Um laboratório em Valinhos, a 90 km de São Paulo, investigará quais as chances de existir vida fora da Terra. O pós-doutorando Douglas Galante falou sobre o projeto no simpósio Frontiers of Science, realizado há uma semana em Itatiba, interior de São Paulo. Galante é bacharel pelo Curso Experimental de Ciências Moleculares da USP. No doutorado, estudou os feitos astrobiológicos dos raios gama. Pós-doutorando do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. O encontro, que abordou temas tão diversos como neurociência e biocombustíveis, reuniu jovens cientistas da Inglaterra e do Brasil, marcando as comemorações pelo 350º aniversário da Royal Society, a mais antiga academia de ciências do mundo.
Que perguntas a astrobiologia pretende responder? A origem e a evolução da vida no universo, a existência da vida fora da Terra e o futuro da vida no nosso planeta.
E como ela encontra respostas para essas perguntas? Para responder à questão sobre a origem da vida, por exemplo, você precisa descobrir primeiro como foi a origem dos elementos químicos, a formação dos elementos pré-bióticos, o surgimento das células primitivas e o início dos mecanismos genéticos. São questões complexas. Por isso, a ideia da astrobiologia é reunir cientistas de várias áreas para chegar às respostas.
Quais os esforços nesta área no país? Estamos montando o Laboratório de Astrobiologia (AstroLab), em Valinhos, ligado ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP). Contaremos com o apoio de pesquisadores da UFRJ e do Instituto Oceanográfico da USP. Os equipamentos para o laboratório de microbiologia já chegaram. Em dois meses, deverá estar funcionando. A verba para construção das câmaras planetárias, que simularão as condições para a vida fora da Terra, já foi aprovada. A liberação e construção devem ocorrer nos próximos meses.
É possível imaginar a vida sem carbono e água? Na ficção científica, você encontra menções a formas alternativas de vida, como a vida baseada em silício, uma substância capaz de formar polímeros parecidos com os do carbono. Mas o silício, apesar de ser o segundo elemento mais versátil, permanece muito aquém do carbono. Você não conseguiria formar a variedade de compostos que acompanham a vida na Terra. Já o solvente, acredito que existam alternativas para a água. Talvez um solvente orgânico misturado com sal seja um bom substituto. Encontraram, por exemplo, metano e etano líquidos em Titã, um satélite natural de Saturno.
Como vocês pretendem investigar a vida nos planetas fora do Sistema Solar, os exoplanetas? Não será uma tarefa simples. Há cerca de 470 exoplanetas identificados até agora. Conhecemos suas massas e algo sobre suas órbitas, mas não sabemos quase nada sobre suas propriedades físicas. Precisamos apontar nossos telescópios para eles, captar sua luz, tirar um espectro dela e tentar descobrir assinaturas das moléculas que compõem sua atmosfera. Já conseguimos aplicar a técnica para gigantes gasosos, mas não para planetas rochosos como o nosso. Precisamos esperar a próxima geração de telescópios. Mesmo assim, será só o primeiro passo. Descobrir a presença de oxigênio em um exoplaneta não comprova a existência de formas de vida que realizam fotossíntese, por exemplo.
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