A tão famosa quanto misteriosa base militar popularmente conhecida como Área 51, a despeito de suas inúmeras outras denominações – tais como Dreamland, Groom Lake, Watertown Strip, Paradise Ranch, The Farm e The Box –, consiste em uma instalação de segurança máxima exclusivamente voltada à concepção, desenvolvimento e realização de testes de aeronaves e artefatos de alto desempenho, além de tecnologias aeroespaciais, tanto civis como militares. Neste ambiente, cercado do mais rigoroso controle operacional e logístico, foram – e ainda são – desenvolvidos projetos que durante anos ficaram desconhecidos do público, mas que eram – e ainda são – empregados em inúmeras missões de reconhecimento e principalmente obtenção da chamada “consciência situacional coletiva” para as forças armadas em combate nos diversos cenários de guerra [Ou teatro de operações] espalhados pelo mundo.
Ao contrário do que se pensa, aeronaves não tripuladas e pilotadas remotamente, designadas veículos aéreos não tripulados (VANTs) – cuja definição original em inglês é unmanned aerial vehicle (UAV) ou unmanned combat aerial vehicle (UCAV) –, não são recentes. Desde a Guerra do Vietnã, elas vêm cumprindo as mais diversas missões em solo estrangeiro e retornando com dados valiosos para seus comandos em terra. Com o desenvolvimento da robótica, de sistemas de inteligência artificial e da capacidade de reconhecimento e tomada autônoma de decisões, foram se tornando cada vez mais eficazes e, por conseguinte, importantes.
Em termos estratégicos, sua utilização passou a ser imprescindível em muitas situações, principalmente naquelas em que o fator decisivo para a determinação do fim de um conflito seria o menor número de baixas humanas, tanto civis como militares e, muitas vezes, antes mesmo que o próprio conflito houvesse iniciado. O alcance dessa tecnologia é tamanho que se já fala em esquadrões completos de veículos não tripulados e no fim das aeronaves militares tripuladas. Os pilotos seriam transferidos para o comando das sofisticadas estações de telecomando remoto. Ao lado deles atuariam jovens prodígios recrutados em campeonatos de videogames e simuladores de combate, aguilhoados pela realidade virtual e de imersão. Sendo assim, e levando em conta todos esses fatores, não é de surpreender que o Governo norte-americano não demonstre o mínimo interesse em satisfazer os desejos do mundo civil em divulgar sem meias-verdades o que existe ou ocorre na tal Área 51.
Engenharia reversa — A Ufologia, na condição de protociência, como não poderia deixar de ser, sustentou e alimentou o imaginário em torno desta e de outras bases militares igualmente secretas. Não faltaram ufólogos e demais pesquisadores a disseminarem que naves extraterrestres acidentadas ou abatidas teriam sido para ali levadas, desmontadas e estudadas de modo a servirem de material em projetos de engenharia reversa. Para quem não tem familiaridade com o tema, engenharia reversa seria a arte de extrair conhecimentos científicos e empíricos e certas habilitações específicas à criação de novas estruturas, dispositivos e processos para serem convertidos em formas adequadas ao atendimento de determinadas necessidades ou arquitetado mediante adaptação para que possa vir a ser usado para quaisquer dos fins a que foi originalmente concebido.
Muitos até garantiram que a Área 51 serviria de refúgio ou ponto de repouso final para os seres extraterrestres ou entidades biológicas extraterrestres (EBEs), como são conhecidos tecnicamente, vivas ou mortas, capturadas em tais acidentes e combates, sendo que algumas delas estariam sendo mantidas em cativeiro, em condições de “trabalho escravo”, ou ainda cooperando com os cientistas e militares norte-americanos em troca de poderem continuar levando a cabo suas abduções e experiências genéticas de forma livre e desimpedida.
A maior pista do mundo — Desnecessário dizer que os veículos aéreos não tripulados, acima referidos, de inúmeros formatos e dimensões, pelo próprio desconhecimento do público, foram e continuam sendo freqüentemente confundidos com UFOs. As teorias conspiratórias atribuem sua consecução a já citada engenharia reversa ou reengenharia a partir de naves extraterrestres capturadas ou abatidas, sendo que esta reengenharia teria se iniciado no final dos anos 40, quando supostamente uma espaçonave de origem extraterrestre teria se acidentado, caído ou sido abatida próxima a Roswell, no estado do Novo México. Até hoje, entretanto, não existe nenhuma evidência crível e sólida o suficiente para corroborar essas alegações.
A Área 51 está diretamente subordinada ao controle operacional da Força Aérea Norte-Americana (USAF). Localiza-se em uma seção de terreno de aproximadamente 15.550 km² no condado de Lincoln, estado de Nevada, e se insere dentro do extenso Campo de Treinamentos e Testes de Nevada [Nevada Test and Training Range], cerca de 136 km ao norte de Las Vegas. Geograficamente, a região é formada em grande parte pelo extenso Vale Emigrant, moldado ao norte e ao sul, respectivamente, pelas Montanhas Papoose e Groom, e pelas Montanhas Jumbled, a leste. Posicionado entre essas duas formações se encontra o leito seco do Lago Groom [Groom Lake], exatamente nas coordenadas 37°16’05” N e 115°47’58” O.
Recentemente, imagens de alta resolução obtidas por satélites possibilitaram conhecer um pouco mais das instalações e das imensas pistas para testes de aeronaves do local. São duas pistas operacionais, sendo a principal denominada de 14L/32R, composta de concreto e construída nos anos 90, medindo cerca de 3.651 m de comprimento por 61 m de largura. Em cada extremidade há outra pista de manobra de 304 m de comprimento por 30 m de largura, e uma pista auxiliar para taxiamento e rolamento, denominada 12/30, medindo cerca de 1.652 m de comprimento por 45 m de largura. A pista mais antiga e atualmente pouco utilizada é denominada de 14R/32L. Trata-se de uma das maiores, senão a maior pista para aeronaves do mundo, possuindo cerca de 10 km de extensão!
A Área 51 também faz frontei
ra com a região de Yucca Flats, onde se situa o Campo de Testes de Nevada [Nevada Test Site], no qual são realizados muitos dos testes de armas e dispositivos nucleares sob coordenação do Departamento de Energia Nuclear dos Estados Unidos. A Montanha Yucca, em Yucca Flats, é um local de armazenamento de material nuclear que dista cerca de 64 km a sudoeste da região do Lago Groom.
Como chegar à Área 51 — A região da Área 51 é conectada pela malha rodoviária interna do Campo de Testes de Nevada, composta por estradas asfaltadas e de terra. A Estrada do Lago Groom, de chão batido e situada a nordeste do lago do mesmo nome, atravessa uma passagem pelas Montanhas Jumbled. Essa estrada era utilizada antigamente por mineradoras, e desde que passou para a jurisdição militar, foi melhorada e seu acesso tornado restrito. Seu traçado sinuoso passa por um primeiro posto de segurança e fiscalização, sendo que qualquer atividade no local é monitorada 24 horas, principalmente por oficiais de segurança posicionados nas colinas da região a bordo de veículos tipo Land Rovers. Depois de passar por essas áreas restritas, nas quais várias placas de sinalização de advertência procuram intimidar com avisos como “fotografias proibidas” ou “o uso de força letal é autorizado”, a Estrada do Lago Groom continua a leste até a base do Vale Tikaboo, passando por várias pequenas estradas vicinais e pequenas fazendas e propriedades até se unir à Rodovia Estadual 375 do estado do Nevada, a famosa Rota 375, conhecida popularmente como Extraterrestrial Highway [Rodovia Extraterrestre], ao sul da localidade de Rachel.
Embora os teóricos das correntes de conspiração já tenham aventado as mais disparatadas explicações para definir o por quê de terem denominado a base de Área 51, a verdadeira origem de tal codinome parece estar bem longe de alguma conspiração ou ritual secreto, e é bem mais prosaica do que gostariam vários dos especuladores que insistem em alegar que o local abriga desde UFOs abatidos a extraterrestres capturados que seriam mantidos como “prisioneiros” de uma hipotética “guerra interplanetária”. A designação de Área 51 seria, na verdade, pregressa, uma vez que constava em antigos mapas relacionados à região do Campo de Testes de Nevada e adjacências. Tal designação teria o objetivo de delimitar todas as regiões em partes reconhecíveis e de fácil identificação.
Como exemplo, podemos citar o próprio Campo de Testes de Nevada, que é constituído por várias divisões ou áreas numeradas de 1 a 30, com exceção dos números 13, 21 e 28, que foram eliminados durante uma reorganização dos limites das áreas 25 e 27. Outro exemplo seria com referência ao Campo de Testes de Tonopah [Tonopah Test Range], que não está inserido no Campo de Testes de Nevada e é parcialmente operado e administrado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, e que é designado por Área 52 – ou Projeto 52 em documentos mais antigos –, e até constava no catálogo telefônico interno do Campo de Testes de Nevada.
Complexo de Nellis — Outras áreas de interesse e com designações seguindo o mesmo padrão seriam as áreas 19 e 20, que também pertencem ao Complexo Militar de Nellis, que engloba toda a região e instalações bélicas do Nevada, e outrora serviram de locais de realização de testes nucleares subterrâneos. Especula-se que hoje exista uma base subterrânea de alta tecnologia em um ponto central da denominada Área 19. Também de grande interesse para quem estuda o tema seria o conhecimento da Área 6, localizada no Campo de Testes de Nevada e que abrigaria o denominado Ponto de Controle, um complexo que serve como Centro de Comando, Centro de Operações Aéreas e Centro de Cronometragem de Tiro para o posicionamento de explosivos nos locais de treinamento em Yucca Flat, Frenchman Flat, Pahute Mesa, Rainier Mesa e áreas nos arredores.
O complexo do Ponto de Controle opera como um local centralizador para a coordenação das áreas administrativas, científicas e técnicas do Complexo Militar de Nellis. Instalações de apoio a ele incluem prédios de comunicações, laboratórios para ciências radiológicas e técnicas, estações de combate a incêndio, primeiros-socorros e estruturas próprias para manutenção e armazenamento de material. Assim, o complexo localizado na Área 6, provê suporte logístico e de material para várias outras áreas além do Campo de Testes de Nevada. Hoje sabemos que as instalações do Lago Groom já foram reconhecidas por vários nomes desde a sua construção. Como veremos em detalhes mais adiante, Kelly Johnson, pai do projeto da aeronave U-2, imbuído das perspectivas mais otimistas, chamava o local de Fazenda do Paraíso. Quando a primeira equipe de testes da empresa aeronáutica Lockheed Martin chegou ao local, em julho de 1955, simplesmente denominou o local como A Fazenda.
Em meados de junho de 1957, as operações e testes do programa da aeronave U-2 foram transferidas para a Base Área de Edwards, na vizinha Califórnia, determinada como operacional para utilização do 4028° Esquadrão de Reconhecimento Estratégico, posicionado na Base Área de Laughlin. A partir de então, a base do Lago Groom passou a ser denominada formalmente de Watertown Strip, em homenagem ao então diretor da CIA Allen Welsh Dulles, que nasceu na referida cidade, no estado de Nova York. Em 20 de junho de 1958, por força da Lei para Controle de Propriedades [Public Land Order ou PLO] número 1662, a base de operações do Lago Groom foi oficialmente tornada restrita e proibida para qualquer tipo de acesso público, e então oficialmente designada de Área 51 pela Comissão de Energia Atômica, que assumiu a administração do local. Os campos de provas e testes adjacentes foram divididos em várias áreas identificadas por números, conforme explicado anteriormente.
Ainda hoje, a base do Lago Groom é mundialmente conhecida por Área 51, embora essa designação tenha caído em desuso oficial desde os anos 70. Na atualidade, a base é chamada de Centro de Testes de Vôos da Força Aérea, Terceiro Destacamento, ou, de forma abreviada, pela sigla AFFTC Det 3. Sem dúvida, uma identificação mais condizente com os objetivos militares da mesma.
Bob Lazar e contratos com aliens — Neste ponto, cabe tecer considerações acerca da pitoresca figura de Robert “Bob” Lazar [Ver mais detalhes a respeito em artigo na próxima edição], certamente um dos principais, senão o principal responsável pela propagação de mitos e teorias conspiratórias em torno da Área 51. Lazar foi o primeiro – e até agora o único – a declarar peremptoriamente e de forma pública que teria trabalhado em engenharia reversa de espaçonaves extraterrestres. Ele identificou o local onde trabalhava como sendo a Área S-4, que está localizada nos arredores do Lago Papoose, distante cerca de 16 km ao sul da Área 51. Lazar descreveu até os ônibus que fariam o translado de funcionários entre a Área 51 e a Área S-4. Nesta última, alegou que existiriam sete hangares construídos na encosta de uma montanha e protegidos por imensas portas de acesso.
Neles estariam guardadas sete tipos diferentes de naves extraterrestres, sendo que algumas teriam sido obtidas em “acordos” com alienígenas, firmados pelo Governo dos Estados Unidos, enquanto outras teriam sido capturadas e abatidas, ou então resgatadas e recolhidas ao local. A região do Lago Papoose é parte integrante do Campo de Treinamentos e Testes de Nevada, mas não pode ser observada a partir de pontos de observação próximos. Imagens de alta resolução obtidas há pouco tempo, a partir de satélites, não mostraram qualquer evidência de algum tipo de construção ou de hangares no local, como citado por Lazar, nem de tráfego constante de veículos entre o Lago Papoose e a Área 51. As imagens mostraram a existência de uma estrada de terra, mas sem sinas de tráfego freqüente ou evidências de atividade ou distúrbios no terreno. Existe, porém, uma área denominada de S-4 ou Site-4, que faz parte do Campo de Combate de Guerra Eletrônica, outra instalação bélica norte-americana próxima ao Campo de Testes de Tonopah, a cerca de 80 km a noroeste do Lago Papoose. É lícito deduzir, portanto, que Lazar tenha obtido certas informações de pessoas de dentro do meio militar e civil que trabalham – ou trabalharam – nas instalações militares de Nevada, ou deve ter ouvido algo sobre a existência de uma Área S-4 utilizando essas informações para conferir um tom mais autêntico às suas alegações.
Projetos secretos — Antes de ser a Área 51, o local foi intensamente utilizado como campo de práticas de artilharia e bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. Após o final da mesma, foi abandonado. Em 1955, Clarence Leonard “Kelly” Johnson, então engenheiro-chefe da Skunk Works [Denominação oficiosa do Programa de Desenvolvimento Avançado, da empresa Lockheed Martin], considerou que aquele seria o local ideal para o desenvolvimento e testes da aeronave de reconhecimento e espionagem U-2. Para tanto, a Lockheed Martin construiu uma pequena comunidade e uma base. Já em agosto de 1955, o projeto voou pela primeira vez com sucesso absoluto, sendo entregue para controle e operação da CIA, que passou a utilizar o U-2 em missões de sobrevôo da antiga União Soviética a partir de 1956.
Entrementes, as equipes do Campo de Testes de Nevada levavam a cabo a denominada Operação Plumbbob, uma série de controversos testes nucleares subterrâneos e atmosféricos que ocasionou várias paralisações nas operações da Área 51 e em toda a região do Lago Groom. Durante uma das detonações nucleares, em julho de 1957, a região da Área 51 teve de ser evacuada temporariamente devido à contaminação radioativa. Após completar o aperfeiçoamento do U-2, a Lockheed Martin passou a trabalhar em seu sucessor, denominado pela CIA de Projeto Oxcart, que deveria ser uma aeronave de reconhecimento de grande altitude e com velocidade igual ou superior a Mach 3, três vezes mais rápido do que o som. As aeronaves desse projeto seriam denominadas de Black Birds [Pássaros Negros], devido ao seu formato furtivo e sua cor negra, conferida pela aplicação do material absorvente de ondas de radar.
As exigências desse projeto forçaram a primeira e grande expansão das instalações da Área 51. Na época do vôo do primeiro protótipo do avião A-12, em 1962, a pista principal da base havia sido expandida para 2.600 m e contava com uma equipe de mais de mil pessoas para operá-la. Assim, os aviões Black Birds e suas variantes alçaram seu primeiro vôo: as aeronaves espiãs de elevada altitude A-12, o SR-71, o interceptador YF-12A e o D-12. Esta é uma das primeiras tentativas de se produzir um veículo UAV ou UCAV, como descrito. São maravilhas tecnológicas, como os aviões F-117 Night Hawk e o B-2 Spirit, veículos aéreos e terrestres hoje sobejamente conhecidos do público, mas que durante anos tiveram sua existência negada pelo Governo dos EUA, nasceram na Área 51.
Desde então, o local tem sido continuamente expandido e atualizado para ser utilizado em vários projetos secretos ou denominados Black Operations, que simplesmente não figuram nos documentos orçamentários oficiais, sendo desconhecidos até mesmo de muitas figuras do alto escalão do Congresso e do Senado norte-americanos. A partir do ano 2000, iniciou-se na Área 51 o desenvolvimento do projeto de uma aeronave comercial modificada, mais especificamente um Boeing 747-400F, que transporta um sistema emissor de raio laser de altíssima potência, capaz de vaporizar mísseis, satélites e aeronaves em pleno vôo. Alcunhado de Airborne Laser (ABL), o projeto é fruto do trabalho de uma divisão da Boeing, operando em conjunto com a USAF. Atualmente, a Área 51 está também sendo utilizada para a concretização da plataforma cognominada Aurora, uma aeronave de espionagem e reconhecimento de elevada altitude e velocidade para substituição do hoje aposentado SR-71 Black Bird.
Mercado negro — A esta altura, o leitor já deve ter notado que toda a área operacional encravada na região do Lago Groom não é uma base militar aérea convencional, e o seu movimento nem de longe se compara à observada em outras bases. Equipamentos, material e pessoal somente são utilizados durante as diversas fases de testes e de treinamento de novas aeronaves e veículos. Quando uma aeronave ou protótipo é aprovado em definitivo pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, a Área 51 passa a operar em uma situação normal como qualquer outra base militar. A aeronave ou veículo é então destacado para uma nova base para compor um novo esquadrão. Entretanto, existem ocasiões em que a própria Área 51 ou outras próximas a ela ligadas se tornam a base de um novo esquadrão tático, como é o caso do 11° e 15° Esquadrão de Reconhecimento de Aeronaves UCAVs, baseados na Base Aérea de Nellis, uns 100 km ao sul, e do 17° Esquadrão de Reconhecimento da Base Aérea de Indian Springs, ao norte.
A Área 51 serve igualmente de depósito permanente para materiais de origem estrangeira – russa em sua maioria –, capturados por nações aliadas, vendidas ou “doadas” aos Estados Unidos, tais como aeronaves, sistema de radares, armamentos, equipamentos etc. Há referências de que outras nações, mediante negociações no mercado negro da tecnologia militar, teriam comprado tecnologia soviética e posteriormente a repassado aos Estados Unidos. Um filme que ilustra bem essa questão chama-se Raposa de Fogo [1982], dirigido, produzido e estrelado por Clint Eastwood. A tecnologia russa capturada seria reaproveitada em processos reais de reconhecimento e aprendizado da tecnologia utilizada em sua construção – a denominada engenharia reversa.
O satélite Ikonos, da empresa GeoEye [Antiga Space Imaging], produziu recentemente imagens com elevada resolução mostrando ainda mais detalhes da Área 51, conhecidos somente por poucas pessoas. Nelas se pode observar com minúcias os hangares, pistas e outras construções, porém nenhuma evidência que corrobore os rumores da existência de instalações subterrâneas, as quais teriam de ser detectadas por sensoriamento multiespectral. O nível tecnológico alcançado pela Força Aérea Norte-Americana (USAF) é realmente impressionante. Um exemplo é o experimento realizado em 21 de fevereiro de 2001, quando um veículo UCAV denominado Predator RQ-1, da empresa General Atomics, decolou da Área 51, voou sozinho até a Base Aérea de Nellis, onde então designou seu alvo e lançou mísseis AGM-114 Hellfire contra um velho tanque de guerra no solo, atingindo-o em cheio. Após ter cumprido a missão, a aeronave retornou automaticamente para sua base e aterrissou suavemente. Todo esse procedimento foi realizado sem nenhuma intervenção direta, mas contando apenas com a supervisão humana.
Protótipos avançados — O primeiro protótipo do caça tático com tecnologia de baixa percepção avançada, que gerou muito dos relatos de UFOs, foi o Have Blue, que voou pela primeira vez em Lago Groom em 1977. Desde então, uma série de protótipos ultra secretos continuou a ser testada até 1981, quando se iniciou a produção seriada do F-117. Paralelamente, testes de guiagem de armamento e treinamento de pilotos da USAF começaram a ser realizados nas instalações da Área 51. Finalmente, as operações das aeronaves F-117 foram movidas dela para o Campo de Testes de Tonopah, e dali para a Base da Força Aérea de Holloman, no estado do Novo México. Resumindo, os projetos e as operações militares desenvolvidos atualmente nas instalações do Lago Groom são:
Tecnologias de camuflagem visual e sistemas de baixa percepção de emissões eletromagnéticas, de geração de calor e de assinatura radar.
Projetos de aeronaves de reconhecimento de elevada altitude, de formato triangular [Delta] para transporte de tropas e equipamentos com capacidade de alcance global e com sistema de pouso e decolagem vertical e horizontal.
Programas de helicópteros e similares de asas rotativas e com tecnologia de baixa percepção [Stealth] e camuflagem ou dissimulação visual [Cloaking].
Sistemas de reconhecimento de terreno e rastreamento em modo multiespectral.
Dirigíveis de reconhecimento, mísseis e “bombas inteligentes”, também com tecnologia de baixa percepção, e aeronaves UAV/UCAV nas mais diversas configurações, formatos e tamanhos.
Tecnologias não convencionais utilizadas em propulsão, eficiência aerodinâmica – diminuição do arrasto causado pelo atrito – e armamentos para ataque e defesa.
A Área 51 atualmente não consta dos mapas vendidos ao público. Os mapas topológicos do órgão de Sondagem Geológica dos Estados Unidos [United States Geological Survey ou USGS] mostram somente algumas áreas da região do Lago Groom, sem edificações. As cartas de aviação civil para o estado de Nevada, por sua vez, exibem somente uma grande área de tráfego restrito, que não pode ser penetrada, e definem tal área como integrando o espaço aéreo da Base Aérea de Nellis, embora esta esteja bem ao sul. Nas cartas aeronáuticas, o espaço aéreo acima do Lago Groom é identificado pelo código R-4808E. O Atlas Nacional dos Estados Unidos não faz distinção entre a região do Lago Groom e outras áreas do Complexo Militar de Nellis.
O Governo norte-americano, obviamente, não reconhece a existência de instalações secretas na região do Lago Groom, embora não negue que ela abriga instalações militares, uma vez que deixou vazar muitas evidências nesse sentido. Apesar do governo não discutir oficialmente o tema, uma simples consulta em mecanismos de buscas na internet – somente no Google, digitando as palavras “Groom Lake”, encontramos cerca de 2.330.000 referências – traz indicações de inúmeros locais acessíveis ao público, inclusive sites da própria USAF, com referências muitas vezes ambíguas. Ao contrário de outras áreas do Complexo Militar de Nellis, os arredores do Lago Groom encontram-se em permanente
restrição quanto à presença de civis. O espaço aéreo ao redor também é vedado ao tráfego civil e restrito até mesmo para os militares.
Placas de advertência intimidam com avisos como “fotografias proibidas” ou “o uso de força letal é autorizado”
Fuzis M-16 — A região é totalmente protegida por estratégicas estações de radar. Visitas indesejáveis são prontamente recepcionadas por seguranças terceirizados fortemente armados. Tais guarnições, conhecidas por cammo dudes [Expressão típica dos moradores de Rachel, uma mistura de “camouflage-clad” com “dude”, traduzindo-se por algo como “os bacanas com uniforme camuflado”], utilizam veículos de tração nas quatro rodas modelos Cherokee e Hummers com camuflagem padrão para ambientes de deserto. Mais recentemente, as equipes de segurança também passaram a utilizar picapes Ford F-150 de várias cores e Chevy 2500, de cor cinza.
Armadas com fuzis M-16, as guarnições são auxiliadas por sofisticados dispositivos eletrônicos, como câmeras infravermelhas, sensores de presença, detectores de movimento e helicópteros MH-60G Pave Hawk de cor preta e sem identificação. Apesar da segurança possuir autorização para uso de “força letal” contra intrusos, se necessário, nenhum incidente violento foi reportado até o momento. O procedimento de abordagem das equipes de segurança é sempre de intimidação. Conduzem os intrusos para os perímetros da região e, pelo rádio, avisam a polícia do Condado de Lincoln, que, conforme o caso, os abordam diretamente e lhes prendem em flagrante. Os intrusos ficam sujeitos a uma multa de 600 dólares [Cerca de R$ 1.300], investigação e detenção rigorosa por parte do FBI.
Todas as guarnições são controladas por uma empresa de segurança denominada EG&G, subcontratada pela Wackenhut Corporation, que fornece serviços de segurança privada e investigações gerais, sediada em Palm Beach Gardens, na Califórnia. Em 16 de dezembro de 1999, o Las Vegas Review Journal anunciou, em matéria assinada pelo repórter Keith Rogers, que o Departamento de Energia dos Estados Unidos estava oficialmente renunciando a uma área de cerca de 15.550 km² nos arredores do Lago Groom e entregando-a à USAF para seu total controle, propriedade e jurisdição. A matéria dizia ainda que o extenso Campo de Treinamentos e Testes de Nevada havia crescido quase 350 km² graças a uma contaminação do solo – resíduos de um teste nuclear realizado em 1968 – e ao referendo do então presidente Bill Clinton a uma lei aprovada naquele ano.
As autoridades governamentais levaram dois meses para anunciar a promulgação da lei de 1999, que repassou as terras para os militares, esperando pela finalização da documentação que regularizou a posse das áreas contaminadas. Elas agora faziam parte da fronteira noroeste da base. A mesma lei também permitia que a USAF continuasse explorando essas terras e o Complexo de Testes de Nellis por mais 20 anos. A transferência, segundo o porta-voz do Departamento de Energia, Derek Scammell, foi estimulada pelo teste nuclear de Shooner, de 30 kilotons, realizado em 08 de dezembro de 1968. Foi um experimento não militar que tentava demonstrar a aplicação de dispositivos nucleares em trabalhos de engenharia, como escavação de canais e portos.
Danos à saúde — A contaminação do solo da região, oriunda do experimento, tem sido monitorada pela USAF há mais de 30 anos. A nova lei adicionou uma protuberância à fronteira da base bem na região de Pahute Mesa, e manteve a contaminação sob controle. A área de testes de Nevada tem agora um total de 2.517 km², o que significa um acréscimo de cerca de 14%. Essa região do deserto, a cerca de 100 km de Las Vegas, foi palco reservado especificamente para testes nucleares de 1951 a 1992, que estão cancelados por tempo indefinido. Mas os cientistas continuam a realizar experimentos atômicos de menor porte em um complexo subterrâneo dentro desse local. Diferentemente dos testes convencionais, utilizando explosões, pequenas quantidades de plutônio são detonadas, mas não chegam a gerar uma reação em cadeia auto sustentada. A nova lei, ainda segundo o Departamento de Energia, serve para “corrigir diversos equívocos de uso e jurisdição relacionados com o Complexo Militar de Nellis”. Em uma pesquisa feita em Las Vegas, em 1998, foi perguntado ao público se a USAF deveria renovar o seu acordo com o Escritório de Gerenciamento de Terras e vetar o acesso à área de testes de Nevada, visando a realização de treinamentos para combate. Vários moradores exigiram que os militares parassem de fazer referências ambíguas às atividades realizadas ao redor da região do Lago Groom e que esclarecessem as coisas de uma vez por todas. Os entrevistados Norio Hayakawa, Anthony Hilder e Aaron Johnson apelaram à USAF para que contasse ao público o que realmente acontece nas misteriosas bases próximas ao Lago Groom, já que ex-trabalhadores haviam se queixado de danos à saúde causados pela queima a céu aberto de materiais como as coberturas para refletir ondas de radar utilizadas pelos aviões Stealth.
Referências antigas e ambíguas — Procurando capitalizar o potencial turístico propiciado pelo folclore que se criou em torno da região da Área 51, o Governo do estado de Nevada renomeou parte da Rodovia Estadual 375 para Extraterrestrial Highway [Rodovia Extraterrestre], ao sul da localidade de Rachel, e colocou placas de sinalização sugestivas ao longo de seu trajeto. A referência mais antiga à Área 51 consta em um filme da Lockheed Martin, da década de 60, que mostra os preparativos para despachar uma aeronave para o local. Em um trecho do filme, vemos Kelly Johnson escrevendo em um quadro negro: “Move out to Area 51” [Mude-se para a Área 51]. Vários documentos hoje liberados do Departamento de Energia dos EUA, datados do início dos anos 60 e finais dos 70, também fazem alusão à Área 51. Por eles é que ficamos sabendo que o órgão se referia à área de atividades da Força Aérea Norte-Americana inserida em Lago Groom como Área 51. Isso até o final dos anos 70, quando então as mudanças já descritas, em antecipação ao programa
do caça Stealth, foram efetivadas.
A posição oficial atual do Departamento de Energia dos EUA sobre a Área 51 também é conhecida e ambígua: “O território de 15.550 km², conhecido como Área 51, foi retirado do domínio público há mais de 35 anos atrás sob a lei 1.662 de 25 de junho de 1958, e se tornou propriedade da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, uma antecessora do Departamento de Energia. Desde então, estas terras têm sido utilizadas e administradas como uma propriedade governamental. Devido ao fato do Departamento de Energia não realizar mais nenhuma atividade naquela região, a Área 51 não aparece nos mapas do estado do Nevada. Hoje em dia, a região é utilizada pelo Departamento de Defesa como parte da região de 4.120 km² chamada Base Aérea de Nellis”.
Outro questionamento bastante interessante é o que se refere aos empregados civis que trabalhariam na Área 51 e em outros setores. Levando em conta que existem várias empresas contratadas pelas Forças Armadas dos EUA para o desenvolvimento de projetos, onde estão essas pessoas? Como chegam até o seu local de serviço? Sim, elas existem! Todos os dias, pela manhã, cerca de 500 pessoas chegam ao terminal mais bem guardado e de acesso mais restrito do Aeroporto McCarran, em Las Vegas, Nevada, que é administrado pela EG&G. O local é conhecido como Janet Terminal. De lá os empregados são transportados em aeronaves Boeing 737-200 até a Área 51, ao Campo de Testes de Tonopah e a outras áreas onde trabalham em projetos militares. As aeronaves que fazem esse transporte são pintadas de branco com uma faixa vermelha na lateral e não possuem nenhuma insígnia ou nome de companhia aérea em sua fuselagem. Os vôos da Janet Airlines também transportam trabalhadores entre Lago Groom e Palmdale, e possivelmente para o Laboratório de Los Alamos.
Realidade científica — Assim, diante de toda essa movimentação, o mais surpreendente e talvez o maior segredo a respeito da Área 51 é que, de fato, ela nunca foi realmente secreta. O conhecimento público de uma “base que nunca existiu” sempre foi evidente. A construção de uma base na região do Lago Groom foi anunciada pelo Governo dos Estados Unidos e reiteradamente confirmada por fontes oficiais. As referências ao local e suas instalações aparecem igualmente em numerosos mapas não classificados produzidos por agências governamentais, como a USGS. Tudo o que podemos dizer com certeza é que muitas das áreas de controle militar da região de Nevada, especialmente a Área 51, são utilizadas de alguma forma para a realização de testes envolvendo aeronaves tripuladas e não tripuladas, e sistemas bélicos para ataque e defesa com recursos de alta tecnologia. Especialistas dizem que a tecnologia militar costuma estar de 10 a 20 anos à frente da civil. Observando e estudando as últimas conquistas sobre aeronaves e sistemas de ataque e defesa, poderíamos com segurança pensar que estamos diante de histórias de ficção científica, porém trata-se de uma realidade científica real e cada vez mais presente no teatro mundial das operações militares.