O Brasil pode passar a fazer parte do Projeto Galileu, sistema desenvolvido pela União Européia, como base para lançar e colocar satélites em órbita, disseram fontes oficiais. “O Brasil já desenvolveu uma família de lançadores e, se tiver capacidade para tal, não será excluída a possibilidade de que os satélites do Projeto Galileu sejam lançados da Base de Alcântara”, declarou o chefe da Unidade Galileu da Comissão Européia, Olivier Onidi. A Base de Alcântara, situada no Maranhão, na melhor situação geográfica possível por sua proximidade à linha do Equador, foi local da pior tragédia da aeronáutica brasileira, no ano passado. A explosão de um foguete que estava sendo preparado para colocar em órbita um satélite matou 21 técnicos do Centro de Tecnologia da Aeronáutica e paralisou o programa aeroespacial brasileiro. Onidi diminuiu a importância do acidente nas decisões que serão tomadas na Comissão Européia em relação às plataformas de lançamento dos satélites do Projeto Galileu e elogiou a capacidade tecnológica desenvolvida pelos brasileiros. “O Brasil pode gerar serviços inovadores para serem vendidos no mundo inteiro. Poderia ainda ser sede latino-americana de um centro de promoção de navegação por satélite e tecnologia”, declarou a jornalistas. Os responsáveis pelo programa Galileu na Comissão Européia, junto com representantes da Agência Espacial Européia (ESA) e do setor privado, estão promovendo até a próxima sexta-feira, em Brasília e em São José dos Campos (SP), os primeiros seminários sobre o projeto europeu de radionavegação por satélite. “Esperamos começar a discussão de um acordo institucional com o Brasil e aguardamos uma manifestação de interesse do país em participar do projeto”, disse Onidi. Ele ainda destacou que os europeus pretendem atrair empresas brasileiras para o projeto, sobretudo as da área de gestão e de recursos hídricos, agricultura de alta precisão, prospecção de petróleo e mineração. “O Brasil poderia gerar serviços inovadores que seriam comercializados em todo o mundo”, assim como poderia ser a sede na América Latina, de “um centro de promoção da navegação por satélite, da tecnologia e dos aplicativos”, acrescentou Onidi. O representante europeu admitiu, entretanto, que a instalação desse centro também pode ser no México, onde os responsáveis pelo Galileu estiveram antes de chegar ao Brasil. Quanto ao custo para o país, Onidi afirma que é uma decisão que depende do Brasil. “Existe a proposta de que o Brasil se torne acionista do projeto ou que faça uma contribuição em espécie, ou seja, o país poderia oferecer estações locais em solo para ajudar a gerir a infra-estrutura. Também é possível fazer as duas coisas “, salientou. O projeto Onidi lidera uma missão da Comissão Européia que visita o país para explicar os alcances do Projeto Galileu. O programa europeu de radionavegação por satélite começou em 2002 e representa uma alternativa ao atual monopólio do sistema norte-americano GPS, um projeto pioneiro desenvolvido pelos Estados Unidos que agora deseja compatibilizar ambas as tecnologias. O Projeto Galileu pretende colocar em órbita trinta satélites (27 ativos e três de reserva) até 2008, quando deverá estar plenamente operacional. Cada um desses satélites terá um relógio atômico de alta precisão e, segundo o projeto, será capaz de localizar qualquer tipo de objeto em toda a superfície da Terra, com margem de erro de apenas um metro. A Comissão Européia decide atualmente que consórcio ficará com a gestão do sistema. Três grupos se candidataram: Eutelsat (Eutelsat, Hispasat, LogicaCMG e Aena); Inavsat (Inmarsat Ventures, EADS Space e Thales); e Vinci Concessions, Alcatel Participações e Finmeccanica. A concessão faz parte da primeira fase do projeto, que terá um custo de 1,4 bilhão de dólares, para uma cifra total superior a 4 bilhões de dólares. O Projeto Galileu foi idealizado para prestar serviços nas áreas de transporte aéreo, marítimo e terrestre, agricultura, segurança, redes de eletricidade, telecomunicações e bancária, entre outras.