Os fatos ocorridos em Varginha (MG), principalmente de 13 a 20 de janeiro de 1996, dão aos ufólogos a impressão de que pelo menos duas criaturas foram capturadas pelo Exército, naquela cidade. Após nove anos desse acontecimento, considerado por muitos como o mais notável incidente ufológico de todos os tempos, controvérsias e intensos debates ainda dividem opiniões. A Ufologia Brasileira continua procurando indícios ou provas de que as Forças Armadas e importantes instituições governamentais estiveram envolvidas, e que teriam imposto um processo de ocultação e desinformação ao caso, tal como ocorre há mais de 50 anos em todo o mundo. Mas o meio ufológico não tem percebido que informações podem se tornar inválidas se não houver muita atenção ao que possa ter sido originado de meros boatos e de entendimentos errôneos dos veículos de comunicação.
Por isso, esse artigo, contendo a cronologia do Caso Varginha, visa estabelecer uma seqüência inteligível da história do incidente, independentemente da análise destinada a filtrar aspectos que lhe dêem maior ou menor credibilidade. O primeiro trabalho nesse sentido foi elaborado pelo ufólogo Claudeir Covo, um dos maiores nomes da Ufologia Brasileira, e apresentado na revista Planeta, em setembro de 1996. Passados nove anos dos principais acontecimentos, a Revista UFO publica nova cronologia, esta, agora baseada nos resultados das investigações. Deve-se ter em conta que a maioria dos ufólogos e investigadores do Caso Varginha chegaram, desde há muito, ao consenso de que conhecem alguns fatos envolvendo um grande contexto, do qual ainda não existe um completo e definitivo entendimento. De qualquer forma, é possível se ter certeza de muitos detalhes desse contexto, como se verá a seguir.
Fim de 1995 a 12 de janeiro de 1996 — É feito o rastreamento pelo sistema de satélites dos Estados Unidos e se detectou a movimentação incomum de objetos voadores não identificados nos céus brasileiros, com epicentro no sul do Estado de Minas Gerais, justamente onde está Varginha.
12 de janeiro de 1996 — Às 20h30, o ufólogo Fernando Tejo, cuja base de estudos fica na cidade de Cruzeiro (SP), realiza suas pesquisas junto à divisa dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Ouvindo notícias sobre a aparição de alguns pontos luminosos, Tejo resolveu fazer vigília na área e percebeu que algumas “estrelas” começaram subitamente a se movimentar. Logo abaixo da estrela Alfa da constelação do Centauro, o astro mais brilhante que delimita o movimento aparente do Cruzeiro do Sul, dois pontos luminosos mantiveram-se estáticos. O da direita, em poucos instantes, iniciou uma trajetória retilínea em direção ao da esquerda, podendo-se notar uma aproximação entre ambos com o uso de binóculos. Deram a impressão de se fundirem. Porém, segundos depois, separaram-se novamente, seguindo um deles em direção à Serra do Mar e, o outro, tomando rumo noroeste, em direção à Serra da Mantiqueira, passando por sobre a divisa de São Paulo com Minas Gerais.
13 de janeiro de 1996 — Desde a madrugada, a Força Aérea Norte-Americana (USAF) alerta a Força Aérea Brasileira (FAB) de que os pontos percebidos em seus radares moviam-se em altitudes suspeitas, excessivamente baixas, insinuando pouso ou queda. Pela manhã, uma antena do North American Aerospace Defense Command [Comando de Defesa Aeroespacial Norte Americano, NORAD], possivelmente através do centro da instituição instalado no Novo México (EUA), deu novo alerta às autoridades brasileiras de que um artefato sobrevoava a região sul de Minas Gerais, com comportamento de queda. Por volta das 08h00, o Estado Maior das Forças Armadas de nosso país foi oficialmente informado do fato e ordenou que a unidade do Exército mais próxima da trajetória final do objeto, a Escola de Sargentos das Armas (ESA), de Três Corações, a 27 km de Varginha, entrasse em estado de alerta.
Às 08h30, Carlos de Souza, piloto de ultraleve e proprietário de uma pequena empresa de dedetização em São Paulo (SP), trafegando pela Rodovia Fernão Dias, a BR-381, no sentido São Paulo a Belo Horizonte, parou seu automóvel à cerca de 5 km do trevo que dá acesso a Varginha. Ele passou a observar um objeto alongado, em formato de charuto e com aparência de dirigível. A aeroforma atravessou o céu em altitude instável e cruzou os morros na direção do município de Três Corações. Souza retomou então a viagem e passou a seguir visualmente o objeto. Entre 08h45 e 08h50, ele vê que o artefato metálico, totalmente polido e refletindo intensamente a luz solar, possuindo uma espécie de escotilha, apresentava um grande buraco na parte anterior, da qual exalava um tipo de névoa ou fumaça. A avaria se estendia uma fissura disforme até a parte mediana da fuselagem do objeto. Por volta de 09h00, o UFO perdeu então vertiginosamente altitude, descendo num ângulo de 30 graus. Desapareceu por detrás de um morro e o piloto Souza deduziu que acabara de ocorrer uma queda. Mas ele continua seu trajeto pela Rodovia Fernão Dias, dirigindo por cerca de 20 km, e encontrou a entrada sem asfalto da Fazenda Maiolini, onde supôs que o objeto teria caído, passando a procurar o local do possível acidente. Em um pasto a sua esquerda, viu muitos destroços e cerca de 40 homens do Exército e da Polícia Militar recolhendo-os. Souza apanhou um deles, extremamente leve e que voltava à forma original quando amassado, tal como ocorrera no clássico Caso Roswell, em 1947, nos EUA. Havia no pasto um helicóptero, dois caminhões cobertos de lonas e uma ambulância do Exército. Um pedaço grande do artefato foi colocado por um guindaste em um dos caminhões. Um cheiro de “água podre”, nas palavras da testemunha, mesclado a algo parecido com éter ou amônia, impregnou todo o local.
Um cabo da Polícia Militar aproximou-se rapidamente de Souza, com outros militares, e o admoestaram firmemente para que deixasse o local e nada dissesse sobre o que viu. Quando chegava 09h30, o piloto que nervosamente retornava para São Paulo, resolveu parar para tomar água em um posto da Fernão Dias, o Restaurante Campo Alegre, poucos quilômetros depois do trevo que dá acesso a Varginha. Foi novamente abordado por três homens sem farda, que tornaram a ameaçá-lo, dizendo saber de quem ele se tratava, conheciam seu endereço e outros dados pessoais. Ele decidiu então procurar o u
fólogo Claudeir Covo, em São Paulo, mas somente em 02 de outubro de 1996, para narrar o que presenciara. Ainda em 13 de janeiro, às 21h00, Walter Xavier da Silva, prefeito da cidade de Monsenhor Paulo, a 38 km de Varginha, com sua esposa Jandira, seguia para a Fazenda Esmeril, de sua propriedade, no local denominado Capela de São Joaquim.
O casal parou no alto de uma pequena depressão da estrada com a finalidade de observar “algo um tanto quadrado”, conforme descreveu, delineado por quatro luzes laterais que se mantiveram imóveis no céu, à sua esquerda. Quase instintiva e instantaneamente, Silva acionou o pisca-alerta do carro. O objeto, de grandes proporções, arremeteu na direção do automóvel, fazendo o prefeito arrancar e descer a encosta, enfiando desajeitado o carro na garagem. O corpo luminoso pairou então a baixa altitude entre os eucaliptos e um rancho, bem de frente à garagem. Em poucos segundos, deslocou-se na direção oposta, emitindo um ronco grave como o acionar vibrante de um motor e desapareceu em ângulo reto, com velocidade vertiginosa. Segundo o prefeito, um brilho muito forte iluminou chão. O artefato tinha o formato de “um vagão de trem”, quadrado ou retangular. Silva ficou com a vista ruim e teve conjuntivite, que perdurou por vários dias.
14 de janeiro de 1996 — Às 20h00, um sargento do Exército percebeu a existência de um caminhão da ESA encostado discretamente em uma garagem da base. Aproximando-se em momento apropriado, para sondar melhor, viu por uma fresta da lona que havia na carroceria um grande número de fragmentos metálicos, que ele não reconheceu. Na manhã seguinte, o caminhão já não se encontrava lá.
15 de janeiro de 1996 — Pela manhã, alguns informantes julgaram ter visto homens trajados com uniformes da Força Aérea Norte-Americana (USAF), trazidos em um helicóptero que pousou naquele complexo militar.
15 a 19 de janeiro de 1996 — Nesse período ocorreu uma intensa movimentação de veículos do Exército na estrada que liga Três Corações à Varginha. Havia guarnições armadas nas carrocerias lonadas das viaturas, marca Mercedes Benz e modelo 1418. Eduardo Praxedes, vigia da empresa Parmalat, situada às margens do Rio Verde, ao lado de uma ponte daquela estrada, juntamente com dois colegas, testemunhou tal movimento. Soube-se também que, às 06h00 de 19 de janeiro, uma aeronave do tipo Buffalo decolara da Base Aérea de Canoas (RS), transportando um equipamento de radar portátil e o descarregara na pista de algum aeroporto situado no sul Minas Gerais.
20 de janeiro de 1996 — Cerca de uma e meia da madrugada, Eurico Rodrigues de Freitas, 40, e Oralina Augusta de Freitas, 37, caseiros do sítio de propriedade de José Castilho, a 10 km de Varginha e à beira da citada rodovia, são acordados pelo que pensaram ser o estouro do gado. Avistaram a altura do pasto um objeto sem iluminação, fosco, alongado e parecido com “um pequeno submarino”, que pairava à cerca de 5 m do solo e voava lentamente, segundo palavras das próprias testemunhas. O estranho corpo possuía um buraco na parte anterior, da qual saía uma fumaça branca como “aquelas fitas colocadas nos ventiladores”. Gastou em torno de 45 minutos para transpor um trecho de 800 m até desaparecer por detrás de um morro, em direção à cidade [O casal dizia não ter certeza da data, que poderia ser “dias antes” de 20 de janeiro, ocasião principal do caso, conforme descreveram. Posteriormente, passou a afirmar que se tratava da madrugada do referido dia].
Por volta das 08h30, algumas crianças encontraram um ser incomum já na cidade de Varginha, “parecido com gente e animal ao mesmo tempo”, segundo uma delas. Uma casa em construção ao final do Jardim Andere, no município, pouco acima da Rua Suécia, era uma das poucas obras do loteamento onde o bairro terminava. O tal animal estava acuado e “chorando alto e fino”. Mexeu-se somente quando alguém atirou nele um pedregulho. Segundo descrições, tinha o abdômen avantajado, intumescido e inchado, aparentando ser “uma fêmea de macaco grávida”. Uma moça que se aproximava com o noivo do local, a pouco mais de 5 m, assustou-se e ficou em estado de choque, sendo levada para um hospital. O ser, então, saiu da construção e desceu lentamente por um grande pasto delimitado pela Rua Suécia, conhecido como “terreno do José Gomes”, que divide o Jardim Andere do Bairro Santana. Ali existe uma floresta de eucaliptos.
Praticamente no mesmo horário, telefonemas foram dados desde o Jardim Andere para o quartel da Polícia Militar. Um policial que estivera de plantão confirmou o recebimento das ligações em situação de emergência, mas o tenente-coronel Maurício Antonio dos Santos, comandante do batalhão, nega os telefonemas e que ao menos ouvira boatos sobre tal alegada criatura. No entanto, prometeu dar quaisquer informações que chegassem a ele, mudando de idéia depois e recusando fazê-lo até hoje. Ainda na mesma hora, o comando local da Polícia Militar informou à ESA que pessoas diziam estar avistando algo suspeito no Jardim Andere. Um caminhão de transporte de tropas, Mercedes Benz, modelo 1.418, com vários soldados, dois tenentes e um sargento, partiu para Varginha em alta velocidade.
Às 09h00, o comando da 13ª Companhia de Bombeiros Especial recebeu ordem do quartel da PM para enviar uma guarniçã
;o ao local onde estava sendo vista a tal criatura. Homens foram para o final do Jardim Andere em um caminhão pipa. Eram o tenente-coronel Santos, o sargento Palhares, o cabo Rubens e alguns soldados. Ao chegarem, informam por rádio ao seu comandante, o major José Francisco Maciel Dias Ferreira [Atualmente é coronel e reside em Belo Horizonte (MG)], que “um caminhão da ESA já havia chegado”. O comandante e outro bombeiro correram então e juntaram-se aos demais. Intensificou-se neste instante uma busca nervosa. Os civis, que começaram a se aglomerar para ver as operações, receberam ordens de deixar o local. Aproximadamente uma hora se passou e a criatura é avistada. Dois bombeiros vestindo luvas de couro e feltro atiraram-lhe uma rede de couro, geralmente usada para captura de animais. Esboçando apenas uma débil reação de escapar, a criatura foi imobilizada, enrolada na rede e colocada rapidamente em uma caixa de madeira envolta em pano na carroceria do caminhão da ESA. O ser emitia um zumbido quase inaudível.
A viatura militar partiu em disparada para a ESA, em Três Corações. Ficou estabelecida de imediato a ordem de absoluto sigilo e determinado o caráter secreto do que acabou de se passar. Por volta de 10h00, alguns trabalhadores de uma construção próxima – entre eles o servente de pedreiro Henrique José de Souza, que já avistara a chegada do caminhão dos bombeiros – ouvem de alguns civis, que debandaram a mando dos militares, que “os bombeiros pegaram um bicho estranho lá”. Ainda nesse dia, um vendedor de peixes morador da vizinha cidade de Elói Mendes, que ganha a vida em Varginha, passava pela Rua Benevenuto Braz Vieira, duas quadras acima. Ele ouviu gritos de policiais fardados que seguiam pelo mato ainda existente entre as obras. O grupo subiu por um terreno baldio e trouxe consigo um corpo enrolado numa rede.
O peixeiro era João Bosco Manoel, 28. Ele conseguiu vislumbrar apenas os pés da criatura, que disse serem extremamente grandes. Pareceu a Manoel que o comandante estava muito nervoso e pedia pressa ao grupo nas ações. Sentiu ainda um cheiro fortíssimo de amoníaco no ar, que lhe fez arderem os olhos. Viu que duas garotas afastam-se rapidamente do local, devido ao odor repelente. Os policiais desceram correndo pela rua e ele resolveu subir no parapeito de um alpendre para ver melhor o que se passava, notando que os homens tomaram um caminhão pipa com sua carga e partiram.
20 de janeiro de 1996, 14h00 — Um advogado que estava se exercitando, caminhando pelo grande pasto que vem desde a rodovia que dá acesso à Varginha, entrou no meio dos bairros Jardim Andere e Santana, terminando na floresta de eucaliptos no terreno do José Gomes. Ele seguiu pelo lado da linha férrea que passa por ali quando, de repente, avistou um grupo de homens que pareciam andar em formação, como se fazendo algum tipo de cerco e formando um semicírculo em direção à mata. O advogado escolheu um ponto alto, já na rua asfaltada do final do Jardim Andere, e começou a acompanhar aquela manobra. O homem da frente estava armado com pistolas e os dois das pontas traziam armamento pesado. Quando adentraram a mata, a testemunha os perdeu de vista momentaneamente.
Logo depois, ele ouviu três tiros de fuzil e desceu um pouco a rua para ver o que se passava. Observou sete militares com uniformes camuflados de campana subindo apressados por outro barranco, aproximando-se de um caminhão de transporte de tropas estacionado próximo. Dois dos soldados portavam, cada um, um saco de pano. Num destes havia algum material inerte, pesado. No outro, algo se mexia. Os soldados subiram na carroceria e deram partida no veículo, desaparecendo. Um dos fatos mais grave de todo o Caso Varginha aconteceria apenas alguns minutos depois e envolveria testemunhas centrais do episódio.
Por volta das 15h00, Kátia Xavier, 21, que cuidava de crianças e fazia faxina em residências nos finais de semana, saiu da casa onde trabalhara naquele dia, no Jardim Andere, e se encontrou com a amiga Liliane de Fátima Silva, 16, e sua irmã, Valquíria Aparecida Silva, 14. Desceram as três pela Rua Belo Horizonte, na parte posterior do bairro, para cortar caminho por uma trilha em meio a algumas construções, com a finalidade de sair no último lote de casas próximas ao terreno do José Gomes e, assim, poder iniciar a subida para seu bairro, o Jardim Santana. Após as construções, já na Rua Benevenuto Braz Vieira, entraram em outro lote vazio, o de número 36, ao lado de uma oficina mecânica. Kátia, que caminhava mais à frente, parou à cerca de 7 m do muro que divide a oficina com o lote.
A moça cerrou os olhos e gritou às amigas: “Gente! O que é aquilo ali?” Liliane, logo atrás, colocou a mão na boca e Valquíria suplicava que saíssem todas rapidamente do terreno. Começaram então a correr, desistindo do atalho e indo para seu bairro pela via asfaltada próxima. Os vizinhos as viram chegar em casa chorando e gritando. Luzia Helena da Silva, mãe de Liliane e Valquíria, ouviu das filhas que “acabaram de ver algo ruim”. Pouco depois, por volta de 15h30, Luzia solicitou à proprietária de uma butique próxima, Wilma Abreu Cardoso, que pedisse à irmã desta, dona de uma caminhonete, que a levasse até o local da visão, a fim de ver o que assustara suas filhas. Lá chegando, percebeu um forte cheiro de amoníaco no ar [Não registrado pelas três garotas] e viu no chão batido em que a criatura estivera uma marca arredondada unida a três sulcos, como se deixada por uma pegada grande.
Outros populares se aproximaram e Luzia resolveu deixar o local. Foi ouvir das filhas o que, afinal, elas haviam encontrado. Era uma criatura com cabeça, tronco e membros, agachada e encostada no muro da oficina. Sofria visivelmente. Seus braços estavam por entre os joelhos e por um breve instante o ser lhes dirigiu seus grandes olhos vermelhos e saltados, dispostos verticalmente fora da cavidade ocular, sem pálpebras, córnea e íris. Ergueu levemente a cabeça e voltou a abaixá-la. Nenhum som, ruído ou cheiro foi sentido. “A pele era coberta por uma camada oleosa, brilhante e úmida, de cor marrom escuro. Não tinha qualquer traje”, disseram as meninas à mãe. Veias grossas saltadas pelas espáduas, subiam pelo pescoço curto e iam até a base da cabeça. O crânio do ser, desproporcionalmente grande em relação ao corpo, era encimado por protuberâncias saltadas, duas laterais e uma na parte superior, semelhantes a chifres. Valquíria diz que o aspecto era como de “um enorme coração de boi, escuro”.
20 de janeiro, 18h00 — Após o dia quente e quase sem nuvens, desabou sobre Varginha uma forte e inusitada tempestade. Os mais idosos garantem que um temporal daqueles não ocorria há dezenas de anos na cidade. Os automóveis colhidos pela chuva torrencial obrigaram-se a parar nas pistas. Granizo entupiu bueiros e algumas partes baixas das avenidas encheram-se com a água suja que cobriu o asfalto. Foi um temporal incomum, com raios constantes e trovões que assustaram a população. Árvores centenárias foram arrancadas pelas raízes, devido à fúria do vendaval. Alguns fios de eletricidade e telefonia partiram-se. Em quase todos os bairros a energia elétrica foi cortada. Placas de propaganda e outdoors saíram voando, casas foram destelhadas, muros e paredes desabaram. Tudo durou cerca de 30 minutos.
Algum tempo depois, às 18h15, policiais do serviço de inteligência da PM tiveram uma experiência inacreditável. Em ronda à espreita de traficantes e pessoas em outras atitudes suspeitas, eles costumam trabalhar em duplas. No caso em questão, a dupla de P-2, como são conhecidos esses policiais, era constituída de Marco Eli Chereze e Eric Lopes. Eles também foram colhidos pela súbita tempestade e o vidro lateral direito do automóvel que usavam, um Fiat Prêmio com características civis, sem qualquer alusão à Polícia Militar, ficara emperrado. Os dois policiais estavam encharcados. Aproveitando a estiada, Chereze e Lopes resolvem se trocar e continuar o trabalho, que deveria terminar às 19h00. Mas sua intenção foi frustrada quando chegou uma ordem para permanecerem pelas ruas, no final do Jardim Andere. Deveriam ficar atentos a qualquer atividade suspeita ou incomum. Certamente, boatos a respeito do encontro das três garotas com a estranha criatura já se espalhavam pela cidade.
Marco Eli Chereze era zeloso no cumprimento de suas missões. Tinha boa saúde e era considerado um dos mais confiáveis e eficientes do contingente de P-2. Dizem seus colegas que ele enfrentava bandidos sem qualquer receio, se fosse preciso. Casara-se há pouco tempo e sua esposa, Valéria, estava grávida. Depois da grande chuva, Chereze correu à casa de seus pais, uma pequena chácara no perímetro urbano, e solicitou à mãe, dona Lourdes, uma roupa seca, pois deixara algumas peças ao se mudar para a cidade com a esposa. A chuva o colhera com maior intensidade, pois quem dirigia o veículo era o cabo Lopes. O rapaz pediu à mãe que avisasse Valéria, que trabalharia até mais tarde naquela data. Em torno de 19h30, a dupla de P-2 retornou ao Jardim Andere. O tempo ainda não estava firme, mas voltara a se precipitar uma chuva pouco intensa.
Chereze e Lopes acham-se certamente confusos, em virtude da ordem que receberam para permanecerem vigilantes. Essa, aliás, é uma característica da disciplina militar, que se estrutura em ações em que cada homem cumpre papéis próprios e específicos, sem estar necessariamente ciente de todo um processo ou operação em andamento. O Fiat Premium que usavam passou pela Rua Benevenuto Braz Vieira e desceu à esquerda, ladeando o pasto. Subitamente, o condutor freou e o carro deslizou por alguns metros. Simplesmente, algo saiu das obras a sua esquerda e passou com dificuldades bem à frente do carro. “O animal parecia ferido ou fraco e entrou no pasto”, declararam.
Quando os dois policiais saltaram do veículo e se aproximam do ser, notaram que não se tratava exatamente de um animal. Pensaram de imediato que não poderia ser aquilo a que se referiam as ordens dadas por seus superiores, pois se tratava de uma pessoa. Uma pessoa absolutamente diferente, estranha e aparentemente defeituosa, além de nua, mas ainda assim uma pessoa. Chereze foi o primeiro a chegar perto. Viu que era um ser humano, porém deformado e repugnante. Pode-se novamente supor o estado em que ficaram os dois policiais, diante de algo tão inesperado, que certamente deve ter-lhes causado um espanto indescritível. O ímpeto de Chereze, no entanto, falou mais alto e ele ameaçou lançar-se sobre aquilo que, talvez, se tratasse de uma aberração. A criatura, que naqueles segundos permaneceu imóvel e agachada, fixando o policial, esboçou uma leve reação de escapar. Quase que automaticamente ele agarrou-a pelo braço direito. Confusos e surpresos, os P-2 saíram do local. Mas não sabiam o que fazer. O que notaram, entretanto, é que aquela “pessoa” estava claramente morrendo, apresentando poucos movimentos e deitada sobre o banco traseiro do automóvel.
Deviam dar socorro ao ser, deformado ou não, doente ou não, enfim, fosse o que fosse. Lembraram que o posto de saúde mais próximo mantinha um médico de plantão e era o local indicado para levar a criatura, pelo menos de início. Quando o encarregado do plantã
o naquela noite atendeu aos apelos nervosos dos dois policiais e vira o ser, um tremendo susto o invadiu e o fez apenas exclamar: “Levem isso a um hospital, ao zoológico, não sei. Mas saiam com isto daqui. Não quero saber de encrenca”.
20 de janeiro de 1996, 20h30 — Deste horário até cerca de 21h00, os policiais Chereze e Lopes chegaram com a criatura no Hospital Regional do Sul de Minas, bem no centro de Varginha, na Avenida Rui Barbosa. O hospital foi praticamente paralisado e toda uma ala interditada para receber o ser, com a transferência de internados para outros setores da instituição. A criatura foi submetida a breves e frustradas tentativas de salvamento e o comando da Polícia Militar foi comunicado. Transeuntes e moradores próximos observaram estranho e súbito movimento, aumentando ainda mais curiosidade popular. Às 22h00, duas jovens viram o porteiro do Hospital Regional, que é seu amigo, e correram ao seu encontro com a finalidade de saber se de fato algo incomum fora levado para lá. O porteiro confirmou a movimentação militar mas disse nada ter visto de estranho. Informou ainda que alguém fora internado e parecia que “alguma coisa importante” estava ocorrendo.
Até o final daquela noite verificou-se no hospital numa grande movimentação de policiais militares e homens do Exército, fardados e armados. Viaturas militares foram avistadas por diversas testemunhas civis que residem nas proximidades, por pessoas que passaram pela frente ou adentram as instalações, por razões diversas, e pelos próprios funcionários. Alguns desses atestaram o corre-corre e a súbita quebra de rotina que se estabeleceu, tanto fora quanto no interior do hospital. Uma testemunha informou que, na tentativa inócua de se manter a vida daquele estranho ser, colocaram-no em balão de oxigênio – o que pode ter acelerado sua morte.
Chega 21 de janeiro. Pouco depois de meia-noite, o médico nefrologista Fernando Eugênio P. Prado avistou o corpo da estranha criatura no Instituto Médico Legal (IML) do Hospital Regional, ao chegar à porta da sala de autópsias. Mas foi barrado por um homem de roupas médicas, desconhecido, que solicitou que não ultrapassasse o local e se retirasse. O médico contou tudo isso a seus colegas, no final de 1996, num congresso realizado em Belo Horizonte (MG). Depôs que realmente houve grande confusão e movimentação, tanto de policiais, quanto de médicos de fora, naquele setor do hospital. E que os comentários que surgiam, mesmo os mais discretos, eram eufóricos e davam conta de que lá estava uma estranha criatura. Quando se aproximou, o especialista viu o cadáver sobre uma mesa. Tinha pele amarronzada, aparentando estar úmida, cabeça enorme e dois olhos grandes. O profissional chegou à cerca de 5 m e foi barrado.
O estupor dos colegas de congresso foi enorme e todos cessaram as conversas diante de tal declaração, partindo de um médico sério e respeitado. O assunto terminou com a seguinte afirmação, por parte do nefrologista: “Não sabe se realmente seria um ET, mas sem dúvida era a coisa mais estranha que já tinha visto”. O doutor Prado que estivera de plantão naquela data, era o responsável pela coordenação dos atendimentos no Pronto Socorro e tinha acesso ao IML. Dois dos médicos de sua equipe entraram imediatamente em contato com ufólogos que investigavam o caso, diante da importância e da envergadura de um fato como esse, narrando o que tinham ouvido diretamente de seu colega nefrologista. E esse é procurado imediatamente.
Durante duas semanas, os ufólogos tentaram ser recebidos pelo profissional. Em seu consultório, Prado passou um ar de surpresa e de admiração com o que lhe era narrado. Sem qualquer hesitação, o médico disparou: “Realmente, eu falei tudo aquilo para os meus colegas!” Porém, tratou logo de justificar sua atitude, de uma forma tão inesperada quanto intencionalmente definitiva. Alegou que realmente dissera tudo aquilo com a única finalidade de fazer cessar um desenrolar de zombarias por parte de alguns colegas. Disse ainda que, como reside em Varginha e acompanhava com interesse o desenrolar das notícias, desejou estancar as brincadeiras, arranjando como única saída, naquele momento, a afirmação de que realmente vira algo. Mas nada presenciara – muito menos qualquer cadáver estranho no IML.
21 de janeiro de 1996 — Cerca de 05h00, para se evitar mais comentário, e parecer um procedimento comum, o corpo da criatura foi retirado do Hospital Regional e conduzido, a bordo de uma ambulância, para o Hospital Humanitas, localizado próximo da estação rodoviária de Varginha. Aquela é uma casa com mais recursos e administrada por uma equipe médica particular. Pouco depois da transferência, começou lá também uma incomum movimentação de veículos militares, presenciada por diversos moradores do bairro. O dia seria tenso. Chegada à noite, às 21h00, as duas jovens amigas do porteiro do Hospital Regional retornam e o homem lhes disse que “a coisa” foi transferida na madrugada para o Humanitas. As moças correram para lá e uma enfermeira de plantão tentou livrar-se delas dizendo que “se tratava de algo desagradável de ver, e que é proibido comentar. E, mesmo que do contrário fosse, não aconselho que entrem, pois poderão ficar impressionadas”.
22 de janeiro, manhã — O major Maciel fora substituído no Corpo de Bombeiros e transferido no mesmo dia para a unidade da companhia em Poços de Caldas, a 151 km de Varginha, onde assumiu o comando. O capitão Pedro Alvarenga foi então nomeado temporariamente comandante dos Bombeiros em Varginha e passa a negar em nota escrita a captura e até a presença da guarnição nos locais indicados pelos ufólogos e pela população como palco dos incidentes. Hoje major, Alvarenga é novamente o comandante da companhia em Varginha, após a nomeação de três antecessores. A partir de 09h00, um comboio da ESA com três caminhões de transporte de tropa, um fusca e um jipe seguiu para o município. Lá chegando, estacionou na entrada da cidade, ao lado de um supermercado, permanecendo até por volta de 11h00, sem qualquer ação. Com aparente falta de finalidade, o comboio retornou para o quartel, em Três Corações.
Às 13h00, novamente o mesmo comboio voltou a Varginha, desta vez contando com um sexto automóvel, um furgão Kombi dirigido por Orlando Siqueira Brasil, funcionário civil da ESA. Os caminhões eram conduzidos pelos cabos Renato Vas
salo Fernandes e Welber Mendes Rodrigues, e pelo soldado Ricardo Silvério de Melo. Uma hora depois, um tenente do serviço secreto do Exército, a conhecida classe S-2, dirigindo o fusca pertencente à ESA, assumiu o comando do comboio. Um dos caminhões saiu então em direção à cidade e cruzou com o outro, que partiu minutos depois, parecendo que seu sentido contrário destinava-se a confundir eventuais populares atentos. Também seguindo o automóvel do S-2, o segundo caminhão passou pelas avenidas centrais, inclusive de frente ao Hospital Regional por duas vezes, seguindo pela Avenida Benjamin Constant, em direção à rodoviária, em frente da qual está instalado o Hospital Humanitas. Depois disso, voltou e parou na entrada da cidade.
Novamente com o mesmo trajeto, tomando a via asfaltada que liga a estação rodoviária a uma estrada que contorna a cidade pelo lado oeste, às 16h00, o caminhão e o fusca da ESA entraram pela Rua Doutor José Ribeiro Nogueira, que dá retorno ao setor habitado daquele bairro, o Jardim Petrópolis, e seguiu pela Rua Tomaz Silva. As viaturas pararam à frente de um portão de ferro nos fundos do Hospital Humanitas. O tenente S-2 estacionou no pátio principal, enquanto o caminhão manobrou e entrou de ré pelo portão menor ao lado, deixando a traseira lonada próxima de algumas portas da ala de fundos. Por ali já se encontravam uma picape Fiorino do Corpo de Bombeiros e um automóvel da Polícia Militar.
O capitão Sebastião Honório Siqueira, da PM, determinou que alguns participantes da ação retirassem a gandola – uma blusa com botões usada por cima da camiseta, no uniforme do Exército –, para que não houvesse qualquer risco de que alguém pudesse estar portando algum aparelho como gravador, transmissor ou mesmo máquinas fotográfica e filmadora. Esse é um procedimento obrigatório de segurança. Um lençol foi então esticado por dois soldados, um da PM e outro do Exército, do lado do caminhão, com a finalidade de isolar a visão da traseira. Dentro de uma das salas do fundo do Humanitas permaneceu o tenente S-2, que portava, este sim, uma câmera de vídeo e uma prancheta de anotações. Também lá estavam o capitão, médicos e algumas mulheres vestidas com trajes e máscaras de saúde. Os ufólogos colheram informações de que era grande o transtorno que tomou conta daquela ala do hospital, com pessoas movimentando-se apressadamente para todos os lados.
Às 17h00, todos olhavam com atenção especial para uma caixa de madeira apoiada em cavaletes e fixada com presilhas. Dentro dela havia um corpo inerte abrigado com pés desproporcionalmente grandes, bifurcados em dois grossos dedos. Sua pele enrugada aparentava estar besuntada com graxa oleosa e brilhante. O ambiente estava impregnado com um cheiro fortíssimo de amoníaco. Um dos médicos aproximou-se do ataúde portando uma pinça cirúrgica e se dobrou sobre o corpo. Afastou a cavidade da boca extremamente pequena e puxou de dentro dela algo escuro e delgado, como uma fita ou uma “língua”. Quando a soltou, aquilo retornou para a quase imperceptível abertura. O ser morto tinha sobre o pescoço curto uma cabeça muito grande, ondulada, com protuberâncias nos ossos cranianos. Seu nariz praticamente não se via, eram apenas pequenos orifícios. Os olhos, saltados para fora das órbitas, compunham-se de duas esferas alongadas e avermelhadas, sem pálpebras.
A caixa foi então fechada com uma tampa de madeira, fixada por alguns parafusos do tipo borboleta e lacrada com um cadeado. Depois de envolta em sacos plásticos, foi afixada em sarrafos por prendedores de madeira e colocada na carroceria do caminhão, onde foi ainda enrolada por uma corda de náilon. Tais veículos possuem na carroceria, na parte da frente e na traseira, lonas conhecidas por saneflas. Nelas há pequenas janelas que são tampadas e isoladas com um plástico verde escuro, de forma a não permitir a visão da carga.
22 de janeiro de 1996, 17h30 — Os veículos correram para a ESA, em Três Corações, sem parar para nada. Na entrada da cidade eles se reúnem e o trânsito é discretamente controlado para a sua passagem. Um dos caminhões desceu na contra-mão, em plena avenida central. Havia guardas de trânsito fazendo a cobertura. O Mercedes transportador da constrangedora carga passou pelo portão da ESA sem qualquer burocracia, com as demais viaturas. Naquela tarde e noite foi observado um reforço especial da guarda em todos os pontos principais de acesso e setores de segurança do quartel.
23 de janeiro de 1996, 04h00 — Três caminhões e demais veículos saíram pontualmente para a cidade de Campinas, no interior de São Paulo. O sargento Valdir Cabral Pedrosa comandava o comboio. Na Escola Preparatória de Cadetes (EPC), daquela cidade, o capitão Edson Henrique Ramires, que para lá partiu antes, assumiu o comando. Nos dias que se seguiram, voltando a vida aparentemente ao normal dentro da ESA, em Três Corações, todos os seus componentes, que haviam participado da operação de transporte do cadáver desde o Hospital Humanitas, foram designados para missões e serviços isoladamente, para que se evitasse ao máximo o contato entre eles, o que perdurou por meses.
Nos domínios da ESA o assunto tornou-se um verdadeiro tabu, com expressas ordens de proibição de simples comentários. Ninguém sabia de nada, ninguém havia visto ou participado de absolutamente nada. Houve determinação de sigilo total. A observação desse comportamento imposto ficou a cargo daquele que comandou intelectualmente e cuidou de todas as estratégias e modo de operar, o respeitado tenente-coronel Olímpio Wanderlei dos Santos, logo depois elevado a comandante da 13ª Circunscrição de Serviço Militar (CSM) [Atualmente está na reserva e reside na cidade de Franca, interior de São Paulo]. Na retaguarda, os procedimentos contaram com a atuação do tenente S-2 Márcio Luiz Passos Tibério.
Às 09h00, a pessoa que apelidamos de “Dona Santa”, que trabalhava no Hospital Regional há quase 20 anos, voltou sua atenção para a movimentação de carros militares que assaltara de súbito o hospital, a partir da noite de sábado. Chegou ao conhecimento dela o isolamento de uma parte das instalações que ligam à sala de trabalhos do Instituto Médico Legal. Algumas peças de trajes médicos – como aventais, luvas e outros panos – foram incineradas e comentários de colegas assustados aconteciam nos cantos da instituição, em atitude de receio e em voz baixa, praticamente sussurros. Não sabe ao certo o que estava
ocorrendo, mas algo de estranho vinha sendo escondido.
Em alguns instantes, Dona Santa e alguns funcionários de maior responsabilidade e confiança no Hospital Regional foram chamados pela administração, para uma reunião a portas fechadas. Dona Santa e um número restrito de colegas foram avisados de que a partir daquele instante nenhum comentário poderia ser feito a respeito da movimentação militar que haviam presenciado. Alegou-se que se tratava apenas de fatos afetos à Polícia Militar e ao Exército, em virtude de treinamentos, e que qualquer declaração apenas fomentaria boatos. Alertaram que isso poderia ser inconveniente, tanto para o hospital, quanto para os diretamente interessados. “Inclusive para certas pessoas dessa cidade que gostam de estudar fatos estranhos, como coisas de disco voador. Para estas vocês devem evitar mais ainda tecer quaisquer comentários”, foi-lhes ordenado.
Em torno das 14h00, o comboio militar retornou para a Escola de Sargentos das Armas, em Três Corações. No mesmo instante, um veículo da EPC adentrou a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) carregando duas caixas. Numa delas havia o corpo inerte retirado do Hospital Humanitas, em Varginha, na tarde anterior. Na outra, alguma coisa ainda viva. Poderia ser a criatura capturada com vida pelo Corpo de Bombeiros, na manhã do dia 20. Os funcionários recebem ordens para se retirar e se calar. “Tal fato jamais ocorrera”. Meia hora mais tarde, uma das criaturas foi levada para um laboratório no subsolo no Hospital das Clínicas da Unicamp. A caixa que o transporta, com furos laterais, foi carregada por dois homens do Exército acompanhados de outros militares. O setor de acesso ao laboratório foi interditado. Outro laboratório de acesso restrito, situado no prédio do Departamento de Biologia da universidade, também é envolvido no processo de análises e exames do conteúdo daquelas caixas. A quantidade de militares avistados nesse período, circulando pela Unicamp, foi absolutamente incomum.
Uma hora mais tarde, às 16h00, o jornalista Marcos Moura, do Rio de Janeiro, entrou em contato com a diretora do jornal Gazeta de Varginha, a juíza classista da Justiça do Trabalho Ana Maria Silva Fernandes. Consultada sobre os fatos, ela diz nada ter visto e que a única coisa que sabia é que um médico seu vizinho, doutor Rogério Lemos, lhe informara que “não sabia se era um bicho ou do que na verdade se tratava. Mas que possuía uma pele horrorosa e olhos esquisitos”. Moura anotou os dados. Posteriormente, o mesmo médico esclareceu que apenas fizera uma brincadeira com o filho, ao dizer que o tal “bicho” estaria mesmo internado no Hospital Regional. Como era colega do filho da proprietária do jornal, a brincadeira chegou ao ouvido de alguns um tanto distorcida.
23 de janeiro de 1996, ao entardecer — O pai do policial Marco Eli Chereze, o taxista Naldo Chereze, pergunta ao filho sobre “esta bobagem que estão comentando na cidade, de que a polícia capturou um monstrinho ou um ser estranho”, em suas próprias palavras. Com fisionomia fechada e encarando o pai com seriedade, o policial diz: “Pai, não é bobagem. Você vai ver, isto ainda vai dar o que falar…” Às 19h00, o médico radiologista Norberto Gobato conversava informalmente numa reunião de amigos no Clube Campestre Varginha, junto às quadras de tênis, quando o assunto veio à tona. Como invariavelmente o assunto toma conta da população, logo o médico foi solicitado a opinar sobre os recentes boatos. Gobato disparou que tudo é um grande absurdo, pois o que ocorreu na verdade era a internação de um casal de anões no Hospital Regional. “A mulher”, segundo o médico, “está grávida e por questões éticas o hospital resolveu não permitir a divulgação”.
Ainda naquele 23 de janeiro e nos dias posteriores, uma verdadeira equipe de cientistas e assistentes praticamente passou a residir naquelas instalações da Unicamp. Dentre eles, o médico legista Fortunato Badan Palhares. A misteriosa pesquisa necessitou, por muitos dias, de tipos diferentes de gêneros alimentícios em horários incomuns, tais como frutas, verduras, leite, sopa batida e até iogurte. Por esses dias ninguém teve acesso às salas em que normalmente o ritmo de trabalho é rotineiro. Quando os alimentos eram passados apenas por uma porta, esta sempre se fechava de imediato. Houve até solicitação de soro. Dois guardas fortemente armados permaneciam o tempo todo no corredor de acesso.
26 de janeiro de 1996 — Pela manhã, militares norte-americanos, incluindo alguns que atuam na NASA, chegaram à Unicamp. Oficialmente, a visita destinava-se ao processo de seleção de cientistas brasileiros para participarem de futuras missões espaciais. Começaram então a trabalhar em conjunto com militares brasileiros, dentro dos laboratórios. Às 19h00, a esposa e a avó do policial Marco Eli Chereze assistiam ao jornal veiculado por uma televisão local de Varginha, em que estava sendo exibida uma reportagem sobre os acontecimentos envolvendo a captura de “suposta criatura”, a essa altura já tratada pela imprensa como “extraterrestre”. O P-2 chega em casa, corre para o aparelho de TV, desliga-o e, em tom severo, diz com firmeza: “Não assistam a esse tipo de coisa. Isso não é bom!”
06 de fevereiro de 1996 — Às 09h00, o policial Marco Eli Chereze foi à clínica do 24º Batalhão de Polícia Militar, em Varginha, e procura o tenente-médico de plantão para consulta sobre um aparente furúnculo sob sua axila direita.
07 de fevereiro de 1996 — No dia seguinte, também às 09h00, Chereze voltou ao local e o médico o submeteu a pequena cirurgia para extração do abscesso, e o enviou para casa.
10 de fevereiro de 1996 — O policial começou a sentir muitas dores pelo corpo e foi acometido de febre constante.
11 de fevereiro de 1996 — Por volta das 10h00, o paciente teve seus sintomas agravados e procurou a instituição Prontomed, também em Varginha. O médico que o atendeu, percebendo a gravidade do seu quadro clínico, determinou sua imediata internação no Hospital Municipal Bom Pastor, com indicação de outro profissional para acompanhamento. Familiares de Chereze não conseguiram obter dos médicos sequer um diagnóstico seguro que explicasse as constantes dores e as febres freqüentes que ele tinha.
15 de fevereiro de 1996 — Às 09h00, o policial militar foi transferido para o centro de tratamento intensivo (CTI) do Hospital Regional do Sul de Minas, o mesmo para o qu
al, na noite de 20 de janeiro, havia levado, junto de seu colega Lopes, o corpo de uma estranha criatura que capturaram em sua ronda. Às 11h45, Chereze morreu. Constou de seu atestado de óbito, liberado apenas muito tempo depois, sob fortes solicitações da família, que sua causa mortis fora “insuficiência respiratória aguda, septicemia e pneumonia bacteriana”. Pelo auto da necropsia, concluiu-se que o quadro de infecção generalizada que levou ao seu falecimento foi causado principalmente pela bactéria enterobacter, encontrada na urina humana [Veja matéria nesta edição].
Começo de abril de 1996 — Na primeira semana do mês, no Jardim Zoológico de Varginha, animais foram encontrados mortos misteriosamente — uma anta, dois veados, uma onça jaguatirica e uma arara. O veterinário Marcos Araújo Carvalho Mina não encontrou uma causa lógica para o problema nas necropsias que realizou. As vísceras são então enviadas para Belo Horizonte e os achados não indicam a causa mortis. Leila Cabral, também bióloga e diretora do zôo, disse achar inexplicável que seus animais, que comiam alimentos diferentes e balanceados, vivendo em espaços distanciados entre si, tenham morrido da noite para o dia sem apresentar qualquer sintoma de patologia”. Alguns dos animais apresentaram lesão intestinal. Atestados do Laboratório Save, de Belo Horizonte, assinados pela doutora Elaine Maria Santos Gomes, confirmam que os achados sugerem a presença de um tóxico cáustico. Parte dos animais apresentava hemorragia difusa.
21 de abril de 1996 — Às 21h00, Terezinha Galo Clepf, 65, participava de uma comemoração particular de aniversário, com poucas pessoas, no Restaurante Paiquerê, um espaço reservado para festas existente dentro do Jardim Zoológico de Varginha. Trata-se de um barracão de alvenaria situado em plano elevado do local, cujo acesso se dá por uma longa escada de cimento. Na entrada existe um alpendre cercado por uma grade de canos e tela com 1,6 m de altura. A instalação elétrica é precária e o alpendre só recebe a luz difusa de postes distantes. Terezinha saiu da festa para fumar e observou “algo muito feio”, segundo descreveu. Era uma criatura que estava de pé na mureta do outro lado da grade, e apoiando-se, imóvel. Possuía olhos vermelhos e brilhantes, com uma espécie de elmo com abas douradas na cabeça. A senhora voltou depressa para a festa e insistiu com o marido para que saíssem dali. Nada mais se viu.
28 de abril de 1996 — Os fatos relativos ao Caso Varginha parecem não ter fim. Por volta de 22h30, a senhora Luzia Silva, mãe de Liliane e Valquíria, ouviu baterem palmas ao portão de sua casa. Quatro homens abriram o mesmo e desceram pela rampa de cimento rústico que dá acesso à humilde residência. Entraram na casa e se sentaram. Insistiram com veemência na necessidade de as três garotas voltarem urgentemente atrás em seus depoimentos públicos. Disseram que elas deveriam gravar uma entrevista de televisão, “mas não como nas emissoras locais”, na qual diriam que cometeram um engano, que não avistaram o que dizem e de nada têm certeza. Uma quantia em dinheiro foi oferecida em troca disso, suficiente para a independência econômica da família. O valor seria depositado em conta poupança no nome de Luzia, mas os estranhos não disseram quanto e exigiram segredo absoluto de tudo o que falaram. A entrevista seria gravada e lançada a público, de forma a desmentir o avistamento das moças. Luzia Silva se sentiu constrangida e amedrontada.
Apenas um dos homens falava e outro anotava o que estava sendo conversado. Receosa, disse que pensaria no assunto. Os homens não deram seus nomes, recusando informar qualquer coisa que levasse à sua identificação. Prometeram que voltariam em breve e não permitiu que ela os acompanhasse até a rua. Um carro estava parado um pouco distante, no qual os homens entraram e partiram. Sentindo-se frágil, ela procurou logo de manhã os ufólogos à frente do Caso Varginha. No mesmo dia, a imprensa noticiou com destaque e em edições especiais a visita inesperada. Era a única forma de se evitar qualquer eventual novo assédio mais incisivo ou hostil, por parte daqueles ou de outros homens.
04 de maio de 1996 — Às 09h00, o então produtor Luiz Petry, atualmente editor do programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, o veterano repórter Goulart de Andrade, um radialista varginhense e outro repórter de um jornal [Estes dois últimos preferiram o anonimato] são escolhidos pela equipe de ufólogos à frente do Caso Varginha para assistirem a vídeos e áudios com depoimentos de testemunhas militares, informantes dos fatos ocorridos na localidade. Eles se comprometem a guardar absoluto sigilo de tudo que virem e de resguardar as testemunhas de quaisquer divulgações de suas identidades, tal como são protegidas as fontes de informação jornalística. O jornalista Petry, inconformado com o que assistiu, solicitou que fosse levado à presença de algumas dessas testemunhas. Então, duas delas, ambas militares, lhe