Há muitas pessoas que duvidam da existência de seres não físicos, extraterrestres e extradimensionais. Esse é um assunto difícil de se discutir, uma vez que não se pode mostrar uma foto ou filmagem dessas entidades para provarmos que existem — tudo o que temos são testemunhos. E é nesse sentido que escrevo este pequeno texto, para dar meu depoimento do que vi e vivi.
No princípio dos anos 70, quando ainda era apenas um curioso adolescente, este autor viveu uma experiência que alguns psicólogos definiriam como traumática, porém que foi assimilada como um aprendizado. Os fatos se deram em um bairro chamado Villa Martinelli, em Buenos Aires. Na época eu tinha um amigo a quem chamarei aqui de Alberto, que se dedicava ao que ele entendia como “práticas ocultistas”.
Alberto vivia com seus pais em uma ampla e moderna casa, com um grande jardim nos fundos, onde havia um pequeno galpão para depósito de ferramentas e materiais. Não havia nada além de uma cerca de arame separando sua casa da residência vizinha, ocupada por um engenheiro civil e sua família. O galpão do jardim era o local onde Alberto guardava seu material e fazia suas práticas ocultistas.
Ele realizava as sessões com alguma frequência e estranhamente, apesar de que não permitir a participação de seus amigos, provavelmente para evitar gozação depois, ele me permitiu acompanhar seus trabalhos diversas vezes. Por certo que eu atuava como um mero observador, algo assim como um aprendiz, que pegava os elementos e seguia suas indicações, segundo o ritual.
A manifestação
Certo sábado, após mais de uma hora de ritual, decidimos encerrar os trabalhos, pois nada de interessante estava acontecendo. Fechamos o local e fomos comer alguma coisa e conversar sobre outros assuntos. Os pais de meu amigo não se encontravam em casa naquela noite. Creio que foi Alberto quem chamou a atenção para um estranho ruído que parecia vir do exterior — no escuro, tivemos a impressão de ver vagamente uma silhueta sobre a cerca, que imaginamos ser um ladrão. Assim, pegamos uma lanterna e fomos cheios de coragem para o jardim, dispostos a espantar o estranho.
O que vimos, porém, foi um ser humanoide, talvez com menos de 1,7 cm de estatura e de forte compleição, mas de uma estranha morfologia reptoide. Talvez fosse completamente humano, mas sua cabeça, de orelhas pontiagudas e olhos muito brilhantes e avermelhados, acentuava esta impressão. Quando a luz da lanterna o atingiu, ele virou seu rosto para nós e, apesar do brilho e da cor, seu olhar era estranhamente humano. Creio que não gritamos porque em algum fugaz instante passou por nossa mente sermos só vítimas de uma alucinação — talvez provocada pelos gases do enxofre usado no ritual. Porém, ele permanecia ali.
Preso na cerca
Naquele momento o engenheiro vizinho de meu amigo acendeu a luz do pátio de sua casa e saiu para o jardim, talvez para investigar o mesmo ruído que nós. O ser sacudiu a cerca sobre a qual estava e tivemos a prova de que era o mesmo som que chamara nossa atenção. Acontece que uma das extremidades inferiores da entidade havia se enganchado na cerca e ela sacudia sua pata ou pé, tratando de libertá-la.
Surpreendentemente, ela se soltou e com um forte impulso se elevou sobre a cerca e caiu do outro lado, quem sabe para escapar de nosso foco luminoso. Escutamos então o grito abafado do vizinho, que chegara perto o suficiente para identificar a criatura, enquanto o ser corria paralelamente à cerca, subia pela parede e desaparecia sobre um telhado contíguo. O engenheiro, então, voltou correndo sobre seus passos e nós fizemos o mesmo.
Permanecemos discutindo até a madrugada, mesmo muito depois dos pais de meu amigo retornarem, a quem não contamos absolutamente nada. A razão era mais do que óbvia: quem acreditaria? A explicação do avistamento, sem dúvida, parecia muito simples — a criatura seria fruto de nossas invocações. Nosso conhecimento errado ou quem sabe incompleto do ritual ocultista havia chamado “algo”, que apareceu em uma hora errada e totalmente livre de nosso controle.
As consequências
Durante os dias seguintes permanecemos em constante contato telefônico e me chamou a atenção que, apesar de meus insistentes pedidos para visitarmos a engenheiro para trocar impressões, meu amigo sempre encontrava evasivas para tal, além de encontrar-se submetido a uma espécie de torpor ou letargia permanente. Hoje em dia, minha experiência me indica que aquela apatia não era tão acidental ou estranha aos fatos como então pensei, e se tivesse sabido no momento, teria intervindo mais ativamente.
É evidente que este efeito de passividade também atuava sobre a outra testemunha, o engenheiro — já que ele também nos havia visto e não buscara explicações. Talvez tenha pensado que tudo fora um pesadelo e por vergonha evitara nos contatar. O certo é que menos de uma semana depois do avistamento, Alberto me pediu que fosse com urgência à sua casa.
As notícias não podiam ser piores: seu vizinho havia, na noite seguinte, matado a punhaladas toda a sua família — a esposa, a filha pequena e a sogra — e depois se enforcou. Os cadáveres foram encontrados mais tarde, quando um familiar entrou na casa. A polícia interveio imediatamente e os meios de comunicação só tomaram conhecimento do fato no final do dia.
Impacto emocional
Alberto tinha certeza de que fora, de certa forma, o responsável pela tragédia. Sua teoria era a de que o homem não suportara o impacto emocional da visão. Talvez nem sequer o tenha comentado com a família, o que por certo potencializou a introjeção do choque provocado pela experiência. Quem sabe o terror fez com que começasse a enlouquecer? Quem sabe uma noite, alguém, talvez a esposa ou a sogra, tenha se levantado no escuro para beber água ou ido até o jardim para ver as estrelas, e o marido, aterrorizado, pensou que a criatura tivesse voltado? Ou, talvez, quem sabe, “aquilo” realmente voltara.
Desde então fui deixando de ver a meu amigo. Tempos depois, soube por terceiros que continuava pesquisando o mesmo assunto. Creio que naquele momento ele estava obcecado em recuperar o controle das forças que haviam escapado de seu domínio, para reparar assim o mal que sem querer havia desencadeado.
Demorei longos anos para poder contar esta experiência e, ainda agora, fazê-lo é uma catarse. Muito além de sua alta cota de estranheza, o que talvez faça tudo parecer uma mentira, essa recordação escondeu durante muito tempo a angustiante dúvida sobre o que certos conhecimentos esotéricos, manejados com impulsividade e imprudência, são capazes de liberar.