Um novo tipo de explosão cósmica que ocorreu no fim do ano passado pode alterar as teorias sobre a morte das estrelas de grande massa, de acordo com astrônomos. A explosão foi mais poderosa do que as supernovas – que marcam a morte de estrelas enormes – mas mais fraca do que as explosões de raios gama (GRB), as mais brilhantes e misteriosas do universo. “Fiquei estupefata com o fato de minhas observações terem mostrado que esse acontecimento confirma a existência de uma nova classe de explosões”, disse Alicia Soderberg, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena, que descreveu a descoberta na revista Nature. “Foi como ganhar na loteria.”
Os cientistas acreditavam que todas as explosões de raios gama tinham uma energia padrão e o mesmo brilho intrínseco, até a descoberta da explosão cósmica ocorrida em 3 de dezembro de 2003, conhecida por sua data de nascimento, GRB 031203. “Com esse fato novo nos demos conta de que isso não é verdade. Há explosões subenergéticas que são menos luminosas e têm uma emissão menor, o que significa que não há uma energia padrão”, disse Soderberg em entrevista. “Talvez haja alguma espécie de continuum entre as duas explosões que não havíamos percebido antes”, afirmou ela.
A nova explosão aconteceu a cerca de 1,6 bilhão de anos-luz. Um ano-luz tem cerca de 10 trilhões de quilômetros, a distância que a luz percorre em um ano. Ela também foi muito mais próxima do que as outras GRBs, e sua intensidade foi cerca de um milésimo das explosões de raios gama. Os astrônomos não sabem o que provoca as explosões de raios gama. Acredita-se que elas ocorram quando as estrelas morrem possivelmente para criar um buraco negro, criando uma enorme força gravitacional da qual nada escapa. Porém, no mês passado, o cosmólogo Stephen Hawking disse acreditar que algum material seja expelido pelos buracos negros num espaço de bilhões de anos, através de irregularidades em sua superfície.
Cientistas do Instituto de Pesquisa Espacial da Academia Russa de Ciências, em Moscou, que também observaram a explosão cósmica e escreveram sobre ela na Nature, acreditam que explosões semelhantes já tenham ocorrido sem ser detectadas. Em 1998, astrônomos registraram uma explosão de raios gama extremamente fraca, chamada GRB 980425. A missão Swift da NASA, que vai estudar as explosões de raios gama nos próximos meses, poderá trazer mais informações sobre o assunto. “É uma descoberta intrigante”, disse Shrinivas Kulkarni, professor de astronomia e ciência planetária do Instituto de Tecnologia da Califórnia e co-autor de um dos relatos. “Estou convencido de que descobertas adicionais e estudos dessa nova classe de eventos híbridos fará avançar nossa compreensão da morte de estrelas de grande massa”, disse ele, em um comunicado.