Ao obter as primeiras informações sobre a atmosfera de planetas localizados fora do Sistema Solar, cientistas estão sendo surpreendidos pelo que não estão encontrando: água. Um dos pressupostos mais básicos, quando começaram os estudos de dois planetas gasosos e distantes, é que suas atmosferas deveriam conter água. As estrelas que os mundos pesquisados orbitam contêm oxigênio e hidrogênio, os elementos dos quais a água é feita. Quando astrônomos resolveram analisar a composição do ar dos planetas, água é o que esperavam encontrar.
Mas duas equipes diferentes, usando o Telescópio Espacial Spitzer, da Nasa, determinaram que as atmosferas estão secas, de acordo com pesquisas publicadas na revista Nature e na edição online do Astrophysical Journal Letters. Um dos planetas revelou sinais de partículas de silício em suas nuvens. O outro não mostra nenhuma das moléculas que os cientistas esperavam encontrar. “Esperávamos essa tremenda assinatura de água… e não estava lá”, disse o líder de uma das equipes, Carl Grillmair, do Instituto de Tecnologia da Califórnia e do Centro de Ciência Spitzer. “O fato de termos sido surpreendidos foi um toque de despertador. Obviamente, há mais trabalho a ser feito”.
Um dos colegas de Grillmair, o astrônomo David Charbonneau, disse que esses “cheiros do ar de um mundo alienígena” alertam os astrônomos a não ser tão geocêntricos na hora de pensar em outros planetas. “Estes são animais muito diferentes. São diferentes de qualquer outro planeta do Sistema Solar”, disse Charbonneau. “Somos limitados em nossa imaginação ao pensar nos meios diferentes em que essas atmosferas acontecem”. Nosso Sistema Solar tem dois planetas sem água na atmosfera, lembra Grillmair: Mercúrio, que nem atmosfera tem, e vênus, que é muito diferente dos gigantes gasosos que deveriam ter os componentes da água no ar.
Até o momento, foram descobertos 213 planetas fora do Sistema Solar, mas apenas 14 têm órbitas que permitem esse tipo de análise de atmosfera. E somente oito ou nove desses estão perto o bastante para se ver. A equipe de Grillmair estudou o mais próximo, HD 189733b, a 580 trilhões de quilômetros da Terra. O outro, HD209458b, está a 1,5 quatrilhão de quilômetros, e é o que tem as estranhas nuvens de silicatos. Talvez, especulam os cientistas, os planetas tenham água, mas ela esteja escondida: a substância poderia estar debaixo de nuvens de poeira, ou todas as moléculas de água no ar poderiam estar á mesma temperatura, o que as tornaria invisíveis para técnica usada, a espectrografia de infravermelho.