O governo norte-americano revisou as diretrizes de seu programa espacial, tornando-o o mais militarizado desde a gestão de Ronald Reagan (1981-1989). Segundo a nova versão da Política Espacial Nacional, “o país rejeita qualquer limitação do direito fundamental dos Estados Unidos de operar e adquirir informação no espaço”.
Os EUA também “negarão a adversários, se necessário, o uso de capacidades no espaço hostis aos interesses norte-americanos”, continua a ordem, assinada pelo presidente George W. Bush. A Política Espacial Nacional afirma que o país vai se opor a tratados internacionais que limitem o uso ou acesso dos americanos ao espaço e dá ao secretário de Defesa – cargo hoje ocupado por Donald Rumsfeld – e ao Diretor de Inteligência Nacional – John Negroponte – poderes para que as novas exigências sejam cumpridas.
As ações de ambos, porém, não serão divulgadas. “Projeto, desenvolvimento, aquisição, operações e produtos de atividades de inteligência e defesa espaciais deverão ser classificados (secretos)”, reza a ordem.
Em outubro do ano passado, os EUA votaram contra proposta apresentada na ONU para negociações sobre o banimento de armas no espaço – foi o único voto contrário à proposta, apoiada por 160 países.
É a primeira revisão do programa desde 1996, feita então pelo presidente Bill Clinton. Há diferenças significativas entre as prioridades do republicano e as do democrata. A versão tornada pública da nova política, um documento de dez páginas, “reflete uma posição mais agressiva e unilateral”, ponderou a revista New Scientist.
“Há uma mudança de visão e mentalidade, disse Theresa Hitchens, diretora do Centro de Informação de Defesa, entidade não-governamental de Washington. “Neocons no espaço: a guerra preventiva vira interplanetária”, criticou o blog liberal The Huffington Post, citando uma das bases da Doutrina Bush.
Um aspecto envolvendo o novo documento causou estranheza. A nova versão da política espacial foi assinada por Bush em 31 de agosto e colocada no ar às 17h00 locais – 18h00 de Brasília – de 06 de outubro, o dia útil anterior a um feriado nacional. Não houve divulgação ou entrevista de membros do governo ligados à área. Entrou no site do Escritório de Ciência e Tecnologia da Casa Branca.
Outro aspecto é o conteúdo em si. Com o fim da União Soviética e a consolidação da hegemonia militar norte-americana, acreditava-se que a corrida militar espacial havia se tornado obsoleta – o último presidente a se preocupar com ela foi Reagan, no começo dos anos 80, com seu fracassado programa de satélites armados que defenderiam o país de um ataque nuclear, batizado por críticos de Guerra nas Estrelas.
Com a exceção de um incidente recente relatado pelo Pentágono, em que chineses podem ter tentado apagar por segundos um satélite norte-americano, há pouca atividade militar no espaço a justificar a mudança. A chamada guerra ao terror tem sido lutada no solo, com armas de fabricação caseira e fuzis AK-47. A Casa Branca justifica a preocupação, no entanto, ao escrever que está pensando adiante.