O trabalho — nem sempre reconhecido — dos ufólogos pode parecer, aos olhos dos leigos ou meros curiosos pelo assunto, fascinante. E é mesmo. Às vezes também é excitante. Mas posso testemunhar e dar fé que não consiste em sentar-se em uma mesa munido de algumas bibliografias e com base nelas escrever matérias, publicá-las e, com isso, adquirir fama e sucesso. O fato de aparecermos em TV, rádio, jornais ou revistas em decorrência de fenômenos ufológicos é com o objetivo de esclarecer o público de que o assunto deve ser tratado com seriedade e responsabilidade, nem que para isso seja preciso não só vestir, mas suar a camisa.
Se levarmos em conta, por exemplo, que a Bahia tem uma superfície de 567.295 km² (maior do que a da França, que é de 543.965 km²), 89.176 km de cerrado e 365.977 km de caatinga — sem falarmos das estradas em estado de conservação precário — dá para se imaginar as dificuldades de se fazer pesquisa na Bahia. Apesar disso, procuramos fazer o melhor possível. E assim, o Grupo de Pesquisas Aeroespaciais Zênite (G-PAZ), a Sociedade de Estudos Ufológicos de Lauro de Freitas (SEULF) e o Centro de Estudos Exobiológicos Ashtar Sheran (CEEAS) se complementam, podendo levar adiante a tarefa, procurando não dar importância aos obstáculos do caminho. Na verdade, não nos queixamos nem nos arrependemos de absolutamente nada — a não ser do que não pudemos fazer — embora o preço que pagamos seja muito alto.
De uns anos para cá, as coisas começaram, sugestivamente, a se tornar difíceis em todos os sentidos. Parece que fomos rotulados de visionários apenas por preocuparmo-nos com a Humanidade, ecologia, saúde, educação, informação e o bem estar do planeta e por investigarmos fenômenos preocupantes e os revelarmos à população. Muitos estão preocupados com nossos “vizinhos do espaço exterior” que teimam em descer em nossos quintais, ao invés de fazê-lo em quartéis ou instalações secretas dos governos para trocar seres humanos por tecnologia.
O programa de TV baiano Vamos Analisar, que tinha mais de três horas de duração e recebia dezenas de telefonemas durante toda a madrugada, em 1972, foi tirado do ar sem nenhuma justificativa. Nele, tinham sido entrevistadas personalidades como Húlvio Brandt Aleixo, Walter Karl Bühler e Guilherme Wirz, entre outros. Oficiosamente soubemos que foi censurado porque ousamos debater o caso de Antônio Vilas Boas em todos os detalhes, em plena época de ditadura. Além da Igreja, o próprio Bühler, que participou do programa, ficou abismado com nosso ato. Mais recentemente, um amigo, que tinha sido diretor daquele programa, contou-nos que na época em que ocupava a direção da TV Bandeirantes no Estado, desejava fazer quatro programas especiais sobre Ufologia. No entanto, quando estava tudo praticamente pronto, foi demitido da emissora. A repressão era grande: os boletins que editávamos no início do G-PAZ chegavam antes às mãos do Serviço Nacional de Informação (SNI) para serem analisados e, muitas vezes, ali, eram desaprovados. Ficávamos então impedidos de nos manifestar.
Sob vigilância total – Um outro exemplo que ilustra a questão do rigoroso acobertamento foram as amostras de terra coletadas após um pouso de UFO em Dias D\’ Ávila. Pelo telefone, um dos responsáveis pelo Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (UFBA) disse-nos ter descoberto traços radioativos no solo, além de outras evidências. Dias depois, pessoalmente, este senhor negou ter recebido tais amostras. E mais: disse que não nos conhecia… Coincidência ou não, no dia anterior à sua negativa, um jornal local publicou em primeira página a manchete em que o Governo Federal tinha proibido aos pesquisadores particulares ou instituições a pesquisa de qualquer tipo de mineral na região de Dias D\’Ávila. Curioso.
Nas reuniões do G-PAZ, todas abertas ao público, recebíamos constantemente a visita de olheiros de “cabelo escovinha” (membros de órgãos de segurança) que faziam mil perguntas aos nossos integrantes. Muitas vezes, eles até os influenciavam a desistir da causa pela qual lutávamos. Na ocasião em que tentávamos divulgar um caso de mutilação humana no interior da Bahia, em 1990, tentamos levantar todas as informações. Certa noite, um sujeito que se dizia capitão da Polícia Militar ligou para mim, ameaçando-me despudoradamente e perguntando qual era o meu “real interesse na morte desse marginalzinho”. Deixou entrever que, como o crime era de autoria desconhecida, “… qualquer um poderia ser enquadrado como suspeito”. Posteriormente, através de um juiz federal, dois ofícios foram encaminhados ao delegado responsável pelo caso, que nem sequer se dignou a acusar recebimento, uma atitude comum às autoridades quando inquiridas sobre o assunto.
Um programa de colaboração mútua entre o G-PAZ, SEULF, o Núcleo de Pesquisas Ufológicas da Bahia (NPU-BA) e uma universidade privada de Salvador, após ter sido firmado, caiu por terra sem explicação. A partir do Caso Varginha, e talvez por causa do momento vivido pela Ufologia em todo o país no ano passado, começaram a chegar cartas em minha caixa postal com descaradas evidências de terem sido abertas. Agora, os meus telefones, como os de outros ufólogos baianos, também apresentam sinais de estarem grampeados.
Ao invés de uma apresentação, este pode parecer apenas um desabafo pessoal, uma reflexão — e talvez o seja. Mas sua intenção é retratar os problemas que enfrentamos para poder realizar pesquisas ufológicas na Bahia. Não obstante, o lado positivo de tudo isso é a dedução de que, se “eles” estão tentando nos atrapalhar, é porque de alguma forma nós os estamos incomodando. Conseqüentemente, isso significa que estamos no caminho certo e, portanto, temos que continuar assim, seja lá qual for o preço.