Nunca foi tão grande a probabilidade de um fragmento de lixo espacial chocar-se com as grandes estruturas da Estação Espacial Internacional e até de causar um desastre de proporções catastróficas. Agora há 55% de chance de que aconteça um choque nos próximos dez anos, sendo de 9% a possibilidade de uma “catástrofe” no mesmo período. O estudo elaborado por um grupo de pesquisadores independentes, divulgado nesta quinta-feira em Washington, foi apresentado à Nasa, a agência espacial dos EUA, e ao Congresso norte-americano.
O grupo fez os seus cálculos antes de 11 de janeiro, quando a China realizou um teste com um míssil destinado a destruir satélites, que atingiu em cheio um antigo satélite de meteorologia, reduzindo-o a uma nuvem de novos dejetos espaciais. Os riscos podem ter sido aumentados, mas já eram enormes. Estima-se que, além dos micrometeoritos que perambulam ameaçadoramente pelo espaço, há também entre 200 mil e 300 mil fragmentos de tamanho superior a um centímetro rodando em órbitas da Terra.
São lascas e pedaços minúsculos de satélites, naves e foguetes já destruídos e transformados numa espécie de areia grossa, que se desloca a altíssima velocidade, podendo causar danos inestimáveis não só a Estação Espacial Internacional – uma armação de tamanho gigantesco –, mas também simples satélites em pleno funcionamento, que prestam algum tipo de serviço à Terra. O perigo do lixo espacial certamente é muito maior e bem mais evidente do que as supostas ameaças de mísseis do Irã ou da Coréia do Norte, que justificam hoje a construção de um sistema antimíssil, no qual a Administração de George W.Bush está investindo bilhões de dólares.
Os riscos de 55% e de 9% – resultantes da conversão do espaço exterior em lixeira, mais uma irracionalidade dos terráquios – podem ser reduzidos para, respectivamente, 29% e 5%, se forem adotadas as medidas preventivas já propostas por pesquisas de reconhecida seriedade. Uma destas medidas é a retirada imediata dos satélites com vida útil já superada, tanto para as chamadas “órbitas cemitério”, onde os perigos de choque são desprezíveis. O Subcomitê Técnico-Científico do Comitê para o Uso Pacífico do Espaço Exterior da Organização das Nações Unidas (Copuos, na sigla em inglês), que se reúne uma vez por ano – sempre em fevereiro –, vem estudando o problema há vários anos e apresentando sugestões para minimizá-lo o mais possível.
Mas a resistência de alguns países, especialmente dos EUA, tem impedido a inclusão do tema na pauta do Subcomitê Jurídico do Copuos, para o estudo de providências concretas para enfrentar o crescimento assustador do lixo espacial com potencial de prejuízo cada vez maior para as atividades espaciais de todos os países. O Subcomitê Jurídico volta a reuniu-se de 26 de março a 5 de abril. É possível que novos projetos sejam apresentados tendo em vista a elaboração de algumas regras essenciais para se começar a enfrentar o desafio do lixo espacial.
Vejamos se os novos números, que tão claramente demonstram o aumento do perigo imposto pelo monturo espacial, conseguem estabelecer um consenso em favor do estudo urgente de medidas para evitar o pior. A crescente ameaça gerada pelo lixo espacial e o aumento do aquecimento global têm em comum um imperativo incontornável: não podemos perder mais tempo.