
Nas áreas ribeirinhas atingidas pelo chupa-chupa no Pará, as noites de setembro a dezembro de 1977 foram as mais intranquilas e temidas, embora o fenômeno seja anterior e este período. Todos se protegiam da ação das luzes evitando caminhar sozinhos à noite ou dormir sem a companhia de parentes — as pessoas acreditavam que criaturas saíam de suas naves em busca de sangue humano. Além da ilha de Colares e da Baía do Sol, a cerca de 100 km de Belém, UFOs foram observados também sobre a cidade de Ourem, Vigia, Santo Antônio de Imbituba, Abaetetuba, Ananindeua e muitas outras localidades paraenses — e fotografados pela Aeronáutica em várias regiões.
Algumas testemunhas acreditavam que os objetos faziam parte de um programa secreto japonês de contrabando de sangue, devido à aparência facial de seus tripulantes, com olhos oblíquos. Outros temiam que os ocupantes dos aparelhos fossem de outro planeta. Vilarejos do município de Vigia, formados por famílias que vivem da pesca e da lavoura, eram alvos constantes — as primeiras notícias do chupa-chupa vieram dessa área e se alastraram pela Região do Salgado, a leste de Belém. Em 08 de outubro de 1977, o jornal O Liberal publicou a manchete Bicho Sugador Ataca Mulheres e Homens em Povoado de Vigia, dando início a uma histeria. O texto descrevia fatos surpreendentes de Imbituba, onde os moradores declaravam ver artefatos dotados de feixes luminosos capazes de atravessar obstáculos — como telhados e paredes — para alvejar pessoas, que eram paralisadas [Veja matéria nesta série].
Sugavam sangue e energia
A mesma fonte publicou, em 15 de outubro, novas reportagens do lugarejo e pela primeira vez se usou o termo chupa-chupa, nome que transmite a ideia de que os objetos voadores sugavam alguma forma de sangue e energia humanas. O então delegado de Polícia de Vigia, Alceu Marcílio de Souza, descreveu assim os acontecimentos: “Estivemos na vila duas ou três vezes, em diligência policial da qual participou o comissário da localidade, Benjamin Amim. Na época, uma equipe da Aeronáutica andou pela região, inclusive alguns de seus membros chegaram a falar comigo a respeito das aparições. Eles pesquisavam tudo lá em segredo”. Na pequena colônia Coração de Jesus, interior do município de Vigia, também houve observações de UFOs, principalmente no final de outubro.
Misteriosas esferas luminosas
Disse o colono Oswaldo Pinto de Jesus: “Na época do chupa-chupa, a gente ouvia muita conversa de que um aparelho andava rondando a Vila de Santo Antônio de Imbituba, até que apareceu na vila Coração de Jesus”. Ele e seus familiares foram atacados e receberam visitas dos militares da Aeronáutica, que já estavam desenvolvendo a Operação Prato na ilha de Colares. Em uma festa de final de semana, quando a mãe de Jesus viu o aparelho, ela chamou a atenção de todos. “Aquilo voava devagar e sem fazer barulho. Não estava muito alto e, visto de baixo, parecia um helicóptero. Pelos lados da cauda havia muitas luzes coloridas e, na ponta, um foco bem forte. O objeto pareceu sentir a nossa presença e de repente apagou todas as luzes, desaparecendo na escuridão da madrugada”.
Desta vez não houvera ataque, felizmente. Como na vila de Coração de Jesus, as descrições de estranhas naves foram constantes também desde a Baixada Maranhense até a Baía de Marajó. Segundo testemunhas, além de esferas luminosas também eram observadas naves que lembravam helicópteros, pipas, peixes e arraias. Vigia permaneceu no centro das observações das luzes vampiras até que a Operação Prato teve início em Colares — para onde o foco do fenômeno se deslocou, como que a acompanhar a missão militar. Um caso grave em Vigia aconteceu às 18h45 de 18 de outubro de 1977, quando a cidade mergulhou em inquietante escuridão — algumas pessoas, preocupadas com a falta de luz, saíram às ruas na esperança de uma explicação.
Festival de observações
No céu, entre as estrelas, deslocava-se velozmente um ponto luminoso e, em seguida, uma segunda luz surgiu na direção da ilha de Itapaua, em frente ao porto de Vigia, desaparecendo silenciosamente. Os militares da Força Aérea Brasileira (FAB) entrevistaram muitas testemunhas, mas não contavam por quê. Entre elas estava o então prefeito José Ildone Favacho, de Vigia, juntamente de seus familiares. Após dois minutos, um terceiro objeto cruzou em direção ao bairro do Arapiranga, e no rumo de Colares destacou-se um quarto ponto. Então surgiram mais duas luzes, uma sobre o bairro e outra na direção de Candeúba. Tomando sentidos opostos, cruzaram a cidade para, minutos depois, a energia voltar.
O jornal A Província do Pará, reportando-se ao incidente, comentou que o prefeito Favacho enviaria aos comandos do Exército e da Aeronáutica, em Belém, um extenso relatório do que estava acontecendo em Vigia e Santo Antônio do Tauá, além da descrição do temor vivido pelos moradores de Santo Antônio de Imbituba. “A decisão foi tomada depois de uma conversa com o delegado de polícia da cidade”, disse Favacho. Então, esta é mais uma evidência de que os militares acompanhavam os fatos desde o princípio.