Por favor, coronel Sánchez, conte-nos sobre o caso a que se referiu a pouco, que ocorreu em 2007 a um avião da companhia alemã Lufthansa, e que chegou ao conhecimento do presidente do Uruguai. Esse é um caso ufológico muito interessante de nossa casuística, que envolveu nossa diplomacia de uma maneira inédita. Naquele ano, recebemos o relato de uma aeronave alemã, da companhia Lufthansa, que estava indo de Buenos Aires, para a Europa e teria que atravessar parte dos territórios uruguaio e brasileiro. Exatamente quando estava sobre o Rio da Plata, que divide os dois países, os pilotos do Lufthansa observaram um objeto que cruzou o céu de baixo para cima, bem perto do avião e em velocidade muito alta — aquilo passou a metros da cabine da aeronave. O fato foi registrado como um incidente aéreo e a tripulação do avião da Lufthansa imediatamente chamou o controle de tráfego aéreo do Aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, de onde havia saído o voo, para dizer que um objeto voador não identificado acabara de atravessar sua rota. Os pilotos pensaram que fosse um míssil e, naturalmente, como aquilo ofereceu risco ao voo, tinha que ser relatado. Simultaneamente, outro avião — agora uruguaio — vinha voando pelo Rio da Plata e sua tripulação também viu o objeto.
E o que ocorreu em seguida? Sua tripulação o descreveu como um aparelho voando à baixa altitude e que, e em determinado momento, se elevou e cruzou bem entre os dois aviões, porém mais perto do da Lufthansa. As duas tripulações descreveram a mesma coisa: um artefato muito veloz, mas apenas a equipe alemã falou da possibilidade de ser um míssil. Imediatamente começamos a investigar o fato, aqui na Comissão. Como era um caso importante — que saiu rapidamente nos jornais e também teve muitas testemunhas em terra, mais de 20 —, agimos com a máxima rapidez.
O que essas pessoas relatam ter visto, o mesmo que os aviadores? Sim, o fato se passou mais ou menos às 4 horas da madrugada e muita gente já estava acordando em propriedades rurais, ordenhando vacas e começando seu trabalho no campo. Essas pessoas observaram o objeto desde Colonia Del Sacramento [Cidade às margens do Rio da Plata, uns 150 km a oeste de Montevidéu e bem diante de Buenos Aires] e em outras regiões do Uruguai e da Argentina — e todos disseram ter visto a mesma coisa, um projétil que passou rapidamente entre os dois aviões. Entre as tripulações eram pelo menos quatro profissionais: os comandantes e o engenheiro de voo da Lufthansa e o piloto do avião uruguaio. Portanto, é um caso de alto nível de credibilidade, o que estimula uma investigação bem apurada.
Sem dúvidas, ainda mais com as confirmações de radar, que devem ter existido, e os testemunhos a partir do solo. E o que ocorreu? Onde o presidente do Uruguai entra nessa história? Quando começamos a investigação, tivemos que ir à Colonia para entrevistar as testemunhas em terra, e eu, então tenente-coronel, participei diretamente dos procedimentos. Já pelos canais oficiais recebemos o registro da Lufthansa, que veio através da Chancelaria Uruguaia [Ministério do Exterior] relatando o risco à segurança daquele voo — além de descrições dos pilotos sobre o que haviam visto. Mas quando foi feita a denúncia oficial da Lufthansa ao governo, a investigação já estava acionada e muitas engrenagens já estavam rodando.
Quais engrenagens foram colocadas em movimento, por exemplo? Uma delas foi uma consulta que fizemos à Argentina, pois se falava de um possível míssil e não tínhamos razão para duvidar que fosse de fato um ou alguma aeronave de alto desempenho, que sai um pouco fora dos padrões. Um grupo de quatro engenheiros agrônomos em um veículo confirmou que o objeto estava na linha do horizonte, por cima do Rio da Plata, e que dali ascendeu. Porém, os engenheiros também disseram ter visto algo como uma explosão de luz mais rápida do que o artefato indo para cima. Isso nos levou a pensar que pudesse ser o segundo estágio de míssil — se aceitarmos a hipótese do míssil —, pois há projéteis que têm várias fases. E ele poderia ter sido disparado de um submarino ali no Rio da Plata — lembra-se do Caso das Ilhas Canárias, que acabou se descobrindo ser o lançamento de míssil a partir de um submarino?
Sim, o incidente é clássico. Mas foi então por haver a suspeita de um submarino entre Uruguai e Argentina, o que seria um fato de implicações para a diplomacia de ambos os países, que vocês comunicaram o presidente da República? Exatamente. Embora ainda não tivéssemos confirmado que fosse de fato um míssil, nós o avisamos. No final, o caso terminou sendo tratado como não convencional, porque não sabíamos se aquilo era um avião de alto desempenho ou outra coisa, e ainda não podíamos descartar que fosse um míssil — não tínhamos como confirmar nada até então. Assim, o caso acabou ficando aberto.
Esse episódio é muito interessante. O que fez o presidente da República quando soube do fato? Bem, a linha de comando foi acionada. Nós enviamos o informe ao comandante da Força Aérea, que depois o encaminhou ao ministro da Defesa e esse informou o presidente. Nós, aqui na Comissão, não temos acesso direto nem ao ministro, nem ao presidente, e não sabemos o que um ou outro fez com essa informação. Porém, o caso foi de conhecimento público, pois saiu em todos os meios de comunicação aqui e na Argentina. Enfim, houve muita agitação.
Como foi a atitude da Cridovni em um caso como esse, que envolve outro país? Em um acontecimento como esse, que envolveu a intervenção de um país vizinho, a coisa é muito séria. Nós passamos informações do que sabíamos à Força Aérea Argentina (FAA) e conversei pessoalmente com o chefe de relações públicas daquela arma, na época, que descartou totalmente que tivesse sido um míssil ou uma aeronave secreta de seu país. Assim, acabou sendo necessário informar também o ministro da Defesa, e ele tornou nossas investigações públicas por intermédio de um informe distribuído à imprensa — o comunicado está disponível na internet, mas nele consta que se tratou de um incidente aéreo, e não um incidente ufológico.