sobre isso, diz o relatório: “É importante notar, porém, que esse tipo de pedra ocorre em toda a região, não sendo, portanto, fruto de intervenção alienígena ou coisa parecida. Nós as fotografamos tanto na parte de baixo, mais clara, que fica em contato com o solo, quanto na parte de cima, mais escura, que fica em contato com o ar”.
Com os obstáculos encontrados para a completa reavaliação do Caso Caiana, certamente as gravações das regressões hipnóticas seriam fundamentais para se estabelecer como foi feito o procedimento e qual foi seu resultado — mas, mesmo solicitadas pelos pesquisadores, eles não as obtiveram, como também não teve sucesso neste sentido a primeira investigação, feita por Nogueira. Quanto a objetos inseridos nos corpos da família Caiana por abdutores, Werner declara que, “caso tenha havido uma tentativa de implantes, os mesmos tiveram vida curta e foram assimilados pelo organismo”.
Considerações finais
O relatório encaminhado por Paulo Werner ao Grupo de Apoio ao Avanço da Consciência Cósmica (GAACC) termina dizendo que “nada do que João Caiana relata ter acontecido dentro da nave é relevante, já que ele também afirma que estava desacordado. A conclusão é de que, se algo aconteceu àquelas pessoas, há muito tempo não há mais vestígios. A família continua a afirmar que os fatos são verídicos”. Assim, com base em tudo que vimos sobre os dois momentos do caso, percebe-se a relevância do acompanhamento do episódio e a importância fundamental de se ater aos fatos, analisando-os conforme eles se apresentam. Em 2000, quando Nogueira esteve em Iturama, Caiana e sua família ainda estavam sob o impacto dos acontecimentos, embora já tivessem passado pela sessão de hipnose, o que pareceu tranquilizá-los. O pesquisador registrou o que viu na época, entendendo que algo anômalo realmente havia acontecido àquelas pessoas.
Werner, que visitou os Caiana 13 anos depois, teve outras impressões, o que só reafirma a importância da pesquisa desapaixonada e o desserviço prestado à Ufologia por seitas esotéricas de características duvidosas, que acabam transformando algo que poderia ser um caso importante em mais uma mistura de realidade e suposições, além de envolver as testemunhas em um tipo de bolha pouco saudável e que pode, como já vimos tantas vezes, se transformar em algo muito perigoso.
Em muitos casos, há aproximação de grupos e seitas esotéricas que acabam por convencer a testemunha de que ela é uma ‘pessoa especial’, de alguma forma “tocada pelo divino” — mesmo que este divino a tenha sequestrado e violado
Por fim, tendo em mente que um caso desta envergadura não pode seguir à margem da sociedade — e muito menos da Comunidade Ufológica Brasileira –, a Revista UFO convidou João Caiana para se ap
resentar no II Fórum Mundial de Contatados, ocorrido em maio de 2014, em Curitiba [O mesmo evento em que se apresentou a abduzida e contatada Miriam Delicado, entrevistada desta edição]. Ele narrou sua história da forma como ela foi registrada na ocasião, no ano 2000, com as informações mais recentes passadas ao pesquisador Paulo Werner, em 2013. Seu relato foi bem assimilado pela plateia, a quem o palestrante cativou com sua simplicidade.
“A experiência dos Fóruns Mundiais de Contatados é muito positiva, porque permite que pessoas que estiveram frente a frente com UFOs e ETs apresentem-se a uma plateia já preparada para estes casos e narrem suas vivências sem constrangimento, enriquecendo o debate ufológico”, disse o editor da Revista UFO A. J. Gevaerd, que anuncia que o III Fórum Mundial de Contatados ocorrerá em junho deste ano em Porto Alegre, e contará igualmente com brasileiros e estrangeiros que passaram por situações semelhantes à de João Caiana e sua família [A próxima edição trará informações sobre o evento].