No início deste mês, surpreendido por uma notícia de jornal, conversei com o presidente da Agência Espacial Brasileira [AEB], o ex-deputado Sérgio Gaudenzi, sobre o andamento das negociações entre a AEB e o Quartel General da Nasa [Nasa HQ] em Washington, a respeito da cooperação entre as duas agências no programa da ISS e outros projetos, como o estudo da biosfera da Amazônia, possíveis intercâmbios de pesquisadores etc. Fui, então, informado que as negociações têm prosseguido normalmente, conduzidas por ele próprio, com auxílio dos gerentes de projeto e de autoridades diplomáticas do Ministério das Relações Exteriores. Gaudenzi disse ainda que a idéia é, na verdade, uma grande ampliação das cooperações entre os dois países, com a reestruturação do escopo de participação em diversos projetos.
Obviamente, todas as negociações e assinaturas de contratos, assim como toda a definição de políticas e orçamentos do programa espacial, são de direito e responsabilidade exclusivos do presidente da AEB. No nível técnico de engenharia e operações, no qual participo assessorando a AEB em Houston e o Senai em São Paulo para intermediação entre setores técnicos e agências internacionais, quando solicitado, para a construção das partes nacionais, tudo está pronto, em estado “stand-by” [de espera]. Tanto na Nasa JSC [Houston], para a transferência de documentação técnica e acompanhamento do projeto, quanto no Senai Suíço-Brasileiro em São Paulo para a fabricação de protótipos, aguardamos, segundo determinação da AEB, que as negociações sejam concluídas pelo nível administrativo [AEB e Nasa HQ] para sabermos qual será o trabalho e iniciarmos as operações.
Do meu ponto de vista pessoal, depois de nove anos participando continuamente desse projeto, espero, sinceramente, que tenhamos continuidade e que fabriquemos no Brasil algum componente para a estação espacial. Confesso que um abandono do projeto pelo país nessa fase em que temos tudo pronto [pessoal, instalações, orçamento necessário, participação do IFI etc] me deixaria triste. Contudo, se durante as negociações em Washington a gerência da AEB, com uma visão mais completa do cenário geral de possíveis contribuições entre os dois países, achar por bem e determinar o redirecionamento dos nossos esforços [astronauta, Nasa JSC e Senai-SP] para outro projeto de cooperação entre AEB e Nasa, certamente ela poderá contar conosco 100%, pois estaremos sempre prontos para continuar trabalhando pelo desenvolvimento da educação, da ciência e da tecnologia brasileira com o mesmo entusiasmo e dedicação que sempre tivemos.